É muito comum entre os estudantes do curso de pedagogia definir-se a educação como sendo “a influência que as gerações adultas exerce sobre as geraçõs novas, para, decerto criar neles comportamentos esperados pela sociedade” (Durkeim). Com efeito, parece-me que as pessoas não simplesmente pensam assim, como também sentem isto no “coração”, portanto é arquetípico.

A presente comunicação busca reproduzir e explorar ao máximo a magistral concepção durkhemniano, refletir nele desde o ponto de vista da matriz angolana, já que necessidades e interesses de ordem política, economica, social e cultural determinam o aparecimento da educação e continuam a ser a sua grande base de sua sustentação.
Talvés seja necessário encetar com algumas formulações ou hipotéses heuristicas, para então, renhir,  e apelar ao caro interlocutor aos perigos dessa concepção.
• A utilização deste conceito nos tempos de hoje pelos estudantes, denuncia a inexistência de um dialógo aceso em termos de esquematização de novos conceitos, e expressa simultaneamente algo que eu chamo de “confronto cultural”, ou, se quisermos, extinção cultural.
• A utilização deste conceito nos tempos de hoje pelos estudantes, denuncia o caráter enciclopédico, clássico, tradicional no processo de ensino aprendizagem em voga.
• Por fim, acredito sobejamente que esta concepção chama-nos atenção para um ensino que visa conduzir as pessoas a subordinarem-se cegamente a colectividade, a ordem social, e tornando-os a uma simples “coisa social”.
Ora, não é minha pretensão manipular estas formulações ou hipotéses heuristicas segundo o rigor do metódo cientifico, pois, tal tarefa implicaria servir-se de técnicas  de utilização complexa. Na verdade, o principal objectivo com estas hipotéses é simplesmente avaliar o contributo e limites durkemniano, e portanto fica desde já claro a responsabilidade moral de não minimizar o aporte teórico deste grande ícone do pensamento social das socidades ocidentais, cujas formulações revelaram-se pertinentes para determinadas sociedades africana.
 
 
Durkheim, (1858-1917), precursor da escola funcionalista, representou uma ruptura com o pensamento pedagógico da época dominado pela herança que começa em Comenius, que perpassa em Herbart e termina em Rousseau, “pensólogos” que nos seus insight sobre ensino tomaram como ideia sobrepujante a criação de uma didáctica fundada no respeito à autoridade psíquica do aluno. Porém, na hermeneútica feita sobre os textos, Durkheim apela para uma revolução dessas concepções  de extremo (em seu entender), e funda um ensino para manter a unidade grupal, no qual as formas de organização, os objectivos, a avaliação do ensino apresentam-se a um nível objectivo, e não subjectivo como nos pensadores anteriores. Ora, é importante considerar que as sociedade funcionalistas inscrevem-se num quadro narcisico, onde as mudanças socias associadas a criatividade, a inteligencia, a motivação, os interesses e sucessos das pessoas não são permitidas, e qualquer tentativa de mudança deste nível representam um risco existencial da autoridade do grupo, sendo que só se pode aceitar evoluções no marco da ordem previamente estabelecida (programática). Estas sociedade, de tipo primitivo, dão enfase a interpedendencia do sistema social, como no actual marco político que se vive em Angola, em que o poder esta concetrado em um grupo ou em um único sujeito com soberania vitalícia, fazendo de algumas pessoas, molas controladoras do seu sistema. Lamentavelmente, Durkheim, se fosse nos dias de hoje, o adjectivaria de bajulador, partidário do saudosismo, por ter forjado uma política educativa favorável as fantasias, aos impulsos, a selvageria, ou ao “homo demons” dominate.
Na analogia orgânica de Durkheim não existe algo que se possa chamar de natureza humana, e nem se quer nele se pode identificar ferramentas metodológicas que permitem visualizar o processo de ensino aprendizagem como uma preocupação bilateral, onde ambas partes (geração adulta-geração nova) do processo exercem câmbio e conflitos cognitivos. Obviamente que, diante este quadro temos toda a autoridade para expurgar a tese de Durkheim. Talves o trio Comenius, Herbart e Rousseau o teria retribuido a mesma acusação- extremista do outro pólo, e o debate decerto, ganha novos contornos, e pretende-se agitar a discussão com uma nova colocação. Como se pode constatar o mérito Durkheimniano?
A definição avançada por Durkheim, além de estabelecer um pacto com filosófias e políticas de esquerda, no sentido do seu conservadorismo, tem o mérito de por em relevo o caráter social da educação, uma conotação que continuam sendo actual e universalmente aceite pela maioria dos pesquisadores e estudiosos do fenónemo educativo.
 
 
As críticas que se fazem sobre a sua ontologia (um dos objetivos deste artigo), deve-se a sua imprevisiblidade e a sua fraca exegese futurológica sobre as variáveis que confluem com o facto social, porém, acho então pertinente articular  a clássica definição segundo o qual o homem, no centro do mundo, assumi-se como um ser biopsicosocial, como um ser condicionado por uma convergencia factorial e simultaneamente um ser operante sobre as condições económicas, políticas e socio-históricas. A actual noção educativa não privilegia a  passividade, a mentira social carregada pelo professor e pelo sistema, a dominação das almas, o tratamento e a imposição de conceitos no silêncio, na obediência, o dialógo vertical e afogado pelas relações de hierarquias, hoje a educação esta transfigurada num processo activo onde o aluno se reconheci e é reconhecido como parte significativa do processo de aprendizagem e ensino, portanto o sentido bilateral substitui o sentido unilateral da educação, ou seja, passamos de objecto para objecto-sujeito, mas um sujeito que já desenvolvi dialógo intenso com os outros objecto-sujeito.
Na verdade, o problema da educação não fica resolvida com esta garantia formal, historicamente falando, os pessimistas da escola francesa, contemporaneos de Durkheim, já haviam acusado a escola como sendo uma espécie de “máfia”, críticaram a então democratização do ensino, sugerida por um conjunto de políticas públicas erróneas, que não gerou resultados positivos, pelo contrário potencializou as desigualdades socias. Hoje continuamos a assistir o mesmo teatro político da massificação do ensino que aos poucos vem garantindo oportunidades de acesso e revelando cada vez mais incapacidade para mitigar as assimetrias sociais, ou seja, o sistema cria oportunidades e não igualdades.
Numa das públicações, apelei para a necessidade de desenvolvermos um ensino fundado no senso crítico, de tal maneira que se possa estar atendo aos documentos trabalhados internacionalmente, portanto, para alguns estou impondo um certo relativismo ao impacto desses documentos respeitados internacionalmente, não estou interessado a debater sobre este assunto, simplesmente estou fazendo uma ligeireza para a polémica da integração das nações, a pretensão da homogeinização das culturas do mundo, o incontornável fenómeno globalização, que vai seguramente despir alguns povos de suas raízes culturais por conta da ausência de um espirito crítico capaz de expurgar aquilo que o relatório da CEAST chamou de “lixo-cultural”, e capaz de manter o equilibrio entre a matriz cultural interna com novos zeitguest, o mesmo espírito se transferi para interpretação de alguns pensadores ocidentais.