CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO - UNASP

CAMPUS SÃO PAULO

 

 

CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA COM ÊNFASE EM PSF

 

 

 

 

 

 

 

IMPLANTAÇÃO DE UM GRUPO DE MUSICALIZAÇÃO DE IDOSOS EM UMA COMUNIDADE DA ZONA DA CIDADE DE SÃO PAULO: RELATO DE EXPERIÊNCIA. 

 

 

 

 

 

 

 

SÃO PAULO

2011

Ivelton Pereira Santana

 

 

 

 

 

IMPLANTAÇÃO DE UM GRUPO DE MUSICALIZAÇÃO DE IDOSOS EM UMA COMUNIDADE DA ZONA DA CIDADE DE SÃO PAULO: RELATO DE EXPERIÊNCIA. 

 

 

 

 

 

 

 

Trabalho de  Conclusão  do   Curso  do  Centro

Universitário Adventista de São Paulo do curso

De   Pós-Graduação  em   Saúde  Pública  com

Ênfase em PSF.

Orientadora:  Profª  Ivonilde  Marques  da  Silva

Rocha  

 

 


RESUMO

 

O presente artigo relata o processo de implantação de um grupo de musicalização de idosos em uma comunidade da zona sul da cidade de São Paulo. O projeto, iniciado em 2009, em um centro de convivência de idosos, alcança uma média de quarenta idosos todas as semanas, onde os mesmos aprendem e cantam músicas populares, folclóricas, sertanejas, MPB e outras. A implantação tem como objetivos proporcionar alternativas de entretenimento e socialização dos idosos. Os resultados obtidos são altamente satisfatórios, com a elevação da qualidade de vida dos idosos, além de proporcionar momentos de pura emoção e nostalgia. É uma experiência de muita alegria para os participantes.

 

Palavras-chave: Musicalização; Idosos; Qualidade de Vida.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ABSTRACT

 

This article reports the process of deploying a group of music to the elderly in a community south of the city of São Paulo. The project, started in 2009 in an elderly community center, reaches an average of forty  seniors every week, where they learn and sing popular songs, folk, swing, and other MPB. It aims to provide alternative entertainment and socialization for the elderly. The results are highly satisfactory, with improved quality of life for seniors, and provide moments of pure emotion and nostalgia. It is an experience of great joy for the participants.

 

Key Words: Musically; The Elderly; Quality of Life.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RESUMEN

 

            Este artículo reporta el proceso de despliegue de un grupo de música a las personas mayores en una comunidad al sur de la ciudad de São Paulo. El proyecto, iniciado en 2009 en un centro comunitario de edad avanzada, alcanza un promedio de cuarenta personas mayores cada semana, donde aprenden y cantan canciones populares, folk, swing, y MPB otros. El despliegue tenía como objetivo ofrecer alternativas para el entretenimiento y la socialización de los ancianos. Los resultados son altamente satisfactorios, con una mejor calidad de vida de los ancianos, y proporcionar momentos de pura emoción y nostalgia. Es una experiencia de gran alegría para los participantes.

 

Palabras-Clave: Musicalmente;  Ancianos; Calidad de Vida.

 1.   Introdução

 

         Embora divulguem-se melhorias nas condições gerais de vida e sejam notórios avanços na área tecno-científica, constata-se, de modo irrefutável, um aumento avassalador de moléstias mentais e emocionais em todas as faixas etárias da população.

Num mundo globalizado, no qual se situa o Brasil, a busca excessiva pela manutenção da vida, a insegurança no ambiente profissional e o individualismo exacerbado contribuem para uma qualidade de vida questionável, principalmente, no que se refere aos laços familiares, alimentação saudável, lazer e à prática de esportes.  

No que tange à realidade da população brasileira com idade superior a 60 anos, o cenário se agrava por diversos fatores. Entre eles, a desagregação familiar, aposentadoria e preconceito. Com projeções, para 2025, de 32 milhões de pessoas idosas, o Brasil destaca-se por apresentar grandes taxas de crescimento da população acima de 60 anos, (FREITAS, 2002).

Diante desta realidade, os profissionais de saúde se deparam com um imenso desafio de, não somente aliar a prática à imensa gama de recursos e ideias, hoje comumente divulgadas pelos meios científicos, mas também procurar mecanismos comuns à realidade de cada comunidade, para que se processe uma real elevação da qualidade de vida dos idosos.

A qualidade de vida dos idosos pode ser melhorada através da música, pois, como veículo de sentimento, pode facilitar a expressão não verbal da emoção, atingindo os sentimentos das pessoas internamente, sem ser ameaçador, e pode ser uma ferramenta para a cartase emocional, (LEE, 2010).

A música oferece às pessoas muitas maneiras de se sentirem competentes, uma vez que diminui a sensação de isolamento, conecta os indivíduos e ajuda, por isso mesmo, na manutenção da boa saúde. A música proporciona significado à vida das pessoas e está associada com as emoções de uma pessoa e experiências de vida e permite-lhes participar em jogos imaginativos e escape, (HAYS, 2006).

Há de se ressaltar que, embora a música aja sobre todo o organismo humano, cada estilo musical estimula mais determinada região do corpo que outra. O modo como a música pode influenciar depende do contexto, do estilo musical e do gosto do ouvinte. Pesquisas revelaram o potencial da dinâmica como rico espaço de educação dialógica, constituindo-se como estratégia importante na sensibilização dos enfermeiros sobre as possibilidades da música como recurso terapêutico, (BERGOLD, 2006).

Os efeitos terapêuticos da musicoterapia impelirão os profissionais e diversos equipamentos sociais existentes na efetivação da busca pela melhoria da qualidade de vida não apenas dos idosos, mas também dos hipertensos e diabéticos. Além disso, a Saúde Coletiva é um campo muito vasto, o qual se estende por uma equipe multidisciplinar. É perfeitamente possível identificar-se a real importância e efeito resultante da musicoterapia na satisfação pessoal dos indivíduos, sejam idosos ou não. Apesar do caráter empírico da musicoterapia, não menospreza-se os aspectos técnicos e científicos que a música possui.

Em razão deste contexto, em 2009, em um centro de convivência para idosos, numa comunidade na zona sul de São Paulo, foi implantado um grupo de musicalização para idosos, cujo objetivo foi apresentar, em primeiro lugar, alternativas de entretenimento e convivência social saudáveis e, depois, proporcionar o crescimento psico-sócio musical de cada indivíduo envolvido.

 

  1. 2.   Objetivo

 

            Este trabalho tem como objetivo relatar a experiência da implantação de um grupo de musicalização para idosos que frequentam um centro de convivência de idosos, na zona sul da cidade de São Paulo, SP.

 

  1. 3.   Método e Desenvolvimento

 

          A ideia inicial surgiu de um diálogo entre profissionais da UBS sobre necessidades da comunidade. O Centro de Convivência de idosos já estava em funcionamento há algum tempo, quando em diálogo com a gerente da UBS, foi decidido aliar o talento musical de um enfermeiro com a necessidade do Centro de Convivência, que era de implantar um grupo de musicalização para os idosos.

            A partir daí, foi elaborado um plano que contivesse a periodicidade, materiais necessários, formato da musicalização incluindo todo o roteiro concernente à teoria musical, músicas a serem usadas, técnicas de relaxamento vocal e muscular, entre outros. Para tanto, foi necessário focar o público alvo com suas peculiaridades, necessidades, características.

            Inicialmente, foi elaborado um plano de atividades alusivas ao aparelho fonador, isto é, à parte física geral, palestras, e atividades como: Sessões de relaxamento muscular e mental; relaxamento do aparelho fonador e pré-aquecimento vocal; noções básicas de teoria musical ministrada de acordo com a característica do grupo de idosos presentes, haja vista as particularidades evidentes; uso de músicas folclóricas, sertanejas,  jovem guarda, MPB e outras; participação ativa do grupo, com alguns tocando violão e outros cantando;  terapia do abraço; palestras sobre direitos do idoso e sexualidade na terceira idade.

           Além das estratégias acima adotadas, foram utilizados os seguintes materiais e recursos:

   · Violão;

   · Pastas contendo as letras das músicas;

   · Espaço físico pertencente à igreja local;

   · Auxílio de alguns Agentes comunitários de saúde (ACS´s).

 

            As atividades do grupo de musicalização foram realizadas semanalmente, sempre às quintas-feiras, das 9h30 até às 10h45. Sempre iniciado com boas-vindas calorosas aos presentes e, em seguida, feito alongamento muscular e relaxamento mental.

            Em seguida realizado exercícios de relaxamento específico do aparelho fonador e, consequentemente, o pré-aquecimento vocal, bem como exercícios respiratórios. São explicados alguns pontos de noções básicas de teoria musical.

            A partir de então  inicia-se o ensaio de músicas escolhidas pelos presentes na ocasião do primeiro dia de ensaio, como, por exemplo, Asa Branca, de Luiz Gonzaga, Como é grande meu amor por você, de Roberto Carlos, Índia, Se essa rua fosse minha, Seresteiro das Noites, de Amado Batista, As Andorinhas, do Trio Parada Dura, Estrada da Vida, de Milionário e José Rico, entre outras escolhas.

            Durante os ensaios, o instrutor observou atentamente cada um dos participantes, sendo que, dependendo das reações de cada um durante os ensaios, chamou à frente alguém que teve alguma peculiaridade e pediu para que falassem um pouco sobre as sensações de estarem cantando aquela ou esta música e fez perguntas como: “Quando o senhor fechou os olhos, no que o senhor estava pensando ao cantar essa música?”. E ele respondeu: “Rapaz, eu me lembrei de quando eu era jovem, e estava apaixonado por uma moça e quis conquistar ela de todo jeito. Mas infelizmente ela não me quis...”. Através desse relato, percebe-se as recordações de memórias remotas frente à história presente de cada indivíduo presente.

            Foi aliado a essa sequência, palestras sobre direitos do idoso, sexualidade e prevenção e tratamento medicamentoso e não medicamentoso para Hipertensão e Diabetes, bem como sobre atividade física, qualidade de vida e outros.

            Ao final, de cada encontro eram realizadas a terapia do abraço e em sequência a despedida.

Dentre tantos relatos, reproduzimos aqui a seguinte frase dita por uma das presentes: “Professor, esse grupo é uma bênção. Eu fico a semana toda esperando por este dia, pois quando saio daqui, é uma felicidade imensa. É muito bom cantar aqui com todos...”.

 

  1. 4.   Considerações Finais

 

            A implementação deste grupo é extremamente gratificante principalmente pela maneira como os participantes abraçaram a ideia e se comprometeram com a mesma.

            Observa-se que os idosos ficam ansiosamente esperando pela quinta-feira pela manhã, pois é um momento de descontração, nostalgia e felicidade enorme para cada um deles.

            Percebe-se também a frequência que é estável com cerca de 30 a 40 idosos sempre presentes. Além disso, a cada semana 1 ou 2 pessoas convidadas tem se unido ao “ coral”. Mas, o que também chama a atenção é o fato de muitos idosos relatarem a mudança diária com mais alegria e entusiasmo para fazer as coisas relacionadas diretamente à sociabilização e amizades proporcionadas pela musicalização em grupo. Os mesmos referem que ao final da musicalização, sentem uma sensação de felicidade indescritível.

            A autoestima dos participantes tem se mostrado cada vez maior, principalmente pelo fato de se arrumarem com maior esmero através das roupas e maquiagem.

            Em relação à saúde mental, percebe-se claramente que o grupo de musicalização tem se tornado uma “vacina” contra distúrbios de ordem emocional e mental, bem como o controle e minimização da ansiedade, pois o mesmo permite troca de experiências entre os participantes durante a programação do grupo, fazendo assim com que cada um deles valorize a vida.

            Vale ressaltar também que, a cada apresentação do coral junto à comunidade em diversos locais pela cidade de São Paulo, como Centro Educacional Unificado (CEU), Universidades, entre outros, os participantes se sentem inseridos na sociedade como sujeitos ativos frente aos aplausos de pé das plateias que também participam conjuntamente em músicas conhecidas. É uma oportunidade de construir e reconstruir a sua história de vida, dado que muitos viveram toda sua vida no anonimato da vida cotidiana.

            Não se pode deixar de mencionar também o papel do enfermeiro como facilitador de prática inovadora de saúde que rompe com o papel tradicional assistencialista, diversificando e ampliando o raio de atuação, pois promover saúde através da música aos idosos é algo incomum na Saúde Coletiva.

São patentes e inegáveis os resultados obtidos até o momento, principalmente pelos testemunhos dos participantes, a alegria expressa por palavras e comportamentos, tendo uma maior expressividade e união, atingindo o objetivo primordial que é o de proporcionar alternativas. Sente-se que o objetivo que é apresentar aos idosos  alternativas de entretenimento e convivência social saudável, somando-se a isso o crescimento psico-sócio musical de cada indivíduo envolvido, foram alcançados. E isso se torna uma alegre realidade que, sem dúvidas, será duradoura.

O presente relato de experiência certamente contribuirá para que a Saúde Coletiva, representada, em sua maioria, no território nacional, através da Estratégia Saúde da Família (ESF), alavanque uma mudança de paradigmas nas equipes de saúde, com o objetivo de melhor atender aos anseios e necessidades dos idosos e da população em geral, cujas necessidades carecem se fazer notadas para uma intervenção duradoura e benéfica.

 

  1. 5.   Referências Bibliográficas

 

ALMEIDA, Ana Kelly; MAIA, Eulalia Maria Chaves. Amizade, idoso e qualidade de vida: revisão bibliográfica. Psicol. estud.,  Maringá,  v. 15,  n. 4, Dec.  2010.  Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722010000400010&lng=en&nrm=iso>. access on  21  May  2011.  doi: 10.1590/S1413-73722010000400010.

LEAO, Eliseth Ribeiro and FLUSSER, Victor. Música para idosos institucionalizados: percepção dos músicos atuantes. Rev. esc. enferm. USP[online]. 2008, vol.42, n.1, pp. 73-80. ISSN 0080-6234.

lee y.y., chan m.f. & mok e. (2010) Effectiveness of music intervention on the quality of life of older people.Journal of Advanced Nursing66(12), 2677–2687.

FREITAS, EV, Pyl, Néri AL, Cançado FAX, Gorzoni ML, Rocha SM. Tratado de Geriatria e Gerontologia,. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2002.

HAYS T, Facilitating well-being through music for older people with special needs.  Home Health Care Serv Q; 25(3-4): 55-73, 2006.

 

BERGOLD, Leila Brito; ALVIM, Neide Aparecida Titonelli; CABRAL, Ivone Evangelista. O lugar da música no espaço do cuidado terapêutico: sensibilizando enfermeiros com a dinâmica musical. Texto contexto - enferm.,  Florianópolis,  v. 15, n.2, jun.2006. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072006000200010&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  13  dez.  2011.  http://dx.doi.org/10.1590/S0104-07072006000200010