Durante a revolução sandinista na Nicarágua, senti um intenso desejo de visitar os irmãos de lá, para ver como estavam e, também, levar alguma palavra de ânimo para o coração deles.

Consegui um visto de apenas quatro dias e, após uma abençoada campanha na Guatemala, tomei um avião para Manágua.

Estava viajando sozinho. Em Manágua desceram do avião apenas quatro freiras e eu.

No aeroporto foi feito um intenso interrogatório. Preenchi vários formulários e dirigi-me ao endereço que me tinha sido dado na Guatemala. Era a residência de um pastor.

Os irmãos receberam-me com intensa alegria. A situação deles era de apreensão. O país estava passando por uma fase muito difícil. A mudança de regime deixara suas marcas: destruição, pobreza, fome. Todos lutavam desesperadamente para reconstruir a nação.

Como só tinha quatro dias e pretendia ir por terra para a Costa Rica, fiquei só aquele dia com os irmãos e a noite seguinte.

Preguei na igreja lotada e vi as bênçãos de Deus serem derramadas sobre o povo.

No dia seguinte viajei em demanda de San José, Costa Rica. Deixava meus irmãos "nicos" para rever os irmãos "ticos".

A viagem foi ótima, confortável, com sol e lindas paisagens centroamericanas.

No dia anterior os "contras" tinham destruído as instalações de fronteira da Nicarágua com a Costa Rica. A fronteira tinha sido antecipada e uma grande nesga de terra tornara-se "terra de ninguém". Os ânimos estavam realmente acirrados.

Ao chegarmos à fronteira tudo correu normalmente, até que um sargento pegou meu passaporte. Quando viu os vários carimbos, alguns dos Estados Unidos, ficou super irritado e mandou-me descer do ônibus.

Estava praticamente caracterizado que eu era um espião.

Rapazes de 13 a 17 anos, portando fuzis automáticos, começaram a brincar comigo, dando golpes de ferrolho nas armas e apontando-as para mim. Para eles, matar um inimigo, um espião, era um verdadeiro divertimento.

O ônibus em que eu viajava ficou retido e já aguardava há duas horas. Os passageiros, apesar de impacientes, procuravam manter a calma.

Não senti medo. Nestes momentos é que entendemos a grandiosa ação do poder que em nós habita. O Espírito Santo realmente reveste-nos de ânimo, coragem e força.

Esperei, realmente, ser morto ou ser preso.

Somente a espera era enervante. Estavam esperando um comandante, um tenente. Depois de quase três horas de espera ele, finalmente, chegou.

Era um jovem. Parecia um universitário, como muitos que estavam empenhados na revolução.

Olhou detidamente meu passaporte e, em seguida, dirigiu-se a mim:

-Senhor, o que veio fazer na Nicarágua? Não sabe que temos uma revolução aqui?

-Sei, sim senhor, respondi, mas eu precisava vir. Vim visitar meus irmãos e ver como eles estavam.

-Ah! Veio visitar seus irmãos? Pode dar-me o endereço deles?

-Sim senhor, aqui está.

Passei-lhe o papel que recebi na Guatemala. A expressão do tenente mudou.

Pegou um carimbo. Carimbou meu visto de saída. Apertou minha mão e, amavelmente, falou:

-Desculpe-nos o transtorno, senhor. Seus irmãos estão bem?

-Sim, estão ótimos, respondi.

-Está bem. Faça uma boa viagem.

Agradeci. Dirigi-me ao ônibus. Ganhei uma salva de palmas dos passageiros aliviados e seguimos para a Costa Rica.

Bem, o tenente não perguntou se eram irmãos carnais. Louvado seja Deus por nossa família cristã ser tão grande!