Impactos da agricultura sobre as propriedades do solo

Quais os impactos que o uso agrícola pode trazer sobre as propriedades do solo?

Em uma floresta, o solo permanece sempre coberto por folhas que caem das árvores. Com isso, ele está freqüentemente recebendo adição de matéria orgânica via queda de folhas (Figura 1). Além disso, esse solo raramente sofre a passagem de máquinas e pisoteio de animais e, por essa entre outras razões mantém alta permeabilidade à água e ao ar.

Figura 1. Solo sob vegetação florestal. A camada superficial escura sinaliza alta quantidade de matéria orgânica. Esta maior quantidade desse material ocorre em função da deposição de folhas e outros restos vegetais que são decompostos.

Fonte: http://www.nrri.umn.edu/

Por outro lado, quando se converte uma área florestal nativa para um uso agrícola intensivo tal como um cultivo anual (soja), o solo sob cultivo passa a sofrer alterações na sua constituição física, química e biológica (Figura 2).

Para se ter idéia, a remoção da cobertura vegetal natural do solo faz com que a constante adição de matéria orgânica via queda de folhas passe a inexistir. Com isso, o conteúdo de matéria orgânica do solo tende a decair ao longo do tempo. Esse fato é acelerado pelo processo de aração e gradagem que revolvem a superfície do solo expondo a matéria orgânica ao processo de decomposição. Nesse sentido, a prática de queimada de resíduos vegetais sobre a superfície do solo aceleram ainda mais a perda de matéria orgânica dos mesmos. Ainda, essa redução da quantidade de matéria orgânica propicia a redução de microorganismos (fungos e bactérias) que se alimentam dessa.

Figura 2. Solo depois de alguns anos sob cultivo. Observe que a camada superficial não apresenta-se tão escura como a da Figura 1. O intenso preparo do solo, entre outros fatores, acelera a redução da quantidade de matéria orgânica em solos cultivados.

Fonte da figura: www.tn.nrcs.usda.gov/technical/soils/

Os produtos agrícolas, ao serem colhidos, removem consigo em sua biomassa, muitos nutrientes que antes estavam presentes no solo. Desse modo há uma redução na fertilidade do mesmo e isso ajuda a explicar porque há a necessidade de realizar a adubação que tem a função de repor esses nutrientes que são removidos com a cultura (exportados).

Após a colheita, muitas vezes o solo permanece descoberto. Assim, se há um evento de chuva, o solo passa a sofrer desagregação e erosão que contribuem para a perda de terra e de nutrientes associados a esta. De forma a complementar, a ação do arado e da grade rompe a estrutura do mesmo (a chamada "pulverização") tornando a terra mais suscetível a ser carregada pela água da chuva. Isso tudo contribui para que o solo se torne mais raso, ou seja, tenha as camadas superiores (próximas a superfícies) removidas pelas águas da chuva.

Essas conseqüências expostas anteriormente podem ocorrer em velocidades diferentes. Geralmente o ritmo de desgaste depende de como o solo é manejado. Assim, técnicas de conservação do solo atuam justamente no sentido de reduzir a velocidade desse desgaste. Cabe ao técnico ambiental atuar na implementação de práticas de manejo que retardem efetivamente esses processos. Se isso for conseguido, certamente o produtor rural sairá beneficiado e, além deste, toda a sociedade que poderá consumir os produtos oriundos da lavoura bem cuidada, manejada e, portanto, bem conservada. Quando se refere à conservação não se trata apenas de conservar o solo, mas também a água e todas as formas de vida dependentes desta e daquele.

Preparado a partir de:

GALETI, P.A. Práticas de controle à erosão. Campinas: Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1984. 154p.

MAZZA, J.A. Notas de aula de Manejo e Conservação do Solo ? módulo manejo. Piracicaba, [a.n.t.], ESALQ/USP, 2009.