IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NO ENTORNO DO LAGO BOM JARDIM, EM ITAITUBA, OESTE DO PARÁ


Maria Lúcia dos Santos1

RESUMO

Este trabalho é resultado de uma pesquisa realizada no ano de 2007 tendo como objetivo identificar os impactos socioambientais e suas interferências no Lago Bom Jardim, a partir da década de 70. O referido ecossistema é parte de uma Área de Proteção Ambiental (APA), situado na Zona urbana do município de Itaituba, oeste do Pará. Neste estudo foi utilizado o método participativo da Pesquisa-Ação, por meio das técnicas de observação da realidade, conversas informais, entrevistas semi-estruturada, aplicação de questionários, bem como reuniões com a comunidade escolar, representantes de entidades, análises de documentos, registros fotográficos, entre outros. O resultado deste processo favoreceu discussões sobre os problemas vivenciados neste ambiente, em consonância com a importância da Educação Ambiental na busca da transformação do espaço. Dentre os pontos em destaque estão: a origem da população local, fatos históricos anteriores e posteriores à década de 70, aspectos socioambientais referentes à situação de emprego, salário, renda, saúde, saneamento básico, nível de escolarização, atividades de subsistência, os impactos ambientais, bem como a visão institucional sobre a realidade estudada. As considerações finais retratam recomendações sobre a necessidade de reivindicação e mobilização da comunidade junto aos órgãos públicos, para o fomento de políticas que garantam a recuperação/preservação e promova a melhoria da qualidade de vida dos habitantes do local.

PALAVRAS–CHAVES: Aspectos ambientais. Aspectos socioeconômicos. Impactos ambientais. Educação ambiental. Reivindicação. Consciência ambiental. Preservação.

1 INTRODUÇÃO

A Amazônia, na atualidade, busca incensantimente descobrir novas estratégias para minimizar os impactos provocados pelo homem sobre a natureza com vista a promover a sustentabilidade socioambiental da região.  Contribuindo com este processo, o presente artigo visa mostrar  os impactos socioambientais que interferiram no contexto do lago Bom Jardim, a partir da década de 70, apresentando resultados obtidos através de uma pesquisa realizada em 2007, no município de Itaituba.   
    Para tanto, utilizou-se o método da Pesquisa-Ação e assim obter um entendimento da realidade a partir das diferentes concepções dos atores locais da área de até 500 metros da margem esquerda e direita dos bairros que circundam o lago: Floresta, Jardim Tapajós, Bom Jardim e o São Francisco. Entre os informantes estão moradores, conhecedores da realidade e representantes de órgãos públicos.     Como referencial teórico abordou-se as obras de Loureiro (2000), Freire (2003), Freire (1987), Primaz (1996), a AGENDA 21, o CIMA (1991), o SNUC (2000), assim como as consultas de Loureiro ET AL (2000), Aragón (2003), Hutchison (2000), Itabarahi (2002) entre outras, que, de forma geral tanto contribuem com a formação do pensamento crítico da população local sobre sua condição social, como para o resgate de valores éticos importantes para o fortalecimento do processo de cidadania.   
    Diante da atual situação, a realização deste trabalho é de grande relevância porque propicia a construção de conhecimentos para a preservação do Lago Bom Jardim que desempenha importantes funções socioeconômicas para o município de Itaituba e ainda detém rica biodiversidade em espécies lacustre, terrestres e aéreas, típicas da Amazônia.
    Dentre os pontos importantes de discussões estão: a origem da população local, os aspectos históricos anterior e posterior a década de 70 que influenciaram no atual contexto do Lago Bom Jardim, o perfil socioeconômico, os impactos ambientais,  recomendações para a implementação da APA e as  considerações finais.
    De forma geral, este trabalho expressa conhecimentos e reflexões acerca da importância da Educação Ambiental para a preservação do meio ambiente dentro de uma perspectiva interdisciplinar, bem como contempla opiniões que possibilitam discussões sobre o fomento de políticas públicas que garantam a sustentabilidade socioambiental e promova a melhoria na qualidade de vida dos seres humanos deste espaço.

























    2 ORIGEM DA POPULAÇÃO LOCAL

    A miscigenação cultural é muito acentuada no entorno do Bom Jardim. Do total de 85 moradores entrevistados 35% (30) são paraenses, 39% (33) originam-se do Estado do Maranhão e 26% (22) pertencem outros estados. Observa-se que do total geral dos entrevistados, apenas 15% (13)  são naturais de Itaituba. Os habitantes tradicionais do lugar  somam 8% (7).
    Grande parcela da população itaitubense foi formada nos anos 40/50 e 70/80 durante a vigência dos ciclos econômicos da borracha e do ouro, respectivamente. No contexto do Bom Jardim a população predominante é a que se estabeleceu a partir dos anos 90, em virtude da ocupação desordenada, causada pelo desemprego decorrentes da falência dos garrimpos na região. Na atualidade, ricos empresários do ramo do comércio, da mineração, funcionários públicos e pequenos agricultores também dividem esse espaço.



















3    ASPECTOS HISTÓRICOS ANTERIORES E POSTERIORES À DÉCADA DE 70

O processo de ocupação do município de Itaituba, e em particular o contexto socioambiental do Lago Bom Jardim, são intrísicos ao próprio passado da Amazônia  e se particularizam com a ocupação indígena, os ciclos econômicos, a inserção dos grandes projetos, a corrida imigratória, a luta pela posse da terra, o processo de exploração dos recursos naturais, a pressão imobiliária, entre outros que trazem consequências negativas e impedem o desenvolvimento de nossa região.
    O contexto do Bom Jardim foi habitado por índios da nação MUNDURUKU, pois muitos objetos de uso diário e restos mortais destes antepassados foram encontrados durante o período de extração da seringa e do calcário. (informação verbal)  .  Por volta dos anos 60, este espaço ainda era praticamente intocável. A riqueza da floresta representava grande importância econômica para os habitantes, seja na coleta de frutos – castanha-do-pará, açaí, buriti, cupuaçu, seja na extração da seringa e de óleos – copaíba e andiroba ou ainda na extração da madeira, entre as quais destacam-se o cedro, o ipê, além da caça e da pesca em abundância (informação verbal) .
    A exploração da borracha na Amazônia, na década de 40, favoreceu a vinda de milhares de pessoas para a região, principalmente pela disponibilidade de mão-de-obra barata em outros estados brasileiros aliada à propaganda enganosa do governo militar que prometia transformar os trabalhadores da borracha em soldados com os mesmos direitos e regalias dados aos do exército brasileiro.
    Diante disso, os problemas socioambientais no município de Itaituba intensificaram-se, pois a marginalização de direitos coletivos e individuais ocorreu na mesma proporção da transformação do meio ambiente, dado a necessidade de construção de residências, abertura de trilhas para o acesso as seringueiras, extinção de espécies de animais e vegetais ocasionada pela falta de conhecimento em relação à utilização racional dos recursos naturais.
    A plantação de seringa em outras regiões fora do Brasil, a baixa da economia da borracha no mercado internacional, a partir dos anos 50, fizeram a Amazônia perder gradativamente o seu espaço como a maior produtora mundial da Hevea Brasiliensis, deixando uma leva de desempregados no seu interior. Com isso, locais antes de cultivo da seringa em Itaituba, como o Bom Jardim,  foram transformados em área de atividades agropastoris, logo, a mão-de-obra da extração do látex, sem perspectiva de melhores condições de vida, evadiu-se para os garimpos com o sonho de enriquecimento fácil.
        Observa-se que, neste período, a extração do calcário, a exploração da borracha às margens do Bom Jardim despontam como atividades econômicas para exportação e para dar suporte aos projetos de construções de residências, de prédios públicos e de calçamento de ruas. Também existiam atividades de subsistência tais como: a caça, a pesca, a criação de animais, o cultivo de pequenas  roças e hortas que, de forma geral,  não causavam grandes prejuízos ecológicos para o local, entretanto, a borracha e o calcário, exterminaram a mata ciliar provocando assim, imensas crateras que até os dias atuais são possíveis visualizar.
A construção da Rodovia Transamazônica contribuiu para a política de Integração Nacional e favoreceu a penetração de milhares de pessoas ao município, porém, não trouxe o tão esperado desenvolvimento, pois este projeto megalômano não foi acompanhado de políticas públicas, portanto, não considerou as especificidades culturais, o interesse social e econômico da população local, a vocação geográfica, e sequer respeitou a natureza e a vida de milhares de trabalhadores que morreram em conseqüência das péssimas condições de vida que eram submetidos ou foram abandonados à sua própria sorte.
Exemplo disso foi a construção do Batalhão de Infantaria e Selva - 53º BIS no início dos anos 70, que promoveu a saída de dezenas de famílias do local das obras para o entorno do Bom Jardim. Aliada a esse fato, a falta de planejamento do Estado para garantir a permanência dos assentados neste espaço contribuiu para que muitas pessoas abandonassem ou vendessem seus lotes acreditando em melhores condições de vida nos garimpos.  
    A intensa migração para Itaituba no período do ouro, facilitada pela abertura da Transamazônica, na década de 70, e ainda pelo retorno de milhares de trabalhadores (as) para o município, em conseqüência da falência/fechamento dos garimpos, na década de 90, acelerou o processo de aculturação, bem como a mistura étnico-racial. Com isso os costumes e valores familiares itaitubenses foram enfraquecendo e facilmente assimilaram vivências de outras culturas.
Neste período, a situação econômica se agrava no município e muitos habitantes naturais de Itaituba venderam seus espaços e foram tentar a vida em outros locais da Amazônia, entre os quais Belém, Manaus, Macapá, Boa Vista. As famílias tradicionais que continuam  em Itaituba, hoje, resistem ao processo de aculturação mantendo os costumes e as tradições do lugar e reivindicando em associações a permanência do espaço sociocultural itaitubense.   
As conseqüências dos ciclos da borracha e do ouro no município de Itaituba, deixaram profundas mazelas sociais que até os dias atuais fazem com que a maioria da população  conviva com péssimas condições de saneamento básico, de saúde, de educação, de emprego, dentre outros problemas sociais, como a prostituição infanto-juvenil e a insegurança social.
 Assim, o processo de desenvolvimento do município e o tão esperado enriquecimento fácil tornou-se um pesadelo não só para os filhos de Itaituba, mas também para aqueles que continuam com a vontade de retornarem aos seus locais de origem, e para outros que ainda mantém o desejo de prosperarem na vida.
        No decorrer dos anos, os impactos ao Lago Bom Jardim foram se intensificando de acordo com as necessidades dos grupos que se estabeleceram neste local. A esse respeito podemos citar: a construção da “Estrada do BIS” – década de 80, e a construção do “Aterro do Bis” – década de 90, nas quais foram utilizadas diversas bueiras que dificultaram o curso natural do lago, tanto no escoamento da água, quanto na passagem da fauna lacustre durante o período de reprodução.  Junto  a esses problemas somam-se a ocupação desordenada que levou a  população a sobreviver da exploração dos recursos naturais do local sem manejo adequado.
Com a criação da Área de Proteção Ambiental Bom Jardim Passa-Tudo, em 1999, pareceu que os problemas teriam fim, já que os objetivos desta ação era proteger os recursos naturais como a fauna, a flora e os mananciais de água ainda intactos. Todavia, isso não trouxe benefício algum, pois esta APA situa-se na zona urbana de Itaituba, rodeada por conglomerado de pessoas que direta ou indiretamente interferem neste espaço. Sem falar que no ato de sua criação  não foi assegurado instrumento de gestão ambiental que lhe proporcionasse diretrizes e estratégias para o manejo adequado de seus recursos naturais, a fim de promover a preservação do local.
Dessa forma, a efetiva implementação da APA Bom Jardim Passa-Tudo dar-se, primeiramente, pela criação de um Plano de Gestão que contemple elementos de caráter participativo, tais como: conselho gestor, plano de manejo, plano de uso público que englobe pesquisa, educação ambiental e  turismo ecológico, além da demarcação, da regularização fundiária e ações de fiscalização.
A educação ambiental é importante nesse processo pois possibilita, dentre outros fatores, a integração da comunidade com órgãos públicos, a melhoria do nível de informação que valorize atitudes de respeito e de proteção aos recursos naturais, a participação social na busca de solução aos problemas ambientais e na gestão da qualidade do meio ambiente do lago Bom Jardim.


















4 PERFIL SOCIOECONÔMICO E OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS

    Observa-se que a grande parcela da população residente no espaço da pesquisa está acima dos 35 anos e, deste percentual, mais da metade é do sexo masculino. Dos trabalhadores nas atividades de subsistência existente no local, poucos tiveram acesso à educação formal quando jovens, portanto, são analfabetos ou semi-alfabetizados, fator este que decorre da falta de estímulo de retorno à escola pela idade já avançada, do cansaço físico decorrido da labuta diária, ainda pela desesperança de melhores oportunidades de emprego e renda. Mas estes contratempos não devem ser concebidos como fatalismo para estes seres, porque segundo Freire (2003, p. 23):
Se o poder econômico e político dos poderosos desalojam os fracos dos mínimos espaços de sobrevivência, não é porque assim deva ser; é preciso que a fraqueza dos fracos se torne uma força capaz de inaugurar a justiça. Para isso, é necessária uma recusa definitiva do fatalismo. Somos seres da transformação e não da adaptação.
Nesse sentido, a educação para o desenvolvimento humano deve ser tida como um processo social capaz de exercer mudanças de condutas, de valores e de  comportamentos que contribuam com a melhoria do padrão de vida dos habitantes do local. Diante disso, as instituições de ensino existentes na comunidade, sob a tutela do Estado,  tem o dever de realizar campanhas para inserir e garantir  a permanência do aluno na escola com o objetivo de aumentar o nível de escolarização e de informação da comunidade, principalmente para os adultos, pois é nesta fase que ocorrem os maiores  problemas.
Contudo, será que a responsabilidade recai somente a escola? Os órgãos ambientais, de saúde, as igrejas e associações locais podem se eximir desse compromisso? Nessa visão, as ações conjuntas no processo educativo são importantes, porque torna a aprendizagem um processo de interação entre todos envolvidos no contexto, e, portanto, não se restringe só a sala de aula.
    Pecebe-se que a questão do desemprego e a má distribuição de renda no entorno do Bom Jardim demonstram uma situação vivida no próprio município, onde a desigualdade social, além de gritante, é fator determinante das péssimas condições de vida da população menos favorecida, que sofre profundas sequelas pela  falta de investimento em políticas públicas nesta localidade.
    A situação do consumo de água no entorno do Bom Jardim é extremamente preocupante, pois de acordo com esta pesquisa 72% das fossas residenciais têm a distância de menos de 10 metros dos poços, o que permite a penetração de resíduos fecais para a água que é consumida diariamente. Segundo o Instituto Evandro Chagas ,  em laudo realizado em 2003, o lago Bom Jardim é altamente contaminado, pois de cada 100 ml de líquido coletado existem em média 640 coliformes fecais, tornando a água deste reservatório imprópria para o consumo humano.
    A coleta do lixo tem transporte regular em alguns pontos dos bairros que circundam o Bom Jardim, mas em outros se apresenta totalmente deficiente, em virtude do difícil acesso a locais próximos ao lago e a inexistência de depósitos adequados para os resíduos sólidos dos moradores. No entanto, mesmo que o transporte do lixo fosse adequado e eficiente o destino final dos dejetos seria o Lixão do Curral Redondo, que ainda é o maior poluente da água do Bom jardim.  
    O Lixão do Curral Redondo, localizado na Estrada de Barreiras, próximo ao Km 7 da Rodovia Transamazônica, zona urbana de Itaituba, existe no município desde o final da década 80. Mediante reivindicações da população, só em 2006 o Poder Público de Itaituba, cumprindo uma ordem judicial do Ministério Público foi obrigado a retirá-lo para outro local, fato que aconteceu somente em 2009 (informação verbal) .
     A saída do lixão não tornou a realidade do lago Bom Jardim menos preocupante, tendo em vista que os resíduos sólidos ainda permanecem neste local e o chorume que escorre diariamente no Passa-Tudo deságua no Bom Jardim e se destina ao Tapajós. Vale ressaltar que, durante as enxurradas, o lago recebe uma quantidade muito grande de poluentes infecto-contagiosos provenientes de entulhos próximos às residências e terrenos baldios. Diante disso, a falta de orientação em relação ao manejo comunitário de resíduos, saúde, higiene e educação ambiental contribui para que a população conviva normalmente com esse problema.
    A falta de acesso à informação sobre a sua própria realidade e aos direitos civis impede a participação dos agentes locais nas reivindicações junto ao poder público, logo é necessário que estes conheçam o conjunto das relações estabelecidas neste espaço para objetivar alternativas conjuntas entre a escola, os órgãos públicos e a comunidade,  a fim de possibilitar o implemento de ações educativas que miniminizem os problemas socioambientais desta realidade.
    Porém, a educação ambiental como uma das alternativas para a sustentabilidade deste espaço, não é a única resposta para todos os problemas do Bom Jardim Passa-Tudo, mas é uma das estratégias essenciais capaz de promover novas relações entre as pessoas e o respeito ao meio ambiente. Assim, a compreensão sobre o desenvolvimento sustentável se pautará dentro dos princípios que a CIMA  (1991, p. 19) aborda:
... um novo modo de promover o desenvolvimento que possibilita o surgimento de comunidades mais sustentáveis, capazes de suprir suas necessidades imediatas, de descobrir ou desperta suas vocações locais e de desenvolver suas potencialidades específicas utilizando os recursos naturais sem prejudicar o meio ambiente tendo sempre em mente que é preciso satisfazer às necessidades do presente sem prejudicar as gerações futuras [...].
    É preciso que a população local perceba que está inserida no contexto de uma Unidade de Conservação, não apenas do ponto de vista territorial, mas de um espaço protegido que necessita de uma atenção especial por ser habitat de inúmeras espécies da biodiversidade brasileira e de fatores abióticos essenciais (a água, por exemplo) à manutenção da sociobiodiversidade do planeta.
O Bom Jardim não deve ser utilizado unicamente para fins de subsistência econômica dos moradores, mas como laboratório natural, fonte inesgotável para a pesquisa e educação ambiental, para a realização de atividades de recreação/lazer, turismo ecológico e, essencialmente, para a construção de  um espaço de cultura, de transformação e mobilização social em busca do verdadeiro desenvolvimento para a comunidade local e para o município de Itaituba, pois segundo Freire (1987, p. 158-159):
Para haver desenvolvimento, é necessário: 1) que haja um movimento de busca, de criatividade, que tenha, no ser mesmo que o faz, o seu ponto de decisão; 2) que esse movimento se dê não só no espaço, mas no tempo próprio do ser, do qual tenha consciência[...] Daí que, se todo desenvolvimento é transformação, nem toda transformação é desenvolvimento [...] Os oprimidos só começam  desenvolver-se quando, superando a contradição em que se acham, se fazem “seres para si”.






















5 VISÃO INSTITUCIONAL DO CONTEXTO SOCIOAMBIENTAL DO ENTORNO DO LAGO BOM JARDIM

        Ao endagar os comunitários da existência de políticas sustentáveis e  socioeducativas realizadas por parte de órgãos governamentais e não-governamentais para preservar o lago Bom Jardim, 97% das respostas foram negativas. Apenas 3% das pessoas mencionaram ações de entidades públicas, mas sem muita relevância para este fim. Entre as mais citadas, estão: IBAMA , a SEMMA, a SEMSA , a SEMECD  e a SEMINFRA.
    Para o IBAMA de Itaituba, a realidade do lago Bom Jardim se tornou conhecida há poucos tempo quando o órgão começou a receber denúncia dos comunitários sobre a agressão ambiental ocorrida no local, principalmente pela a poluição do lago, a exploração do calcário nas pedreiras e mais ressentimente com  loteamentos às margens do córrego.
    O órgão está tomando medidas de prevenção, principalmente quanto o desmatamento da mata ciliar, pois segundo a lei 4.771/65 que institui o Novo Código Florestal diz em seu Art.2º, que fica terminantemente proibido a exploração florestal de 100 metros para cursos d’águas que tenham de 50 a 200 metros de largura (medida aproximada do Bom Jardim), já que neste local, muitas ações ilegais neste sentido estão sendo implementadas.
    Nas condições que se encontra este ambiente a única solução urgente a ser pensada é um trabalho de recuperação da área, mas isto é complicado, pois requer muitos recursos e estudos aprofundados da viabilidade da criação de um Plano de Gestão que contemple o demarcação da área, o Plano de Manejo, a fiscalização, a Educação Ambiental, a pesquisa e o turismo ecológico no local. A saída é a junção de forças dos órgãos com a sociedade.
    Dessa forma, o que a entidade pode fazer neste momento é trabalhar dentro da legalidade para o cumprimento das leis, apesar de ser uma área de jurisdição municipal, mas se a lei ambiental está sendo desrespeitada, o Órgão Federal tem que intervir e fazer valer o que está disposto na legislação (informação verbal) .
    Segundo a SEMMA, a criação da APA, em 1999, tinha o objetivo de proteger os recursos naturais ainda intactos por ser um rico ecossistema localizado no centro de Itaituba que no futuro poderia se tornar uma importante área para pesquisa, educação, turismo e lazer. Nesse sentido, há preocupação por parte do órgão, tanto que a área foi inclusa ao PGAI , no final da década de 90, no Governo de Edílson Dias Botelho.
Para o Governo da época, a criação da APA ocorreu não somente pela sua importância ambiental e ecológica para o município, mas para impedir a pressão imobiliária, as pretensões empresariais de transformá-la em balneário e área de exploração de calcário e outros. Porém, lamentavelmente, de lá pra cá nada foi feito porque ações como esta depende de interesse político, recursos econômico e reconhecimento da importância do lugar.
Muitos problemas existentes no Bom Jardim poderiam ser evitados se no Decreto de criação tivessem sido definidas prioridades como a demarcação e o Plano de Manejo. Só agora no Plano diretor aprovado em outubro de 2006, é que a demarcação foi legalmente instituída. Outra medida importante também criada recentemente (dezembro de 2006) foi o CONDEMA  que possibilitará a articulação social em busca de estratégias de desenvolvimento socioambiental para o município, inclusive relacionadas ao lago Bom Jardim (informação verbal) .  
Porém, o que efetivamente deve ser feito para a recuperação do lago é a retida do lixão que já é uma determinação do Ministério Público ainda a ser cumprida. Em seguida é resolver os problemas dos loteamentos e recuperar a mata ciliar. Contudo todas essas ações para serem realmente concretizadas e possibilitar viabilização do Plano de Manejo, a fiscalização e a Educação Ambiental devem ser contempladas no Plano de Gestão Ambiental da APA que ainda é algo a ser conquistado (informação verbal) .
    Conforme a SEMSA, o lago Bom Jardim além da importância como um rico ecossistema situado no município de Itaituba é uma fonte indispensável de alimento e lazer para a comunidade de entorno, mas, infelizmente, na atualidade, é um “lixão a céu aberto”. E com a preocupação na melhoria da qualidade de vida da população de Itaituba este órgão tem monitorado desde 2003 exames e laudos de água no local. Diante dos resultados a instituição encaminhou documentos junto ao Ministério Público para a retirada e recuperação da área do Lixão que terá impacto direto na qualidade da água do lago.
A resposta para estes problemas é a união entre o Poder Público municipal e a sociedade na realização de trabalhos de conscientização da população não só do entorno do lago Bom Jardim, mas do município como um todo e outras medidas com fins preservacionistas, senão nada vai adiantar (informação verbal) .      
    De acordo com a SEMMECD, a existência de uma APA na zona urbana do município de Itaituba requer muita preocupação tanto por se tratar de um espaço de complexas relações sociais e ecológicas como pela existência no local de escolas que são pontos chave para se trabalhar a Educação Ambiental.
Para tanto, seria necessário inicialmente um diagnóstico da realidade para incluir o contexto do lago Bom Jardim na perspectiva da Educação Formal e Não-formal e assessoramento pedagógico aos educadores do local, pois a realidade do lago Bom Jardim é específica por se tratar de uma UC (informação verbal) .
    A SEMINFRA afirma que a criação da APA, no final da década de 90, se pensou em uma estruturação em termos de saneamento, mas na verdade não se tinha nada planejado e nunca foi concluído. Porém, recentemente algumas medidas de saneamento foram definidas no Plano Diretor, mas se trata de ações voltadas para o município, mas nada específico para o Bom Jardim, porque se pensar em saneamento para o lugar é pensar em viabilizar algo grandioso em termos de planejamento e estudos para se criar estratégias para a região.
    O ideal seria construção de uma ponte de concreto no local para possibilitar a retomada da característica natural do igarapé e diminuir o risco de poluição e contaminação no lago. Mas é algo inviável no momento porque a prefeitura não disponibiliza recurso para tal obra e o que se tem de concreto, de imediato, é a recuperação da primeira estrada que ficou no lugar da antiga ponte que caiu, tanto para a retirada do desvio como do pequeno lago (informação verbal) .  
5 RECOMENDAÇÕES E CONCLUSÕES FINAIS

    Este estudo possibilitou um entendimento, em escala local, de aspectos relacionados às mudanças realizadas no espaço geográfico itaitubense e sua interferência no ecossistema do Bom Jardim dentro de uma ótica de entendimento da globalidade dos problemas originados e vivenciados pelo homem em todas as partes do planeta como, por exemplo: a perda da biodiversidade, contaminação da água, a expansão imobiliária, a exploração mineral, a pesca predatória, a falta de saneamento básico, baixas condições de emprego e renda, de saúde, o baixo índice de escolarização e outro problema que desponta, principalmente na Amazônia; a falta de condições necessárias para a implantação das Unidade de Conservação.
    Outra análise importante desta pesquisa, diz respeito às mudanças ocorridas anterior e posterior a década de 70, que se configuraram na atual crise socioambiental que afeta o município de Itaituba e que se faz sentir entre as mais longínquas localidades que englobam esse imenso território. Tal crise se origina da ignorância do homem sobre os danos ambientais e do seu desejo de exploração dos recursos naturais, bem como da ganância pelo lucro fácil, pelo poder e domínio territorial.
    Nesse entendimento, a mudança de concepção da população sobre a realidade local não é algo tão simples porque pressupõe a criação de novos valores, novas atitudes, novos padrões culturais e de comportamentos da comunidade local, assim como do  grupo político vigente, contudo, os avanços nas discussões democráticas podem ser o caminho de um novo repensar.
    Diante disso, recomenda-se a criação de um planejamento participativo de educação ambiental para o entorno do lago Bom Jardim, não como a solução de todos os problemas locais, mas como um mecanismo essencial na objetivação de um intercâmbio político capaz de promover o engajamento comunitário e a articulação de diferentes forças sociais com vista à preservação do lago Bom Jardim o qual poderá vir a ser exemplo de mudança para município de Itaituba.



REFERÊNCIAS

BRASIL. Agenda 21. Capítulo 3. Disponível em: <http: //www.Agenda 21.org.br>. Acesso em: 22/01/ 2006.
FREIRE, Paulo. À Sombra desta Mangueira. São Paulo: Olho d’ Água, 2003, p. 23a.
______.Pedagogia da Autonomia; saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p.69c. (coleção, Leitura).
______. Pedagogia do Oprimido. 36ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987, 158-159c.
______. Sistema Nacional de Unidade de Conservação (SNUC)- Lei nº. 9.985. Brasília, 2000, p.18b.
LOUREIRO, Violeta Refkalefsky. Amazônia: história e análise de problemas (do período da borracha aos dias atuais). Belém: Distribel, 2002, p. 65.
PREFEITURA DE ITAITUBA. Decreto Lei Municipal de Nº. 0060 de 19 de Abril de 1999. DISPÕE SOBRE A CRIAÇÃO DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL BOM JARDIM PASSA TUDOa.
______. PRIMAZ. Programa de Integração Mineral de Itaituba. 1996, p. 86b.

OBRAS CONSULTADAS

ARAGÓN, Luis E. Problemática do uso local e global da água da Amazônia. In: CLÜSENER-GOD (Org). Belém: NAEA, 2003.
BRASIL. Constituição (1988). Artigo 225. 5. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000.
______. POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL. Lei 9. 975, 1989/ Artigo 1º. Brasília, 1989.     
FREIRE, PAULO. Educação e Mudança. 5. ed. São Paulo: Paz e Terra 1982.
HUTCHISON, David. Educação Ecológica: Idéias Sobre Consciência Ambiental. Porto Alegre: Artmed, 2000.
______. Secretaria de Biodiversidade e Florestas.  Programa de Áreas Protegidas da Amazônia. Gestão participativa do SNUC. Brasília, 2004.
IBAMA. Educação Ambiental: as grandes orientações da Conferência de Tbilis. Brasília, 1997.
ITABORAHY, Luiz Carlos (org). Educação Ambiental e Conscientização Comunitária. Porto Trombetas: FVT, 2002.
MOREIRA, Francisco de Assis. Impactos Sociais na Cidade de Itaituba, nos anos de 70 a 85. 2003.
______. Lei de Crimes Ambientais, Lei Nº 9.605/98. Belém: SECTAM, 2002 b.
RANIERI, Verlândia Maria Barros. Estudo dos impactos Sócio-ambientais na cidade baixa em Itaituba-Pará a partir da década de 70. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia) – Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Pará, Santarém, 2001.
REIGOTA, M. O que é Educação Ambiental. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Coleção Primeiros Passos).