Iluminismo, pretensão de ter visão pessoal e direta de Deus ou das realidades transcendentes. Esse termo foi definido por Kant como "uma espécie de democracia baseada em inspirações pessoais que podem diferir, de acordo com a cabeça de cada um". Linha filosófica caracterizada pelo empenho em estender a razão como crítica e guia a todos os campos da experiência humana. Nesse sentido, Kant escreveu: "O Iluminismo é a saída dos homens do estado de minoridade...”

Partindo dessas definições pretende-se apresentar um pouco mais sobre esse movimento. O iluminismo surgiu em meio a vários acontecimentos políticos e culturais, tais como: a Renascença, que lutara contra tudo o que de algum modo pudesse opor-se à autonomia do homem, princípios de autoridades, princípio filosófico-científico e que se dedicara ao estudo da natureza. A reforma, que estendera ao campo religioso a luta contra o princípio de autoridade. A revolução inglesa, onde a luta contra o princípio de autoridade já tinha passado para o campo da política.

A inspiração do Iluminismo proveio, em parte, do racionalismo de Descartes, Spinoza e Hobbes, mas a principal condição de seu aparecimento foi o passo dado pela ciência no século XVIII, transformando a cultura de literária para científica.

O iluminismo se difundiu pelo norte da Europa condenando o Antigo Regime, combatendo assim o absolutismo monárquico, que era considerado um sistema injusto por impedir a participação burguesa nas decisões políticas e impedir a realização de seus ideais. Combatia também o mercantilismo, que impedia a livre iniciativa e o desenvolvimento espontâneo do capitalismo e o poder da igreja, pois esse poder baseava-se em verdades reveladas pela fé. Isso se chocava com a autonomia intelectual defendida pelo racionalismo iluminista.

Têm-se como precursores do iluminismo alguns pensadores da época, tais como: Francis Bacon, Descartes, Newton e John Locke, todos eles deram uma ampla produção cultural nas áreas de diversas ciências. E com a expansão dos ideais iluministas pela Europa e França aparecem alguns filósofos considerados como expoentes dessa corrente. São eles: Voltaire, Montesquieu, Denis Diderot e Rousseau.

Esse movimento teve várias repercussões. No campo do conhecimento, modernas ciências experimentais transformaram nossa visão de mundo, conduzindo o pensamento racional perante a realidade. Essas ciências dão ao homem uma sensação de “poder” sobre as máquinas para sua manipulação e planejamento racional, o que pode resultar num mundo secularizado despido dos vestígios de Deus. Ele também ecoou sobre a religião. Tinha uma visão de homem presa ao passado fazendo da fé uma ideologia e força reacionária.

Depois do iluminismo, no Ocidente, os pressupostos da Idade Média e da Antiguidade perderam sua ênfase, isso porque diante da modernidade a subjetividade e as razões críticas do método de emancipação iluminista, necessitaram do conhecimento. Antes, porém, no século XVIII, o problema da religião tinha novas conotações, talvez pela caracterização de uma nova situação, como a quebra entre o mundo judaico-cristão e o mundo profano, isso com o desenvolvimento da razão crítica que visa o cultivo da verdade da religião. Ainda no Oriente nos séculos XVII e XVIII tornou-se visível o abismo cavado entre as concepções míticas da Bíblia e as concepções da cultura da época. Esse abismo está enraizado no movimento de emancipação criado pelos teólogos que aplicaram o método histórico-crítico das outras ciências profanas à leitura e interpretação da Bíblia.

Daí tem-se então o surgimento de três atitudes unilaterais a respeito do fenômeno religioso. 1) A negação total da religião, 2) aceitação total da religião e 3)descrição empírica e análise das diferentes concepções e instituições religiosas. No primeiro caso, são atitudes de quem declara a religião como uma simples ideologia, uma ideia falsa. Tais atitudes podem ser encontradas nos filósofos Feuerbach, Nietzsche e Freud e também em alguns marxistas. Essas atitudes em Feuerbach são de caráter romântico partindo da concepção de vida natural não alienada do homem e da humanidade. Em Freud aparece de forma mais cética, esperando que, com o fim da ilusão religiosa no futuro, a humanidade esteja em condições de, com a ajuda da ciência e da razão crítica, construir a harmonia total, liquidando assim a religião em nome da razão, que seria a única possuidora da verdade, considerando a religião como uma ilusão. Marx negara a religião como ideologia, como instituição social e política reacionária que obstaculiza o progresso da humanidade. Afirmara que a religião impede a libertação total do homem. Karl Marx acreditava que transformando a filosofia hegeliana da história e o materialismo através de sua análise da consciência de classe de proletariado, podia constatar tendências para transformações revolucionárias fazendo com que o proletariado seja o sujeito da história.

Essa radical e total negação da religião se vê atualmente em circunstâncias raramente cômodas e parece que vai rever sua posição, ou quem sabe diferenciá-la melhor, pois há uma necessidade de autocrítica. Essa tendência confunde o que se diz, expressa com o que foi dito, expressa, acreditando ter esclarecido este quando exclusivamente explicou aquela.

Com relação ao segundo item (aceitação total da religião), sabe-se da existência dos apologéticos que justificavam a religião (cristianismo) no mundo moderno, isto por causa do distanciamento dela com a evolução histórica do mundo técnico-científico. Seus limites eram expostos na chamada teologia natural, na filosofia transcendental, existencial e personalista do atual século. A teologia natural era marcada principalmente pela metafísica do século XVIII. A fundamentação pela filosofia transcendental é nos seus pressupostos e conseqüências a histórica. O objetivo desse método era mostrar que sem reflexão consciente pode-se interpretar o homem como aberto para as verdades religiosas mediadas. A fundamentação existencialista e personalista da religião assenta em argumentos que perderam sua evidência.

Esta tendência comumente ocorre entre os crentes que praticam a filosofia da religião sob o sinal da concordância. Com diversas estratégias, os representantes dessa tendência querem mostrar profunda solidariedade entre razão e religião.

Com Max Weber, Durkheim, Lévy-Bruhl e Strauss, originou-se o grupo que faz referência ao terceiro item de estudo dessa sequência (descrição empírica e análise das diferentes concepções e instituições religiosas). Esse grupo estuda a religião do ponto de vista histórico, psicológico, sociológico, da análise da linguagem, tudo mediante pesquisas empíricas. Eles interpretam o mundo atual como sendo resultado do processo de secularização, contentando-se com afirmações meramente formais sobre o fenômeno da religião. 

Portanto vê-se que esse movimento teve grandes significações para a filosofia e a religião. É a partir dele que se têm outros surgimentos de atitudes acerca do fenômeno religioso. Tendo surgido na Europa repercutiu em todo o mundo. Esse era o marco de uma grande revolução industrial. Uma nova forma de pensar, com base no conhecimento dedutivo que deveria iluminar as ações humanas e substituir as explicações religiosas do mundo. Tem-se como um dos expoentes de criação desse movimento, a classe burguesa que teve como resultado a criação de inúmeras ciências naturais e sociais. De tal movimento que contestava o poder da igreja, talvez o que se tem de mais negativo hoje seja o desenvolvimento do individualismo exagerado, aí sim, parafraseando Karl Marx, pode-se dizer que o individualismo impede a libertação total do homem.

REFERÊNCIAS

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 534-535

MONDIN, Battista. Curso de Filosofia:Os filósofos do Ocidente. Vol. II. 10. ed. São Paulo: Paulus. 2006. p. 175-196. (Coleção Filosofia)

V.V.A.A. Iluminismo: A revolução intelectual. Belém do Pará: Centro federal de Educação Tecnológica do Pará, 2001. 13p.

ZILLES, Urbano. Filosofia da Religião. São Paulo: Edições Paulinas, 1991. p. 11-19 (Coleção Filosofia)