IGREJA E “IGREJAS” – A REALIDADE DO 3º MILÊNIO 

 Atendei por vós e por todo o rebanho , sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a Igreja de Deus, a qual ele comprou com seus sangue" (At.20:28).

               No final deste versículo aparece um dos elementos que coloca em evidência o antagonismo existente entre o correto sentido de ser da verdadeira Igreja, com a realidade dominante no campo das comunidades que tomaram seu lugar. Como se sabe, na concepção quase geral o termo igreja possui um cunho extremamente amplo, divorciado do real significado do que vem a ser Igreja de Cristo. É por isso que hoje os aglomerados transcendem ao teor do primitivismo cristão: “Igreja” esta, aquela,  aquela utra, etc.

Desde os primórdios da história do povo de Deus, mais precisamente nos períodos subsequentes ao primeiro século, o sentido exato da assembléia dos santos quase fora deixada de lado, com a usurpação do seu lugar por um novo e pernicioso conceito de igreja. Em decorrência disso, novos significados foram impostos, tanto que, os adendos representados por conceitos, práticas e normas extras aos propósitos da Igreja, tomaram conta do glossário doutrinário das inúmeras comunidades que fazem parte do gigantesco universo eclesial. Dessa forma, o testemunho do que temos hoje em matéria de ajuntamentos e normas, ultrapassa em número e grau os conceitos restritos aos fatores que imperavam no seio das primeiras comunidades.

Um retrospecto na vida das primeiras comunidades cristãs mostra-nos que elas não ficaram imunes aos ataques desses elementos que tentaram denegrir o corpo de Cristo. Judaizantes, filosofias estóicas, tendências gnósticas, elementos pagãos e tantos outros fatores fora dos parâmetros divinos não esperaram pelo amadurecimento das assembléias. Foram o “espinho na carne” de fieis e zelosos líderes que lutaram pela pureza do evangelho. Tão intensa foi essa manifestação que algumas comunidades viram-se envolvidas com elementos contraditórios, que exigiram do punho divino missivas às igrejas da Ásia. Mesmo no tempo de Paulo, o apóstolo se viu às voltas com paradoxos ao evangelho de Cristo. A igreja de Corinto é o maior exemplo da “dor de cabeça” do apóstolo.

Eu sei que depois de minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles”(At.20 vs.29-30).

                  Esta profecia retira qualquer dúvida a respeito do que aconteceria em épocas subseqüentes às primeiras igrejas. Não se pode desprezar o momento histórico, mais precisamente durante séculos, quando o sentido de igreja viu-se substituído por conceitos alheios. Tanto que o extremismo passou a ditar normas, servindo-se do que foram os alicerces do cristianismo. Moldando os conceitos evangélicos para “coincidirem com seus próprios pontos de vistas” – como disse Vieira em um de seus notáveis Sermões – a organização “sucessora” agiu a pleno vapor, baseada no novo rumo dado ao vocábulo igreja. Distanciando-se tanto das diretrizes do evangelho, pôde a mega grei dotar seus átrios com o que de mais esdrúxulo possa existir em matéria de alienação dos princípios genuinamente cristãos.

                Embarcando nas fileiras das arbitrariedades, alguns troncos reformados na se fizeram de rogados. Incontinentes, marcharam coesos, pouco diferenciando-se  do antigo “edifício”. Deixaram o sentido real, o qual encerra a correta finalidade de ser de uma assembléia – anunciar o evangelho – para descambar num universo de adoções. Com isto, o papel da igreja fora enormemente transfigurado. Não precisamos ir longe para atestar a veracidade dos fatos, pois o final do versículo que encabeça nossa prédica diz tudo com especial clareza.

 IGREJAS COMO ORGANIZAÇÕES CORPORATIVAS:

                Quando se fala em igreja hoje, o que vem à mente em primeiro lugar?  Um templo, uma placa com um nome, estatutos; um corpo administrativo encarregado das finanças, dos bens, das liturgias, do aspecto social, da relação com a cúpula administrativa (diocese) – sob a qual estão subordinadas todas as comunidades que batem continência à liderança – subordinadas e recebem proventos técnicos e administrativos, normas, regulamentos, projetos, programas e tantas outras decisões conciliares. Tudo isso, sem falar no papel preponderante que exerce a cúpula sobre os líderes locais.

                Mas... o que queremos ressaltar é o significado e o papel da verdadeira Igreja. Aquela que Cristo comprou com seu precioso sangue.  Voltando aos textos básicos, vemos que igreja nada mais é que a soma das pessoas, as quais se enquadram no plano remissivo de Deus através de Cristo. Estes cumprem o papel de levar avante as boas novas – que “é o poder de Deus para a salvação”.  Infelizmente este significado fora substituído desde longo tempo por um sentido totalmente deturpado do que vem a ser igreja.  A razão – ou causa – fora substituída pelas consequências, e por tantos quantos forem os elementos propícios das organizações.

“Vós sois igreja de Deus”, atesta novamente o apóstolo dos gentios. Com que ênfase o baluarte cristocêntrico tratava os elementos que compunham o corpo de Cristo! Em nenhum momento o apóstolo, ao referir-se à igreja, considerou-a uma organização fincada no plano relígio-temporal. Sempre que ele aludiu ao termo tinha em vista os membros apenas, e não o espaço físico, constituições de caráter cartorário,  propriedades, costumes da religiosidade operante, ou coisas que o valham.

Para melhor entendermos está colocação, basta ter em mente que quando Cristo vir buscar sua igreja, Ele levará consigo apenas Seu corpo, ou seja, os remidos por seu sangue. Tudo o mais – que tem sido a vida e a razão de ser das inúmeras comunidades – ficará para sofrer a destruição (2Pe. 3:7). Nenhum dos elementos, quer de ordem humano-religiosa, quer material, subsistirão ao fogo divino.

       Nota-se que, para dar um sentido mais amplo ao termo, os responsáveis pelas inversões de valores denominaram cada uma das agremiações com títulos bastante sugestivos. Assim, dependendo da linha de pensamento e das interpretações que deram às partes das escrituras que tratam do assunto, denominaram suas greis com nomes relativos às visões de cada um dos líderes. Nada mais justo pois, o caráter do “eu sou de Paulo, eu de Apolo”, tão presente na igreja de Corinto,  de forma alguma poderia deixar de manifestar-se, tendo em vista ser essa a regra geral nos momentos pós primeiro século.  “Auxiliares” tais como, co-redentora, elementos místicos, ritualismo oco, cúpulas administrativas, cabeça humana fazendo vez da Cabeça divina e um enorme número de excrescências, tudo em correlação com o que se denominou chamar de igreja”. É bastante comum hoje ouvir dizer: “Vou à(minha) igreja”; estou na igreja “x”, ou na “y”, como se igreja fosse os elementos sólidos e abstratos que passaram a fazer parte do conglomerado eclesial. Milhares de agrupamentos reunidos em torno de  doutrinários tão fugazes  que nada têm em identidade com o primitivismo cristão. 

Preocupa-nos, e muito, a atual conjuntura do poder eclesial nos mais diversos aspectos. Tendo em vista o sentido outrora atuante, que fazia das primeiras assembléias sua principal razão de ser, somos levados a admitir que o Senhor da Igreja, por certo, não poupará os idealizadores das inúmeras organizações por tamanha inversão. Isso nos faz lembrar do recado do Cabeça, ao referir-se à Igreja: “As portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Não prevalecerão contra que igreja, perguntaríamos nós?  Por certo não se referia o Senhor da Igreja aos conglomerados que têm outros pesos, que militam em outras áreas, e cuja razão repousa em outras finalidades. Não se pode negar, contudo, que existam pessoas sérias e sinceros em algum desses meios. Na verdade, as portas do inferno não prevalecerão contra a igreja-pessoa, seres glorificados, a “noiva do Cordeiro, o Corpo de Cristo – de caráter estritamente pessoal e espiritual – o qual subsistirá eternamente pois, o Noivo lhe deu a vida eterna.

A miscelânea criada em torno do termo igreja, removeu quase todo o correto sentido do termo. Fossem obedecidas as peripécies anexadas ao termo, Cristo teria que levar consigo todo o arsenal de cunho material, normas, práticas, ritos, propriedades, doutrinas; em suma, organizações com os mais diversos conteúdos.  Obedecendo aos ditames do conteúdo, do qual fazem parte as comunidades hoje, teriam que ser admitidos no patamar celestial  todos os elementos fugazes que a sapiência humana rotulou como igreja.

TIPOS MAIS COMUNS  DE ”IGREJAS”:

1) Corporação milenar

              . Inicialmente poderemos partir daquele grupo que praticamente iniciou a debandada do cerne da mensagem evangélica. Desse útero contaminado surgiram os demais troncos, os quais seguiram na mesma esteira de suas arbitrariedades. Essa representante-mor foi o exemplo máximo em aberrações no campo da religiosidade. Tendo dado continuidade às heresias que começaram a se manifestar logo no início da vida da Igreja, sua eficácia em subverter o sentido de ser da comunidade primeira, fez de si o gatilho disparado em meio ao bombardeamento das exceções. Desnecessário seria – até – enumerar suas falácias no campo das inversões, adições, retiradas e anulações de enunciados bíblicos. Tudo levado às últimas conseqüências. Contudo, podemos relacionar alguns: “Auxiliares” intercessores, culto a seres humanos e a objetos; adoração à matéria como tendo teor divino; salvação pelas obras, poder sócio–político e relígio–financeiro etc. Grande contingente de elementos com funções além das prerrogativas de um corpo de líderes restritamente envolvido na causa do Mestre. Em outras palavras, uma hierarquia jamais vista no seio da Igreja de Cristo. O envolvimento com o poder temporal fez com que esta organização adotasse as mesmas premissas do judaísmo: igreja e estado se fundiram, formando um todo.

2) Corporações reformadas::

            A princípio estes grupos fizeram trabalhos bastante identificáveis com a comunidade primeira. Coube a eles o resgate dos princípios que nortearam a vida da primeira comunidade, pois, como já vimos, a comunidade pós primitivismo extremada nos desvios, a geratriz de toda a celeuma, fizera com que perdesse o sentido exato da magna assembléia dos santos. Por isso, foi preciso que as comunidades reformadas trouxessem a lume o evangelho perdido no limiar da “Idade das Trevas”.  Entretanto, com o passar dos tempos, esses grupos estabeleceram o chamado HERMETISMO ECLESIAL.

Fechados em quatro paredes, passaram a desenvolver um “evangelho” de elite, desprezando o “ide” – substituindo pelo “vinde” – que responderia pela evangelização dos pecadores. Não mais a missão seria o âmago da questão. Em seu lugar um sistema de cúpulas administrativas passou ao gerir a vida da “igreja”. Com fabulosas arrecadações – consomem tudo com seus próprios organismos internos – apenas uma quantia irrisória é destinada às missões. Nesse particular, preferem pagar para que outros façam o “trabalho sujo”.  Diferenciados dos membros das igrejas primitivas, os componentes das comunidades atuais ficam de braços cruzados, esperando os resultados dos “heróis de campos”. Enquanto as igrejas primitivas se expandiram com o trabalho missionário de seus líderes, os grupos de elite adotaram o “Bom é estarmos aqui”.

 Quem não se sente incomodado com os privilégios da maioria dos líderes administrativos que, não obstante os vencimentos serem coisa para não se desprezar, ainda por cima têm casas, telefones, carros, combustíveis, ajuda de custo, poupança, contribuição social, sem contar os auxílios voluntários? Tudo de mão beijada! Estaria tudo isso inserido no contexto do “Seja o obreiro digno do seu salário”, ou melhor, “quem anuncia o evangelho que viva do evangelho”?  Poderíamos dizer em alto e bom som, que os líderes de hoje estão realmente pregando o evangelho, como faziam os primitivos líderes? E os demais líderes, que possuem cargos apenas de formalidade, sendo que em nada, absolutamente nada, os identificam com os evangelistas da era primitiva? Os cargos, na atual conjuntura,  não passam de formalismo, caricaturas dos cargos  das assembléias primitivas.

3) Comunidades neo-pentecostais:

Nestes grupos é que se desenrolam as mais variadas exceções que as inversões de valores podem manifestar-se. Seus pontos altos são: o homem como centro – sendo Cristo destronado – para que possa o ser humano receber os benefícios que a moderna tática pode proporcionar. As conseqüências em detrimento da causa, quando os fatores periféricos suplantam o teor da mensagem evangélica. Destarte, os apelos são no sentido do fiel receber, ao invés de se dar ao senhorio de Cristo. Não para servir, porém para ser servido, contrariando os dizeres do Mestre. Um evangelho sem renúncia, uma religiosidade sem entrega, sem o “tome cada dia sua cruz”, e o barateamento da mensagem com a adição de objetos místicos tais como: sal grosso, sabonete do descarrego, colírio para ver espiritualmente(sic), e o que há de mais esdrúxulo em matéria de chamariscos. O apontar o dedo em riste aos pecadores, fazendo-os cônscios de sua miserável condição de separado de Deus, nem pensar!  Afinal, quem gostaria de receber sérias advertências quanto ao caminho que leva ao inferno? Melhor mesmo é oferecer benefício físico-material.

Um aspecto interessante nos cultos, o qual é dirigido àqueles que querem marchar coesos no “reino que é deste mundo”, tem por resultados templos repletos, verdadeiros inchaços que locupletam auditórios. Fosse anunciada a mensagem que desnuda o pecador, conscientizando-o de sua condição de rebelado contra Deus, sendo por isso réu do inferno, inegavelmente os recintos não estariam tão repletos, nem haveria oportunidades dos “homens de deus” construir mega-templos. Tão pouco o povo cairia no engodo das curas por sugestionamentos, quando dores de cabeça, dores lombares, protuberantes caroços e toda sorte de casos que uma medicina caseira não possa debelar, deixaria de encabeçar a extensa relação do ganha pão desses líderes”. Gostaria de ver um desses “milagreiros” curar uma mão ressequida, uma hanseníase, dar vista a um cego; um aleijado andar, multiplicar pães como aconteceu no tempo de Cristo e dos apóstolos.

4) Comunidades herético-sectaristas:

Nestes meios as exceções são tantas que fogem espetacularmente de quaisquer atribuições como corpo de Cristo. Assim é que, para os componentes destes grupos, as normas extremamente difusas têm seu ápice na negação da divindade de Cristo. Ao tomarem ao pé da letra o enunciado que diz ser Cristo “o primogênito de toda a criação”, não levam em conta que, se Cristo for um ente criado – não gerado pelo Pai – Ele criou a Sim mesmo, visto que foi Ele quem fez o universo. Isto está em choque com os enunciados bíblicos que exalta o Filho, ao dizer: “No princípio criou Deus os céus e a terra; Tudo foi feito por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez;  ...pelo que também fez o universo”. Estas referências aludem à pessoa de Cristo.

Ao lado deste grupo desponta outro de igual magnitude, com concepções tão esdrúxulas como as daquele. Neste solar de criatividade estanque, surge a idéia de uma “igreja cristã restaurada”, onde seu “profeta” restaurou as “verdades” bíblicas. Somente que para essa “restauração”, o enviado teve que criar uma nova autoridade, sob a qual seus ensinos consubstanciam-se. Placas com dizeres, ordenanças divinas, anjo com inigualável caráter revelador e escritos que “complementam” a bíblia. Tudo ao gosto da prédica de tão notável visionário.

 Em suma, um universo de aglomerados, cada qual defendendo seu quinhão, faz o dia-a-dia do caráter religioso de nossos dias. Se por um lado o termo Igreja restringe os elementos humanos; salvos, perdoados, regenerados, justificados e santificados em Cristo sob a égide do Senhor, barrando quaisquer conotações com o reino temporal, o que se denominou com a alcunha de “igreja” não passa de um arranjo muito bem urdido para colocar forças antagônicas no lugar da Igreja Verdadeira. Em caráter menos abrangente, estariam todas essas comunidades cumprindo o papel designado à Igreja como corpo de Cristo? Cremos que não! Os rituais, as liturgias decoradas, bem como os textos elaborados previamente, perfazem o total das práticas adotadas pelas lideranças. Estas por sua vez têm nos cultos mecanicamente engendrados, verdadeiros martírios para quem fica a esquentar bancos domingo após domingo, sem que haja uma participação efetiva da membresia. Na verdade, sabemos de antemão o que ocorrerá no transcorrer das cerimônias litúrgicas.  Entram anos, saem anos, a mesma liturgia, os mesmos sistemas, nos quais os sermões têm por meta atingir os que já fazem parte – há anos – do rol da “igreja”. Exortações mil, ilustrações batidas, que mais parecem carros amassados, refrões que dão a sensação de que as rezas romanas não perderam sua validade e eficácia.

No tocante ao papel designado aos oficiais, este não deixa transparecer similaridade com o papel desempenhado pela liderança primitiva. Ocorrem as mesmices, as tarefas de caráter meramente formal, cujo resultado fica no simples afã de perpetuar um sistema que nada tem em comum com a conduta dos fiéis e abnegados evangelistas do passado. “O mundo é minha paróquia”, o lema de Wesley. Minha comunidade é minha razão de ser, provavelmente dizem os líderes da atualidade. Suas funções não passam da distribuição dos elementos eucarísticos, reunirem-se em conselhos e tratar das finanças e demais negócios da corporação. Sair a campo? Nem pensar! O hermetismo crasso não os deixa abandonar as “quatro paredes”. Se pelo menos assumissem o “minha cidade é minha paróquia”...!!!

                As novidades que tomam conta dos atos nas reuniões dão muito o que pensar aos mais “passados no tempo”. Uma mescla sem par não permite mais saber onde termina o teor profano e começa o ritualismo da religiosidade. Sem atentar para a letra não há como distinguir, se se trata de um louvor ou uma peça profana, tanto a similaridade de uma com a outra. Por suas vez as heresias, o centro nervoso das composições musicais recaem no ser humano. “Eu faço, eu aconteço”, eu isto, eu aquilo, tudo colocando o homem como o epicentro da mensagem cantada. Em linhas gerais, estão corretos, visto que nos apelos o ser humano tem primazia sobre o Senhor. É o homem colocado como causa, ou seja, ele é a razão de ser na moderna ordem. Heresias tais como, “Procure o favor divino pela madrugada que a fila é bem menor”, como se Deus não tivesse condição de atender grande contingente simultaneamente!

                Num momento da história humana um filósofo, com uma lanterna em pleno dia, saiu a procura de um homem..  Paralelamente a esse episódio poder-se-ia, munido de um artefato idêntico, sair em busca da verdadeira Igreja de Cristo.  Iríamos encontrá-la nos meandro que a religiosidade rotulou como “igreja”? Dificilmente o moderno “filósofo” teria sucesso.  Na melhor das hipóteses iria encontrar alguns membros esparsos, aqui, ali, acolá e alhures! Na realidade, o pesquisador se daria com alguns membros da Igreja, a qual é a razão precípua  do ato salvífico do ‘Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Sendo esta a verdadeira Igreja – a totalidade do contingente apenas humano-espiritual, remido pelo carmesim divino – por certo não haveria espanto em encontrar dignos representantes  da Noiva do Cordeiro, mesmo onde as formas alheias à Igreja estejam em evidência.  Sim, pois, é contra esta Igreja que “as portas do inferno não prevalecerão”. É justamente esta comunidade remida que participará das bodas do Cordeiro. Quanto aos mentores das  organizações corporativas, estes receberão seus quinhões no juízo, dando conta de suas inversões, de seus “outros evangelhos”, que substituíram  o verdadeiro evangelho. Paulo, dando ênfase ao evangelho restrito a Cristo, disse que seriam anátemas (malditos) todos quantos anunciasse evangelhos que fossem além do que ele tinha pregado. Como a maioria dos “evangelhos” anunciados hoje vão muito além do evangelho pregado por Paulo, que dizer deste “veredictum” apostolar?

                Resta-nos o consolo de saber que, como na antiguidade, o remanescente – que sempre foi em número reduzido – são os fiéis e dignos membros do corpo de Cristo. Enquanto o dantesco quadro de morte ganhava vulto, os organismos institucionalizados daquela época eram os responsáveis pela aplicação das duras penas àqueles que iam contra os ideais mesclados de seus mentores.  Quão perversos foram os que se alinharam ao culto do eu-religioso, do império que dilacerava as carnes dos verdadeiramente cristãos! Assim também a atualidade dá testemunho de um tipo de perseguição, na qual sofre o verdadeiro corpo de Cristo no seu âmago. É um estado de descontentamento que martiriza, que fere os princípios genuinamente cristãos. Tudo por ver que seus ideais de pureza foram suplantado pelo que vulgarmente se denominou “igreja”.