Igreja Católica Romana – Há luz no final do túnel?

  

 

Resumo:

 

   Este texto é uma visão pessoal, não documental e opinativa sobre acontecimentos recentes no seio da Igreja Católica Romana e se baseia em fatos amplamente divulgados pelas diversas mídias, não pretendendo portanto tornar-se fonte para qualquer trabalho acadêmico. Apenas colocar a algumas pessoas menos afetas ao tema uma forma de interpretar esta realidade. 

 

 

Palavras chave; Igreja Romana, Especulações, obstáculos, hegemonia.

 

 

   O mundo católico vem vivendo nestes últimos quarenta dias situações inusitadas após outras.    

   A renúncia de um Papa; algo que não acontecia a quase 600 anos, causou um abalo , não na estrutura de igreja, mas em sua cúpula. Algo de muito incomum e inaceitável levou Bento XVI a este  ato extremo; na tentativa ,talvez de dar tempo aos seus infiéis de reverem suas posições e corrigir suas práticas.

   Depois da efetivação da sua saída começaram as negociações e especulações sobre como deveria ser o novo Sumo Pontífice. Alguém que conseguisse abafar todos os escândalos, algum reformista, alguém com força para mudar sem muito alarde, alguém para chutar a porta. As possibilidades de opções eram muitas e desconhecidas. Mas como escolher a mais adequada para restaurar a igreja Romana? Não na sua estrutura secular de  poder, mas na sua essência e na simplicidade de sua missão; ensinar o caminho da salvação através de Jesus Cristo.

   A Igreja Romana sempre foi monárquica, hegemônica e eurocêntrica. E conhece pouco do mundo católico fora daquelas plagas. Ela esteve por muito tempo longe do povo, dos fiéis e longe de procurar cumprir a missão  para a qual foi instituída. Cabia agora, entre outras ações também importantes, descobrir porque estava perdendo tanto espaço teológico e como recuperá-lo. Como se as dezenas de cardeias e bispos pós-graduados em teologia, política internacional, filosofia, sociologia, antropologia, psicologia, entre outras ciências humanas, não tivessem condições de reconhecer o fato, estabelecer suas prováveis causas e traçar metas de revertê-lo. Acontece que o Papa sozinho, como tentou João Paulo II não consegue reverter este quadro, Se faz necessário que toda a Igreja acredite na missão e que cada membro a abrace como se a ideia fora sua. De certo foi esta a descoberta dolorosa e frustrante de Bento XVI. Como chefe dos pastores, ele descobriu que havia mais pastores envolvidos em projetos pessoais ou de pequenos grupos oligárquicos na cúpula de instituição do que com o da evangelização e salvação do Homem. Sua cruz seria vitalícia, mas ele, debilitado no campo da saúde pessoal e no político, dentro da instituição; sem poder confiar em ninguém – se assim não o fosse, não teria pego a todos de surpresa com a decisão da renunciar-, bolou uma saída de mestre. Renunciando, poderia manter parte do poder que lhe fora conferido pela Cúria.Seria sempre uma voz  de peso a ser ouvida nas grandes tomadas de decisões- mesmo que apenas nos bastidores. Estava por certo lúcido de sua situação de incompetência; mas não morrera! Estava vivo! Incomodando! Na sombra! A sombra é quase sempre preocupante ou ameaçadora!    

   Vago o cargo, começaram as especulações sobre o perfil e a idade do próximo Papa. Dois aspectos importantíssimos! Já o seriam em uma situação normal; agora era crucial acerta no consenso.

   A questão do perfil, porque não poderia ser alguém que denotasse aos fiéis mais preocupados que nada mudaria nas práticas obscuras na instituição. Teria que se alguém que, pelo menos trouxesse promessas de mudanças e que contasse com a simpatia de parte significativa dos seguidores. Não poderia ser, neste momento – ou em momento algum- mas neste em particular- , alguém que abrisse todos os cofres, arejasse todos os sótãos, todos os porões, retirasse tudo de debaixo dos tapetes. As possibilidades de perder boa parte dos atuais seguidores e a ninguém mais conquistar, seriam, neste caso, reais e desastrosas para a Igreja Romana.

   A questão da idade também preocupava. Não é ela em si garantidora de perfil conservador ou renovador. O problema neste caso é que o cargo é vitalício.Um cardeal quase chegando o limite de idade- 80 anos- , mesmo com todo a  aparato, possibilidades, recursos e benefícios que o cargo faculta, teria uma perspectiva de vida de no máximo 20anos de pontifício. Um cardeal entrado na casa dos 60 anos poderia ficar mais de 30 anos no cargo. 20 anos é um tempo razoável para mudar sem escândalos. Criar e implantar nova mentalidade, ideologia e imagem da instituição. Retirar do poder, de forma quase natural, as ervas daninhas que lá se instalaram. Um cardeal muito novo poderia seria o obstáculo para este plano, o que deve ser o mais coerente para a a maioria dos cardeais. Principalmente se ele viesse com a intenção de chutar a porta.

   Outro obstáculo colocado, este pelo próprio Bento XVI, foi  a recomendação de que o novo Papa teria que se comprometer em não renunciar. O que, dentre outras coisas, foi uma grande maldade dele. Isto porque, quando ele se deparou com situações intrincadas e para ele insolúveis,  e no exercício de um cargo vitalício, tinha três opções:declinar competência, ou seja, continuar no cargo e fingir que nada via, ouvia ou sabia;  renunciar- como o fez – ou,em última instância, suicidar-se, o que é para a Igreja um gravíssimo pecado, mas era uma de suas opções. Ao atual e aos próximos restaram a primeira e a última.Não mais poderão abandonar o barco. Se bem que não julgo ter sido isto que fez Bento XVI, salvo o prejuízo no aspecto de que, tendo mais de oitenta anos, esta privado do direito de cardeal de votar no sucessor.            

   Outro aspecto a ser abordado seria a quebra da hegemonia europeia no pontificado. Um novo Papa daquele continente poderia trazer certamente a ideia de um continuísmo nefasto à instituição. Todos ligados, direta ou indiretamente ao Secretário de Estado e ao Camerlengo, principalmente, que eram as pessoas mais próximas a Bento XVI, mas que não conseguiram ajudá-lo ou sequer prever sua atitude, seriam vistos com reservas. Não só pela Igreja, como por inúmeras autoridades políticas ou religiosas  que tem alguma ligação com a Igreja Romana em todo o mundo. Ai realmente o problema toma contornos ideológicos. Tirando a preferência por um europeu, não se sabe exatamente se a Cúria Romana esteve, está ou estará preparada para entregar a Igreja nas mãos de um negro ou de um asiático. Restava uma decisão politica, mas não tão radical, apesar da posição firme de Bento XVI em criticar e dizer o que pensava da cúpula da instituição. Se ele lhe fez censuras em público, sabe-se lá  o que disse aos cardeais entre quatro paredes. A missão era agora escolher um representante que tivesse a obscuridade política e a notoriedade pastoral necessárias para resolver os problemas, sabidos ou não, da Igreja Católica Romana . Que não parecesse uma carta marcada. Mas Asia, África estavam fora! As figuras do Reino Unido estavam comprometidas; além das questões  políticas e escândalos, a ameaça clara de renovação em alguns dogmas, como o do celibato. Os representantes dos E.E.U.U., em sua maioria estavam envolvidos em escândalos de abusos contra menores e homossexualismo. Dos cinco cotados advindos do Brasil, dois tiveram um entrevero sério durante uma das reuniões – Scherer a Aviz – por divergências sobre como tratar os problemas com as autoridades e a mídia, vazamento e informações, as condutas de algumas autoridades eclesiásticas no Vaticano. Isto, muito provavelmente, deixou Aviz definitivamente fora da disputa; mas não a Scherer.  Segundo informações não confirmadas, na primeira rodada seu nome era um dos três mais votados. Mas acabou ficando fora. Até porque, é pública e notória a estreita ligação de Scherer com a atual administração do Vaticano, o que o tornava, naturalmente, para os cardeias que queriam alguma mudança, poucas talvez, mas rápidas e eficazes, diante do quadro estabelecido, uma escolha pouco provável, a despeito da grande torcida brasileira.

   A solução parecia passar por alguém com pouco poder e trâmite político na Igreja, principalmente no Vaticano. Alguém que necessitasse de algum tempo para se ambientar e por isso  mesmo, suscetível às diversas opiniões e conselhos dos “medalhões” e dos “experts” sobre assuntos da Cúria, do Vaticano e até da Igreja Romana. Alguém que tivesse influência sobre um grande rebanho, e que pudesse ampliar ou  recuperar rapidamente a área de atuação que a Igreja Romana tem perdido nas últimas duas décadas.           

  Segundo também informações não confirmadas, o nome de Jorge Mario já foi destaque na primeira rodada. Ai veio o consenso e a solução. Um cardeal do terceiro mundo. De um país de maioria católica, vizinho do país com maior número de católicos no mundo. Sem muito conhecimento em Roma, pouco conhecido fora da Argentina – para o mal ou para o bem-, advindo de um país de língua espanhola, maioria no continente americano, jesuíta de formação mas franciscano por concepção, em nada atingido pelos últimos fatos lançados na mídia sobre a instituição. Uma benção para a Igreja! Será?  Não sabemos e talvez não venhamos a saber nunca se sua ascendência italiana- Piemonte – teve alguma influência na escolha; longe mas nem tanto!

  Dispensou a maioria da pompa do cargo. E, ou se enganou redondamente, ou quer enganar  totalmente- e não se sabe ainda a quem-, ou disse exatamente a quem veio, quando escolheu um nome – Francisco - sem qualquer vínculo com setores ou fases de administrações da Igreja Romana. Não se comprometeu, a partir do nome, com qualquer corrente interna ou aspirações externas anteriores. Espera-se que não pretenda criar uma nova dinastia. Diferente mas  não  tão desigual a muitas anteriores, que pareciam ver no Vaticano um grande negócio sustentado pela fé de milhões de adeptos ao longo da História. A única coisa certa é o comprometimento dos jesuítas com a evangelização e a educação. Se ele mantiver esta linha, bom para a Igreja Romana e bom para seus fiéis

   O fato é que a Igreja Católica Romana mudou mais nestes quarenta dias que em seis séculos. E para o bem espiritual de milhões de pessoas, espera-se que tenha mudado para melhor. De qualquer forma - para o bem ou para o mal da igreja Romana a que estamos habituados -,seja bem vindo Francisco!