Diante dos avanços das ciências humanas e sociais, seja através do progresso da área química e biológica ou dos programas e políticas públicas de assistência e proteção social, é notório que a população do país está alcançando, paulatinamente, uma expectativa de vida mais longa. Quando se observa as estatísticas quanto à idade da população, percebe-se o aumento da parcela idosa no País, em especial da região sul, sendo o principal foco o estado do Paraná, em particular a região Centro-Oeste do referido estado, mais precisamente o município de Guarapuava, que em no ano 2000, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tinha uma população total de 166.895 habitantes, sendo que deste total 11.945 eram idosos, o que representa um percentual de 6,92% da população. Como esta faixa etária é acometida por várias patologias, decorrentes do avanço da idade e das condições de vida que o indivíduo é ou está submetido, advindas também da situação sócio-econômica que ele apresenta, sendo esta última o principal objeto deste estudo. Este trabalho tem como objetivo principal avaliar a situação sócio-econômica dos idosos e apreender de que forma esta influencia ou não, no processo saúde-doença desta parcela da população. O objeto deste estudo é a situação sócio-econômica das pessoas idosas, ou seja, acima de 60 anos, residentes no município de Guarapuava, região Centro-Oeste do Estado do Paraná, atendidos pelo Centro Integrado de Atendimento (CIA) do Distrito Sanitário Bom Sucesso, sendo este o nosso campo de estudo, pois é, segundo a Secretaria de Saúde do Município de Guarapuava, a Unidade de Saúde que apresenta maior demanda de população idosa, com um número de 806 idosos. Deste número de idosos foi realizada uma pré-seleção conforme a freqüência ou não ao serviço de saúde daquele Distrito Sanitário, através de consulta dos prontuários existentes na unidade de saúde. Dos idosos pré-selecionados, foram realizadas entrevistas com seis idosos, sendo três que mais freqüentam e três que menos freqüentam o serviço de saúde. O método da pesquisa utilizado é o método qualitativo, onde se procedeu à coleta de dados com auxílio de um formulário/questionário semi-estruturado, com posterior análise temática dos relatos, de forma íntegra, preservando, acima de tudo, o sigilo dos sujeitos do estudo. Esta coleta de dados foi efetuada com o auxílio dos Agentes Comunitários de Saúde do Distrito Sanitário Bom Sucesso, os quais têm um conhecimento mais aguçado da população atendida por aquela instituição de saúde. Da análise temática emergiram categorias, que foram descritas e fundamentadas com base no objetivo deste estudo.

Introdução

O interesse em desenvolver este trabalho, surgiu a partir das nossas percepções sobre o atendimento aos idosos na área da saúde; do desejo em conhecer a situação sócio-econômica desta parcela da população ; e apreender se esta situação influencia ou não no processo saúde-doença dos idosos atendidos pela saúde pública no município de Guarapuava.

Diante os avanços das ciências humanas e sociais, seja através do progresso da área química e biológica ou dos programas e políticas públicas de assistência, proteção e promoção social, é notório que a população do país está alcançando, paulatinamente, uma expectativa de vida mais longa.

Como esta faixa etária é acometida por várias patologias, decorrentes do avanço da idade e das condições de vida que o indivíduo é submetido, advindas também da situação sócio-econômica que ele apresenta, sendo esta última o principal objeto deste estudo.

Este estudo buscou avaliar, arrazoar e descrever a situação sócio-econômica dos idosos, bem como identificar e apreender de que forma esta influencia ou não, no processo saúde-doença desta parcela da população. Destarte, procuramos descrever a percepção do idoso em relação ao atendimento na área da saúde e também transcrever o entendimento e o conhecimento do idoso com referência aos seus direitos garantidos em Lei, ou seja, as Políticas Públicas.

A importância deste trabalho se dá no fato de que, ao conhecer a situação sócio-econômica dos idosos e apreender de que forma esta situação influencia no seu estado de saúde, poderemos partir em busca de subsídios concretos para contribuir na melhoria da qualidade de vida desta parcela da população.

Inicialmente, procuramos conhecer o fenômeno do envelhecimento e os significados do envelhecer. Na seqüência buscamos, junto aos órgãos oficiais, dados que nos permitam visualizar o aumento da parcela de população idosa em relação às demais faixas etárias. Veremos também, neste início do trabalho, como o idoso está inserido nos espaços sociais, trazendo também à discussão, os direitos sociais do idoso que vem sendo instituídos e incrementados, através das políticas públicas.

Num segundo momento, aprofundaremos nossa discussão sobre o idoso e a saúde, verificando também, como se define o processo saúde-doença a partir do momento em que a saúde passou a ser entendida como um conjunto de fatores sociais e não apenas vista como ausência de doenças. Observaremos também quanto à necessidade do envolvimento do Serviço Social na Saúde e sua importância para a promoção da saúde dos idosos.

Na etapa final deste artigo, trazemos a metodologia da pesquisa aplicada no campo de estudo, a caracterização da amostra, a apresentação e análise dos dados coletados, e as considerações finais.

Discussão Teórica e Metodológica

Envelhecer: Seus Significados e Espaços Sociais[1].

Diante os avanços das ciências humanas, através do progresso da área química, biológica e certas conquistas tecnológicas da medicina moderna, logradas ao longo dos últimos 60 anos, que favoreceram a adoção de medidas capazes de prevenir ou curar muitas doenças até então fatais, ou ainda através dos programas e políticas públicas na área social, é notório que a população do país está alcançando, paulatinamente, uma expectativa de vida mais longa, o que nos remete a necessidade de apreender como se dá o processo de envelhecimento.

O envelhecer é um processo natural do homem. Queiramos ou não estamos envelhecendo dia após dia, visto que "envelhecer é um processo fisiológico e natural pelo quais todos os seres vivos passam, e em especial o ser humano". (Caldas, 1998, p. 28).

O termo envelhecer pode ser descrito de pontos de vista distintos, dependendo de que forma o "envelhecer" é lido, seja na ótica das ciências sociais, ou no vislumbrar das ciências biológicas. Para Vargas (1983, p. 73), entende-se por envelhecimento populacional o aumento proporcional de pessoas com mais de 60 anos, no contexto geral da população.

Segundo a Organização Panamericana de Saúde (OPAS, 1993), envelhecer é:

(...) um processo seqüencial, individual, acumulativo, irreversível, não patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao estresse do meio ambiente e, portanto aumente sua possibilidade de morte.

A partir deste diagnóstico, percebemos que ao passo que envelhece o homem está suscetível a um número maior de problemas de saúde, sendo crucial que ele tenha condições sócio-econômicas de ter um envelhecimento mais saudável.

O envelhecimento tem uma dimensão existencial. Como todas as situações humanas, ele modifica a relação do homem com o tempo, seu relacionamento com o mundo e com sua própria história. "Só pode ser entendido na sua totalidade, não representa uma ação ou efeito biológico ou psicológico, é também um efeito sócio-cultural". (Vargas, 1983, p.75).

­­­­O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial e que adquire características muito peculiares no nosso País.

O Idoso no Cenário Nacional

Segundo estimativas do IBGE (2005), o número de pessoas no Brasil hoje é de 186.411.716 pessoas, e estas estimativas indicam que 32 a 33 milhões de pessoas estão com idade superior a 60 anos, sendo considerado, segundo os parâmetros da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2004), um país estruturalmente envelhecido.

O estado do Paraná conta hoje com 722.782 idosos acima de 60 anos, o que corresponde a 7,61% da população do estado, segundo a Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (2005). A realidade populacional do Município de Guarapuava é de 166.895 habitantes, sendo que deste total 11.945 são idosos, representando, portanto, 6,92% da população, segundo estimativas do IBGE no ano de 2005.

É fundamental explicitar que o envelhecimento da população do país não ocorre de forma homogênea em todas as regiões. As diferenças sócio-econômicas e a distribuição desigual da renda interferem na variação da expectativa de vida da população. (Berzins, 2003, p. 28).

A explicação desta alteração na forma da pirâmide etária, conforme análise do discurso de Veras (2003) se faz a partir da evolução do controle da natalidade através dos programas de métodos anti-conceptivos e dos avanços na área da saúde e biotecnologia que proporcionam o aumento da expectativa de vida da população.

Diante desta conjuntura, vemos a necessidade de apreender a atual situação do idoso em seu espaço dentro da sociedade.

O Idoso na Sociedade

Quando apreendemos a existência de um modelo social geral de idoso, sendo este um ser que não gera mais riqueza dentro sociedade, fulcrado no imaginário social, que "é construído pela contraposição à identidade de jovem, somos levados a pensar sobre questões relativas à construção da identidade do idoso e de como esta é sentida e vivida pelos indivíduos classificados como velhos". (MERCADANTE, 2003, p.56).

Nos moldes da sociedade capitalista, a pessoa vale o que produz. O idoso é visto, nesta sociedade, como menos produtivo e a sua substituição pelos mais jovens é uma atitude banal, bem como a lei da oferta e procura incide sobre a força de trabalho como uma mercadoria a mais, desvalorizando o velho. A sociedade utiliza este modelo social de ser que não produz, atribuindo qualidades negativas aos velhos, negando-os, com isso, um futuro de qualidade. Este modelo também é utilizado pelos próprios idosos para classificar outros, fugindo da própria realidade. O indivíduo nega a qualidade de velho no momento que a sociedade atribui somente aspectos negativos desta condição. (DEBERT, 1999).

Com o decorrer dos anos o conceito de idoso para a sociedade foi sendo alterado. Conforme explanações de Barreto (1992, p. 23):

(...) antes do século XVIII, a velhice era considerada ridícula; no século XIX, sábia; no século XX, a velhice como conceito biológico e moral desaparece e a pressão social exerce-se no sentido de negar a velhice enquanto tal valorizando-se a pessoa que consegue disfarçá-la fisicamente (velhos bem conservados) e / ou psicologicamente (velhos de espírito jovem) (...)

Atualmente a sociedade, de modo geral, não valoriza a velhice, conservando apenas o conceito de que os velhos devem ser respeitados, porém este respeito vem travestido de características típicas do indivíduo jovem, tanto física, como moral e psicologicamente.

Os idosos, dentro da atual conjuntura da sociedade, têm lugares próprios destinados ao seu atendimento, entretenimento e manutenção da "identidade". Esses lugares são os centros de convivência para idosos, grupos de terceira idade e ainda programas institucionais de atendimento ao idoso. (VARGAS, 1983).

A família, seio da sociedade, também tem um posicionamento peculiar com relação à pessoa idosa.

Idoso e Família

O idoso é considerado, em muitas famílias, como um peso a ser carregado, que não tem mais utilidade. É um empecilho que atrapalha o desenvolver "normal" das atividades diárias de uma família, como passeios, programas de finais de semana, etc. (sic). Em contrapartida, para a maioria dos idosos, a família tem um papel relativo na sua sobrevivência, sendo que este papel relativo refere-se à liberdade de decisões que o velho deseja tomar, mas a família teme que ele não tenha autonomia suficiente para decidir o que é melhor para si. (MERCADANTE, 1997, p. 55-72).

Existe ainda um pensamento de senso comum que o envelhecimento é sinônimo de dependência econômica, porém os dados do censo 2000, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicam que 62,4% dos idosos eram os responsáveis pelos domicílios brasileiros.

Um dos grandes problemas para o idoso hoje é sua adaptação às exigências do mundo moderno. Isto se deve, em parte, à deficiência educacional desta geração, de uma época em que freqüentar escola era um privilégio de poucos. Por isto, existe o alto índice de analfabetismo, que atinge 5,1 milhões de idosos no país. Existe ainda o analfabetismo funcional, que corresponde aos indivíduos que têm menos de 04 anos de estudo. Os números do Censo mostram que 59,4% dos idosos responsáveis pelos domicílios são analfabetos funcionais.

A principal fonte de renda dos idosos é a aposentadoria, para ambos os sexos.

Vislumbraremos, no próximo ponto, um pouco sobre os direitos promulgados e/ou conquistados pelos idosos no Brasil, no decorrer da história.

O Idoso e o Direito Social

São direitos dos idosos todos os direitos de qualquer cidadão, mesmo não idoso, tais como: saúde, educação, trabalho, lazer, etc., e outros especiais conferidos à pessoa idosa. Podemos encontrar duas versões quando pensamos em legislações referentes aos direitos do idoso. Uma das versões é a que as legislações criadas são frutos das lutas desta parcela da sociedade para garantir seus direitos. A outra versão é a que a sociedade cria formas de amenizar as disparidades sociais entre as pessoas idosas e as demais faixas etárias. (sic).

Estas legislações são vinculadas através de políticas públicas específicas para os idosos, por meio das Leis, Decretos e Resoluções, que têm sido criadas no decorrer dos tempos. Políticas de inclusão que tentam garantir o acesso aos mínimos necessários para a sobrevivência, e a manutenção das condições dignas de vida.

Segundo o pensamento de Debert (1999, s.p.):

A gestão da velhice foi, por muito tempo, considerada, em sociedades ocidentais modernas, como uma problemática específica da vida privada e familiar, ou em termos institucionais, uma questão cingida ao âmbito da previdência individual ou das instituições filantrópicas. Ao adquirir visibilidade social, conseguiu publicidade, expressão e legitimidade no palco das preocupações sociais e transformou-se em uma questão da esfera pública dessas sociedades.

Existe uma gama de deveres do Estado, da sociedade e da família no atendimento ao idoso, com políticas sociais básicas, que foram criadas e aperfeiçoadas no decorrer da história.

A Carta Magna[2] preconiza no Art. 230: "é dever da família, da sociedade e do Estado têm, amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida".

No ano de 1993 é criada a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, Lei nº 8.742, de 07 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá outras providências, tendo como um dos seus objetivos perpetrar que se faça garantir os mínimos recursos sociais necessários para que os idosos tenham condições dignas de vida. Esta Lei tem o Benefício de Prestação Continuada (BPC) [3], como um dos principais referenciais nas políticas de assistência ao idoso. O Decreto nº 1.744, de 05 de dezembro de 1995, regulamenta esta Lei, com referência ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), devido à pessoa portadora de deficiência e ao idoso. Já no seu Artigo 2º esta Lei discorre que "A assistência social tem por objetivos": Inciso I: a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice.

Em 04 de janeiro de 1994 é criada a Lei nº 8.842, que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso (Lei do Idoso), que tem por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação na sociedade. Esta Lei somente é regulamentada em 03 de julho de 1996, pelo Decreto Lei nº 1.948.

O ano de 2003 é marcado com mais uma vitória das lutas dos idosos que se organizaram em seminários e congressos, o que resultou na criação da Lei 10.741 de 1º de outubro de 2003, o Estatuto do Idoso, que é destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. Nos Artigos 8º e 9º, respectivamente, o Estatuto do Idoso trás à luz que "o envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social, nos termos desta Lei e da legislação vigente", e que "é obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade". No Capítulo IV do Estatuto do Idoso, mais precisamente nos Artigos 15º ao 19º, nos trás os direitos dos idosos na área da saúde. [4]

Idoso e Saúde - Situação do Idoso

Segundo análises da Secretaria da Saúde do Estado do Paraná, além das transformações demográficas anteriormente descritas, o Brasil tem experimentado uma transição epidemiológica, com as alterações relevantes no quadro de morbimortalidade. Essa mudança no perfil epidemiológico acarreta grandes despesas com tratamentos médicos e hospitalares, ao mesmo tempo em que se configura como um desafio para as autoridades sanitárias, em especial no que tange à implantação de novos modelos e métodos para o enfrentamento do problema.

No Estado do Paraná são realizadas ações voltadas à população idosa, como, por exemplo, o Projeto Protegendo a Vida da Secretaria Estadual de Saúde do Paraná, em parceria com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Neste projeto foram reciclados 1.781 profissionais, visando inserir no contexto de atendimento do SUS uma abordagem médica e psicossocial adequada.

A Saúde Vista como Conjunto de Fatores Sociais

Com a evolução contínua nas áreas médica, biológica e social, a saúde passou a ser entendida como um conjunto de fatores que envolvem as condições de vida das pessoas, e não apenas como ausência de doenças. Destarte, a apreciação destas inúmeras questões que a saúde passou a englobar nos últimos anos trouxe a incorporação dos fatores sociais envolvendo-os como parte fundamental de determinantes dentro do processo saúde-doença.

O idoso tem direito garantido em lei de ter assistência à saúde, e que esta seja prestada com qualidade. No Estatuto do Idoso de (2003, p. 12), em seu capítulo IV, diz que:

(...) É assegurada à atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e continuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos (...).

Conforme o pensamento de Debert (1999. s.p.), em virtude do incremento do envelhecimento populacional e dos problemas de saúde advindos desse processo, os idosos tornaram-se população-alvo de programas específicos de atenção integral à saúde. Porém, o setor de atenção à saúde manteve a organização do trabalho centrado no atendimento médico individual às doenças crônicas degenerativas, restringindo-se, em grande parte, a atendimentos médicos esporádicos de agravos.

Sabendo que o envolvimento do Serviço Social na área da saúde é crescente, configura-se em uma necessidade a partir do instante que se pensa a saúde pelo modelo de causalidade social.

Mendes (2002, s.p.), afirma que a interação é fundamental com pacientes idosos, para poder interpretar as crenças, valores e condições de vida, verbal ou gestualmente.

O profissional da Assistência Social tem condições teóricas e metodológicas, pautadas no perfil ético-político defendido no Código de Ética da profissão, de ver o idoso na sua totalidade, sua história de vida em função do meio que o cerca.

Destarte, buscaremos conhecer e entender como a situação econômica interfere no do processo saúde-doença da população idosa de Guarapuava.

Apresentação da Pesquisa e Análise dos Dados

Metodologia da Pesquisa Aplicada no Campo de Estudo

Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, tendo como método de pesquisa[5] a pesquisa qualitativa. A pesquisa qualitativa contribui para a compreensão do ser social no momento histórico em constituição, buscando compreender a complexidade e as contradições, como também a imprevisibilidade dos fatos, "(...) assim o pesquisador é ativo descobridor do significado dasações e relações que se ocultam nas estruturas sociais (...)", segundo a afirmação de Chizotti (1998, p. 28). Tendo a oportunidade de apurar as informações repassadas de forma íntegra, evitando uma camuflagem dos dados coletados.

Ainda, segundo Cabral et al (1998, p. 19), a opção por uma abordagem qualitativa "(...) nos permite mergulhar o mais profundamente possível na realidade de um grupo social (...)". O que nos alerta para buscar não somente o que se encontra no papel, quando se responde a um questionário, mas atuarmos como observadores e coletores de informações.

Em conjunto com a realização do trabalho, houve levantamentos teóricos, de onde se extraiu subsídios científicos para descrever, entender e complementar as informações advindas dos dados coletados e das entrevistas realizadas com a classe em estudo.

Houve a expedição de um formulário/entrevista semi-estruturado, o qual serviu de base para apurar dados sobre a identificação da população em ênfase, sejam eles, sexo, idade, estado civil, situação sócio-econômica, freqüência ao atendimento de saúde, qualidade do atendimento recebido e se conhece seus direitos garantidos em Lei.

O campo de estudo é o Centro Integrado de Atendimento (C.I.A.) do Distrito Sanitário (D.S.) Bom Sucesso e os bairros atendidos por esta Unidade de Saúde.

Caracterização da Amostra, Apresentação e Análise dos Dados

Através da coleta dos dados com a aplicação de um instrumento semi-estruturado, as declarações foram analisadas segundo a abordagem temática de Bardin (1979). Minayo (1999, p. 209), nos relata que:

Essa análise temática consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação cuja presença ou freqüência significam alguma coisa para o objetivo analítico visado. Ou seja, tradicionalmente, a análise temática se encaminha para a contagem de freqüência das unidades de significação como definitórias do caráter do discurso.

De acordo com a autora, a análise temática ocorre em três etapas, a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados obtidos e interpretação.

A entrevista foi realizada com seis idosos, retirados da amostragem inicial de oitocentos e seis idosos, através do quesito freqüência ao C.I.A. Bom Sucesso, do D.S. Bom Sucesso nos últimos três meses[6].

Esta amostra foi classificada por: sexo; idade; estado civil; escolaridade; renda; situação habitacional e freqüência ao serviço de saúde, sendo os Sujeitos de Estudo (S.E.) divididos em dois conjuntos, o primeiro dos que utilizam o serviço de saúde com menos freqüência e o segundo que utiliza o serviço de saúde frequentemente.

A população pesquisada constitui-se de 06 sujeitos, sendo 04 do sexo feminino e 02 do sexo masculino, com idade entre 63 e 85 anos, o que confirma os dados divulgados por estudos do IBGE, 2000, onde discorre que existe um número mais significativo de população feminina entre os idosos.

No que diz respeito ao estado civil: 02 viúvos; 01 divorciado; e 03 casados. Com referência à escolaridade: 03 não alfabetizados[7]; e 03 com ensino fundamental incompleto. Isto expressa a realidade brasileira, onde segundo o censo do IBGE (2000), 34,7 % dos idosos são analfabetos, e 24,7% são analfabetos funcionais. Analisando o quadro acima, verificamos que os idosos com menos escolaridade são maioria entre os que mais utilizam o serviço de saúde.

No que tange a renda individual dos idosos e a renda familiar percapita: 02 com renda inferior a 01 S.M.[8], onde a renda familiar percapita de 01é menor que 01 S.M.; e do outro a renda familiar percapita é de ¼ a ½ S.M.; 04 apresentaram renda entre 01 e 02 S.M., onde a renda familiar percapita de 03 dos entrevistados é entre 01 e 02 S.M., enquanto 01 dos idosos tem renda familiar percapita entre ¼ e ½ S.M.. Confrontando estes dados podemos afirmar que os idosos que possuem menor renda são os que mais acessam o serviço de saúde.

Quanto á propriedade da residência: 03 são proprietários; 01 é alugada; e 02 - cedida por familiares ou amigos. Com referência à infra-estrutura: 04 - toda a infra-estrutura necessária; e 02 - infra-estrutura precária; não possuem rede de esgoto nem fossa séptica.

No tocante ao núcleo de convivência: 02 vivem sozinhos; 02 vivem com companheiro (a) e filhos; 01 – apenas com companheiro; 01 - apenas com filhos.

No que tange à responsabilidade pela manutenção do domicílio: 04 - únicos responsáveis; e 02 não são os únicos mantenedores da residência, o que vêm ao encontro do estudo publicado pelo IBGE (2000), onde os números indicavam que 62,4% dos idosos eram os responsáveis pela manutenção do domicílio.

Analisando estes dados, percebemos que os idosos com residências deficitárias no quesito infra-estrutura, somado à responsabilidade pela manutenção dos domicílios e a não posse do domicílio (no caso Cedido), são os que mais utilizaram o serviço de saúde no período pesquisado. Estes dados abonam o discorrido por Arouca (1986, s.p.), onde o autor informa que "nesta concepção social, a saúde ganha uma dimensão muito maior do que simplesmente a ausência de doenças. Ela se supera e também significa o nível e qualidade de vida dos idosos".

Avaliando dados sobre a participação em atividades fora do domicílio, percebemos claramente que os idosos que participam de alguma atividade social freqüentam menos a Unidade de Saúde, enquanto os que não realizam nenhuma atividade estão entre os que mais utilizam os serviços de saúde. Este dado vem ao encontro com o pensamento de Vargas (1983, p. 51), onde este discorre que: "Os idosos, dentro da atual conjuntura da sociedade, têm lugares próprios destinados ao seu atendimento, entretenimento e manutenção da 'identidade'. Esses lugares são os centros de convivência para idosos, grupos de terceira idade e ainda programas institucionais de atendimento ao idoso".

Quando indagados sobre como está sua saúde: 02 - boa; 02 - fraca; e 02 - muito ruim. No que diz respeito aos gastos com sua saúde: 03 não têm gastos, pois utilizam o oferecido pelo sistema público de saúde; e 03 têm gastos com remédios, uma vez que o serviço de saúde não oferece toda a medicação prescrita pelos médicos.

Também foi questionado aos entrevistados, através de perguntas abertas, o que significa saúde para eles, como o acesso à saúde é visto por eles e o que poderia ser feito para melhorar a saúde dos idosos.

Ao analisarmos as falas dos entrevistados quanto ao significado de saúde, percebemos que o conceito de saúde na sua percepção é sempre algo de suma importância e fundamental para obter qualidade de vida.

Ao serem questionados quanto ao acesso à saúde, percebemos ao avaliar as respostas que, 04 dos entrevistados demonstram estar satisfeitos com o atendimento, sendo que a maioria deles freqüenta raramente a Unidade de Saúde para consultas. Já 02 dos entrevistados evidenciam descontentamento com o acesso à saúde, sendo que estes estão entre os que mais freqüentam a Unidade de Saúde para atendimento médico.

Com referência à pergunta: "Na sua visão, o que poderia ser feito para melhorar a saúde dos idosos?", percebemos que cada idoso apresenta, através da sua resposta, as suas necessidades particulares que poderiam se externar num contexto geral.

Ao confrontarmos estas "carências" no atendimento com as garantias que as Leis para os idosos trazem nos seus textos, percebemos que a solução para todas as deficiências está descrita e embasada nestas Leis, porém o desconhecimento e em virtude disso o não cumprimento destas faz com que os idosos não busquem seus direitos, conforme veremos a seguir.

Quando questionados se conheciam o Estatuto do Idoso, seis (06), ou seja, 100% dos entrevistados relataram desconhecer o referido Estatuto e nem tão pouco ouvido falar no mesmo. Com referência ao conhecimento de algum direito do idoso descrito em Lei, quatro (04) dos entrevistados informaram conhecer somente o direito ao transporte coletivo gratuito no município, que é o direito mais divulgado pelos meios de comunicação e até mesmo as empresas de transporte, enquanto dois (02) dos entrevistados dizem não conhecer ou saber de nenhum direito referente ao idoso.

Ainda foi indagado aos idosos, sujeitos de estudo, se eles acreditam que o Estatuto do Idoso e outras Leis que foram feitas para esta parcela da população trouxeram benefícios para o idoso e a saúde do idoso. Os S.E. 1 e S.E. 5 relatam que acreditam que sim, pois estas leis foram criadas para melhorar a vida dos idosos. Já os S.E. 2 e S.E. 4 concordam em suas respostas quando dizem que não, por que não conhecem nenhuma Lei que tenha sido criada para o idoso. O S.E. 3 discorre que acredita que estas Leis trazem benefícios, pois com elas o idoso se sente valorizado. Na sua resposta o S.E. 6 afirma que acredita nos benefícios trazidos por estas Leis, porém critica a falta da divulgação destes direitos quando diz que as Leis deveriam ser mais divulgadas para que todos os idosos as conhecessem.

Desta forma, apreendemos que os direitos para os idosos, garantidos em Lei, existem, sendo o Estatuto do Idoso a maior expressão destes direitos. Porém, a falta de divulgação destes instrumentos, que foram criados para assegurar que o idoso tenha condições mais dignas de vida, faz com que eles não sejam conhecidos pelos mais interessados na execução do que neles se encontra preconizado, que são os próprios idosos.

Considerações Finais

Após realizar a análise das informações colhidas, de acordo com os métodos da análise temática de Bardin (1979), consideramos ter alcançado o objetivo principal de avaliar a situação sócio-econômica dos idosos e apreender de que forma esta influencia ou não no processo saúde-doença desta parcela da população, bem como identificar de que forma a situação sócio-econômica pode determinar o estado de saúde dos idosos atendidos pelo Centro Integrado de Atendimento (CIA) Bom Sucesso do Distrito Sanitário (DS) Bom Sucesso em Guarapuava.

A população idosa não tem a particularidade de exigir ou fazer crítica, ao contrário, muitas vezes age como se tivesse que aceitar a situação em que se encontram sem questionar ou reclamar. Com relação a essa aceitação a autora Waldow (1998) nos traz que a cultura brasileira, que é formada por pessoas de origem humilde, freqüentemente agradece o cuidado recebido, como se estivesse recebendo um favor, ao invés de um direito.

Fato este que também foi visualizado nesta pesquisa, pois a maioria dos entrevistados é de origem humilde e vivem em situação financeira restrita.

O direito ao atendimento de qualidade desta população é garantido no Estatuto do Idoso, mais precisamente no artigo 3°, onde discorre que ao idoso deve ser assegurado com absoluta prioridade, à efetivação ao direito à vida, à saúde. Porém, sabemos que o que determina a Lei não é cumprido à risca, privando os idosos dos direitos conquistados.

Como a saúde passou a ser entendida como um conjunto de fatores que envolvem as condições de vida das pessoas, e não apenas como ausência de doenças, trazendo a incorporação dos fatores sociais envolvendo-os como parte fundamental de determinantes dentro do processo saúde-doença, apontamos a necessidade do aprofundamento da relação entre o atendimento de saúde prestado ao idoso e o Serviço Social.

O profissional Assistente Social tem condições teóricas e metodológicas, pautadas no perfil ético-político defendido no Código de Ética da profissão, de perceber o idoso na sua totalidade, sua história de vida em função do meio que o cerca, aproximando-se desta parcela da população, observando e ouvindo seus anseios através de um diálogo aberto. O diálogo constrói relações de proximidade e vínculo assim como a subjetividade. Ambos permitem uma atenção colaborativa, exposição de dúvidas, problemas ou inquietações, onde se preserva a autonomia.

Após a análise dos dados obtidos na pesquisa podemos considerar, finalmente, que a situação sócio-econômica dos idosos interfere no processo saúde-doença dos mesmos de forma significativa, conforme ficou comprovado e que, a presença do Assistente Social no quadro de profissionais que atuam na área da saúde é fundamental para o desenvolvimento de ações que proporcionem, aos idosos, condições dignas de vida.

Percebemos também que existem políticas sociais de proteção e promoção à saúde do idoso, porém estas não são aplicadas na forma que deveriam e assim acabam sendo meras letras mortas, não cumprindo o fundamento da sua criação.

Além de suprir o objetivo de tal pesquisa, ressalvamos ter sido enriquecedor, pois possibilitou conhecer melhor essa parcela da população, que tem uma enorme importância para o Serviço Social, visto que essa classe sempre requer cuidados em toda a área social e principalmente na saúde. Cuidados estes, feitos através de ações que primem pela prevenção de doenças e promoção da saúde, a partir de melhorias da situação sócio-econômica dos idosos, como também na divulgação das políticas públicas que citam os direitos dos idosos para que estes busquem seus direitos, proporcionando com isso uma melhor qualidade de vida.



[1] Entenderemos como espaços sociais o país, a sociedade e a família.

[2] Dá-se o nome de Carta Magna à Constituição da República Federativa do Brasil.

[3] Os critérios para que o idoso tenha direito ao BPC, segundo a Lei 8.742/93 são: idade superior a 65 anos, que não receba outro benefício previdenciário, e que a renda familiar seja inferior a ¼ de salário mínimo por pessoa.

[4] Os direitos dos idosos na área da saúde não serão referenciados neste ponto, pois serão discutidos no próximo item, o qual fará referência especificamente ao Idoso e à Saúde.

[5]O desenvolvimento da pesquisa está em consonância com o preconizado no Código de Ética do Assistente Social, respeitando o projeto ético-político da profissão e levando em consideração a Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), sobre as pesquisas que envolvem seres humanos. Para isto, foi solicitado o Consentimento Livre e Esclarecido, e a identidade dos participantes será preservada, da mesma forma, a autorização da Secretaria Municipal de Saúde também foi solicitada.

[6] Trimestre: julho, agosto e setembro do corrente ano.

[7] Um dos entrevistados é analfabeto funcional.

[8] S.M.= Salário Mínimo.