Introdução

Neste trabalho será relatada a rotina de trabalho, a vida pessoal, cuidados com a saúde e fatores internos e externos que influenciam a vida de um trabalhador.
Para que realização deste trabalho foram analisados os itens descritos acima na vida de um jovem de 22 anos que trabalha em um a loja de materiais de construção á cinco anos, e que cumpre uma rotina digamos um pouco pesada e sem ao menos ter ou conhecer todos os seus direitos trabalhistas, este jovem cumpre uma carga horária de aproximadamente 264 horas mensais ,sendo 50 horas semanais de segunda á sexta ?feira, 09 horas aos sábados e 07 horas laboradas aos domingos( mesmo que seja feriado) ou seja perante a CLT o correto seria 44 horas semanais e ao menos uma folga nos fins de semana, e já que sua carga horária semanal ultrapassa 66 horas ele deveria ter ao menos 10 horas extras acumuladas somente nos dias trabalhados de segunda á sexta.
Além de não ter seus direitos trabalhistas respeitados, o local em que este jovem exerce suas funções de: motorista de caminhão para entrega de materiais de construções e afins, transportador de produtos, e ajudante de obras; ou seja, ainda exerce mais de uma função em uma área considerada de risco onde á confronto entre policiais e traficantes freqüentemente. Desta forma vemos que este jovem se encontra em um completo estado de alienação decorrente do modo de trabalho capitalista.



Rotina do trabalhador

De acordo com o entrevistado,este acorda ás 06h30minh da manhã, realiza seus afazeres (banho, café, ajeita seu quarto) e faz uma caminhada de aproximadamente 30 min. por não possuir meio de transporte publico até seu local de trabalho que vem a ser próximo á sua residência.
Chegando em seu trabalho ele tem que cumprir junto aos seus três companheiros de serviço o planejamento de entregas de materiais de construção nos domicílio, já que a loja em que trabalha recebe muitas encomendas e possui muitos fregueses , com isto ele exerce sua tripla função a de motorista do caminhão para fazer as entregas,fazer o carregamento das cargas e comumente cumpre outros afazeres como ajudar em obras, concertos em geral.
Geralmente suas entregas são em áreas de risco já que seu local de trabalho é em uma comunidade rodeada por outras, assim ele cumpre seu trabalho fazendo entregas em locais perigosos. Sem saber quando começará um novo confronto entre policia x trafico, depois de um dia exaustivo de entregas e afazeres ele sai de seu trabalho por volta das 17h retomando sua caminhada até sua residência, onde chega primeiramente toma seu remédio Trilax ( ele o toma todos os dias, sem prescrição médica para aliviar suas dores no corpo e de cabeça) toma seu banho, janta e procura ir dormir ou descansar o mais rápido possível para poder estar descansado para mais um dia de trabalho.



Qualidade de vida

Qualidade de vida é um conceito marcadamente multidimensional e que depende de fatores internos, como a percepção, e externos, como o ambiente, e no mundo do trabalho, está ligada à motivação para o trabalho e maior produtividade. Apesar da importância do tema ainda existe uma grande lacuna de conhecimento, principalmente em se tratando da qualidade de vida do trabalhador. Apesar disso, estudos revelam que salários justos, segurança no trabalho, relevância social, flexibilidade, dentre outros, são fatores determinantes para a qualidade de vida do trabalhador. Porém a legislação brasileira ainda é limitada sobre o tema enfocando normas de segurança e atendimento à saúde, não atendendo à abrangência, a multidimensionalidade e a relevância social do tema.
O jovem o qual retratamos anteriormente relata que devido aos seus encargos na sua rotina de trabalho, não pode usufruir de cuidados rotineiros com a sua saúde, e já que este trabalha exercendo três funções como foi exposto previamente, ele no mínimo deveria ter consultas médicas esporádicas e exames médicos para avaliar as dores que sente em seu corpo proveniente da força consumida ao seu trabalho.
Ele relata sentir angústia, palpitações, irritação, não consegue se concentrar para fazer leituras, dores musculares e dor de cabeça, pois alem de carregar peso, trabalha debaixo de sol e chuva, de tal modo que fica exposto a resfriados, gripes entre outros, e se o mesmo precisar faltar ao trabalho por qualquer motivo médico é descontado de seu salário. Devido a estas complicações ele vem encontrando dificuldades em seu convívio familiar, pois quando chega a sua residência encontra se cansado e desanimado e estressado de seu trabalho com isso o afastando de seus vínculos familiares, pois o operário se encontra cansado e o pouco tempo que tem para si ele procura se isolar para descansar, este tipo de comportamento decorrente de seu labor o incomoda bastante, pois ele reconhece sua irritabilidade,falta de concentração,inquietação,e obviamente ele gostaria de ter mais disponibilidade para sua família e para si, ele ainda narra que antes de todo esse desgaste no seu ambiente de trabalho seu convívio familiar era ótimo,ele participava das reuniões familiares,tinha tempo livre para os amigos e para manter em dia sua vida afetiva e também praticava exercícios físicos o que antes ele fazia por prazer e com acompanhamento em uma academia,atualmente ele faz por imposição de seu trabalho devido ao excesso de peso que carrega.
A qualidade de vida no trabalho, normalmente é analisada a partir da relação da qualidade de vida do trabalhador com sua produtividade, mas, cada vez mais, os estudos e intervenções estão focalizados também em aspectos da vida do trabalhador não diretamente ligados ao seu trabalho para a análise da qualidade de vida (OLIVEIRA, 1997; LACAZ, 2000; VASCONCELOS, 2001). Apesar disso, algumas discussões mais recentes trazem a terminologia "qualidade de vida do trabalhador" deixando mais claro que a qualidade de vida não se restringe somente ao local e ao momento do trabalho, mas sim, possui relação com todos os outros aspectos que formam a vida das pessoas (trabalhador e sua família) como a satisfação pessoal, relacionamento familiar, oportunidades de lazer, dentre outros (NAHAS, 2003).
       


Ideologia Defensiva

Encontro traços da Ideologia defensiva desde o momento em que percebo que o trabalhador encontra se desmotivado a continuar a cumprir sua jornada de trabalho, esta por sua vez é cumprida corretamente devido a necessidade de o trabalhador manter o seu provimento, mesmo que ele não seja valorizado e muito menos bem remunerado ou tenha em dia seus direitos trabalhistas.
No entanto o jovem trabalhador se depara com outros obstáculos como ter que trabalhar em uma comunidade que como muitas outras no Rio de Janeiro é considerada área de risco,a comunidade referida chama-se Morro da Merendiba onde a pouco tempo atrás foi destaque nos noticiários devido a um confronto(dos muitos que acontecem) entre policiais e traficantes, sendo que a loja de material de construções em que ele trabalha fica no meio da linha de fogo entre traficantes e policiais,o que põe não só a sua vida mais também a de seus colegas de trabalho em risco,ele descreve que certa vez estava escorado em algumas madeiras construindo uma parede para o segundo andar da loja em que trabalha quando de repente começou um intenso tiroteio e que ele não teve como correr pois o lugar que estava era alto e para ele sair dali seria preciso que ele pulasse um pequeno buraco que eles fariam um basculante e se ele pulasse mais risco ele correria pois o buraco era pequeno para ele pular sem ajuda de um companheiro de trabalho ou poderia tomar um tiro por confundirem ele com traficante , então sua escapatória foi abaixar-se e esperar para que o confronto cessasse para que ele pudesse sair dali.E mesmo assim ele não deixa de cumprir com suas obrigações ,ele demonstra traços da ideologia defensiva pelo seu contato contínuo com a dor (relatou muitas dores musculares e de cabeça devido ao peso e esforço que faz),Falando muito, movimentando-se bastante , se diz uma pessoa muito irritada ele sabe o seu desgaste físico e emocional, os riscos que corre e pela necessidade de ter seu ganha pão continua a exercer suas funções em seu trabalho.




Conclusão

Para Dejours é de grande valor que os trabalhadores , exponham todo o sofrimento físico e mental que os aflige, sejam ele de qualquer área, que os aflige. Com o trabalho organizado é possível evitar todo esse conflito. Sejam na repartição do trabalho, dividindo as tarefas entre os operadores, os ritmos impostos e os métodos operatórios prescritos, mas também, e, sobretudo, a divisão dos homens para garantir essa divisão de tarefas, representadas pelas hierarquias, as repartições de responsabilidade e os sistemas de controle. Para Dejours a hierarquia e a rigidez da instituição e de seus regulamentos forjam uma ideologia profissional defensiva de natureza estereotipada e também chamando a atenção para o fato de que o trabalho contribui para a formação da personalidade, através da construção da auto-imagem, mostrando que ele não é fonte apenas de satisfação patrimonial, mas pode ser fonte de satisfação simbólica e emocional do trabalhador.
Num momento em que se discute o desmanche de direitos sociais e principalmente do direito do trabalho, que até hoje tem a marca da proteção patrimonialista do empregado na relação desigual que este mantém com o empregador, falar da ampliação da tutela do direito do trabalho para que ela possa abarcar o aspecto emocional e mental do trabalhador ,e ainda aponta as causas da insatisfação e de desestruturação psíquica do trabalhador.
Há a insatisfação em relação ao conteúdo significativo da tarefa, as exigências, ou a "carga de trabalho". A organização do trabalho, concebida por um serviço especializado da empresa, estranho aos trabalhadores, choca-se frontalmente com a vida mental, e mais precisamente, com a esfera das aspirações, das motivações e dos desejos. Considera como regra, quanto mais à organização do trabalho é rígida, mais a divisão do trabalho é acentuada, menor é o conteúdo significativo do trabalho e menores são as possibilidades de mudá-lo. Correlativamente, o sofrimento aumenta. A insatisfação proveniente de um trabalho sobrecarregado onde por muitas vezes o empregador vê o empregado como adaptação homem-máquina inadaptado à estrutura da personalidade também é fonte de sofrimento. Os efeitos desta carga e o sofrimento estão no registro mental e se ocasionam desordens no corpo, não são equivalentes às doenças diretamente infligidas ao organismo pelas condições de trabalho. O conflito não é outro senão o que opõe o homem à organização do trabalho.




Referencias Bibliográficas


DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1992.
LACAZ, F.A.C. Qualidade de vida no trabalho e saúde/doença. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.5, n.1, p. 151-61, 2000
NAHAS, M.V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 3. ed. Londrina: Midiograf, 2003.
OLIVEIRA S.A. Qualidade da qualidade: uma perspectiva em saúde do trabalhador. Cadernos de Saúde Pública, São Paulo, v.13, n.4, p. 625-34, 1997.
VASCONCELOS, A. F. Qualidade de vida no trabalho: origem, evolução e perspectivas. Cadernos de Pesquisa em Administração, v.8, n.1, p. 23-35, 2001.