IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS ELEMENTOS TEORICOS QUE CONSTITUEM A PSICOPATOLOGIA PSICANALÍTICA


Alessandra Mendes Ferrari ALVES
Nelson Junior TALLARICO
Fabiana Pereira MISAKA2
Claudemir GOMES3


RESUMO: O presente projeto visa fazer uma descrição dos aspectos que constituem alguns aspectos da Psicopatologia, mais especificamente àquela que tem como referencial teórico o modelo psicanalítico. A Psicopatologia psicanalítica é uma modalidade de estudo da psique que se baseia na teoria e na técnica da psicanálise, utilizando-se do conceito de inconsciente postulado por Freud, da associação livre e da compreensão dos sonhos, do humor e dos atos falhos para entender e dar um significado aos conflitos inconscientes. Estes aspectos acabam sendo uma alternativa, e um facilitador, àquelas pessoas que necessitam de um atendimento psicológico voltado para o conhecimento dos aspectos que sustentam os sintomas e conseqüentemente um conhecimento mais amplo de si e das relações que a constituíram como sujeitos.


PALAVRAS-CHAVE: Psicologia. Psicanálise. Psicoterapia.






SUMMARY: This project aims to provide a description of what constitutes some aspects of psychopathology, specifically one that has the psychoanalytic theoretical model. Psychopathology is a form of psychoanalytic study of the psyche that is based on theory and technique of psychoanalysis, using the concept of unconscious postulated by Freud, free association and the understanding of dreams, humor, and slips to understand and give a meaning to unconscious conflicts. These aspects turn out to be an alternative, and a facilitator, to those who need a psychological-oriented aspects of knowledge that underlie the symptoms and therefore a broader knowledge of self and of relationships that constituted as subjects.



KEY-WORDS: Psychopathology. Psychoanalysis. Psychotherapy.




INTRODUÇÃO

Este artigo tem por objetivo alcançar os acadêmicos que se mostram interessado na Psicopatologia em orientação psicanalítica, sabendo de antemão que esse é um assunto que não se esgotara de forma alguma em um único trabalho, e em nenhuma outra obra, pelo simples fato da Psicopatologia Psicanalítica moldar-se e transformar-se de acordo com a atualidade teórica - pratica de nosso tempo.
Seu estudo é de extrema importância para todo aquele profissional que quer adentrar ao sombrio, mais apaixonante mundo da psicanálise, com todas as suas teorias e contradições que vem no decorrer de um século, seduzindo e apaixonando diversas pessoas, sejam estudantes, leigos ou profissionais.
Desde Freud com seu livro "Psicopatologia da vida cotidiana" até nosso tempo, esse tem sido um campo muito explorado pelos profissionais de saúde mental, psicólogos, psicanalista, psiquiatras, todos com um desejo em comum, entender o homem desde sua subjetividade, e não só a partir de aspectos físico que limitam a visão do outro frente ao seu sofrimento psíquico.
Deixamos muito claro a importância da Psicanálise no direcionamento desse trabalho, para então a partir dela partimos numa leitura do que vem a ser o "normal" e o "patológico", assim como os fatores biológicos, psicossocial, educacional, e onde mais a psicanálise se mostrar elucidativa.
Queremos também deixar claro que a Psicopatologia Psicanalítica é uma encruzilhada de vários caminhos, nela desemboca várias áreas do conhecimento cientifico; a psicologia, a psiquiatria dinâmica, a antropologia, a sociologia, todo esse conhecimento se apresenta como constituinte de uma Psicopatologia Psicanalítica moderna e voltada para as necessidades contemporâneas, ainda que seja indispensável e digamos quase impossível não ter um retorno aos autores clássicos da psicanálise, Freud, Lacan, Melanie Klein, e muitos outros que revolucionaram a história, influenciando as diversas áreas das ciências humanas.
Gostaríamos que de alguma forma, esse nosso esforço servisse para auxiliar outros acadêmicos, no longo, e como já disse antes, apaixonante mundo da Psicopatologia Psicanalítica, que os esforços de Freud nos sirvam de exemplo para trilharmos novas descobertas dentro do universo psicanalítico.




DESENVOLVIMENTO DO CONTEÚDO
Considerações gerais

A Psicopatologia psicanalítica é uma área destinada a abordar o funcionamento e o adoecimento psíquico humano. Dentro desta pesquisa, será possível observar essa área do conhecimento humano, desde a sua origem, até a sua definição, seu funcionamento e suas técnicas.
Abordaremos os principais teóricos e suas contribuições para à época até os dias de hoje. Será definido o conceito de Psicopatologia separadamente da Psicanálise, em seguida, somente de Psicanálise, e depois de uma compreensão de cada uma das áreas, será feita uma junção destas, para que seja possível entender, como uma teoria se apóia na outra.
Nesta pesquisa veremos também que, a Psicopatologia nutre-se de uma tradição humanística {a filosofia, a literatura, a psicanálise...}, mas, apesar disso, ela é uma ciência autônoma.
Será possível notar, a importante contribuição da Psicopatologia para a descoberta de uma instância, denominada "inconsciente", que conseqüentemente deu origem ao surgimento da Psicanálise, que tem como principal teórico: Sigmund Freud.Essa pesquisa mostrará também, os métodos terapêuticos, que são utilizados pela Psicopatologia Psicanalítica, e suas contribuições para com o ser humano.


A Psicopatologia Psicanalítica
A origem histórica da psicopatologia Psicanalítica

Segundo Dalgalarrondo (2000), a psicopatologia tem incorporado nos últimos 200 anos, uma grande variedade de abordagens e referencias teórica, que: "[...] quando não se conhece a realidade que se estuda, constroem-se centenas de teorias conflitantes", mas ainda segundo o mesmo autor, o conflito de idéias é uma necessidade.
Então se pode deduzir que não existe uma única Psicopatologia, e sim "Psicopatologias". Mas o marco oficial do inicio da Psicopatologia, segundo Calderoni, se iniciou conforme:
A Psicopatologia como disciplina científica separada da psiquiatria existe recentemente. O termo surgiu em 1878, como sinônimo de Psiquiatria clínica. Somente no inicio do século XX foi criado um método patológico para compreender a psicologia normal pelo estudo do fato patológico. Eis a primeira definição de uma metodologia e de um objeto de estudo próprio a essa área do saber. O marco oficial ocorreu em 1913 com a publicação da obra Psicopatologia Geral, do psiquiatra e fenomenólogo Karl Jaspers; nasceu aí a historia da Psicopatologia (CALDERONI, 2007, p.7).


O funcionamento anormal do psiquismo humano não era tratado de forma separada das patologias físicas tendo pouca atenção por parte da maioria dos médicos. Mas foi alvo de atenção de alguns eminentes médicos e pesquisadores desde épocas mais remotas.

Galeano (século II d.C.), o médico mais famoso após Hipócrates, dirá, retomando Aristóteles, que o corpo é um órganum (instrumento) da alma, está subordinado à alma. Será um meio que a alma utilizara para alicerça os seus fins. Consolidou-se na medicina a idéia da supremacia da alma sobre o corpo, tão cara a tradição judaico-cristã, e todas as doenças passam a ser consideradas como somáticas (CALDERONI, 2007, p.13).


Na idade média a loucura passaria a ser interesse de padres e da Igreja, e menos de filósofos. Partindo de Aristóteles (384-322 a. C) pregam que a cura viria através da palavra severa do mestre (educador moral). Segundo a moral cristã da Renascença, o louco seria aquele que negara a sua parcela divina.

A Psiquiatria será gestada nesse caldo que misturava o humanismo renascentista, a explosão da atividade pesquisadora, científica, artística e filosófica, mas também a Inquisição, a caça as bruxas e as idéias demonológicas sobre a loucura. Quando os médicos são convocados a dar um parecer sobre os acusados de feitiçaria, iniciam um questionamento sobre ligação da loucura com o demônio. Estamos nos primórdios da construção do conceito moderno de doença mental, mas a clínica psiquiátrica só nascera no final do século XVIII (CALDERONI, 2007, p.15).



René Descartes, século XVII disse: "Se alguém pensa, não pode ser louco, se é louco não pode pensar" ele estava dando um importante passo para a separação entre a razão e a desrazão iniciada já na Grécia clássica.Moreau de Tours, século XIX inaugurou a auto-experimentação da loucura por meio do haxixe. Turs conclui então que: "não é preciso ingerir drogas, basta sonhar, pois os sonhos reproduzem as mesmas características da loucura. O louco seria, portanto, aquele que sonha acordado e, por isso, o sonho permite compreendê-lo". O pensamento de Tours coincide com um dos mais importantes campos de interesse de Sigmund Freud no campo das psicopatologias.

A ida de Freud a França estudar com Charcot, viria a se tornar um grande marco de interesse e direcionamento dos estudos de Freud. Sigmund Freud produz então uma grande ruptura na história da Psicopatologia com a introdução do conceito de inconsciente. Partindo da escuta atenta de seus pacientes em estado de sofrimento mental, procurou estabelecer os mecanismos psíquicos envolvidos na eclosão das neuroses, psicoses e perversões.

Assim sendo, Charcot e seus histéricos participaram da abertura do campo da Psicopatologia. A partir dele, começou a ser levada a serio a existência de um fato patológico que não se reduz jamais a lesões anatomo-clinica, a distúrbios de funções fisiológicas, a influência do meio ambiente, a agentes químicos ou físicos externos enfim, a quaisquer explicações bioquímicas, mecânicas, sociológicas ou morais. A Psicopatologia deve muitas as histéricas que, com seus sintomas espetaculares e seu intenso sofrimento, questionaram todas as teorias medicas então existente (CALDERONI, 2007, p.21).


Contudo foi o seu trabalho com as pacientes histéricas o elemento decisivo para o desenvolvimento de uma teoria própria do psiquismo humano, teoria esta que daria início a uma psicopatologia exclusivamente psicanalítica.

A Psicopatologia Psicanalítica é uma encruzilhada de vários caminhos. Nela desemboca o conhecimento da teoria psicanalítica geral, o conhecimento da psiquiatria dinâmica, o conhecimento das contribuições técnicas psicanalíticas, assim como os enquadramentos epistemológicos modernos que testam e valiam todas essas produções discursivas. (KUSNETZOFF, 1982, P.13).


Justamente por esse motivo se faz necessário o profissional em psicopatologia psicanalítica o estudo de outras abordagens em psicopatologia, e em psicopatologia geral.
Dalgalarrondo destaca várias vertentes filosóficas que contribuíram para a formação dos modernos conceitos em Psicopatologia dentre elas:

1-Psicopatologia Descritiva. Para a Psicopatologia descritiva interessa fundamentalmente a forma das alterações psíquica, a estrutura dos sintomas".
2-Psicopatologia psicodinâmica. Para a Psicopatologia psicodinâmica o que interessa é o conteúdo da vivencia, os movimentos internos dos afetos, desejos e temores do indivíduo sua experiência particular, pessoal, não necessariamente classificável em sintomas previamente descritivos.
3-Psicopatologia Médica. A perspectiva médico-naturalista trabalha com uma noção do homem centrada no corpo [...] assim o adoecimento mental é visto como um mau funcionamento do cérebro.
4-Psicopatologia Existencial. Já na perspectiva existencial, o doente é visto principalmente como "existência singular", como ser lançado a um mundo que é apenas natural e biológico na sua dimensão elementar, mas que é fundamentalmente histórico e humano.
5-Psicopatologia Comportamental. O homem é visto como um conjunto de comportamentos observáveis, verificáveis, regulados por estímulos específicos e gerais, bem como por certas leis e determinantes do aprendizado.
6-Psicopatologia Psicanalítica. O homem é visto como um ser "determinado", dominado, por forças, desejos e conflitos inconscientes. A psicanálise dá grande importância aos afetos, que, segundo ela, dominam o psiquismo; o homem racional, autocontrolado, senhor de si e de seus desejos, é, para ela, uma enorme ilusão." (DALGALARRONDO, 2000, p.27).


A teoria psicanalítica da psicopatologia é uma teoria dos "porquês". Para Freud os chistes, as amnésias temporárias, os atos falhos eram extremamente significativo na constituição psíquica inconsciente do indivíduo.
De outro modo, a psicanálise também lutava no sentido de atingir o rigor cientifico próprio das ciências positivista da época, considerando os fenômenos psíquicos sob a luz das ciências naturais. Porem o objeto de estudo da psicanálise é da ordem da subjetividade e Freud como destaca Fenichel (1981) colocou esse objeto no mesmo nível dos outros objetos de investigação:

"Freud investigou o mundo mental com o mesmo espírito científico com que os seus mestres haviam investigado o mundo físico, o que implicou a mesma rebeldia contra os preceitos até então ensinados. O tema é que é irracional e não o método da psicanálise". (FENICHEL, 1981, p.2)




Definição Técnica de Psicopatologia Psicanalítica

Para se entender o conceito de psicopatologia psicanalítica, é preciso antes, entender cada uma das áreas separadas, embora elas sejam interdisciplinares.
O dicionário técnico Doron traz a definição de psicopatologia, da seguinte forma::

[...] Como ramo da psicologia, a psicopatologia baseia-se no conhecimento do funcionamento normal para desprender, descrever e analisar esses comportamentos patológicos. Os referentes teóricos e o contexto metodológico empregado para explicar essas condutas anormais são, portanto, variados, como o são as abordagens que presidem a descrição do funcionamento normal (DORON, 2001, p. 634)

E sobre a psicanálise, diz que:

"S. Freud dá, a respeito da psicanálise, uma definição que, na realidade é trípice: procedimento específico de investigação das formações de pensamento inconsciente (conteúdo latente); método terapêutico dos distúrbios neuróticos; e nova disciplina do campo da psicologia".
Como procedimento de investigação a psicanálise se caracteriza pelos métodos de associações livres [...] Como método terapêutico baseia-se na relação real e fantasia com o psicanalista (transferência) [...] Como ciência, ela é heterogênea: interessa-se tanto por dados observáveis e por sua descrição, como por leis de organização do funcionamento mental, ou por axiomas que se prendem a uma teoria da subjetividade. "(DORON, 2001, p. 622).


Segundo Paulo Dalgalarrondo (2000, p.22), "a psicopatologia, pode ser definida como um conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano".
È importante saber que a psicopatologia como todo conhecimento cientifico, se esforça por ser sistemático elucidativo e desmistificaste. Ela nutre-se de uma tradição humanística como: a filosofia, as artes, a literatura, a psicanálise, mas é uma ciência autônoma, e não uma continuação da neurologia, nem da psicologia.
Para Jaspers(1913) a ciência psicopatológica é tida como uma das abordagens possíveis do homem mentalmente doente, mas não a única e exclusiva.
Temas como: a sobrevivência e a segurança, a sexualidade, os temores básicos (morte, doença, miséria, etc), entram como ingredientes fundamentais na experiência psicopatológica. Estes temas são os conteúdos dos sintomas.
A teoria psicanalítica de Freud aproximou-se essas duas áreas, e isso é possível de se observar no livro de Jorge A. Kury que diz:

Dentro da teoria Freudiana, as que tiveram maior divulgação foram justamente as interpretações do acontecer patológico da mente. Apesar disto, o estudo da psicopatologia em Freud tem características de um passo intermediário para se chegar a uma outra questão. É que, para Freud, não interessa tanto o estudo do doente como tal, ma sim, a possibilidade de formular umas teorias globais do psiquismo, cujos eixos são o sexual, o infantil e o reprimido (inconsciente).(KURY,1988,p.11).



Dessa maneira, Kury (1988, p.13), ainda diz que "o dilema da psicopatologia psicanalítica é que seu modelo de saúde (implícito em qualquer psicopatologia) é indefinível, pois lhe carecem os pontos .
Entende-se que a psicanálise não tem como única característica, somente o acontecer patológico do ser humano, mas sim, buscar desenvolver teorias do funcionamento normal do psiquismo, baseados nos conteúdos sexuais.
Ainda segundo Kury (1988, p.15) "o objeto habitual de estudo da psicopatologia, não é o individuo sem sintomas, pois a psicopatologia opera com os produtos do fracasso da repressão."

Dessa maneira, o tornar consciente o inconsciente, faria com que a pessoa se recordasse do fato traumático, e pudesse se sentir aliviada em reviver e expor tais acontecimentos.
Freud, no começo de sua carreira, se apropriou de técnica da hipnose utilizada por pesquisadores como Charcot, Bernheim e Liebault. Posteriormente, abandonou a hipnose e começou a utilizar a técnica da Associação Livre, no qual ele solicitava a seus pacientes que lhe comunicasse todo pensamento que surgisse na consciência.
Freud descobriu o inconsciente a partir do momento em que começou a utilizar a nova técnica, pois:

"Desta forma, adquiriu nitidez uma ampla "zona" do psiquismo localizável fora do campo consciente; ali era possível encontra "marcas" de vivências pretéritas que permitiam explicar o que se expressava sob forma de sintoma, de descontinuidades do processo consciente. (KURY, 1988, p.17).


O inconsciente é atemporal, ou seja, não há percepção de tempo; já o consciente se impõe a noção de tempo e distingue, por meio do pensamento, o passado e o presente.
Dessa maneira, KURY diz que:

" O distúrbio neurótico (como representante típico do conflito psíquico evidente em qualquer quadro psicopatológico), enquanto expressa uma injunção do desejo inconsciente, contém, em sua configuração, a alternativa de repetir ao longo da história de um sujeito, modalidades de expressão em que se reitera intemporalmente antigas aspirações.
Portanto, Sigmund Freud tem sido sem dúvida, o autor que mais tem influído na teoria possível sobre o fenômeno psicopatológico." (KURY,.1988, p.112).

O funcionamento da Psicopatologia Psicanalítica

A Psicopatologia Psicanalítica se apresenta como uma ciência que visa o tratamento dos transtornos e sofrimentos psíquicos. Mas não se caracteriza somente pelo estudo do que é patológico como deixa claro Freud em seu livro "Psicopatologia da vida cotidiana", ou seja, uma psicopatologia que faz parte da vida de todos e não somente dos assim chamados "doentes mentais".
O estudo de fenômenos simples, as vias da despretensão, os chistes, os atos falhos, e os sonhos que todas as pessoas, até as ditas "normais" experimentam no seu dia a dia, tornaram-se objeto de imenso valor para a Psicopatologia Psicanalítica, desde Freud com seu livro Psicopatologia da vida cotidiana que diz:

A especial simpatia com que Freud encarava os atos falhos se devia, sem dúvida, ao fato de eles serem, juntamente com os sonhos, o que lhe permitiu estender à vida psíquica normal as descobertas que antes fizera em relação às neuroses. Pela mesma razão ele os empregava regularmente como o melhor material preliminar para introduzir nas descobertas da psicanálise os estudiosos que não eram médicos. Esse material era simples e, pelo menos à primeira vista, imune a objeções, além de se referir a fenômenos experimentados por qualquer pessoa normal. Em seus textos expositivos, Freud às vezes preferia os atos falhos aos sonhos, que envolviam mecanismos mais complicados e tendiam a conduzir rapidamente para águas mais profundas. Eis por que inaugurou sua grande série de Conferências Introdutórias de 1916-17 dedicando aos atos falhos as três primeiras ? nas quais, por sinal, reaparecem muitos dos exemplos das páginas seguintes; e deu aos atos falhos prioridade semelhante em suas contribuições à revista Scientia (1913j) e à enciclopédia de Marcuse (1923a). Apesar de esses fenômenos serem simples e facilmente explicáveis, Freud pôde com eles demonstrar aquilo que, afinal, foi a tese fundamental estabelecida em A Interpretação dos Sonhos; a existência de dois modos distintos de funcionamento psíquico, por ele descritos como os processos primário e secundário. Ademais, outra crença básica de Freud encontrava apoio convincente no exame dos atos falhos ? sua crença na aplicação universal do determinismo aos eventos psíquicos. É nessa verdade que ele insiste no último capítulo do livro: teoricamente, seria possível descobrir os determinantes psíquicos de cada um dos menores detalhes dos processos anímicos. E talvez o fato de esse objetivo parecer mais fácil de atingir no caso dos atos falhos tenha sido outra razão para que exercessem sobre Freud uma atração especial. De fato, ele tornou a referir-se exatamente a esse ponto em seu breve artigo "As Sutilezas de um Ato Falho" (1935b), um de seus últimos escritos. ( FREUD, 1969,p.10).



Diferente de outras abordagens psicopatológicas, a Psicopatologia Psicanalítica tem em sua lógica de funcionamento o estudo do inconsciente como princípio fundamental de sua abordagem teórica.
A partir da escuta atenta dos pacientes a Psicopatologia Psicanalítica visa penetrar nos mecanismo psíquico específico envolvido na eclosão das neuroses, psicoses e perversões. Permitindo assim uma abordagem clínica pela palavra, como escreveu Pereira (2007, p.45), "para reinstalar o sofrimento e as paixões nos âmbitos propriamente simbólicos e afetivos da existência humana."
Mesmo que o psicanalista não tenha formação médica, ainda assim, é importante saber os sintomas, seus efeitos no organismo, e as suas descrições, para que, se preciso um posterior encaminhamento a outros profissionais de saúde, trabalhando assim de forma multidisciplinar quando for o caso.
Costuma se dizer que o estudo de Freud sobre esse distúrbio foi responsável pelo inicio da psicanálise, pois através dos sintomas de seus pacientes e da melhora dos mesmos através do método por ele criado de associação livre (onde o paciente fala sobre seus problemas sem regras especificas).
A histeria de conversão na sociedade contemporânea tornou-se "relativamente" raro, mas transformou-se numa grande "epidemia" no começo do século XX.
As pacientes, que na sua maioria eram jovens, solteiras, tendo de se confrontar com a sua sexualidade e as interdições impostas pelos valores e normas das sociedades conservadoras do final do século XIX inicio do século XX, acabavam por "romper" com a sociedade e as suas rigorosas normais morais.
Como solução para tal conflito o sujeito "produzia" uma ruptura neurótica, o qual o desejo e sua interdição encontravam expressão pela via dos sintomas neuróticos. Segundo Ferreira (2007, p.48) descreve: "Vemos assim que a neurose constitui, na psicopatologia freudiana, a expressão de um sujeito em luta cega e automática contra suas próprias tendências."
Freud define assim a histeria de conversão:

"Os sintomas de afecções orgânicas, como se sabe, refletem a anatomia do órgão central e são as fontes mais fidedignas de nosso conhecimento a respeito dele. Por essa razão, temos de descartar a idéia que na origem da histeria esteja situada alguma possível doença orgânica..." (Freud, 1888, p. 85).

Analisando cuidadosamente não só o psiquismo, mas o conseqüente sintoma físico que a histeria de conversão produz o analista busca "atalhos" clínicos para a dissolução mais rápida, mais humana e mais ética na relação com o analisando.
Segundo Freud (1926 apud DALGALARRONDO, 2000, p.65)

"Há na mente uma força que exerce as funções de uma censura e exclui da consciência e de qualquer influencia sobre a ação todas as tendências que a desagradam Chamamos então essas tendências "recalcadas." Elas permanecem inconscientes e, se o médico tenta trazê-las a consciência do paciente, provoca "resistência". Esses impulsos instintivos recalcados não têm, contudo, seu poder anulado por esse processo. Em muitos casos, conseguem fazer sentir sua influencia por caminhos tortuosos, e a satisfação indireta ou substitutiva de impulsos recalcados é o que cria os sintomas neuróticos."

As técnicas utilizadas pela Psicopatologia Psicanalítica

A Psicopatologia Psicanalítica utiliza-se dentro da prática clínica diversos recursos, dentre eles, o denominado: "diagnóstico estrutural de personalidade".Esse diagnóstico tem por finalidade principal, orientar decisões clínicas quanto à escolha de técnicas e estratégias psicanalíticas adequadas ao tipo de psicopatologia envolvido em cada caso particular.
Utilizam-se Procedimentos Projetivos nas entrevistas clínicas, pois, possibilitam o acesso, num contexto de quem tem caráter ou é criativo, aos determinantes lógico-emocionais subjacentes ao procedimento moral humano.

" Desde os primórdios da psicanálise, Freud (1904/1948e) reconheceu a importância do estabelecimento de um diagnóstico provisório antes do início efetivo do tratamento. Esta preocupação manifesta-se explicitamente já em 1904, ocasião em que indica baseado em sua experiência clínica e nos conceitos teóricos desenvolvidos até então, alguns critérios para a seleção de pacientes (p. 307). Em artigo posterior, Freud (1913/1948b) retorna a questão da necessidade de uma triagem preliminar e ratifica a necessidade de um período prévio de entrevistas para "... "Sondagem, e para decidir se ele é apropriado para a psicanálise," admitindo que "... Existem também razões diagnósticas para começar o tratamento por um período de experiência deste tipo, a durar uma ou duas semanas (p. 334). Naquele contexto, tratava-se, sobretudo, de proceder à escolha de caso passível de ser beneficiado pela psicanálise, já que Freud excluía, nesta data (1913), a possibilidade da análise de pacientes não-neuróticos. "Contudo, admitia e almejava que desenvolvimentos teórico-técnicos posteriores pudessem levar à proposição de uma psicoterapia psicanalítica das psicoses." (Machado, 1999, p.334).

A preocupação de Freud em seus estudos, não era encontrar a cura aos neuróticos, mas sim ajuda-los a encontrar soluções para os seus problemas, dessa forma, não podemos separar o método das técnicas psicanalítico para o tratamento psicopatológico. São várias as técnicas utilizadas para o tratamento, por isso a importância do método adequado em cada caso.
Dessa maneira, Tânia Maria José Aiello Vaisberg (www.scielo.br) , diz que:

" O método psicanalítico pode se concretizar por meio de diferentes técnicas, segundo os propósitos pelos quais se intenta realizar uma investigação/intervenção psicanalítica, duas facetas indissociáveis neste campo do saber. Assim, a interpretação verbal, o manejo do setting, o uso de procedimentos projetivos em psicodiagnóstico ou em pesquisa sobre representações sociais (Aiello-Vaisberg, 1995, 1996, 1997; Lousada-Machado, 1995) ou o estudo psicanalítico de produções culturais, são exemplos de diferentes modos de emprego do mesmo método. Mais precisamente, é importante lembrar que, no âmbito psicoterapêutico, o método psicanalítico deve se concretizar através de técnicas e estratégias de tratamento diferentes, segundo a psicopatologia envolvida. Quando está em pauta o sofrimento neurótico, o método se encarna segundo as modalidades interpretativas classicamente empregadas por Freud. Entretanto, deve-se recorrer a outros procedimentos técnicos quando o paciente apresenta problemáticas de origem mais regredida, comumente designadas como borderlines ou psicóticas, sendo fundamental salientar que, embora as condutas terapêuticas difiram da análise padrão, permanecem essencialmente psicanalíticas na medida em que a cura é conduzida por meio da busca dos determinantes lógico-emocionais subjacentes às condutas."
Portanto, o psicanalista pode tanto utilizar o método de "investigação", no qual, colhe todo um material histórico (referente ao contexto cultural, social...) do paciente em questão, como pode utilizar o método de "intervenção", onde, ele ouve e interpreta os relatos de pacientes, e aplica-se a técnica necessária à cura, ou à melhora de sua patologia.



CONCLUSÃO

O presente artigo discorreu sobre o modo de entender de alunos quintoanistas, sobre o surgimento da Psicopatologia e das contribuições de Freud e da psicanálise para um maior entendimento do fenômeno humano. Preocupamo-nos também em defini-la e descrevê-la, como uma área do conhecimento humano, com bases cientifica e que contribui para muitas áreas do conhecimento. Descrevemos o seu campo de atuação e as técnicas que são utilizadas como método terapêutico.
A descoberta do inconsciente fez com que o funcionamento psíquico não fosse visto somente patologicamente, mas também como algo normal no ser humano e passível de ser estudado, contrariando o paradigma médico psiquiátrico de até então.
A psicopatologia psicanalítica tenta compreender o desenvolvimento psicossexual, e o desenrolar conflituoso e a implicações para as para assim poder ilustrar mais claramente, de que forma se dá a intervenção do profissional nesses casos, utilizando psicopatologias
O aprofundamento dos estudos em psicopatologia e psicanálise se faz necessário, pois ele está inteiramente relacionado aos aspectos do comportamento humano, no qual Freud dedicou toda a sua vida a esses estudos e deixou para os futuros teóricos a base de como funciona o psiquismo humano, mesmo sabendo que essa forma de pensar o funcionamento psíquico, não se esgota de sofrer modificações pois varia de acordo com as transformações de cada época.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREUD, Sigmund. Psicopatologia da vida cotidiana. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969.

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artes Medicas Sul, 2000.

KURY, Jorge A. Desenvolvimento em psicopatologia psicanalítica. Campinas, SP:Papirus, 1988.

KUSNETZOFF, Juan Carlos. Introdução a psicopatologia psicanalítica. Rio de
Janeiro: Nova fronteira, 1982.

DORON, R (org.) Dicionário de Psicologia. São Paulo: Ática, 2001.

Klein, M. Novas tendências da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969.

RODRIGUES, Marlene. Psicologia Educacional: uma crônica para o desenvolvimento humano. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1976.

VAISBERG, Tânia Maria José Aiello. Diagnóstico Estrutural de Personalidade em Psicopatologia Psicanalítica. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_artttext&pid=S0103-65642000000100003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em 10 de novembro de
2007.