IDÉIA  UNIVERSAL  DO  MONISMO 

Deve-se dizer que as idéias monistas vêm de longa data. E parecem adquirir cunho de uma projeção universal que se implantara e se implanta no mundo, proveniente, pois, de outra dimensão, do que se conceitua como mundo espiritual. Ora, de onde poderia nascer tantos enfoques parecidos, tão semelhantes em seus princípios básicos, suas origens fundamentais, senão na verdade primeira e última, no alfa e no ômega incógnitos da criação? Assim, pois, o Monismo parece fundamentar-se no mundo inteligível (Platão) de todos os tempos, e, portanto, na verdade implantada na natureza, no universo, em suma, em Deus. 

Antigas culturas orientais já externavam tais pensamentos; o mesmo verificando-se com as idéias gregas de muitos de seus pensadores, dentre os quais: Anaxágoras (500 a.C – 428 a.C) e sua noús, espécie de energia cósmica única, geradora de tudo e de todos; Demócrito (460 a.C – 370 a.C) e o seu atomismo, preconizando que tudo, e, inclusive a alma, seria formado por ‘unidades’ simples espalhadas pelo espaço universal; e etc, etc. E até mesmo o mestre Jesus, em seus ensinos, algo ministrava acerca da ‘unidade’ e, no caso em questão, da unidade espiritual dos filhos em Deus; dizia que “eu Lhe peço por eles para que todos sejam um, como Tu Pai, estás em mim e eu em Ti; eu neles e Tu em mim, para que sejamos perfeitos na unidade”. (João, cap.17, v.v 20 a 23), compondo a ‘união’ universal das almas em Deus. 

Do que se conjectura: com Anaxágoras e com Demócrito: o alfa, o gênesis de tudo na ‘unidade’; e com Jesus: o ômega, o telefinalismo de tudo com o Magnânimo Pai na mesma ‘unidade’ de tudo, que não se desfez e que não se desfaz. Mas o tempo passou célere. Dois mil anos se passaram desde Jesus, e novas idéias do monismo, da unidade de todas as coisas, apareceram aqui e ali. Mais atualmente, vemos o discurso do ‘monismo quântico’ de Wilhelm Ostvald (1853 – 1932); e vemos uma porção considerável de físicos buscando uma ‘teoria unificada’ do universo. Bastante expressivo que tal idéia permaneça, se desenvolva, se implante no seio do próprio conhecimento ortodoxo: que pesquisa, intui, reflete, quer protagonizar-se como principal agente da verdade. 

No entanto, a verdade é de todos os tempos, e, portanto, os mais remotos, como se referia o modesto autor de tais teses, compondo uma trilogia filosófica despretensiosa, mas fundamentada nos fatos históricos da cultura e da inteligência humana. 

Assim, nos presentes tempos, pronuncia-se, como não poderia deixar de ser, até mesmo um ‘monismo materialista’, o do cético Ernst Haeckel (1834 – 1919), estudioso darwiniano que desenvolvera extensas idéias de um processo evolutivo unitário, e, portanto, monista: dos animais unicelulares até o homem. Mas o monismo de Haeckel é fundamentalmente cético e ateu; afirmava, por exemplo, que: 

“A consciência é da mesma maneira que a sensação e a vontade dos animais superiores, um trabalho mecânico das células ganglionares, e, como tal, concentra-se num processo físico e químico, dentro do seu plasma”. (Vide: O Monismo – Ernest Haeckel – eBooksBrasil.org). 

Ou seja: o monismo de Haeckel é similar ao estranho e risível pensamento de que: assim como fígado segrega a bílis, o cérebro segrega o pensamento. Ora, já vimos a impossibilidade de um órgão físico e material produzir um componente extra-físico e imaterial como o pensamento, a razão, a consciência, a plenitude das faculdades morais tais como: as do respeito, do amor, da compaixão. 

Com efeito, pois, o materialismo não mais se sustenta, tendo em vista que sua base material nada mais é que energia condensada, consoante provas bem fundamentadas, o que levara Einstein (1879 - 1955) a proferir que: o materialismo está morto por falta de matéria. Assim, apenas alguns poucos céticos ainda o acatam e o preconizam, mas está fadado ao desaparecimento em face das descobertas científicas da energia, bem como do Espírito, tanto pelo Espiritismo de Kardec (1804 – 1869) como pela Parapsicologia de Rhine (1895 – 1980), passando, evidentemente, pela Metapsíquica de Richet (1850 – 1935) e de muitos outros sábios de altíssima competência intelecto-moral.

Versando um tanto sobre o Monismo, elaborei o artigo: “Espiritismo, Panteísmo e Monismo”. Todavia, tivera de produzir mais. E fora nos precisos termos a seguir descritos, que este articulista viera a finalizar um seu segundo texto de título: “Espiritismo: Gérmen do Monismo-Ubaldiano”: 

-“O universo é dirigido por um Princípio Único: a Lei”; 

-“Todo o universo fora construído por meio do transformismo de uma Substância Única, Substância de Deus, potência criadora indefinível em sua mais íntima essência, mas suscetível de transmudar-se assumindo as mais diversas formas concebíveis e inconcebíveis do universo físico, astronômico e espiritual”; 

-“Deus e universo, pois, constitui uma unidade orgânica, um só organismo completo por Deus Transcendente e Deus Imanente em tudo e em todos de Sua imorredoura criação”. 

Prova mais do que evidente de que o Monismo presentemente enfocado, resgatado e renascido pela obra monumental de Pietro Ubaldi, nos capacita uma visão-síntese de tudo, desenvolvendo, sobretudo, o Panteísmo de Spinoza e o Espiritismo de Allan Kardec. Muitos, apesar de todas as provas por mim apresentadas, quererão ainda discutir, replicar, condenar, no espírito mesmo de contenda, de discórdia e de separação. 

Todavia, repiso que: 

É imprudente, e está muito próximo do erro, aquele que julga possuir toda a verdade, que se basta para si mesmo e que julga não existir, seja aqui, seja nos confins do espaço sideral, outras instigantes e duradouras possibilidades sem barreiras de crença, de raça ou de nacionalidade. É a este orgulho, este egoísmo divisor, que se devem dirigir todas as nossas armas se não quisermos arcar com suas funestas conseqüências.

Basta, portanto, de antagonismos, sejam por questões de fé ou de ordem doutrinária, sobretudo em tal campo: Kardec/Ubaldi, que discrimina, separa e não une; basta, pois, de querelas infantis, de críticas maldosas, pois que já estamos maduros para envergarmos o nosso traje adulto e viril. Do erro, está ressurgindo a Verdade; do ódio, o Amor universal; do fanatismo, a Fé nivelada com a Razão. 

Conquanto espiritista de longa data, algo em torno de quatro décadas, devo enfatizar que a minha posição mais íntima fora e sempre será a postura que Kardec nos delegara de livres pensadores; postura do estudioso que, sinceramente, busca a verdade em quaisquer campos onde ela se encontre, mas nunca foi, e tampouco o será, a dos polemistas de fato, que pretendem sobrepor-se aos seus por uma dialética bem elaborada, intensa, professoral. 

Em sua aparência de louváveis catedráticos, porém, tais polemistas não conseguem disfarçar, nas entrelinhas, sua arrogância, sua patente e objetiva intenção de minar o outro lado, de vencer a qualquer custo e até mesmo esmagar o seu oponente, se necessário. 

Imaginando que a verdade, fixada em parâmetros bem definidos e sólidos, esteja toda ela unicamente e exclusivamente, de um lado, e, do seu lado, evidentemente, tais indivíduos não vacilam em utilizar-se de métodos evangelicamente condenados, proferindo em tom de autoridade seus objetivos claramente expostos de denegrir o lado contrário, e, se possível, arruiná-lo de vez, assim completando sua maledicente intenção. Tal mentalidade de luta, de condenação e vitória a qualquer preço, é, pois, a psicologia primitivista da baixeza, da insensata estupidez, para sobrepor-se àqueles que não pensam como eles próprios. 

Talvez entenda que os seus oponentes, quando o são, não deveriam ter o livre arbítrio, o pleno gozo de suas faculdades, de pensar como querem pensar, como ordena e quer sua livre vontade. É um grande equívoco da preconceituosa mentalidade humana! Mas dizia Jesus: “os sãos não precisam de médico, e sim os doentes”. (Vide: “Marcos” – Cap. 2, v. 17). 

Ora, não somos detentores da Verdade absoluta; somos sim, aprendizes das Leis universais, que precisam reconhecer se não o fazem, nossa tacanha cultura acadêmica e espiritual, nossa condição de Espíritos endividados, orgulhosos do seu saber mundano, e porque não dizer: saber espírita, estando um (saber acadêmico) e outro (saber espírita), distantes anos-luz do Conhecimento Total da Realidade que só agora principiamos adentrar. 

Ora, é preciso distinguir os lobos rapaces dos cordeiros inocentes; os antagonistas gratuitos dos colaboradores honestos que apontam, tal como Ubaldi mesmo, aspectos inéditos da Grandiosa Realidade que não caberá, e não deverá estar, tão só, e, unicamente, em nosso campo de ação porque nada nos garante que não possa haver no campo alheio, outros aspectos da mesma e Soberana Verdade e, por conseguinte, algo que falta no nosso e que não possa ser suplementado pelo outro. É simples questão de bom senso, do mesmo bom senso kardequiano que alguns desprezam de suas “importantes” elucubrações. 

Para Kardec, em seu imponente trabalho de ‘Espiritismo Experimental’: 

“Aqueles que querem tudo conhecer numa Ciência, devem necessariamente ler tudo o que está escrito sobre a matéria, ou, pelo menos, as coisas principais, e não se limitar a um só autor; devem mesmo ler o pró e o contra, as críticas como também as apologias, iniciar-se nos diferentes sistemas a fim de poder julgar por comparação”. (Vide: “O Livro dos Médiuns” – Allan Kardec – 1861). 

No caso de Pietro Ubaldi, vimos que o seu Monismo não só se entrelaça com o Panteísmo e com o Espiritismo, mas também os desenvolve amplamente. De postura filosófica cunhada na Ciência do mundo, entretanto, o notável pensador sobrepõe-se a ela por uma nova metodologia do conhecimento: a intuição e suas complexidades psíquicas, inspirativas e mediúnicas, espirituais e morais.

Mas, então, Ubaldi era um médium? Sem dúvida que sim; médium intuitivo máximo, consciente do fenômeno em si mesmo desenvolvido e praticado, constituindo toda uma escola de como se deve trabalhar com tal mediunidade, que, em muitos de seus livros a ela se refere, discute, discorda, para, enfim, em conformidade com aqueles do seu plano mesmo, instruir, moralizar, edificar, pois que o primeiro tempo do mundo fora o da matéria, o segundo, o da razão, e, este último é o do Espírito, resultado último da epopéia humana. 

Os que só criticam e condenam, não vêem que, neste particular referido - fenômeno da intuição - Ubaldi desenvolve aspectos de tal capacidade humana e espiritual constante do referido “O Livro dos Médiuns” (Allan Kardec – 1861), nos mostrando, pois, em seu nível máximo, o futuro da percepção intuitiva que, um dia, todos operaremos em nós mesmos no desenvolvimento óbvio do fenômeno humano, como homem e como médium das mais diversas correntes e planos de pensamento, até Deus.

Assim sendo, é óbvio que, sem sombra de dúvidas, compartilho com o renomado e sábio Espírito da obra xavieriana, quando declarara, como já é do conhecimento de todos nós, que: 

“Ubaldi interpreta o pensamento das mais altas esferas, de onde ele provém”. (Emmanuel). 

Esferas do Cristo, e daí, seus princípios de imparcialidade e universalidade. E, por isto, Ubaldi dizer-se simplesmente cristão. 

Mesmo porque, segundo importantes preceitos espiritistas: 

“O verdadeiro espírita e o verdadeiro cristão são uma só e a mesma coisa”. (Vide: “O Evangelho Segundo o Espiritismo” – Allan Kardec – 1864). 

Articulista: Fernando Rosemberg Patrocínio

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