HISTÓRIAS EM QUADRINHOS: INCENTIVADOR E FACILITADOR DA LEITURA

Shirley Matos Pacheco1

Maria Clara Silva e Silva2

Fernanda Carvalho3

Resumo

O presente artigo apresenta as histórias em quadrinhos como incentivadoras e facilitadoras da leitura. O principal objetivo foi qualificar a leitura e a produção social através da leitura dissertativa e dinâmica. Para desenvolver este trabalho foi necessário o levantamento bibliográfico de autores que possuem subsídios teóricos. A pesquisa se caracteriza como qualitativa. É comprovada a necessidade da leitura, visando minimizar as dificuldades apresentadas pelos alunos nos mais diversos níveis de aprendizagem. A exigência de interpretação em provas avaliativas contribui para o desenvolvimento crítico e amplia a habilidade de analisar e comparar o que se lê. O texto escrito expande o senso cognitivo e o diálogo. As histórias em quadrinhos é um gênero textual que facilita a atuação dos professores na sala de aula e proporciona um atrativo na busca de novos conhecimentos e incentivo quanto ao hábito da leitura. A utilização de códigos visuais e verbais resulta em uma dinâmica complementar. Um método de comunicação mais didático é criado, facilitando a absorção de conteúdos pragmáticos.

PALAVRAS-CHAVE: Leitura. Aprendizagem e dificuldades. Histórias em quadrinhos.

Resumen

Este artículo presenta los libros de historietas como aceleradores y facilitar la lectura. El objetivo principal era calificar la lectura y la producción social a través de la disertación y la lectura dinámica. Para desarrollar este trabajo fue necesario el uso de la literatura de autores que tienen apoyo teórico. La investigación se caracteriza como cualitativo. Demuestra a necesidad de la lectura con el fin de reducir al mínimo las dificultades que presentan los estudiantes en varios niveles de aprendizaje. La exigencia de interpretación en pruebas de evaluación contribuye al desarrollo crítico y mejora la capacidad de analizar y comparar lo que lee. El texto escrito se expande el sentido cognitivo y el diálogo. Los libros de historietas es un género que facilita el trabajo de los maestros en el aula y proporciona un atractivo en la búsqueda de nuevos conocimientos y el estímulo como el hábito de la lectura. El uso de códigos visuales y verbales se traduce en una dinámica adicional. Se crea un método más didáctico de la comunicación, facilitando la absorción del contenido pragmático.

Palabras-clave: Lectura. El aprendizaje y dificultades. Los libros de historietas.

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1Graduanda em Letras pela Universidade Federal de Sergipe - UFS. E-mail: [email protected]

2Graduanda em Letras pela Universidade Federal de Sergipe - UFS. E-mail: [email protected]

3Graduanda em Letras pela Universidade Federal de Sergipe - UFS. E-mail: [email protected]

 

1 INTRODUÇÃO

A leitura deveria ser o impulso motivador para o ato na escola, mas não o é. Na obra Oficina de leitura, Kleiman (2008) chama à atenção para a atividade leitora que é vista em sala de aula como um processo de decifração de palavras e de interpretação gramatical. Isso faz com que estudantes brasileiros não desenvolvam o hábito de ler. Muitos desprezam totalmente esta prática e procuram se manter longe de materiais que lhes remetam a esta possibilidade.

As dificuldades de entender e comentar textos têm sido notadas nos mais diversos níveis de aprendizagem, independente do grau de compreensão. Desta forma, o presente artigo, tem o objetivo de qualificar a leitura e a produção social através da leitura dissertativa e dinâmica. Em muitos lares não há referência quanto ao hábito da leitura. O acesso aos mais diversos tipos de publicações, inclusive no formato digital, geralmente ocorre, através da escola, que procura, ainda com limitações incentivar os alunos a buscarem novos conhecimentos. A leitura vem sendo substituída por diversos atrativos, que na atualidade, apresentam diversos formatos.

Alguns gêneros procuram manter e atrair novos adeptos. As histórias em quadrinhos é um dos gêneros que procura inovar nas histórias apresentadas e prender a atenção dos seus leitores. Leituras curtas podem despertar o interesse em aprofundar os conhecimentos em determinado assunto. Assim, os alunos podem descobrir que ler é divertido e realizar lindas viagens na companhia de bons livros.

De acordo com Vergueiro (2012), na obra Como usar quadrinhos em sala de aula, apesar de mostrar o contrário, a compreensão da linguagem quadrinística requer intensa reflexão do leitor. Assim, as HQs assumiriam o papel de incentivador e facilitador da leitura. Isso talvez seja um indicador de quebra de barreira para a utilização didática dos quadrinhos em salas de aula de forma harmônica entre professor e aluno, nas últimas décadas, Rama (2012). Podemos ver que o conteúdo discursivo dentro de uma HQ é imenso. Dessa forma, o trabalho realizado apresenta grande relevância. O hábito de ler deve ser prazeroso, e para despertar esse interesse nos alunos, os assuntos que lhes atraem devem ser levados em consideração para facilitar e incentivar esse despertar.

 

2 A IMPORTÂNCIA DA LEITURA

O ato de ler é uma das formas mais antigas e eficientes de se adquirir conhecimento. Sua prática recorrente permite ao indivíduo mais contato e facilidade no acesso aos demais escritos culturais e na interação em diversos âmbitos sociais, de maneira crítica e autoral, contribuindo assim para o aprimoramento e funcionalidade de suas causas vigentes. Além disso, o auxilia em seu desenvolvimento emocional e cognitivo, permitindo-lhe uma compreensão ampla e competente de si e do que lhe rodeia.

No livro O Ato de Ler: fundamentos psicológicos para uma nova pedagogia da leitura, Silva (2005) afirma que ler é, primordialmente, compreender. A partir desse fundamento básico, o leitor não só deve decodificar os sentidos impressos no texto, como também formar uma noção crítica, concluindo o texto como uma percepção diante dos significados que dele emergem. Complementa no seguinte trecho que "na situação de leitura existe somente a presença de dois elementos: um leitor e um documento escrito, que veicula uma mensagem" (p. 44). Entende-se, então, que não há um diálogo frente a um interlocutor, ou seja, não se fala e nem se ouve, o que existe é o enunciado escrito como objeto concreto com o qual o leitor se depara e busca compreender a mensagem nele inscrita, mediado pela leitura. Logo, "compreender a mensagem, compreender-se na mensagem e compreender-se pela mensagem" (SILVA, 2005, p. 45) são as três finalidades essenciais da leitura. Dessa maneira, a mensagem proporciona ao leitor o entendimento do texto, um posicionamento particular diante dele e uma postura característica na sociedade.

A leitura como intercessora conceptível de conhecimento é, também, o meio mais prático de circulação do mesmo. Apesar de dividir o espaço de divulgação com os meios de comunicação audiovisuais, ela se dá de forma mais completa e acessível - uma vez que pode ser analisada e interpretada várias vezes por quem a consulta - ao passo que a comunicação pelos eletrônicos é posta ao público num tempo limitado e se encontra em maior uso nas classes dominantes, cujo caráter ideológico está incluso em sua divulgação informativa. Dessa maneira, aquele que se informa através do texto escrito expande seu senso cognitivo e qualifica sua desenvoltura dentro de diálogos em diferentes espaços socioculturais, contextualizando as informações que adquiriu a partir da leitura de forma autêntica. Enquanto aquele instruído pela mídia massificada, situa-se à margem do senso comum, expondo dados informativos escassos e de baixa criticidade.

De antemão, ler significa adentrar e interpretar os feitos humanos disseminados na escrita e realizar-se, também, enquanto ser humano. Assim, a leitura determina cinco funções: resgata a herança cultural contida em cada ser, identificando em suas produções escritas marcas dessa herança, assegurando a leitura como método eficiente em qualquer área do conhecimento e caminho norteador, através do qual homem se coloca no mundo;  é um mecanismo de credibilidade para o êxito acadêmico e o sucesso profissional, já que é, por convenção, a ferramenta utilizada, de forma prévia e contínua, para a alfabetização e aprendizagem nas escolas disponibilizada no livro didático, seguindo-se o propósito de que quem lê bem, tanto escreve quanto fala bem, portanto desempenha-se melhor no ensino superior; possibilita ao homem interagir com os demais e debater questões na prática, de modo inteirado; reage à presença marcante da mídia massificada como influência na formação e acepção de ideias do indivíduo, implantada pelo professor de maneira maleável, como medida eficaz e alternativa para tais mecanismos; e por custar menos e ter um manuseio mais fácil, é o recurso mais acessível usado pelo mesmo para a construção de variados pontos de vistas e de maior execução de experiências por seus alunos, ao contrário dos recursos tecnológicos. Em síntese, a leitura é uma via de acesso que permite ao leitor expandir seus horizontes em linhas gerais, localizando-se no tempo e no espaço, com precisão, e impulsionar sua capacidade de reflexão e compreensão no contexto dialógico em que o mundo se encontra. 

 3 DIFICULDADES NA APRENDIZAGEM DA LEITURA

Na escola não se contempla apenas índices de aprovação. O déficit de aprendizagem é, também, um fator comum que desafia os educadores a empenhar-se além da sala de aula. Visto isso, o professor deve inteirar-se da realidade de seus alunos e aplicar sua metodologia didática a partir dessa realidade para que eles se encontrem familiarizados dentro do ensino.

Uma das dificuldades mais frequentes é a de aprendizagem da leitura. Considerando as dimensões que sua efetiva atividade proporciona, os problemas tidos em sua execução acometem não só o desenvolvimento e compreensão de textos dos alunos, mas também todo o seu desempenho estudantil em diversas áreas e graus do conhecimento. Para a obtenção de êxito de tal maneira, é preciso reconhecer e seguir o processo de leitura em forma de escala progressiva.  De acordo com Condemarin e Blomquist: 

A leitura não constitui uma habilidade isolada; pelo contrário, faz parte de um processo linguístico complexo. O desenvolvimento da linguagem tem etapas interdependentes e hierarquizadas, dentro das quais a leitura e a escrita marcariam os estágios superiores. A criança começa recebendo estímulos auditivos, visuais, táteis, olfativos e gustativos, os quais, uma vez associados, chegam a ser significativos. Com eles a criança forma uma linguagem interna. Simultaneamente, a criança escuta símbolos auditivos, que representam acontecimentos de seu ambiente, os quais progressivamente chegam a ser significativos para ela. Assim, desenvolve uma linguagem receptiva. Posteriormente, após um período de assimilação e graças à imitação, a criança utiliza símbolos verbais, que compreende, e entra no período da linguagem expressiva.

Normalmente, em torno da idade de seis anos e meio, quando ingressa na escola, aprende a ler pela imposição de símbolos verbais à sua linguagem auditiva. A palavra impressa representa símbolos auditivos, os quais, por sua vez, representam experiências. Mais tarde a criança é capaz de expressar-se através da escrita de símbolos gráficos. Assim, as etapas sequenciais do funcionamento verbal seriam: 1 - aquisição de significado; 2 - compreensão da palavra falada; 3 - expressão da palavra falada; 4 - compreensão da palavra impressa; 5 - expressão da palavra expressa (escrita). (CONDEMARIN; BLOMQUIST, 1986, p. 15)

Portanto, o interesse do leitor está diretamente ligado à adesão do espaço de formação linguística em que está inserido, ou seja, os estímulos que ele recebe vêm do cotidiano intelectual e social que vivencia. Assim, levando em conta a infância como fase de adaptação ao hábito de ler, muitos alunos que não têm o auxílio devido para gerir esse hábito, nos primeiros anos escolares, são forçados a recuperar e aprimorar esse processo no decorrer do ensino fundamental maior e médio, período em que se aprofunda a base de aprendizagem escolar. Essa imposição é uma das causas mais atuantes na formação de maus leitores.

O prazer ao ler deveria ser o impulso motivador para o ato na escola, mas não é. Na obra Oficina de leitura: teoria e prática, Kleiman (2008) adverte que a atividade leitora é posta e encarada na sala de aula como um processo maçante e limitado de decifração de palavras e de interpretação gramatical que faz com que a criança construa uma imagem negativa da leitura. Argumenta ainda que a falta de preparação do profissional e sua concepção errônea da origem do texto e da leitura se fundamenta no ensino do português de modo equivocado e que isso leva à desmotivação do aluno tanto fora como dentro da escola, pois a atividade é dada e, consequentemente, apreendida de forma mecânica, uma vez que o próprio professor não demonstra interesse particular por ela.   

Kleiman (2008) destrincha tal argumento em cinco práticas de abordagem da leitura que a escola sustenta. Na primeira, ela aponta o texto como objeto de estudo gramatical, ou seja, o seu uso para aplicar regras sintáticas, semânticas e morfológicas, desconsiderando o contexto em que é dado para esse fim. Na segunda, ligada ao mesmo critério, mas com foco no eixo semântico, expõe o texto como um conjunto de palavras cujos significados residem numa denotação absoluta, a partir da qual infere-se a mensagem que o texto passa - não há a interpretação do mesmo como um todo, sim a definição do léxico de maneira individual. Na terceira, coloca a leitura como um processo de decodificação no qual o aluno não amplia o raciocínio crítico, demonstrado em exercícios que propõe a memorização das informações ao invés de sua interpretação. No quarto, a aborda como prática avaliativa em que o professor determina a capacidade de acepção textual do aluno enquanto lê em voz alta. Tal método interfere na aprendizagem da leitura pela atenção que ele delega à estrutura e pontuação do texto enquanto tenta assimilar à sua linguagem a linguagem padrão do escrito, se desviando de seu entendimento.  No último, critica o padrão de compreensão de leitura aplicado pela escola. Nele só é "autorizada" uma maneira de aprender a ler: a interpretação do texto contida, unicamente, em si mesmo, dispensando os contextos aos quais ele se relaciona e o conhecimento prévio que o discente traz e que lhe confere autenticidade ao construir o sentido do texto.

Os equívocos na metodologia de aprendizagem escolar também são abordados por Blomquist e Condemarin (1986) em Dislexia: manual de leitura corretiva, somando-se a outras dificuldades.  Dentre elas estão: a falta de aptidão geral para aprender, em que a habilidade não se propaga tanto na leitura, quanto em outras atividades intelectuais devido ao baixo QI que a pessoa apresenta; a imaturidade no início do hábito, atribuída à falta de experiência que deveria ter sido construída a partir da infância; mudanças no estado físico e sensitivo em que uma saúde precária pode interferir na capacidade de aprendizagem; transtornos emocionais como depressão ou uma relação intensa de submissão à ordens familiares comprometem a eficiência na leitura e causam aversão do aluno à escola; e a privação cultural, em questão de uma maior amplitude de significados. Ela está vinculada ao contexto social em que a criança vive e o contato com experiências culturais que ele lhe proporciona, ou seja, sua proximidade com livros, televisão, revistas, que oferecem um leque de linguagem rica e variada. Entretanto, o foco principal do livro é a dislexia. Ela consiste num distúrbio mental que impede a criança de ler com a mesma facilidade que outras o fazem, sendo que o disléxico detém inteligência, saúde, estado emocional e instruções incentivadoras para o ato normalizados. O transtorno pode ter origem hereditária, persiste até a idade adulta, interfere na interpretação de outros símbolos e os desvios na leitura e escrita têm origem específica e particular.

 4 HISTÓRIA DAS HQs 

As histórias em quadrinhos são vistas na atualidade como meio de produção de massa, geralmente associada à narração e a imagem. Isso é intitulado como Arte Sequencial. A primeira já publicada foi em 1895, criada por Richard Outcault, chamada de The Yellow Kid inaugurada em jornais sensacionalistas de New York. No entanto, a sua composição era feita de maneira distinta da que conhecemos hoje em dia, composta por um personagem só, as falas não eram expostas em balões e sim estampadas na roupa do personagem infantil. 

De certa forma podemos dizer que as HQs surgiram com os homens da caverna e na sua necessidade comunicativa de grifar acontecimentos. Por meio das figuras rupestres típicas de cavernas e paredes, os humanos da época deixavam relatos para os seus contemporâneos, seja de uma caça bem sucedida ou de indicação de paradeiro, como demarcação das suas sagas de sobrevivência.  

As histórias em quadrinhos mais famosas do mundo são aquelas referentes a super-heróis, eternizadas e projetadas nos cinemas, adaptações bastante populares nos dias atuais. Entretanto, em um lado oposto existem aquelas que tratam de temas mais sérios e complexos, dotados de introspecção psicológica, como é o caso de Maus, criada por Art Spiegelman. Trata-se do relato dos pais do autor, judeus, durante a Segunda Guerra Mundial e sua sobrevivência aos campos de concentração Auschwitz. Enredo tenso, pesado, que aborda um tema muito delicado de forma lúdica e assim mais suportável. 

Os quadrinhos transitam entre o mundo da literatura e o mundo das artes visuais, unindo brilhantemente as duas manifestações artísticas. Dizemos que as histórias em quadrinhos são o primeiro passo para a fascinação pela leitura, mesmo tratando de temas pesados, como guerras, seu caráter lúdico torna a história em si monumento atrativo. O incentivo à leitura se faz necessário por conta do seu reflexo em todas as áreas de ensino e pelo aprimoramento do senso crítico. No entanto, as HQs por um bom tempo não foram vistas como tal incentivador, muito pelo contrário, pais e educadores acreditavam que as páginas multicoloridas e imagens sequenciais iriam afetar leituras "mais sérias", desviando o jovem de um desenvolvimento sadio e completo.  

Essa manifestação literária explodiu principalmente nos EUA e com seu crescimento vieram as críticas negativas. O psiquiatra alemão, Fredric Wertham, liderou uma campanha de alerta contra hipotéticos malefícios que esse tipo de leitura poderia causar nos jovens norte-americanos. Wertham publicou inúmeros artigos acessíveis e ministrou palestras nas escolas do país dando exemplos de pacientes que passaram em seu consultório, generalizando conclusões com base nessa pequena porcentagem, dando enfoque àquelas histórias de terror e suspense. Foi o grande denunciador da "ameaça" que a juventude estava exposta. Após um tempo de reunião de observações e conclusões, o alemão publica um livro sob a temática A sedução dos inocentes, no qual desenvolve a tese de que as histórias do Batman possuem natureza homossexual, por conta dos estreitos laços entre o protagonista e coadjuvante Robin, visto pelo mesmo como patologia. Percebemos então que além de posição precipitada, o psiquiatra possuía posicionamento homofóbico.  

Devido às denúncias de Fredric Wertham e apoiados por pais e professores, as HQs começaram a sofrer uma espécie de "ditadura", passando por inspeções rigorosas antes de serem publicadas e disponibilizadas a sociedade. O Brasil não operou diferente, na década de 40 foram criadas o total de 18 leis às quais as histórias eram submetidas para poder entrar em circulação. No entanto, essa difamação e o movimento contra tais textos, pelos pais e educadores, foram sendo deixados de lado devido as diversas mudanças nos cenários educativos e de comunicações. 

Os quadrinhos foram descobertos como produção artística e educativa por conta da evolução e desenvolvimento de estudos culturais e comunicativos que ocorreram no meio do século XX. Temas como religião foram adaptados a esse gênero para implantar na criança um senso cristão de maneira direta e divertida. A catequese dos leitores era baseada em interesses católicos, transmitindo valores da religião. Os destaques iam para Topix Comic que dedicava suas publicações a biografias de santos e demais personagens da bíblia. Porém, os temas retratados nesse gênero textual variam de acordo com a época e as finalidades. 

Já na década de 50, a China visou os quadrinhos como forma educativa de boa conduta e nelas retratava os devidos posicionamentos que o indivíduo deveria ter e enfocava a vida de soldados como forma de incentivo à vida militar. No cenário europeu da década de 70 as histórias em quadrinhos foram utilizadas para temas escolares como forma lúdica e agradável de aprendizagem. Podemos usar como exemplo a França que publicou milhares de exemplares da obra L’Histoire de France em BD que usava a arte sequencial para tratar da história francesa desde a Era Viking até a Quinta República. Tal método educativo foi amplamente usado em países desenvolvidos econômica e educacionalmente como EUA, Espanha, Itália e Japão. 

Esses países provaram que esse recurso deu resultados bastante satisfatórios referentes à aprendizagem dos alunos. Considerados os resultados, os Estados Unidos usaram os quadrinhos como forma de determinar o nacionalismo americano, prova disto é a criação do Capitão América, personagem que luta pela sua nação - julgada a terra sublime - e todo o mal lá residente, demonstrando que no seu país não existe mal que não possa ser combatido. Com isso foi comprovado que o número de soldados voluntários e que o número de saudosistas subiu vertiginosamente.  

Os modelos educacionais desenvolvidos percebem a popularização das histórias em quadrinhos e as implantam nos próprios livros didáticos, mesmo que de forma simples, para explicar o conteúdo que seria discorrido em seguida. Entretanto, como modo natural de evolução, a presença desse gênero de forma benéfica foi crescendo a ponto de as próprias editoras pedirem aos autores o uso mais amplo desse recurso, o que causou a difusão não somente em livros de línguas vernáculas, mas também nas diversas áreas como história, sociologia e até mesmo a matemática. 

Isso talvez seja um indicador de quebra de barreira para a utilização didática dos quadrinhos em salas de aula de forma harmônica entre professor e aluno, nas últimas décadas, Rama (2012). 

Recentemente, em muitos países, alguns órgãos reconheceram e oficializaram a implantação das HQs nas grades escolares, desenvolvendo orientação para isso. No Brasil isto acontece norteado pela LDB e PCN. 

 

 5 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS COMO RECURSO DE APRENDIZAGEM

É clara a comprovação da necessidade da leitura, dentro e fora do ambiente escolar. A interpretação tão cobrada hoje em dia por todas as provas avaliativas tem total contribuição, bem como o desenvolvimento de nível crítico. O texto escrito faz expandir o senso cognitivo, a desenvoltura dentro de diálogos em diversos níveis socioculturais e contextos, porém, existe uma dificuldade do alunado em reconhecer isto, tornando um grande desafio para os docentes o incentivo de tal. 

Podemos dizer que o grau de importância da leitura está presente em todas as áreas, desde as ciências humanas às exatas, e por isso o letramento se torna indispensável para uma boa educação. Sabemos empiricamente que os problemas com o ato de ler estão ligados, desde a base escolar, com o incentivo ineficiente e insuficiente. Todavia, não podemos deixar que isso perdure durante todo o ensino médio. O método mais eficiente para driblar esse déficit é fazer uso da leitura interativa, que utiliza recursos lúdicos e informativos. As histórias em quadrinhos nos últimos anos têm sido a melhor forma de incentivo e também a prática mais usual dentro da sala de aula.  

Sabemos que as HQs fazem parte do cotidiano dos jovens e por isso há grande receptividade por parte dos discentes, proporcionando assim, maior participação de atividades em sala de aula. É preciso ater a atenção dos alunos. O cruzamento de códigos visuais e verbais resultam em uma dinâmica complementar, criando assim um método mais didático em níveis de comunicação e absorção de conteúdos pragmáticos.  

O hábito de ler histórias em quadrinhos por muito tempo foi descriminado, no entanto, hoje em dia temos conhecimento que leitores desse gênero são letrados em todos os outros, até mesmo os grandes clássicos que exigem maior bagagem de conhecimento para interpretá-los. Prova de que é viável e necessário o seu uso em escolas. Existem discussões que podem ser facilitadas e dinamizadas com esse método. Professores da área de história, por exemplo, facilmente podem explicar guerras contemporâneas com a história Gen – pés descalços, que fala sobre uma criança que narra em primeira pessoa suas experiências durante o período da bomba de Hiroshima; ou até mesmo discussões profundas sobre noções de violência e introspecção psicológica com o Reino do Amanhã. Ainda podem ser encontrados física, astronomia, robótica, nacionalismo e centenas de outros temas em Watchman. Podemos ver que o conteúdo discursivo dentro de uma HQ é imenso. Como diz Vergueiro (2012) em Como usar quadrinhos em sala de aula "Ao contrário do que se pensa, a linguagem quadrinística obriga o leitor a pensar e imaginar".

Trazendo para a área das Letras, podemos usá-las para facilitar e exemplificar noções de gramática. Utilizar a simbologia e contexto para discussões e produções dissertativas. Bem como ostentar adaptações de clássicos literários como Dom Quixote, que por sua extensão seria inviável a leitura.  

Os professores precisam criar técnicas de uso para auxiliar o desenvolvimento do processo de aquisição da língua e de capital cultural. É comum encontrarmos em HQs palavras pertencentes a uma tribo, uma classe, uma época e a uma geografia específica, dando visão geral comum de variedade cultural. Escolher uma obra que explicite bem seria um bom meio para produção de trabalhos pedindo resumos, críticas e observações gerais.  

As oficinas literárias, populares em ambientes escolares, exigem leituras de escolas literárias específicas, deixando de lado a possibilidade de inovação e diversão. Como dito anteriormente, um bom meio de leitura de clássicos são as adaptações. Propor leitura de alguns títulos como Iracema, Dom Casmurro, Memórias póstumas de Brás Cubas, Os miseráveis é muito mais produtivo que a exigência das leituras originais e na íntegra, além de serem facilmente encontradas em histórias em quadrinhos por um preço acessível. Incentivar os alunos a criticarem a obra com novas perspectivas instiga a curiosidade e o dinamismo pessoal de cada um. Podemos provar isso através do comentário de Norvell, citado no livro A Leitura: teoria, avaliação e desenvolvimento: 

Os jovens não gostam da maioria dos títulos considerados 'clássicos'   pelos professores de língua nacional. (ALLIENDE; CONDEMARIN, 2005, apud NOVELL, G. W., 1973, p. 173) 

A imagem sequenciada dos quadrinhos reduz o espaço e concentra um efeito que une o imaginário e a psique, recurso fotográfico que se assemelha à mecânica do cinema. O professor poderia usufruir desse recurso de tal maneira a contar uma história dentro do contexto da aula, deixando a escolha do quadrinho em aberto sobre o tema em questão e propor leitura, análise interdisciplinar e produção de um texto corrido, englobando críticas e conclusões sobre a história. Mas para isso é preciso que a docência como um todo se una e crie tabelas de leituras e projeções esperadas das conclusões dos alunos, para deixá-los a vontade, porém, induzindo-os a agregar conhecimento para todas as áreas. 

Os profissionais devem escolher o material de acordo com sua proposta. É comum encontrarmos professores de português, que para explicarem variação, preconceito linguísticos e oralidade e escrita fazem uso dos quadrinhos da Turma da Mônica. Enquanto aqueles que objetivam falar de coesão, regência, sintaxe e sentido por meio de contexto, utilizam quadrinhos como Hagar e Garfild. Podemos ver que os textos expositivos em sala são usados com frequência, é preciso apenas uma adequação maior e melhor com esses recursos tão ricos e que oferecem tanto. 

Todas essas manobras auxiliam o domínio da leitura, o que implica na aquisição de um instrumento veiculado à totalidade da vida cultural do leitor, como Alliende (2005) argumenta muito bem ao falar sobre a importância da leitura e a necessidade do aperfeiçoamento de reconhecimento de palavras e cotextos. E a escola como antro da aprendizagem necessita projetá-la a partir da leitura para todas as atividades, e não somente das humanidades. A leitura é trabalho, informação, entretenimento, conceito e evolução.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora a grande maioria dos estudantes brasileiros não desenvolva o hábito de ler e procure se manter afastada de tudo que a remeta a essa possibilidade, os discentes possuem ferramentas capazes de despertar o interesse através da leitura dinâmica. Um dos métodos para uso pode ser as histórias em quadrinhos. Estudos comprovam que esse método pode despertar e estimular os alunos a interagirem com as mais diversas situações em que estiverem inseridos.

As dificuldades apresentadas pelos discentes, relacionadas ao grau de compreensão, podem ser reduzidas através da descoberta do prazer de ler. As histórias em quadrinhos, além de criar o gosto pela leitura, ampliam a forma de pensar e valorizar diferentes formas de linguagem. É notório que o âmbito escolar favorece a aprendizagem, mas não se pode deixar de mencionar que, atualmente, existem diversos atrativos, em vários formatos, que atraem a atenção dos alunos que acabam se afastando da leitura.

O estudo não se esgota acerca deste assunto. As histórias em quadrinhos correspondem a uma das alternativas que podem ser adotadas na melhoria da leitura e aprendizagem, pois as leituras curtas podem despertar o interesse em aprofundar os conhecimentos em determinados assuntos.

REFERÊNCIAS

 

ALLIENDE, F.; CONDEMARIN, M. A Leitura: teoria, avaliação e desenvolvimento. ed. 8. Editorial Andres Bello, 2002.

Brasil escola. Histórias em quadrinho. Disponível em: <http://educador.brasilescola.uol.com.br/orientacoes/historia-quadrinhos-como-incentivo-leitura.htm>. Acesso em: 14 Abr. 2016.

CARVALHO, J. Trabalhando com quadrinhos em sala de aula. Disponível em: <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/suavoz/0116.html>. Acesso em: 06 Abr. 2016.

CASTRO, E. F. A importância da leitura infantil para o desenvolvimento da criança. Disponível em: <http://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/educacao/a-importancia-literatura-infantil-para-desenvolvimento.htm>. Acesso em: 23 Abr. 2016.

CONDEMARIN, M.; BLOMQUIST, M. Dislexia: manual de leitura corretiva. trad. de Ana Maria Netto Machado. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.

KLEIMAN, A. Oficina de leitura: teoria e prática. 12. ed.  São Paulo: Pontes, 2008.

MOURA, A. R.; GUEDES, I. C.; CRUZ, J. L. S.; FERREIRA, M. C.; PAZ, R. C. P.; CALOMENI, M. R. Características diferenciais das dificuldades

de aprendizagem na leitura e escrita. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd174/dificuldades-de-aprendizagem-na-leitura-e-escrita.htm>. Acesso em: 28 Abr. 2016.

PORTO, G. A importância da leitura. Disponível em: <http://www.infoescola.com/educacao/a-importancia-da-leitura/>. Acesso em: 23 Abr. 2016.

SILVA, E. T. O Ato de Ler: fundamentos psicológicos para uma nova pedagogia da leitura. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

VERGUEIRO, W.; RAMA, A. Como usar quadrinhos na sala de aula. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2012.