A tentativa do Exército Brasileiro de punir ou melhor, de fazer sumir os protagonistas de um romance gay de seus quadros, tem chegado a beira do ridículo.

A aversão, o preconceito, o embaraço, causam mais desdobramentos "trapaleônicos" do que qualquer tentativa mais equilibrada de enfrentar a situação.

A história nos mostra que em todos os lugares onde existe a clausura, o rigor, a disciplina irracional, a negação do individualismo, ali sempre residirá a contrariedade àquela imposição estabelecida.

O homossexualismo é um tabu tão grande em nosso país e seu preconceito está tão enraizado em nossa cultura que precisaremos de mais um milênio para que haja, de fato, algum avanço.

A própria mídia, como sempre, um prato cheio para os humoristas mais atentos, estampa em suas manchetes: "Sargento Gay foi torturado", "Militar homossexual está preso", etc.

Eles nunca dizem "Político ladrão consegue se reeleger" ou "Jornalista corrupto faz mais uma matéria tendenciosa".

As acusações do exército em relação aos envolvidos no caso são risíveis. Os militares os acusam de alteração no uniforme, ocultar informações sobre o companheiro e ausência ao serviço. Se ocultar informações sobre o companheiro fosse crime, o presidente Lula devia pegar cem anos de prisão. Quanto à ausência ao serviço é só deixar um camburão na sexta-feira em Brasília.

Que o exército tem uma disciplina própria e uma legislação diferenciada, isso todo mundo sabe.

Só que essa instituição que, sem dúvida nenhuma é o baluarte, o estandarte, o bacamarte de nosso país, tem como responsabilidade a garantia dos poderes constitucionais, entre outros.

E a constituição não admite torturas, perseguições, preconceitos e cerceamento de defesa.

Ás vezes é preciso que uma minoria, para ter sua voz ouvida, não grite no maior microfone disponível, mas que toque uma melodia no mais afinado, caro e intocado instrumento exposto em um museu.

É mais difícil de ser arrancado de suas mãos, sob pena de danificá-lo e enquanto isso não acontece, sua música continua a ser ouvida por todos.

O único risco é que eles, inteligentes que são, vão acabar prendendo-o por tocar música em público, sem estar em dia com a mensalidade da Ordem dos Músicos.

Sérgio Lisboa.