Após muitos anos.

Voltei ao lugar.

Onde nasci.

A fazenda Serra da Moeda.

No município de Itapagipe.

Minas Gerais.

Triângulo Mineiro.  

Estavam lá outras pessoas.

 Tudo tinha modificado.

A casa.

Os currais.

Os caminhos.

Encontrei algumas árvores antigas.

Solitariamente perdidas no tempo.

Quando olhei para os seus galhos.

Suas folhas tremeram de emoção.

Fui reconhecido.

Meus olhos encheram de lágrimas. 

Fui ao velho barracão.

Onde o povo reunia.

Para fazer novena.

Rezar o terço.

Eram pessoas diferentes.

De outra geração.

Olhavam para mim como não fosse daquela terra. 

Sequer perguntaram o meu nome.

Guiava o carro em varias direções.

Por diversos caminhos.

Esperando o sol se colocar.

Por baixo da terra.

Na velha concepção aristotélica ptolomaica.

Olhava para o infinito e via as nuvens.

Carregadas.

A tardezinha o amarelado.

Então pensei em meus avos.

Em minhas tias.

Tios.

Pai e mãe.

Irmão e irmãs.

 Primos e primas.

Sobrinhos e Sobrinhas. 

Eles não estavam lá.

Meus cabelos grisalhos.

O tempo tinha acabado.

À noite fui onde nasci ao velho casarão.

Transformei o banco do carro em cama.

O resto do tempo.

Contemplei o silêncio da escuridão.

Naquele instante compreendi a natureza da vida.

Foi talvez a melhor experiência que tive.

A recordação de parte da minha existencialidade.

Entretanto, pude saber da não realidade.

Outros eus perdidos em mundos fictícios.

Construídos.

Imaginados.

Representados e ideologizados.

Ao entardecer do dia seguinte.

Procurei encontrar uma estrada.

Dirigir a cidade.

Foi a minha despedida.

Daquele magnífico lugar.

Queiramos ou não ficará guardado dentro.

Eternamente.

 Da alma do meu coração.

Tive que volta lá.

Beijar o solo.

E despedir da terra e das árvores.

Da água do  rio.

O córrego Serra da Moeda.

O tempo já não era mais o tempo.

O que ficou naquele instante apenas o silêncio.

Contemplei como única realidade.

esse acontecimento foi de fato minha eternidade.

 

Edjar Dias de Vasconcelos.