Historiografia

Não é fácil escrever, porque não é fácil transformar gestos e rostos em palavras. As palavras não gritam, as palavras não sussurram: as palavras são apenas palavras. Então, fico de mãos atadas sempre que preciso escrever. Mas nem me dei conta, quando, de repente, já estava escrevendo. E não vou parar agora, pro conserto não ficar pior que o soneto.
É preciso escrever, principalmente quando se pretende dizer o que se pensa a muita gente. Seja no espaço, seja no tempo, o texto sobrevive: é tão resistente que suporta até as quentes e empoeiradas bibliotecas. Nem os porões conseguem destruir o texto. Quem sabe, escrever seja como embalsamar? Veja, que interessante, escrever é embalsamar as ideias. No futuro haverá um arqueólogo levantando milhões de hipóteses para o significado do teu recado, pedindo para imprimir o trabalho de geografia. Sobre a receita do bolo de fubá da tua avó, dirão ser relatos de um rito primitivo de adoração ao milho. Quanta bobagem... Ah! Deixa pra lá.
A habilidade para a escrita é quase uma nobreza de sangue: não se compra, não se vende, nem se rouba e todos a desejam. Há quem arrogue para si as melhores posições na sociedade só porque escreve bem. Mas, é mesmo nobre essa arte e quem dera todos soubessem escrever pelo menos o próprio nome: não é necessário serem mestres, nem descolarem lágrimas, tampouco sorrisos. Basta escreverem suas histórias!
Toma a caneta e escreve a história. A história não gosta dos covardes, rejeita os que a temem e zomba dos que a ignoram. Não precisa ser pomposa, basta ser verdadeira. Escreve a tua história. Escreve.