HISTÓRICO DE INSERÇÃO DA MULHER NO MAGISTÉRIO, SOBRETUDO, SUA PREDOMINÂNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Andreana Maria de Jesus Almeida*

Angélica Maria de Jesus

Angélica Sousa Costa

RESUMO

Este artigo resulta de uma pesquisa bibliográfica, com fundamentação respaldada em autores como: Almeida (1998-2006), Freire (2010), Oliveira (2012), Souza (2011), Franco (2009), dentre outros. Tem como finalidade apresentar um estudo referente ao histórico de inserção da mulher no magistério, sobretudo, na Educação Infantil e identificar os motivos que levam a esta predominância Para que houvesse o entendimento sobre a problemática, foram abordados temas sobre a Inserção da Mulher no Magistério; O Surgimento da Educação Infantil no Brasil; Educação Infantil como sinônimo de Maternagem; Educação Infantil e Profissionalidade; Cuidar e Educar na Educação Infantil como Fazer Pedagógico Oficial. Desta feita, com os resultados obtidos através da pesquisa bibliográfica constatou-se que o motivo dessa predominância feminina se dá pelo fato de que a sociedade e a própria mulher veem que a profissão de educadora da Educação Infantil está ligada à maternidade, e ao dom de lidar com crianças pequenas e por mais que a educação tenha passado por algumas mudanças na prática escolar, a feminização do magistério continua se perpetuando e desvalorizando o papel da mulher docente ano após ano.

INTRODUÇÃO

O processo da feminização do magistério começou na colonização com a desvalorização e subjugação feminina, continuou na Independência, frisando a diferenciação da educação por gênero e se perpetuou na República com a inserção das mulheres nas salas de aulas infantis. (DEMARTINE; ANTUNES, 1993, p. 5-14,).

Por mais que a educação tenha passado por algumas mudanças na prática escolar, que leis tenham sido aprovadas regulamentando a educação infantil e garantindo a educação infantil às crianças como educação integral, infelizmente, ainda pode ser percebido a visão dicotômica entre cuidar e educar, fazendo com o que a feminização do magistério continue se perpetuando, desvalorizando o papel da mulher docente ano após ano, e o homem ficando distante das salas de aula da Educação Infantil, optando por trabalhar em outras áreas com maior renda, como as disciplinas de matemática, biologia, química, física, histórias, entre outras, ou em cargos de comando.

É notória a grande quantidade de mulheres no magistério, quando o quantitativo se volta para a Educação Infantil esse índice é esmagador. O preconceito e a desvalorização, principalmente, dos profissionais da Educação Infantil, contribuiu para o interesse de pesquisar o tema, pois percebe-se que a presença masculina nos cursos de pedagogia e em salas de aula é quase inexistente, e quando se refere a educação infantil esses índices são indiscutíveis. Algumas das justificativas que se dá a evasão desses profissionais são os baixos salários e principalmente a visão de que a mulher tem o dom para o magistério, a delicadeza em lidar com a criança e, com isso, desvalorizando a profissão.

Sendo assim, pode-se observar que a inserção das mulheres nas atividades do magistério não se deu sem confrontos e obstáculos, envolveu discussões e polêmicas e essa luta fundamentou-se na racionalidade científica balizava a compreensão a respeito das diferenças entre gênero da época.

Apesar de irrefutável os altos índices da diferença de gênero existente no magistério envolvendo os anos iniciais, nas discussões sobre formação de professores pouco se questiona sobre esses altos índices.

Para tanto, este artigo objetivou compreender os motivos pelos quais ocorreu a inserção da mulher no magistério, sobretudo, na Educação Infantil. Esta busca se deu através de estudo sobre a Inserção da Mulher no Magistério; O Surgimento da Educação Infantil no Brasil; Educação Infantil como sinônimo de Maternagem; Educação Infantil e Profissionalidade; Cuidar e Educar na Educação Infantil como Fazer Pedagógico Oficial. Respaldado em estudo bibliográfico que teve como referencia autores relevantes para o tema em estudo.

INSERÇÃO DA MULHER NO MAGISTÉRIO

A história nos livros didáticos nos mostra que a educação no Brasil era função estritamente masculina, os alunos eram do sexo masculino e as aulas eram ministradas por padres jesuítas e por homens que estudavam e eram contratados como tutores por senhores feudais.

Na colonização os portugueses vieram para o Brasil com seus modelos de comportamento e dominação, esse domínio patriarcal, típico da cultura judaico-cristã foi se aperfeiçoando durante muitos anos pelo sistema capitalista, o sistema patriarcal determinava que as mulheres fossem subjugadas pelos homens e pelas suas regras.

A sociedade brasileira no fim do século XIX discursava que as mulheres deveriam ser mais educadas do que instruídas, priorizando a formação moral e do caráter em detrimento da instrução. O acesso das mulheres ao ensino ainda era um campo limitado, mesmo já existindo intelectuais que apoiavam o ingresso das mulheres a educação, defendendo a ideia de meninas bem instruídas formavam boas esposas e mães, considerando que educar as meninas significava educar os homens da nação. Da mulher se esperava um comportamento que agradasse ao homem, sem concorrência profissional e intelectual com ele, a mulher cabia uma instrução que deveria gerar o bem estar do marido e dos filhos, e essa instrução revertida em benefício da família e da sociedade.

Segundo Freitas, (2000), A mulher não precisava ter boa formação, bastava-lhe compreender o básico para desenvolver com destreza seus afazeres domésticos.

De acordo com Almeida (1998; 2006), nos finais do século XIX, a educação voltada para meninas limitava-se as instituições particulares, ocorrendo, dessa forma, o negligenciamento por parte das famílias e do poder público.

Ao longo do século XVIII e XIX, a mentalidade vigente, herdeira legítima do colonialismo, dava pouco valor à instrução feminina, concentrando sua atenção nas normas sociais que impediam as mulheres de ocupar espaços sociais e até mesmo saírem desacompanhadas. Essa imagética estendeu-se ao longo do Império e mesmo durante os anos republicanos. Por conta dessas normas os pais preferiam educar suas filhas em sua própria casa, com professoras particulares ou clérigos. Essa educação concentrava-se nas aulas de ensino elementar com um pouco de gramática, que visavam preparar as meninas para o casamento, que costumava acontecer muito cedo (ALMEIDA, 2006, p. 70).

A associação da atividade de magistério a um “dom” ou a uma “vocação” feminina é baseada em explicações que relacionam o fato da mulher gerar em seu ventre um bebê com a consequente função materna de cuidar de criança. Essa caracterização da mulher como educadora não se deu de forma imediata, mas após a Revolução Francesa, com a ascensão da burguesia, a mulher é chamada a assumir o seu “papel social” na educação dos filhos. Freitas (2000), “Assim a mulher brasileira pode abrir caminho ao exercício profissional através do magistério, considerado um trabalho feminino”.

No ano de 1847[1], pela Lei nº 5 de 16 de fevereiro, foi criada a Escola Normal Feminina, que funcionava com curso de dois anos de duração, sendo supridos alguns anos depois. No ano de 1894 a Escola Normal passou a funcionar em quatro anos formando alunos de ambos os sexos. Nesse período, a formação dos profissionais da educação se tornou de extrema importância para sua inclusão na carreira docente, tendo em vista que a conquista de uma vaga no espaço escolar significava para os profissionais do magistério, sobretudo, as mulheres, adquirir o máximo de acesso na carreira, uma vez que os cargos de direção ficavam excepcionalmente para o sexo masculino.

A entrada da mulher na docência aclamou muitas críticas, uma atividade que hoje é natural, teve resistência também da igreja, pois impunham a mulher os deveres de cuidar dos afazeres da casa da educação dos filhos e a dedicação ao marido. Para Almeida (1998, p.78) “a feminização do magistério foi um potencial de poder e de liberação e não de submissão e desvalorização como se tem pretendido fazer acreditar.” Para a autora, quando as análises sobre a inserção feminina na docência minimizam a atuação das professoras como sujeitos históricos ignorando seus comportamentos de transgressão e resistência aos padrões impostos, contribuem para que as mulheres sejam vistas como vítimas, desmerecendo mais uma vez a profissão e as próprias protagonistas desta história.

EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL

No Brasil até a metade do século XIX, o atendimento a criança em creches ou jardim de infância eram inexistente. A Educação Infantil no Brasil surgiu diante da necessidade de atender crianças de 0 a 6 anos em escolas especializadas, devido às mudanças sociais e econômicas, causadas pela revolução industrial no mundo todo, momento este que as mulheres ingressaram no mercado de trabalho, deixando os afazeres domésticos e a criação dos filhos. Diante deste fato e sob pressão dos trabalhadores urbanos que não tinham onde deixar seus filhos, deu-se o início ao atendimento assistencialista da Educação Infantil. Na década de 1930[2] o Estado assumiu a missão de adquirir subsídios financeiros em órgãos privados visando contribuir com a proteção da infância, com isso, vários órgãos de proteção e assistência à criança foram criados, como o Ministério da Saúde, Ministério da Justiça, Negócios Interiores, Previdência e Assistência Social, Ministério da Educação e a iniciativa privada. Nesse período a sociedade começou a preocupar-se com o desenvolvimento da criança, levando em conta que para ocorrer esse desenvolvimento, a higiene e atividades físicas tornam-se elementos necessários. No entanto, apesar de se iniciar essa compreensão, sua finalidade principal era o combate à mortalidade infantil. Segundo Oliveira (2012, p. 23) “Nas décadas de 20 e 30, (...) alguns centros urbanos em nosso país não dispunham de infraestruturas, urbana como saneamento básico, moradia, etc. sofrendo perigo de epidemias (...). A creche seria um dos paliativos defendido (...)”.

Dessa forma, iniciou-se a organização de creches, jardins de infância e pré-escolas de maneira desordenada e sempre de modo emergencial para tentar resolver os problemas da infância criados pela sociedade.

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