RESUMO: Este trabalho faz um relato de histórias de vida de discentes, que resolveram por motivos diferentes, retornar a escola fazendo a opção pelo curso de Serviço Social. São relatos singulares à medida que se percebe as peculiaridades de cada um. O objetivo do mesmo é traçar um perfil da turma e identificar o porquê desse retorno e a escolha deste curso. Para desenvolver a pesquisa utilizou-se a História Oral, observações em sala de aula e análises de escritos das mesmas. A sala de aula, as calçadas, a biblioteca, os corredores e a lanchonete da academia, formam o cenário deste trabalho, onde os risos, as conversas e algumas vezes as faces ruborizadas enriquecem as histórias de vida contadas pelosdiscentes do primeiro período da primeira turma do curso de Serviço Social das Faculdades Integradas Aparício Carvalho - FIMCA.

Palavras Chave: Serviço Social. Retorno. História de Vida

ABSTRACT: This work is a report of life stories of students who decided for different reasons, return to school by making the option of going Service. Reports are natural as it realizes the peculiarities of each. The purpose of it is mapping out a profile of the class and identify why this return and the choice of this course. To develop the research used to Oral History, in the classroom observations and analyses of the same writings. The classroom, the sidewalks, the library, the cafeteria and corridors of the academy, form the backdrop of this work, where the laughter, the conversations and sometimes the faces ruborizadas enrich the life stories told by students of the first period of the first class the course of the Faculties Integrated Service Aparicio Carvalho - FIMCA.

Key Words: Social Servic. Return. History of Life

1. INTRODUÇÃO

1.1 Um Breve Histórico da Educação em Rondônia

Apesar do empenho em aumentar indicadores que demonstrem a melhoria de acesso à educação do povo brasileiro, o IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica escancara um número considerável de escolas "públicas" abaixo do índice mínimo estabelecido, IDEB – Índice do Desenvolvimento da Educação Básica.

Por causa da distância deste Estado ao resto do país um número pequeno de Universidades e conseqüentemente de profissionais capacitados, a Região Norte do Brasil é contemplada com uma grande parte desse baixo índice educacional.

Até a metade da década de 90, a capital de Rondônia, cidade de Porto Velho, contava apenas com uma Universidade Pública Federal[1] (só existindo ela até hoje) e uma Faculdade particular[2], a qual oferecia apenas o curso de Direito, isto demonstra a dificuldade de acesso da comunidade à educação formal.

As Faculdades Integradas Aparício Carvalho – FIMCA são as primeiras a oferecera partir deste ano, o curso de Serviço Social presencial no município de Porto Velho, existindo apenas mais dois cursos oferecidos à distância por outras IES[3].A universidade Federal ainda não tem em seu currículo este curso, como vários outros.

Este breve histórico da educação neste município demonstra e traça o objetivo deste trabalho.

As dificuldades de acesso às políticas públicas são grandes, podando o crescimento intelectual e social dos cidadãos que decidiram aqui morar.

Se o acesso à educação básica e graduação é difícil, percebe-se que a extensão e a pesquisa, ficam muito distantes. No Estado inteiro só são oferecidos institucionalmente pela UNIR:mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente,Geografia, Biologia Experimental, Administração e Lingüística.

Doutorado Institucional: Biologia Experimental e Lingüística, estas são conquistas recentes.

Costuma-se dizer que o Estado de Rondônia é uma colcha de retalhos, onde os mesmos são emendados conforme as formas e necessidades. Somos povos oriundos de vários Estados do Brasil e até de outros países. Chegam-se aqui todos os dias tanto por via área como fluvial e terrestre, pessoas com sonhos e perspectivas de uma vida melhor, e assim, chegaram muitos de nossos discentes, os quais descreveram para nós neste artigo, "histórias de suas vidas" e o porquê do retorno à sala de aula.

O objetivo deste trabalho foi observar as alunas da primeira turma do curso de Serviço Social das Faculdades Integradas Aparício Carvalho - FIMCA, na sua rotina em sala de aula, o que elas trazem consigo de experiência, expectativas, conquistas, alegrias e tristezas para o convívio escolar.São relatos que me auxiliaram como docente do curso, conhecendo-as melhor, como também percebendo a relação que as mesmas têm com a futura profissão de Assistente Social.

Alunas por quê? É inevitável lembrar que esta turma é formada por 53 (cinqüenta e três) alunas e 1(um) aluno. Nova indagação: porque será? A profissão de Assistente Social seria considerada basicamente feminina?

Nestes relatos estão expostos os seus passados, presentes e as expectativas futuras, e o porquê da escolha do Curso de Serviço Social, é somado a estes, um misto de desabafo e esperança de pessoas que resolveram retornar a vida escolar.

A história oral e escrita é a metodologia identificada como preponderante nos resultados, pois com ela o/a informante tem a liberdade de descrever toda a sua trajetória de vida, numa incrível miscelâneade realidade e nostalgia, culminado na esperança de novas oportunidades de vida.

O referencial teórico tem como base: Paulo Freire, Pedro Demo, Clodomir de Morais, Makarenko e outros que contribuíram e contribuem na bibliografia acadêmica, trazendo para a comunidade, esclarecimentos e fortalecimentos das estruturas sociais e educacionais não só do Brasil mais do mundo.

2. HISTÓRIAS DE VIDA

2.1 Perfil das Informantes e do informante

São cinqüenta e três mulheres de faixa etária que vai de 20 (vinte) a 55 (cinqüenta e cinco) anos, em sua maioria donas de casa, que estavam a mais de uma década fora do espaço escolar e conseqüentemente, acadêmico.

Foram analisados relatos de todas as alunas e do único aluno da primeira turma de Serviço Social da FIMCA, com idades diversificadas.

Das informantes, 08 (oito), ou seja, 4% temde 19 (dezenove) a 29 (vinte e nove) anos. Na faixa etária de 30 (trinta) a 40 (quarenta) anos, teve 24 (vinte) informantes, 48 %. Da faixa etária que vai dos 41 (quarenta e um) a 51 (cinqüenta e um) anos foram 22 informantes, finalizando 46% .

Grande parte das mulheres que escreveram suas histórias é descendente dos Estados do Nordeste, uma média de 60%. Do Estado de Rondônia apenas 20% e as demais do Mato Grosso, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás e interior de São Paulo.

O que se percebe é que 70% das informantes já foram ou estão casadas (tiveram ou tem um relacionamento estável), e tem filhos. Quase todas já passaram por uma separação conjugal e se declaram pessoas felizes.

Várias dessas mulheres, uma média de 60% delas trabalha em alguma atividade remunerada, seja: na saúde, atividade informal, educação, comércio, funcionalismo público e área administrativa.

Por motivos muito parecidos, 30% dessas mulheres retornaram a escola, pontuando: sonho, solidão, novo objetivo de vida, mudança, conquista, o crescimento dos filhos e oportunidades.

Enfim, as descrições são pequenos achados, onde a coordenação e os docentes do curso podem fazer um pequeno diagnóstico das primeiras alunas e aluno, que iniciaram esta nova história acadêmica não só da FIMCA mais do curso de Serviço Social do município de Porto Velho.

3. O RETORNO A ACADEMIA

A educação é um recurso que pode ser utilizado independente de classe social, condiçãoeconômica, raça e etnia para atingir os objetivos dos indivíduos enquanto cidadãos. Mesmo com as dificuldades de acesso e Políticas Públicas suficientes que atinjam a todos e todas sem discriminação. Paulo Freire (1998),era um educador que acreditava que o homem aprende mediante a sua necessidade, independente de onde está inserido, para ele, a Educação, ou seja, o conhecimento engrandece o homem, à medida que este aprendizado contribui para ele e o seu entorno, por isso concluía que não existe tempo nem idade para ensinar e aprender.

Pessoas oriundas de diversas partes do Brasil, faixa etária heterogênea, sonhos e objetivos diferentes, culminaram no retorno ou na seqüência da história acadêmica de cada um e uma dessa turma de Serviço Social.

Analisando os escritos dessas alunas e aluno, e suas diversidades etárias, percebe-se que a afirmação de Paulo Freire (1996) é ratificada.

Gosto de ser gente porque, mesmo sabendo que as condições materiais, econômicas, sociais e políticas, culturais e ideológicas em que nos achamos geram quase sempre barreiras de difícil superação para o cumprimento de nossas tarefas histórica de mudar o mundo, sei também que os obstáculos não se eternizam.

A subjetividade dos textos escritos, amplia um pensamento do perfil desse e dessas futuras Assistentes Sociais, que em sua maioria escolheram o curso por entenderemque por meio dele teriam mais oportunidade de ajudar os outros. Parece um pensamento piegas ou assistencialista de pessoas que ainda não sabem realmente o perfil de um Assistente Social, porém não se pode desprezar a disposição dessas pessoas em desenvolver atividades em relação ao bem estar humano/social.

A educação é um elemento propulsor da transformação social:

A finalidade da educação reside não somente em educar um homem (e uma mulher) de espírito criador, um homem-cidadão capacitado para praticar com a máxima a eficiência na edificação do Estado. "Nós devemos educar, também, uma pessoa que seja obrigatoriamente feliz". "E ser feliz, para ele, é saber-se contribuidor para a produção da transformação da sociedade porque está realizando o seu papel no processo histórico em andamento (CAPRILES).

3.1 Relatos

Aos 26 anos MCGM teve um problema no parto quando nasceu seu segundo filho (dois do sexo masculino), e não pode mais engravidar, seu grande sonho era ter também uma menina, depois da cirurgia não foi mais possível.Cinco anos depois apareceu um senhor conhecido da família, a procurou e ofereceu-lhe uma menina que a mãe biológica não queria mais criar. Com muita alegria MCGM decidiu junto com sua família adotar a criança.

Por causa do processo legal da adoção a família passou a ter o primeiro contato com uma Assistente Social. O trabalho desenvolvido pela profissional apresentou a essas pessoas, a imparcialidade e o interesse em proporcionar a criança um lar com equilíbrio, amor e conforto, sem se envolver emocionalmente mais com justiça, ética e responsabilidade. Essa profissional foi o referencial para a escolha do curso pela MCGM.

CFMJH, foi uma criança muito esperada e doente, ainda criança contraiu uma doença que mobilizou toda a sua família, não só pai, mãe e irmãs, mais também tios e tias e demais familiares, depois de muita luta, promessas e solidariedade humana, ficou curado, mais logo depois sofreu um pequeno acidente onde perdeu parte do indicador esquerdo e mais uma vez teve muita ajuda dos familiares e amigos.

Em seus relatos CFMJH afirma que a solidariedade humana que sempre recebeu é que fez despertar nele a vontade de fazer o curso de Serviço Social, pois antes procurou se informar sobre o perfil do profissional. Fala "[...] nessas idas a vários lugares com uma enorme carência de tudo, a necessidade de ajudar de outra forma começou despertar em mim, assim surgiu a minha decisão de ser um profissional voltado para as necessidades básicas das pessoas, nestes momentos de buscas pela minha saúde tive auxílio e contato com Assistentes Sociais incríveis".

MECCM, ver o curso de Serviço Social, como um trampolim para a sua vida, seria como a esperança de dias melhores, a demonstração que por meio de um curso superior que lhe satisfaz como ser humano (ações), você pode se realizar plenamente. É uma mulher sofrida que fala assim do marido: Fala "[...] abençoado, ele apareceu, só para atrapalhar a minha vida. Parei de estudar porque ele não deixava eu trabalhar nem ter minhas amizades me proibia de tudo. Tanto é que ele me tirou de perto da minha família e nos levou (eu e minha filha) para outra cidade só para sofrer".

Depois de muito sofrimento a escolha desse curso segundo MECCM é para viver a sua vida com muito amor e alegria, quer transmitir para as pessoas que ficam tristes, que precisam de amor: carinho, amizade, solidariedade, generosidade, paz e fé e conseguir um bom emprego, visto que o mercado em Rondônia ainda necessita muito deste profissional.

IOASM, sempre sonhou em fazer uma faculdade, trabalha na área de saúde mais sente na pela a falta do reconhecimentodos profissionais que trabalham com a vida em hospitais. O curso de Serviço Social é para ela uma nova opção de trabalhar com o povo e ajudá-lo, mais de outra forma, no sentido mais preventivo.

Não gostaria em momento algum de deixar de trabalhar em prol do bem estar humano, mais de maneira menos cruel e dolorosa. Na sua profissão atual, sente-se muitas vezes impotente, ocasiões em que a vida humana lhe escapa por entre os dedos sem que possa fazer nada.

Para um técnico em enfermagem as limitações são imensas, porém ver no Assistente Social não o salvador do mundo, mais um profissional que ajuda o indivíduo a percorrer caminhos mais curtos e diretos para chegarem aos seus objetivos e saberem quais as políticas públicas estão ao seu dispor.

4. CONCLUSÃO

No papel, em termos conceituais, é simples. Todo o sofrimento humano, não importa qual seja, resulta de uma incongruência entre a nossa vontade e desejos, de um lado, e o curso dos acontecimentos que nos afetam, de outro. Como lidar com a discrepância entre aspirações e realidade? Há dois modos básicos de reduzir ou anular essa incongruência. Um deles é adaptando e moldando os nossos desejos ao curso dos acontecimentos; e o outro é transformando as circunstâncias com que nos deparamos de modo que atendam aos nossos desejos. (GIANETTI)

Foram vários os relatos e em meio a eles tiveram vários achados que permitiam emergir, emoções, alegrias, desabafos, mágoas e revoltas.

Procuramos explicitar alguns depoimentos que expurgava uma grande quantidade de sentimentos guardados em cantinhos desconhecidos. Relatos sem amarras, verdadeiros talvez por elas próprias escreverem sem compromisso e sem exposição, estes momentos de descrição tornaram-se às vezes uma terapia incomparável, momentos de acertos interiores e que após descrevê-los é que perceberam que alegrias e mágoas estavam adormecidas.

Não foi uma grande nem longa pesquisa, foram apenas leituras de histórias contadas por alunas da disciplina de Metodologia Científica da primeira turma e primeiro período do curso de Serviço Social da FIMCA, mais que foi gratificante porque nos deu a oportunidade de conhecer um pouco da história de cada uma e um discente.

Nestas pequenas resenhas de vida, pode-se invadir a privacidade de várias discentes e do único discente existente na turma. O mais importante dessa invasão foi à possibilidade de saber o que cada discente espera deste curso e qual a mola propulsora para o retorno a sala de aula, por meio deste curso.

Não sei se é bem isto que os/as Assistentes Sociais querem expor para a sociedade, um perfil de um profissional que trabalha em prol do bem estar das pessoas em diversos segmentos: saúde, educacional, econômico e social, porém esta é a imagem que por enquanto os nossos alunos têm.

Concluímos este trabalho com a convicção que o nosso enossas discentes, escolheram este curso por entenderem que: o mercado de trabalho no município de Porto Velho, tem um número muito pequeno de Assistentes Sociais e por ser a primeira turma presencial, após a conclusão haverágrandes oportunidades de trabalho; os profissionais que já trabalham com assistência aos indivíduos mais na área de saúde, poderiam estar contribuindo com pessoa, porémsem sofrimento físico e sim na condução e orientação para a resolução de seus problemas; e, seria um meio de trabalhar e como profissional poder ajudar o próximo (pessoas que gostam de trabalhar em função do bem do outro), retribuindo auxílios humanos (carinho, solidariedade) e financeiros que já receberam em outra fase de suas vidas e por fim, queproporciona sucesso e satisfação profissional.

O retorno a escola como perspectiva de uma qualidade de vida melhor por meio de uma profissão que venha aglutinar trabalho e ação social é para os discentes do referido curso, um redesenhar na melhoria de suas vidas a partir de linhas de desenvolvimento humano de forma a fazer com que a comunidade profissional estejaa serviço de todos e todas.

5. REFERÊNCIAS

 

CAPRILES, René. Makarenko: O nascimento da pedagogia socialista. 1998.

DEMO, Pedro. Cidadania Menor. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1991.

FREIRE, Paulo.Educação e Mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

______, Paulo. Educação: O sonho possível. In: BRANDÃO, C. R (org). Educador: vida e morte. Rio de Janeiro: Graal, 1986.

______, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

HARGREAVES, Andy - O Ensino na Sociedade do Conhecimento: A educação na era da insegurança - (2004) Porto Alegre (RS): Artmed Editora.

MORAIS, Clodomir Santos de. Qual é o mérito do método Paulo Freire? CAGEO:

1997.

OLIVEIRA, Rita de C. da Silva (org). et al. Sociologia. São Paulo: Consensos, 1998.

MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. São Paulo: Cortez, 2003.

SANTOS, Boaventura Souza - Pela mão de Alice - O Social e o Político na Pós-modernidade - Ed. Cortez, São Paulo, 1996 e Ed. Afrontamento, Porto, Portugal, 1994.

5. REFERÊNCIA ELETRÔNICA

http://grifando.wordpress.com/2007/12/11/felicidade-eduardo-gianetti. Acesso em 29 de julho de 2008.

Pensamentos e citações que merecem ser lembrados

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[1] Universidade Federal de Rondônia - UNIR

[2] Faculdade de Rondônia - FARO

[3] Instituição de Ensino Superior