Historias de macheza

Foram muitas as histórias que ouvia, nas rodas de amigos. Cada um procurando impressionar mais. Procurando fantasiar mais. Mostrar-se mais macho do que fora o colega que acabara de contar sua história de macheza.

Os fatos, contados nas histórias de fim de semana, sempre aconteciam nos inferninhos e botecos de fim de rua. Barzinho de aparência suspeita e clientela desconfiada.

Todos os botecos poderiam ser descritos da mesma forma: uma porta de entrada, um balcão onde sempre estavam apoiados alguns devotos da Santa Pinga e outros aperitivos, santos menores. Na prateleira, de tábua tosca toda tomada pela poeira, percebia-se recostadas na parede algumas garrafas de pinga de duas ou três marcas por vezes algumas garrafas de vinho azedo. No teto uma lâmpada amarelecida, como a denunciar a decomposição do ambiente. Num canto uma bacia, perto do balcão, onde em uma água que já fora não cristalina, mas limpa, lavava-se os copos que alimentavam o ritual da embriagues. Nos fundos uma porta, com uma cortina feia, fétida, fantasiada de estampas despropositadamente avermelhadas. Por trás dessa cortina escondia-se o ponto central do ambiente: um pequeno corredor com portas fechadas por cortinas ocultando as cama, sujas como tudo o mais; mas esse era o ponto pronto para o lucro, aparentemente fácil!

Ao redor dessas camas é que se desenrolavam as histórias de fim de semana, que a rapaziada contava, com orgulho. Cada um procurando mostrar com mais detalhes, as cenas realizadas sobre essas camas de fundo de “buteco”. Quando era possível até se fazia alguma referencia á mulher que fora usada. Mas essas, em geral, eram velhas e não possuíam mais as belezas da juventude. Ela fora se desgastando pelos inúmeros parceiros por cada noite. Por isso, as mulheres apareciam nas histórias apenas como uma necessidade de reforço técnico: para contar como fora a transa, mencionava-se a parceria que tecnicamente era mulher.

Pois é! O fato é que todos estávamos acostumados a ouvir e contar nossas aventuras que quase ninguém mais se dava ao trabalho de detalhar as características da mulher. Tinha-se até a impressão de que a mulher, por mais gostosa que fosse, não passava de um detalhe.

Naquelas conversas o que importava é que o sujeito mostrasse que tinha sido macho e comido uma ou mais donas, no fim de semana. Macho que se preza não fala da mulher apenas diz quantas comeu, dando os detalhes do ato realizado.

E eu estava contado minha história, singular em seus detalhes:

  • Vocês nem imaginam como foi a minha aventura neste sábado. Não fui pro boteco. Resolvi me divertir lá num bailão. Naquele ali depois da baixada.

  • Ora essa! Você está amarelando. Foi requebrar a bunda no esfrega esfrega. Molha a calça, mas não afoga o ganso. Explica-se mano velho.

  • Deixa que eu falo. Primeiro por que o bailão é coisa boa mesmo. Depois pelas caras bonitas das donas que aparecem.

  • Quer dizer que tem gatinha disposta a levar umas cutucadas no parque de diversão?

  • Isso mesmo. Mas tem que tomar cuidado. Tem cada rapagão que...

  • Bem feito, os caras de lá brigam pelas fêmeas e você levou uma sova?...

  • Não. Não é isso. Acontece que no bailão está misturado as donas e alguns Barbados de minisaia.

  • O quê? E você diz que esse lugar é bom pra cabra macho?

  • Claro, é só tomar cuidado. Antes de rosetar você passa a mão nos documentos.

  • Saltei fora. Vai que passo a mão e encontro um cacho maduro. Sabe duma coisa. To achando que você mudou de time.

O coro de gargalhada interrompeu o tesão da história... paguei minha cerveja e saí!

 

Neri de Paula Carneiro