HISTÓRIA & TEORIA -Historicismo, Modernidade, Temporalidade e Verdade.
Publicado em 01 de março de 2011 por Silvon Alves Guimaraes
Esta resenha tem como base o livro de José Carlos Reis, História & Teoria, alçado nos sub-capitulos com os temas: Modernidade e história-conhecimento, pags. 36 a 42; A pós-modernidade, pags. 42 a 53; e Pós-modernidade e história-conhecimento, pags. 53 a 62, da 1ª seção. Este livro foi publicado pela editora FGV do Rio de Janeiro, com edições em 2003, 2005, 2006 e finalmente a Reimpressão em 2007, que é a edição que estamos utilizando.
Neste texto resenhado, José Carlos Reis, faz uma abordagem sobre os caminhos da historiografia no século XVIII, onde predominava a filosofia e a Razão histórica. Anda também no século XIX, onde a história quer se emancipar para Ciência histórica. Passando por último para o século XX, onde pode se destacar duas fases distintas da História: na primeira parte, uma História-ciência, que vigora na primeira metade do século, e, na segunda parte, a Anti-ciência na História, ou a Anti-história na ciência, que se passa no final do século.
A obra de José Carlos Reis, História & Teoria, esta dividida em 21 capítulos, sob três seções. Na primeira seção, Reis, faz o que podemos chamar de histórico de a História da história, que se trata de uma analise sobre o desenvolvimento historiográfico no mundo ocidental. Na segunda seção o foco está na grande queda da História, passando de uma História global a uma micro-história, ou como Reis a chama, a "história em migalhas". E na terceira seção a analise se concentra no estudo da Lógica e sua problemática e em tentar estabelecer como o conhecimento histórico tem sido discutido nos últimos anos.
Nos três capítulos, que baseamos esta resenha, José Carlos Reis, remonta ao século XIX, onde a história-conhecimento deixa de lado seu viés filosófico e torna-se "cientifica". Esta mudança é resultado de pensadores radicais, que tinham consigo que as filosofias racionalistas e metafísicas, não revelaram nada da história, e consequentemente não servia como bem para a humanidade.
Com o estabelecimento da História-ciência deixou-se de discutir o sentido histórico e a história universal. No método cientifico, conforme mostra Reis, não se busca conhecimento de principio geral, mas sim o conhecimento das diferenças. Há um verdadeiro culto do "fato realmente acontecido". A consciência histórica é finita, limitada. Como se trata de uma busca da realidade a História-ciência se organiza temporalmente sem se referir ao intemporal. As filosofias Hegelina e Iluminista são prontamente recusadas.
A relação entre filosofia e história se inverte. Neste momento é a filosofia que se revela histórica. O historiador passa a ter uma nova atitude, positiva e critica. Abandona-se a ontologia e adota-se um proceder epistemológico. Passa-se a observar os fatos através de uma atitude realista. Acreditou-se que o conhecimento histórico tinha se estruturado em bases positivas ao encontrar um método seguro, objetivo, confiável, empírico.
A seguir, José Carlos Reis, mostra como a história-ciência sofre uma poderosa derrota quando ocorre a 2ª guerra mundial. A história-cientifica que assumiu ares de salvadora da humanidade, agora é descartada como não servindo para o bem. Depois de 1945, com a Europa derrotada, com os dois novos vitoriosos a leste e oeste, que eram inimigos em uma "quentíssima Guerra Fria", a historiografia européia tinha de se reconstruir para apoiar a Europa em sua reconstrução. A escola dos Annales era a historiografia adequada à "reconstrução da Europa". Reis resume a importância da escola dos Annales por citar que ela foi tão revolucionária quanto à burguesia depois da Revolução Francesa, ou seja, inovava para se antecipar a mudança, mudava para não desaparecer, para permanecer.
Por fim, Reis, passa a analisar o momento atual em que a história se encontra. Segundo ele, desde 1989, com o fim da Guerra Fria, a história mundial mudou a sua direção. A história da história se articula à história vivida. Hoje, predomina a chamada "história cultural" e as abordagens micro do social, que defendem teses como: "o sistema não existe", "não há confrontos estruturais", "o que os homens são é tal como se representam", "o que o mundo social é depende das representações que os indivíduos e grupos fazem dele", "os indivíduos se apropriam de linguagens dominantes para se integrarem à ordem" etc. A direção é: que cada um se adapte, que cada um se integre, que cada um negocie e crie estratégias para vencer, que crie novas identidades, que, se vencedoras, irão revigorar a ordem. Viva o presente e lute para fortalecer-se nele. Olhando ainda mais para os nossos dias, alguns historiadores têm formulado a existência de um pensamento pós-moderno, onde haveria uma ruptura com o projeto moderno. Esse pensamento pós-moderno substituiria a Razão e a metafísica. A história não salva e ninguém se nutre de sonhos utópicos. É real a existência desse pós-modernismo? Quais são suas reais bases? O que o futuro pode nos apontar? São reflexões feitas por José Carlos Reis e abordadas nestes capítulos que procuramos aqui resenhar.
Vale dizer nesta resenha, que a analise feita por José Carlos Reis, demonstra de forma interessante o desenvolvimento e a queda da historiografia e consequentemente sua luta para não desaparecer, para se adaptar aos novos tempos. Ao citar filósofos de nome como: Weber, Nietzsche, Hegel, Foucault, Dilthey, Marx, P. Burke e outros; ele tenta mostrar como sua analise esta bem embasada e representa o pensamento filosófico em vigor.
Por ter uma "vocação filosófica", como ele mesmo refere a si, José Carlos Reis, defende em demasia o retorno da história-conhecimento, que foi utilizada amplamente no século XVIII, e que tem como meta a compreensão do mundo por meio do estudo da Razão, utilizando a filosofia como base das reflexões. Mas como diz Tzvetan Todorov: "A aquisição dos conhecimentos só faz aproximar da verdade quando se trata do conhecimento daquilo que se ama e em nenhum outro caso" (L?enracinement, p. 319). Ou seja, não se pode ter uma compreensão plena de algo se não estivermos vivendo esse algo, pois, sem a emoção, sem o sentimento da vivenciação, da experiência pessoal, tudo se degeneraria em escolástica, e assim traria satisfação apenas às instituições burocráticas, que adoram os dados quantitativos. Uma história feita em bases filosóficas, poderia se tornar rapidamente uma história empírica, o que foi amplamente criticado por Reis, quando utilizada pela história-ciência.
Ao tecer duras criticas aos métodos científicos em que a história-ciência se alicerçou, Reis, deixou de analisar como esses métodos foram úteis em se criar uma "estrutura lógica", fundamentada, para se fazer história. É claro que, os pensamentos de radicalistas históricos, que introduziram o pensamento cientifico e suprimiram a filosofia da história, cometeram um erro de falta de equilíbrio. Porém, Reis, cai em um erro similar ao defender a introdução da filosofia na história e a total supressão dos métodos científicos. É preciso ter um equilíbrio, utilizar o melhor dos dois mundos seria o mais sensato, é preciso evitar o radicalismo histórico.
Eu considero a idéia do texto resenhado muito boa para a utilização nas faculdades, entre os iniciantes em graduação de história. Não é segredo que a história passou por várias mudanças e que atualmente a uma indefinição quanto ao momento em que se vive e quanto a que caminho seguir. Porém, a forma como Reis apresenta esse momento dá uma visão realista de três séculos de conflitos historiográficos. Os iniciantes de graduação em história poderão assim ter visão apurada do desenrolar histórico.
O professor José Carlos Reis é um dos historiadores mais conhecidos no Brasil. Autor de algumas das melhores obras de teoria e historiografia (História & Teoria; A Escola dos Annales: a inovação em História; Identidades do Brasil I e II; Tempo; História e Evasão entre outros). Fez o curso de história na Fafich/UFMG (1978/81). Sua pós-graduação foi em departamentos de filosofia. Fez mestrado na UFMG, sob a orientação de Ivan Domingues, com a dissertação "Marx e a História". Fez doutorado no instituto superior de Filosofia, da Universidade Católica de Louvain (Bélgica), sob a orientação de André Berten, com a tese "O tempo e o lugar epistemológico dos Annales".
Silvon Alves Guimarães
"Acadêmico do curso de História da Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí".
Neste texto resenhado, José Carlos Reis, faz uma abordagem sobre os caminhos da historiografia no século XVIII, onde predominava a filosofia e a Razão histórica. Anda também no século XIX, onde a história quer se emancipar para Ciência histórica. Passando por último para o século XX, onde pode se destacar duas fases distintas da História: na primeira parte, uma História-ciência, que vigora na primeira metade do século, e, na segunda parte, a Anti-ciência na História, ou a Anti-história na ciência, que se passa no final do século.
A obra de José Carlos Reis, História & Teoria, esta dividida em 21 capítulos, sob três seções. Na primeira seção, Reis, faz o que podemos chamar de histórico de a História da história, que se trata de uma analise sobre o desenvolvimento historiográfico no mundo ocidental. Na segunda seção o foco está na grande queda da História, passando de uma História global a uma micro-história, ou como Reis a chama, a "história em migalhas". E na terceira seção a analise se concentra no estudo da Lógica e sua problemática e em tentar estabelecer como o conhecimento histórico tem sido discutido nos últimos anos.
Nos três capítulos, que baseamos esta resenha, José Carlos Reis, remonta ao século XIX, onde a história-conhecimento deixa de lado seu viés filosófico e torna-se "cientifica". Esta mudança é resultado de pensadores radicais, que tinham consigo que as filosofias racionalistas e metafísicas, não revelaram nada da história, e consequentemente não servia como bem para a humanidade.
Com o estabelecimento da História-ciência deixou-se de discutir o sentido histórico e a história universal. No método cientifico, conforme mostra Reis, não se busca conhecimento de principio geral, mas sim o conhecimento das diferenças. Há um verdadeiro culto do "fato realmente acontecido". A consciência histórica é finita, limitada. Como se trata de uma busca da realidade a História-ciência se organiza temporalmente sem se referir ao intemporal. As filosofias Hegelina e Iluminista são prontamente recusadas.
A relação entre filosofia e história se inverte. Neste momento é a filosofia que se revela histórica. O historiador passa a ter uma nova atitude, positiva e critica. Abandona-se a ontologia e adota-se um proceder epistemológico. Passa-se a observar os fatos através de uma atitude realista. Acreditou-se que o conhecimento histórico tinha se estruturado em bases positivas ao encontrar um método seguro, objetivo, confiável, empírico.
A seguir, José Carlos Reis, mostra como a história-ciência sofre uma poderosa derrota quando ocorre a 2ª guerra mundial. A história-cientifica que assumiu ares de salvadora da humanidade, agora é descartada como não servindo para o bem. Depois de 1945, com a Europa derrotada, com os dois novos vitoriosos a leste e oeste, que eram inimigos em uma "quentíssima Guerra Fria", a historiografia européia tinha de se reconstruir para apoiar a Europa em sua reconstrução. A escola dos Annales era a historiografia adequada à "reconstrução da Europa". Reis resume a importância da escola dos Annales por citar que ela foi tão revolucionária quanto à burguesia depois da Revolução Francesa, ou seja, inovava para se antecipar a mudança, mudava para não desaparecer, para permanecer.
Por fim, Reis, passa a analisar o momento atual em que a história se encontra. Segundo ele, desde 1989, com o fim da Guerra Fria, a história mundial mudou a sua direção. A história da história se articula à história vivida. Hoje, predomina a chamada "história cultural" e as abordagens micro do social, que defendem teses como: "o sistema não existe", "não há confrontos estruturais", "o que os homens são é tal como se representam", "o que o mundo social é depende das representações que os indivíduos e grupos fazem dele", "os indivíduos se apropriam de linguagens dominantes para se integrarem à ordem" etc. A direção é: que cada um se adapte, que cada um se integre, que cada um negocie e crie estratégias para vencer, que crie novas identidades, que, se vencedoras, irão revigorar a ordem. Viva o presente e lute para fortalecer-se nele. Olhando ainda mais para os nossos dias, alguns historiadores têm formulado a existência de um pensamento pós-moderno, onde haveria uma ruptura com o projeto moderno. Esse pensamento pós-moderno substituiria a Razão e a metafísica. A história não salva e ninguém se nutre de sonhos utópicos. É real a existência desse pós-modernismo? Quais são suas reais bases? O que o futuro pode nos apontar? São reflexões feitas por José Carlos Reis e abordadas nestes capítulos que procuramos aqui resenhar.
Vale dizer nesta resenha, que a analise feita por José Carlos Reis, demonstra de forma interessante o desenvolvimento e a queda da historiografia e consequentemente sua luta para não desaparecer, para se adaptar aos novos tempos. Ao citar filósofos de nome como: Weber, Nietzsche, Hegel, Foucault, Dilthey, Marx, P. Burke e outros; ele tenta mostrar como sua analise esta bem embasada e representa o pensamento filosófico em vigor.
Por ter uma "vocação filosófica", como ele mesmo refere a si, José Carlos Reis, defende em demasia o retorno da história-conhecimento, que foi utilizada amplamente no século XVIII, e que tem como meta a compreensão do mundo por meio do estudo da Razão, utilizando a filosofia como base das reflexões. Mas como diz Tzvetan Todorov: "A aquisição dos conhecimentos só faz aproximar da verdade quando se trata do conhecimento daquilo que se ama e em nenhum outro caso" (L?enracinement, p. 319). Ou seja, não se pode ter uma compreensão plena de algo se não estivermos vivendo esse algo, pois, sem a emoção, sem o sentimento da vivenciação, da experiência pessoal, tudo se degeneraria em escolástica, e assim traria satisfação apenas às instituições burocráticas, que adoram os dados quantitativos. Uma história feita em bases filosóficas, poderia se tornar rapidamente uma história empírica, o que foi amplamente criticado por Reis, quando utilizada pela história-ciência.
Ao tecer duras criticas aos métodos científicos em que a história-ciência se alicerçou, Reis, deixou de analisar como esses métodos foram úteis em se criar uma "estrutura lógica", fundamentada, para se fazer história. É claro que, os pensamentos de radicalistas históricos, que introduziram o pensamento cientifico e suprimiram a filosofia da história, cometeram um erro de falta de equilíbrio. Porém, Reis, cai em um erro similar ao defender a introdução da filosofia na história e a total supressão dos métodos científicos. É preciso ter um equilíbrio, utilizar o melhor dos dois mundos seria o mais sensato, é preciso evitar o radicalismo histórico.
Eu considero a idéia do texto resenhado muito boa para a utilização nas faculdades, entre os iniciantes em graduação de história. Não é segredo que a história passou por várias mudanças e que atualmente a uma indefinição quanto ao momento em que se vive e quanto a que caminho seguir. Porém, a forma como Reis apresenta esse momento dá uma visão realista de três séculos de conflitos historiográficos. Os iniciantes de graduação em história poderão assim ter visão apurada do desenrolar histórico.
O professor José Carlos Reis é um dos historiadores mais conhecidos no Brasil. Autor de algumas das melhores obras de teoria e historiografia (História & Teoria; A Escola dos Annales: a inovação em História; Identidades do Brasil I e II; Tempo; História e Evasão entre outros). Fez o curso de história na Fafich/UFMG (1978/81). Sua pós-graduação foi em departamentos de filosofia. Fez mestrado na UFMG, sob a orientação de Ivan Domingues, com a dissertação "Marx e a História". Fez doutorado no instituto superior de Filosofia, da Universidade Católica de Louvain (Bélgica), sob a orientação de André Berten, com a tese "O tempo e o lugar epistemológico dos Annales".
Silvon Alves Guimarães
"Acadêmico do curso de História da Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí".