•    LE GOFF, Jacques. História e Memória. 4. Tradução Bernardo Leitão. Ed. Campinas: Ed. Da UNICAMP, 1996.



•    “O conceito de história parece colocar seis tipos de problemas: 1. Que relação existe entre a história vivida, a história “natural”, senão “objetiva”, das sociedades humanas, e o esforço cientifico para descrever, pensar e explicar esta evolução, a ciência histórica? O afastamento de ambas tem em especial permitido a existência de uma disciplina ambígua: a filosofia e a história.” (p. 07)
•    “2. Hoje os historiadores se interessam cada vez mais pelas relações entre a história e a memória. 3. A dialética da história parece resumir-se numa posição ou num diálogo passado/presente. Em geral, esta oposição não é neutra mas subtende, ou exprime, um sistema de atribuição de valores, como por exemplo nos pares antigo/moderno, progresso/ reação”. (p.07- 8)
•    “3 No nível da práxis dos historiadores, vem sendo desenvolvida uma critica do conceito de origens e a noção  de gênese tende a substituir a idéia de origem.5. Em contato com outras ciências sociais, o historiador tende hoje a distingui diferentes durações históricas. 6. A idéia da história do homem foi substituída pela idéia da história como história dos homens em sociedade”. (p.08)
•    “Desde a antiguidade, a ciência histórica, reunindo documentos escritos e fazendo deles testemunhos, superaram o limite do meio século ou do século abrangido pelos historiadores que dele foram testemunhas oculares e auriculares. Ela também as limitações impostas pela transmissão oral do passado”. (p. 09)
•    “Para captar o desenrolar da história e fazer dela o objeto de uma verdadeira ciência, historiadores e filósofos, desde a antiguidade, esforçaram-se por encontrar e definir as leis da história”. (p. 10)
•    “Todos os novos setores da história apresentam um enriquecimento notável, desde que sejam evitados dois erros: antes de qualquer coisa, subordinar a história das representações a outras realidades, o único as quais caberia um status de causas (realidade materiais, econômicas) renunciarem, portanto, a falsa problemática da infra-estrutura. Mas também não privilegiar as novas realidades, não lhes conferir, por sua vez, um papel exclusivo do motor da história.” (p. 12)
•    “Matéria fundamental da história é o tempo; portanto, não é de hoje que a cronologia desempenha um papel essencial como fio condutor e ciência auxiliar da história”. (p. 12)
•     “A história tem todo interesse em inserir na sua problemática a idéia de gênese no lugar daquela, passiva, das origens. A história seria feita segundo ritmos diferentes e a tarefa do historiador seria, primordialmente, reconhecer tais ritmos” (p. 15)
•    “Ao fazer a história de suas cidades, povos, impérios, os historiadores da antiguidade pensavam fazer a história da humanidade. Os historiadores cristãos, os historiadores do Renascimento e do Iluminismo pensava, estar fazendo a história do homem. Os historiadores modernos observavam que a história é a ciência da evolução das sociedades humanas”. (p. 15)
•    “A memória, como propriedade de conservar certas informações, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como passadas”. (p. 423)
•    “Leroi-Gourhan considera a memória em sentido lato e distingue três tipos de memória: memória especifica étnica, artificial. Podemos a este titulo falar de uma “memória especifica” para definir a fixação dos comportamentos de espécies animais, de uma memória “étnica” que assegura a reprodução dos comportamentos nas sociedades humanas e, no mesmo sentido, de uma memória “artificial”, eletrônica em sua forma mais recente, que assegura sem recurso ao instinto ou a reflexão, a reprodução de atos mecânicos encadeados “(p. 425-6)
•     “O primeiro domínio onde se cristaliza a memória coletiva dos povos sem escrita é aquele que dá um fundamento aparentemente histórico á existência das etnias ou das famílias, isto é, dos mitos de origem. Nestas sociedades sem escrita há especialidades da memória, homens-memória “genealogistas”, guardiões dos códices reais, historiadores das cortes, “tradicionalistas”. (p.428)
•    “É necessário sublinhar que, contrariamente ao que em geral se crê, a memória transmitida pela aprendizagem nas sociedades sem escrita não é uma memória “palavra por palavra”.” (p. 428)
•     “Nas sociedades sem escrita a memória coletiva parece ordenar-se em torno de três grandes interesses: a idade coletiva do grupo que se funda em certos mitos, mais precisamente nos mitos de origem, o prestígio das famílias dominantes que se exprimem pelas genealogias, e o saber técnico que se transmite por fórmulas práticas fortemente ligadas a magia religiosa”. (p.431)
•    “Outra forma de memória ligada à escrita é o documento escrito num suporte especialmente destinado a escrita (depois de tentativas sobre o osso, estofo, pele, como na Rússia antiga; folhas de palmeira, como na India; carapaça de tartaruga, como na China; e finalmente papiro e papel)”. (p.432)
•    “A passagem da memória oral á memória escrita é certamente difícil de compreender. Mas uma instituição e um texto podem talvez ajudar-nos a reconstituir o que se deve ter passado na Grécia arcaica”. (p.437)
•    “Os gregos da época fizeram da Memória uma deusa, Mnemoise. É a mãe das nove musas que ela procriou no descurso de nove noites passadas com Zeus”. (p. 438)  
•    “É necessário, finalmente, não esquecer que ao lado da emergência espetacular da memória no seio da retórica, quer dizer, de uma arte da palavra ligada á escrita, a memória coletiva prossegue o seu desenvolvimento através da evolução social e política do mundo antigo.” (p. 442)
•     “A memória tinha um papel considerável no mundo social, no mundo cultural e no mundo escolástico e, e bem entendida, nas formas elementares da historiografia. A Idade Média venerava os velhos, sobretudo porque via neles homens-memória prestigiosos e úteis”. (p. 449)
•    “Com a expansão das cidades, constituem-se os arquivos urbanos zelosamente guardados pelos corpos municipais. A memória urbana, para as instituições nascentes e ameaçadas, torna-se verdadeiramente identidade coletiva, comunitária”. (p. 450)
•    “A imprensa revoluciona, embora lentamente, a memória ocidental. Revoluciona-a ainda mais lentamente na China onde, apesar de a empresa ter sido descoberta no século IX da nossa era, se ignoraram os caracteres móveis, a tipografia; até á introdução, no século XIX, dos processos mecânicos ocidentais, a China limitou-se a xilografia, impressão de pranchas gravadas em relevo”. (p. 457)
•    “Entre as manifestações importantes ou significantes da memória coletiva encontra-se o aparecimento, no século XIX e no inicio do século XX, de dois fenômenos. O primeiro, em seguida a Primeira Guerra Mundial, é a construção de monumentos aos mortos. A comemoração funerária encontra ai um novo desenvolvimento. E o segundo é a fotografia, que revolucionou a memória”. (p. 465-6)
•    “O desenvolvimento da memória XX, sobretudo depois de 1950 constituem uma verdadeira revolução da memória e a memória eletrônica não é senão um elemento, sem dúvida o mais espetacular”. (p. 467)
•    “A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma a que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão dos homens”. (p. 477)