APRESENTAÇÃO
Esta é uma História da Formação Político-administrativa do Município de Parnamirim e o seu conteúdo é o resultado de pesquisas relacionadas à História do Brasil, lembranças e passagens de pessoas que, de alguma forma, participaram da formação do município, além de informações linguísticas que conduzem às raízes do sertão, da colonização e do povo, cujo levantamento historiográfico foi realizado durante sete anos, com dados coletados com pessoas nascidas no município e moradores da área urbana durante o período de 2002 a 2009. A teoria científica que fundamenta este estudo caracteriza-se como Linguística Histórica e Social das Comunidades, através da abordagem fenomenológica, corrente de pesquisa que se propõe à interpretação de textos, análise das falas, dos documentos e das informações orais e escritas, para buscar uma verdade, envolvendo a construção de discursos, com a contribuição interdisciplinar da Sociolinguística, quando faz referência à Toponímia Indígena da região. O enfoque metodológico utilizado nessa investigação sobre Parnamirim caracteriza-se como hermenêutico porque trata a realidade de forma contextualizada, considerando o ponto de vista de vários grupos, acreditando na capacidade humana de construir significados, de realizar contextos interpretativos na busca dessa verdade.

"O enfoque fenomenológico-hermenêutico é essencialmente a reconstrução da realidade a partir de um determinado contexto. Sua finalidade é compreender a prática atual dos grupos e pessoas dentro da história, sendo esta contextualização a partir de seu significado e momento atual ou inédito e na conscientização dos fenômenos." (PEREIRA,1997).
Para elaboração deste trabalho optou-se pela pesquisa qualitativa, investigando as relações, processos e fenômenos ocorridos durante a formação dos municípios do interior de Pernambuco, utilizando como instrumentos de pesquisa, documentos, entrevistas e depoimentos de pessoas que conviveram com os fatos para interpretar seu pensamento e seus motivos para ocupar esse espaço.
"A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reproduzidos à operacionalização de variáveis." (MINAYO, 2OOO).
No caso da história dos municípios sertanejos, a verdade está no consenso entre os membros dos grupos onde o fenômeno manifesta-se, um cenário histórico específico de personagens que viveram e vivem em determinado espaço contextualizado, seja pelo significado da exaltação do pioneirismo, seja pela necessidade que cada participante demonstra em fazer parte da história.
Os dados foram coletados em Cartórios, Igrejas e em casas de entrevistados em Salgueiro, Parnamirim, Terra Nova, Cabrobó e Petrolina, visando aproximação dos depoimentos vivos para contribuir com os habitantes de cada município. Trata-se de um documento que mescla vida, história, identidade regional e memória, primeiro passo na investigação dos antecedentes históricos do município, desta forma facilitando à nova geração o estudo e crítica para continuidade ou desconstrução desta história. A realização deste trabalho deu-se por considerar que, uma cidade com a importância que Parnamirim sempre teve para a economia do sertão, não pode permanecer sem registro na historiografia pernambucana, bem como, pela afinidade e simpatia por esta cidade; até porque encontra-se nesse lugar uma síntese da miscigenação brasileira, com as contribuições da cultura do colonizador português, do africano e do índio, além de outras etnias, identidades e nacionalidades que trouxeram junto com seus anseios e sonhos seus valores e crenças.
O livro está didaticamente estruturado em oito capítulos. O primeiro capítulo envolve uma narrativa sobre os Cem Anos de Antecedentes Históricos de Parnamirim - PE (1847 de 1947) para explicar que a região é antiga, sendo que esse espaço acompanhou diferentes processos de ocupação, destinado à colonização. Entretanto, como cidade, formou-se muito tarde em relação ao seu povoamento, basta lembrar que Leopoldina foi cidade do tempo do Império, porém, não se justifica ser esquecida ou omitida da história, pelo risco de perder-se parte da sua memória e da sua identidade, ficando apenas a visão do presente do mestiço, sem as referências do seu passado e das relações entre o branco, o negro e o índio.
No segundo capítulo apresenta-se o elenco das Famílias que Colonizaram o Alto Sertão de Pernambuco, seus respectivos sobrenomes e atividades desenvolvidas, visando mostrar o envolvimento político e social dos colonizadores, o papel da igreja católica nas regiões de ocupação e a pose eternamente européia dos pioneiros, tornando sempre invisível a participação de negros e índios no processo.
O terceiro capítulo mostra como se deu a Formação Político-administrativa dos Municípios do Sertão de Pernambuco, com o objetivo de comprovar a importância do relacionamento dos vizinhos para a emancipação política de povoamentos e núcleos urbanos de uma região, seja por interesse econômico seja por motivação religiosa, além da vinculação dos sertanistas com a FamÍlia Garcia d?Ávila, da Casa da Torre para a aquisição das terras, desde a instalação do Primeiro Governo Geral do Brasil.
Para o quarto capítulo reservou-se um espaço de destaque para a cidade, traçando o Perfil Atual de Parnamirim, acrescentando o presente à memória, história e identidade do seu povo, desde o passado, visando explicar a posição do município hoje, face à realidade das microrregiões do Estado, analisando as relações políticas e administrativas, sociais e econômicas existentes entre elas bem como a influências de algumas famílias na vida da população dos outros municípios mais próximos, mantendo uma subordinação patriarcal em relação ao município de onde foi desmembrada. Ainda nesse quinto capítulo, as referências voltam-se para lembranças do imaginário da autora, mitos e lendas que marcaram a sua infância, utilizando-se de pequenos textos descritivos e narrativos escritos ainda na adolescência para homenagear, de alguma maneira, a cidade de Parnamirim e os fatos que ocorreram com a autora deste livro durante o tempo vivido na região, desde sua vinda de Terra Nova até sua transferência para outro estado, enfatizando a importância de ter vivenciado fatos e compartilhado memórias,da fam´lia, da escola, da comunidade, relacionando-os aos eventos da História do Brasil e do sertão de Pernambuco, isto apresentado através da prosa e versos da lieratura de cordel.
O capítulo quinto apresenta dados relevantes sobre a contribuição africana na formação da população da região, com explicação sobre algumas palavras do vocabulário diário afrodescendente, considerando que todos os sítios, fazendas e vilas que se abriram no sertão no período colonial, tinham a presença marcante de negros escravos, responsáveis pelo cotidiano da formação de lavouras e da criação de gado, pelo trabalho no corte da cana, no plantio de algodão, no beneficiamento do arroz, no processo de captação de água, na preparação da rapadura e seus derivados e a participação do negro no cotidiano das feiras livres, carregando fardos e armando barracas, além da contribuição sociolinguística no vocabulário do povo da região seja na música, nas artes, na religião e na comunicação diária com seus senhores.
Trazendo uma síntese da Toponímia Indígena do Brasil presente nos registros e nomes de cidades e rios do Sertão, o sexto capítulo pretende justificar o valor da identidade do índio, desde ?o achamento? da terra até suas conquistas atuais na região. Isto porque, embora decorridos séculos, em meio a tanta luta para sobreviver, essa categoria continua resistindo, mesmo com relativa aceitação pelo reconhecimento da mescla resultante da miscigenação, mas ainda perdida na invisibilidade pela ótica do remanescente do colonizador.
Considerando a teoria historiográfica e a prática da construção histórica e social das comunidades, enfatiza-se, no capítulo sétimo a inegável contribuição portuguesa que, de alguma forma justifica a permanência dos descendentes de portugueses e de bandeirantes paulistas, mineiros, baianos, paraibanos e cearences na região,bem como de outras regiões do Brasil. Além das marcas de suas entradas no interior também o resultado dessa ação dos sertanistas na caatinga de Pernambuco, contribuiram para a a uniformidade dos costumes agropastoris, do catoliscismo e do alcance da variante linguística portuguesa mais marcadamente em Parnamirim. Vê-se, portanto, a preocupação do povo em cumprir com a sua responsabilidade social, participando do resgate da história e construindo sua identidade, interessado em descobrir suas raízes, construíndo um saber para as novas gerações. Vale ressaltar que todos os entrevistados, pessoas comuns escolhidas aleatoriamente, não se negaram a responder nenhuma questão, ampliando sempre o leque de informações, mesmo que a maioria ainda pretenda "ser português" ao invés de "ser brasileiro", poucos se reconhecem descendentes de indígenas e nenhum dos entrevistados se apresentou como remanescente de negro, mesmo que a cor parda de alguns revele sua ascendência.
Por fim, mostra-se, no ultimo capítulo, os principais dados que fundamentam uma história de relações entre famílias de colonos, a maioria de origem portuguesa com objetivos comuns, apresentando um rol de bandeirantes e sertanistas que entraram no Nordeste, formaram fazendas e cidades, deixando herdeiros e descendentes no sertão e, em consequência, formando uma mescla que caracteriza uma cultura miscigenada. Em síntese, conclui-se com as impressões da autora sobre a administração portuguesa no Brasil, as famílias, as cidades do sertão, a cultura agro-pastoril e a implantação na colonia do plano estratégico mais importante que Portugal já realizou durante seu domínio monárquico: a organização dos grupos, a distribuição de brasões e o controle desde a saída dos participantes dessa saga nos navios até a chegada em portos desconhecidos. Embora, de forma um tanto cruel, discriminando grupos étnicos e impondo seus valores, mas cumprindo sua missão, com as regras do seu tempo, consolidando a unificação da Lingua Portuguesa, instalando sua fé em cada local de parada e defendendo a forma de governo que concebia como adequada para o povo. Deste modo, torna-se relevante a escritura deste livro como homenagem aos pioneiros que tiveram a coragem de enfrentar os desafios da caatinga, visando melhoria de condições de vida, a qualquer custo, comprovando sua importância histórica da formação do Município de Parnamirim para o Sertão de Pernambuco.