FICHA TÉCNICA

Título: HISTÓRIA DAS IDÉIAS PEDAGÓGICAS

Autor: GADOTTI, Moacir

Editora: EDITORA ÁTICA

Cidade: São Paulo

Ano: 2000

Número de páginas: 319

ISBN: 85 0804436 4

Resumo das Páginas: 267 - 269 ; Capítulo XVI

 

PERSPECTIVAS ATUAIS

O autor faz uma retomada, dos principais acontecimentos dos últimos anos. Assim, coloca que hoje depois da Perestroika e dos grandes movimentos por um socialismo democrático no leste europeu, depois da queda do muro de Berlim estamos terminando o milênio sob o signo da perplexidade, da crise de concepções e paradigmas em todos os campos das ciências, da cultura e da sociedade. É um momento novo e rico de possibilidades. Por isso colado ao nosso tempo, não poderemos falar do futuro da educação sem uma dose de cautela. Entretanto, para não ser omisso o autor apresenta algumas tendências atuais, apoiado naqueles educadores e filósofos que tentaram em meio a essa perplexidade apontar caminhos.

a)CRISE E ALTERNATIVAS

A Educação tradicional enraizada na sociedade de classes escravagista da Idade Média, destinada a uma pequena minoria, começou seu declínio já no movimento renascentista, embora sobreviva até hoje. Rosseau contribuiu com uma obra que trazia a educação nova, que trazia numerosas conquistas, sobretudo nas ciências da educação e nas metodologias de ensino. As técnicas de Freinet são aquisições definitivas. Tanto a educação tradicional como a nova, tem um traço de comum que é o de conceber a educação como um processo de desenvolvimento pessoal, individual. O autor lembra que o traço mais comum deste século, na educação, é o deslocamento da formação puramente individual do homem para o social, o político, o ideológico. A pedagogia institucional é um exemplo disso. A experiência de mais de meio século de educação nos países socialistas é outro exemplo. A educação deste fim de século tornou-se permanente e social. Existem tendências universais, entre elas, a de considerar como conquista deste século a idéia de que não existe idade para a educação, de que ela se estende pela vida e que não é neutra. Caminhamos para uma mudança da própria função social da escola. Entre nós, chamamos essa nova educação de educação popular, não porque ela seja destinada apenas ás camadas populares, mas como vimos, pelo caráter popular, socialista e democrático que essa concepção traz.

Tanto a educação socialista democrática quanto a educação permanente, que podem encontrar-se numa única tendência, não são idéias novas, mas acabaram impondo-se neste final de século por exigência do próprio desenvolvimento da sociedade. Isso mostra o quanto à educação e a sociedade são interdependentes. Elas correspondem às novas exigências de uma sociedade de massas e da classe trabalhadora organizada, e não de indivíduos isolados como nas duas concepções anteriores. Educação popular e socialista não é uma idéia abstrata, nem uma utopia pedagogista. Ela se encontra em desenvolvimento entre nós, por exemplo, no próprio processo de resistência e de luta pela superação das desigualdades. Neste momento histórico, no Brasil, ela constitui-se num instrumento dessa luta. A educação tradicional repousava sobre a certeza de que o ato educativo destinava-se a reproduzir os valores e a cultura da sociedade.

Os problemas começaram quando essa convivência harmoniosa entre educação e sociedade foi rompida. Esse momento, segundo Plácidos, foi inaugurado por Rousseau, que contrapunha a inocência da criança ao nascer à sociedade perversa. Mas as respostas a essa questão não foram satisfatórias. A crise da escola começou com a perda da certeza na qual ela se apoiava em relação à sua função reprodutora, as repostas a essa crise podem ser divididas em três grupos:

1º) O primeiro insiste na disfuncionalidade da escola tradicional; São os sintomas através dos quaisse manifesta a "enfermidade" do sistema tradicional de ensino. Palácios aponta nove sintomas: o atraso da escola ligando-se sempre ao passado; a incapacidade da escola atual de oferecer instrução, simplesmente; a promoção de estudos de maneira mecânica; o autoritarismo escolar; a negação das relações interpessoais; o desconhecimento da realidade; a incapacidade de poder preparar o indivíduo para poder viver e atuar no mundo; a incapacidade de equacionar a relação entre educação e política; a incapacidade de reciclar os professores que acabam neuróticos(sobretudo os autoritários).

2º) O segundo grupo de respostas reúne as várias tendências não autoritárias , passando pela perspectiva marxista e pela desescolarização. A resposta dada pela Escola Nova, que renovava principalmente os métodos pedagógicos, cai na ilusão pedagogista de pretender resolver a crise da educação com propostas puramente pedagógicas. A pedagogia não diretiva e a institucional, filhas da escola nova, são duplamente ilusórias: querem resolver a crise acreditando que podem chegar à autogestão social pela autogestão pedagógica. A perspectiva marxista, segundo Palácios, desvaloriza a ação pedagógica e cai na ilusão sociologista: redução da questão escolar à questão social.

3º) O autor filia-se a um terceiro grupo, o da superação integradora das ilusões. Essa superação encontra-se na escola viva, concreta, formadora da personalidade política, social, ativa ,científica, socialista. E conclui: "só a crítica que se converte em práxis escapa da ilusão. Para essa práxis não existem receitas, cada professor, cada classe, cada centro de ensino, cada sociedade deve desenvolver seu esforço em função de seus problemas e de suas possibilidades. Somente esse esforço, unido ao esforço comum de transformação social, pode conseguir que a educação seja um processo enriquecedor e facilitador do desenvolvimento pessoal e social; que a escola compense as desigualdades ligadas ao meio de procedência; que a escola se vincule à vida e às necessidades vitais da criança; que a escola sirva à integração social e à cooperação entre os indivíduos; que desenvolvam ao máximo as possibilidades e os interesses de cada um; que utilize todos os recursos disponíveis da sociedade para aprendizagem e o desenvolvimento dos alunos; que a escola , finalmente, deixe de reproduzir o status quo e ajude a transformá-lo.