No dia 5.8.2000, estava de saída da Delegacia-Geral da Polícia Civil (Av. Osmar Cunha – Centro de Florianópolis), isso por volta das 19:30 horas, em cuja ocasião surgiu o Delegado-Geral Lipinski que descia de elevador.

O encontro deu azo a uma conversa que se estendeu por mais de uma hora, parte dela na presença do Agente Administrativo Valter. Dessa interlocução surgiram algumas pérolas dignas de registro:

“...Não estou ocupando cargo político” (Lipinski);

“...a Polícia Técnica pertence à Polícia Civil...” (Felipe);

“... Eles vão conseguir deixar a Polícia Civil...” (Lipinski); 

“... Mas eu não entendo como pode um vizinho invadir o nosso terreno e dizer que metade é dele e ninguém reage...? (Felipe)”; 

“Ah, mas eles vão conseguir, no último encontro dos Chefes de Polícia  em Brasília essa matéria foi colocada em votação e todos concordaram que a Polícia Científica deve sair da Polícia Civil, somente dois votaram contra: o Chefe de Polícia do Maranhão e eu por Santa Catarina” (Lipinski); 

“Mas Lipinski isso ocorre porque nesses Estados todos eles já permitiram há muito tempo que a perícia saísse da Polícia Civil, mas essa não é a nossa realidade.  Aqui nós temos uma Constituição que assegura a unidade da Polícia Civil” (Felipe); 

“É, mas eles vão conseguir aqui no Estado” (Lipinski); 

“Se depender de mim, isso jamais acontecerá” (Felipe);

“Bom, se depender de mim, também não” (Lipinski);

“Mas eu sou um cético” (Lipinski);

“Olha Lipinski uma das coisas que nós temos que mudar é esse discurso derrotista, negativo. Temos que mudar a postura, adotar posições ascendentes, positivas, não no sentido do ‘positivismo’, mas para buscarmos nossos espaços e não ficarmos sempre na defensiva, só reagindo. É preciso termos pessoas pensantes” (Felipe); 

“Nosso pessoal tem que começar a pensar positivamente, não que não devemos fazer autocrítica. Termos uma visão da realidade, mas é preciso que mudemos o discurso. Sempre foi assim, precisamos mudar e acreditar no futuro” (Felipe); 

“Mas tu vistes como é que está a Polícia Civil de São Paulo?“ (Lipinski); 

“Eu sei que eles vão mal, quando deveriam ser o espelho da Polícia no país. Lá o Ministério Público está no comando de tudo” (Lipinski); 

“Sim, é verdade, mas aqui também o Ministério Público comanda tudo” (Felipe);

“Não, aqui é diferente. O Ministério Público não comanda tudo, agora lá em São Paulo eles mandam em tudo” (Lipinski); 

“Olha Lipinski, você viu o que o Alberton fez na votação da Lei Orgânica do Ministério Público?” (Felipe);

“Sim?” (Lipinski); 

“O Alberton fez lobby, levou os procuradores, promotores para A Assembleia e percorreram os gabinetes dos Deputados no maior silêncio. No dia da votação estavam todos em plenário e acabaram aprovando tudo. E nós onde é que estávamos?” (Felipe); 

“Agora, com alguns vetos do Governador, o Alberton disse que vai encher o plenário da Assembleia não só com os promotores, mas com a família dos promotores e nós onde é que ficamos? (Felipe);

“O Presidente do Tribunal de Justiça, o Desembargador Vieira fez a mesma coisa, foi para à Assembleia acompanhar a votação da Legislação que interessa a eles. Fizeram lobbies. Veja bem Lipinski, o Procurador-Geral de Justiça e o Presidente do Tribunal de Justiça é que tomaram a frente de todo esse trabalho.  Os presidentes das associações estavam do lado deles dando apoio e participando de tudo, e nós? Nós temos dois delegados que são deputados na Assembleia:  o Heitor e o Rosa, e tem mais o Júlio que é suplente, como é que pode isso tudo acontecer e ninguém saber de nada. Eu acho que a cúpula da Polícia Civil tem que procurar esses deputados e cobrar posições, prestar contas, dialogar com eles, discutir os assuntos de nosso interesse institucional...”(Felipe); 

(...)

“Sinceramente, eu acho que o Heitor cometeu um erro imperdoável naquela emenda constitucional que acabou com a prerrogativa da escolha de um Delegado final de carreira ser escolhido Chefe de Polícia, mas entendo que isso não significa que não vamos estabelecer relações. Veja bem Lipinski, ao invés do Heitor Sché procurar aperfeiçoar o sistema de escolha do Delegado-Geral, assegurando prerrogativas como ocorre com quem detém o cargo de Procurador-Geral de Justiça e Presidente do Tribunal de Justiça que cumprem mandato, ele fez o que fez e a Polícia Civil acabou regredindo anos, agora quero ver quem é que  vai consertar isso” (Felipe); 

(...)

“A tua situação e a dos diretores que compõem a cúpula é essa, enquanto estiverem colaborando com o governo estará tudo bem, mas a partir do momento que defenderem nossos espaços institucionais, aí é que eu quero ver” (Felipe). 

Por último, lembrando de Cony, fiz meu último comentário:  “Termos que nos indignar, indignar com tudo, com as coisas, com as pessoas!” (Felipe).

E nesse clima nos despedimos sem chegar a lugar algum...

Enquanto isso:

 “Criação do Juizado de Instrução é proposto pelo STF – Controle da atividade policial pelo MP está em discussão – Pelo projeto, procuradores passam a coordenar trabalho investigativo – Polêmica antiga, que gerou inclusive lobbs constantes por parte da Polícia Civil durante a Constituinte de 1988, volta à cena: A coordenação e controle  da atividade policial pelo Ministério Público. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Carlos Mário Velloso, anunciou  esta semana que vai enviar proposta ao presidente do Senado instituindo a fase do juizado de instrução. Na prática, segundo afirmou o ministro, seria uma etapa preliminar, na qual o Ministério Público coordenaria o trabalho de investigação, hoje realizado pela polícia. Com esse instrumento, o inquérito policial seria extinto. O procurador-geral de Justiça, José Galvani Alberton considera uma roposta nova (...). Indagado sobre o papel da polícia na investigação, Alberton disse que a polícia investigaria sob a coordenação do promotor, como ocorre, por exemplo, nos Estados Unidos e que o fato acarretaria em agilidade no julgamento. Sugere, entretanto, que haja uma mudança mais ampla, com boa estrutura e reaparelhamento e capacitação para alcançar os delitos mais graves, tais como crimes contra a ordem financeira, tributária, precatórios, e que frustram a sociedade pela impunidade e tantos outros delitos, sem esquecer dos pequenos. Os delinquentes, para ele, têm que ser tratados igualmente, seja quem for. Já o controle externo pelo MP da atividade policial, previsto na Constituição Federal, mas ainda sem Lei complementar para funcionar, está mesmo só no papel, segundo Alberton. Para colocar em prática, explica, é necessário mecanismos, inclusive instrumentos material para exercer a função, não é o caso, por exemplo de peitar o delegado e realizar o controle. ‘Além do que, temos como premissa, um trabalho integrado, solidário, entres os entes públicos’, declara. Para Alberton, as instituições têm que saber respeitar as áreas de atuação de cada uma e para juntas, resultar num trabalho mais proveitoso. O trabalho conjunto – MP e Polícia – como está sendo proposto não será uma sincronia fácil, acentua Alberton. Será preciso muita maturidade e diálogo. ‘É preciso tratar a questão sem a impetuosidade corporativista, sem a tentativa de hegemonia, como se o MP fosse mais importante que o  delegado. O compromisso tem que ser com a ética, com a sociedade e para isso é necessário estabelecer um pacto saudável entre as partes. Delegado diz que é um modelo maquiado (...) Para o presidente da Associação dos Delegados de Santa Catarina, Mário Martins, a ideia parece nova, mas não é. ‘É uma proposta velha, num modelo mais maquiado’, disse (...). O que eles querem, acabando com o inquérito policial é a tentativa de mostrar para o povo que assim pode-se resolver o problema da segurança no Brasil’ (...)” (Jornal "O Estado", 23.08.2000).