PRIMEIRA PARTE

Dia 27 de maio de 1999

09:00 horas

"Evaldo Moretto"

Toca o celular, é Fátima, secretária do Delegado-Geral Evaldo Moretto:

  • Alô!
  • Alo!
  • É o doutor Felipe?
  • Sim.
  • Doutor Felipe o doutor Moretto pede para que o senhor dê uma chegadinha aqui no gabinete.
  • Certo. Já subo.

09:05 horas

Ao chegar no Gabinete de Moretto fiquei aguardando um pouco na ante sala porque ele estava despachando com Moacir Bernardino –  Chefe de Gabinete.

Logo em seguida, após Moretto ter ficado sozinho fui convidado a entrar e ele foi quase que proclamando:

  • ...Agora que o doutor Braga foi para o Setor de Jogos e Diversões não queres assumir a Assistência Jurídica?

Pensei em dizer que Assistência Jurídica não existia assim como não existiam CPP(s), Delegacias Especializadas,  era um faz de conta, muita improvisação, não havia legislação, regulamentação e agora estava convidado a assumir um setor que não existe, parecia piada, mas assim sempre foi a Polícia Civil e optei pelo meu silêncio. A bem da verdade já estava prevendo aquele convite, além do fato do Delegado Braga ter saído do ‘Setor’ e porque ontem "Jô Guedes" (ex-Inspetora de Polícia e atualmente Escrivã da PF)  já havia dito que tinha conversado com o doutor Moacir quando solicitou uma posição, pois não queria assinar documentos,  responder pelo cargo de Assistente Jurídico, assumir responsabilidades, se submeter a cobranças, afinal de contas ela de manhã estava na Faculdade, nas quintas à tarde ficava sozinha, como também nas tardes de segunda, terça, quarta e sexta, mesmo assim fazia um excelente trabalho pelo que acompanhava por ali...

Contive minhas abstrações e caí na real que estava frente a Moretto e não queria deixar transparecer um certo ar de pedantismo. Estava em maus lençóis,  havia um gosto de ‘enxofre’ no ar. Inicialmente, ele tinha em mãos um pedido de revisão da pena de demissão do ex-Delegado de Polícia Brasiliano e me perguntou como proceder. Procurei dar a minha opinião sobre o caso Brasiliano, até um pouco surpreso, lembrando do nosso último encontro, quanto o instruí como proceder, já que tinha me procurado... E em seguida, entramos no prato principal:

  • Olha Moretto não vejo problemas em assumir a Assistência Jurídica, só que não gostaria  que ficasse no ar qualquer dúvida sobre minha pessoa, afinal de contas, como tu sabes trabalhei num projeto para o Governador Amin e propunha criar a Procuradoria Geral de Polícia, unificar os comandos das duas polícias, transformar os cargos de Delegados Especiais em Procuradores, e acima do posto de Coronel criar um novo patamar. Não gostaria que alguém fizesse comentários  de que trabalhei num projeto só pensando na minha situação,  nunca pedi cargo a político algum na minha trajetória profissional e você sabe disso, alguma vez alguém telefonou para ti?
  • Não!  Eu também nunca pedi cargo, nunca procurei político algum, também o Amin com esse negócio de enxugamento de cargos comissionados mandou contar vinte por cento dos cargos...

Moretto foi interrompido por sua secretária e enquanto isso fiquei pensando no que ele havia acabado de me dizer:

  • ... Pois é Moretto, o ideal é que se nomeasse alguém para o cargo de Assistente Jurídico, um Delegado novo, e que se dedicasse, inclusive, tendo como incentivo participar da administração e fazer carreira.
  • É, mas...
  • Bom, Moretto fui muito criticado por causa daquelas leis, tu sabes, tanto a cinqüenta  e cinco, como a noventa e oito, era o Trilha, Bahia, Lúcia, Lorival, Oscar, muitos me criticavam.
  • Olha Felipe, aí até eu me incluo. No início até eu, mas depois, foi como tu falastes na reunião do Conselho, tem que ver o momento em que as leis ocorreram, foi um momento difícil, mas vejo hoje como foi importante a administração do Jorge, nisso daí eu falo do Jorge, mas também de ti, porque ele deu encaminhamento aos projetos que tu fizestes e tu sabes que é importante esse conjunto.
  • Sim, é verdade. O Jorge chancelava tudo, todos os projetos sempre tiveram o apoio incondicional dele.
  • Pois é, aquele momento foi muito difícil, lembro que naquela época nós estávamos viajando e fazendo reuniões  em todas as regionais e na metade da viagem estourou a primeira greve na história da Polícia Civil. Os Delegados entraram em greve, já tinha havido outros movimentos anteriormente, mas não com a dimensão daquele e tivemos que interromper a viagem e retornar.
  • Sim, mas com relação as críticas àquelas leis na época em que a Lei de Promoções  foi publicada, isso em 17 de novembro, procurei o Oscar que era o Delegado Geral e me coloquei a sua inteira disposição para orientar o pessoal. Procurei sem sucesso mostrar a urgência das medidas a serem adotadas e parece que ele conversou com o Ademar que teria dito que não era necessário, sei lá, acharam que era como antes.e quando chegou no início de janeiro de 1994 a coisa pegou e o Oscar ficou preocupado, aí saiu aquela Resolução, mas até compreendo a legislação teve uma tramitação quase que reservada, sem alarde e pegou todos de surpresa. Não havia clima para debates  e também se a legislação não saísse naquela época é quase certo que não sairia mais e acabaríamos na vala comum, sendo regidos pelo sistema de promoções previsto na lei complementar oitenta, aquele que instituiu o sistema de referências para todo o servidor público estadual...
  • Sim, é verdade... acabaríamos na vala comum.
  • Pois é,  e foi isso mesmo que foi feito, mas as críticas vieram. Lembro que gravei uma entrevista na Rádio CBN  e o jornalista Fernandes (Marcelo) entrevistava o ex-comandante da Polícia Militar Valmir Lemos e a Lúcia Stefanovich e a determinada altura  o repórter perguntou ao Coronel qual o nível de escolaridade mínima exigido para ingresso na PM e ele respondeu prontamente que era o Segundo Grau. Em seguida formulou a mesma pergunta para a Lúcia e ela sem hesitar um segundo sequer respondeu que desde de 1993 é exigido o Segundo Grau. Fiquei de alma lavada. Veja bem Moretto justamente ela que era uma crítica ferrenha e seu grupo reclamava também: ‘Onde é que já se viu exigir que um comissário tenha nível superior?’ Era o que diziam por aí e chegava aos meus ouvidos: ‘Uma mão de obra barata’...  ‘Como é que podem querer exigir de um Investigar o Segundo Grau?’Realmente fiquei de alma lavada, justamente a Lúcia agora se valendo da lei que tanto criticaram...
  • Mas agora o pessoal vê que foi fundamental e tem outra Felipe só quem faz é que recebe  críticas, quem não faz passa a vida toda na obscuridade,  num balanço final e o que nada fez? Passou em brancas nuvens, não deixou nada.
  • Eu sei, eu sei,  a árvore que dá frutos é que recebe as pedradas.
  • Exatamente.
  • Até entendo que talvez essas inovações talvez tenham sido adiantadas pra aquele momento,  causaram um impacto e o pessoal não estava preparado. Estavam acostumados com o que já existia e não queriam mudanças.
  • Mas é assim Felipe,  até eu, todos nós tínhamos medo de mudar, é uma coisa normal, as pessoas têm medo do desconhecido e é por isso que resistem tanto às mudanças.
  • Bom, retomando, não gostaria que a minha ida para a Assistência Jurídica tivesse qualquer conotação de vinculação com o governo. E queria te pedir apoio, no próximo semestre quero ver se lanço meu livro, a nova edição do Estatuto da Polícia Civil 1999, já tenho o dinheiro para o lançamento e como tu sabes não tive apoio para lançar as edições anteriores.
  • Mas hoje se tu quiseres lançar a situação é diferente, anteriormente  havia resistências lá no Gabinete e agora não tem mais.
  • É Moretto, mas já tenho o dinheiro guardado, uns vinte e cinco mil reais e preciso ter lucro, tenho outros livros quase prontos para serem lançados e é justamente o Estatuto  que pode dar condições, ser o carro-chefe para fazer caixa.
  • Entendo.
  • Tenho vários livros já em condições de serem editados, inclusive, um que é a reedição histórica da obra de Lara Ribas, ‘O Punhal Nazista no Coração do Brasil’.
  • Não conheço.
  • Sim, o Coronel Lara Ribas escreveu esse livro quando era Delegado do DOPS, no ano de 1943, e o livro é nosso, já tinha saído a segunda edição.
  • Ah é? Eu não conhecia esse livro.
  • Ele trata do nazismo e eu estou propondo a reedição, com um terceiro capítulo meu,  incluindo comentários, fazendo uma ponte quanto ao modo como eles viam sob a ótica policial os movimentos extremistas naquela década e de como está hoje o germanismo, com tantas festas germânicas.
  • Esse Lara Ribas também já escreveu de tudo, é famoso, ele escreveu um monte de coisas lá na maçonaria, ele teve muita influência, era um dos que mandava em tudo.
  • É verdade, e você que lida com isso também deve ter algum conhecimento, eu cheguei a fazer uma homenagem para ele, acho que foi um ano antes da sua morte.
  • Foi no ano de 1994.
  • Acho que sim.  Antes fiz uma homenagem e só lamento não ter podido entrevistá-lo, mais uma parte da história da segurança que se foi. Logo em seguida ele se foi e antes de morrer me escreveu uma carta agradecendo a minha homenagem. Tenho até hoje guardado o documento. Nesses meus documentários entrevistei ex-governadores..., foram entrevistas filmadas. O Ivo Silveira falou da década de sessenta quando ele freqüentava a Acadepol. Eu não sei se tu sabias, mas ele visitava com certa freqüência a Academia e foi no período do governo dele que foi instalada a Acadepol. Também fiz um documentário com o Konder Reis. Foi no seu governo que tivemos nosso primeiro Estatuto da Polícia Civil. Mas parece que nosso pessoal não dá muita importância a nossa história e eu que sei... Fiz várias entrevistas, inclusive, com alguns daqueles delegados  da década de cinqüenta, os antigões, como Longo, Tupy Barreto...
  • Fogaça...(interrompeu Moretto)
  • Não! O Fogaça é de uma geração mais recente, ele é da metade de sessenta, entrou bem depois. Num de meus livros eu trato sobre a redemocratização na Polícia Civil, escrevo sobre os avanços que tivemos a partir do governo Celso Ramos, da administração Jade Magalhães e faço uma retrospectiva já a partir do final da década de cinqüenta. O Fogaça era mais novo que o meu pai que ingressou o início daquela década, no ano de 1961.
  • 1961?
  • Sim (respondi).
  • Mas ele não era ainda Delegado bacharel em Direito, era?
  • Sim. Já era. Foi nomeado Delegado Regional pelo governador Celso Ramos e ficou oito anos na cidade de Tubarão. Ele foi da turma dos desembargadores  Nauro Colaço, Ernani Ribeiro...
  • Ah é?

 

(...)

  • Bom Moretto existe aquele dito sobre a mulher de Cesar.
  • Sim, não tem só que ser séria, tem que parecer séria (disse Moretto).
  • É isso, se bem que não concordo muito com  essa afirmação, mas a maioria das pessoas se preocupa com a estética, com as aparências e não é isso que penso.
  • Eu também.
  • Mas tudo bem Moretto, desculpe ter me demorado tanto.
  • Mas é bom, é bom a gente conversar.

E fui saindo, já que ouvia vozes na ante sala, sinal de que havia pessoas aguardando para serem atendidas. Ainda na saída ouvi Moretto conversar com Moacir sobre aquele pedido de revisão do ex-Delegado Brasiliano (DRP de São Bento do Sul):

  • ... Nos casos de revisão mandaremos para a Assistência Jurídica para as manifestações, não mais para análise e parecer (vaticinou Moretto).

Sim, foi isso que tinha dito para Moretto, como também disse que nos casos de revisão com processo-crime sem trânsito em julgado,  dever-se-ia indeferir liminarmente o pedido, até que a Justiça se pronunciasse já que o fato apurado na esfera administrativa e que resultou na demissão é o mesmo que corre na Justiça comum.

 

SEGUNDA PARTE

Dia 27 de maio de 1999

10:45 horas

O visitante:

Na medida em que vou descendo os degraus da escada,  rumo ao andar térreo, quase como uma "figura fantasmagórica" no prédio, eis que visualizo o Secretário de Segurança Pública Luiz Carlos Schmidt de Carvalho, o "Carvalhinho", amigo do Delegado Optemar Rodrigues. De relance pude visualizar que estava de gravata e com uma jaqueta de lã. Depois de refeito da surpresa, já que parecia uma ficção ver o Titular da Pasta no Prédio da Delegacia-Geral (Av. Osmar Cunha, Centro de Florianópolis, onde está situada a 1ªDP),  pensei até em retornar, mas percebi num flash que Carvalho andava de um lado para outro, dando a nítida impressão que pretendia chegar ao destino, só que estava no hall que dava acesso às salas existentes no andar térreo. Observei, como de outras vezes que seu andar era ereto e típico de um visigodo, mantendo-se esguio, mas com as mãos no bolso da calça, enquanto seus braços compridos permaneciam colados ao corpo. Havia um certo ar de curiosidade.

Ao vê-lo chegar tão próximo não tinha como não passar um velho filme na minha mente, de não lembrar dos embates quando ele ainda era Secretário de Estado da Administração (1991 - 1994), isso durante o Governo Vilson Kleinubing, quando nos reunimos numa certa oportunidade (meados do ano de 1992, juntamente com  o Delegado-Geral Jorge Xavier e do  Delegado Valério Brito) para tratar da reposição da nossa isonomia salarial com o Ministério Público (conquista da Lei n. 7.720/89 revogada pela LC 36/91). Logo que iniciamos as primeiras tratativas com os números fomos interrompidos com a chegada do  Secretário de Segurança - Coronel Sidney Pacheco que havia tomado conhecimento daquele encontro, fazendo-se acompanhar por uma comitiva, integrada pelo Comando-Geral da PM que logo em seguida soubemos que veio exigir tratamento igualitário (estavam presentes os Coronéis Freitas (Comandante-Geral), e Souza, matemático e Diretor Financeiro, dentre outros. Depois do Comando-Geral da PM mostrar os seus números tudo acabou "azedado", pois a inclusão dos "Oficiais" tornava inviável qualquer pretensão isonômica dos Delegados de Polícia. Observei que de início "Carvalho havia achado irrisória a repercussão financeira caso fosse só para os Delegados de Polícia e policiais civis, mas depois que entrou em cena a Polícia Militar, sendo apresentado os valores envolvendo PC e PM, Carvalho simplesmente "amarelou" e ficou estático na cadeira, balançando a cabeça e bastante decepcionado sentenciou que se fosse assim era inviável para os cofres públicos, com números tão estratosféricos. Naquela reunião morremos na praia, mas ficou a nítida impressão que Carvalho, mesmo sendo Promotor de Justiça tinha recebido ordens do Governador Kleinubing (que não aguentava mais a pressão/situação dos Delegados de Polícia)  para acertar a nossa reivindicação. Percebi ali que o Ministério Público não tinha mais poder para barrar o resgate da Lei 7.720/89, mas no nosso problema era a Polícia Militar (ativos e inativos) e também a falta de habilidade do Coronel Pacheco (claro que era Deputado Estadual e não poderia abandonar os Oficiais que estavam ávidos por entrar na "barca", mas se tivesse segurado, esperado, talvez lá na frente teria conseguido também...).

Procurei me fixar em "Carvalho", e na medida que chegava aos últimos degraus do para acessar o elevador notei que ele já havia identificado a minha pessoa, enquanto eu vinha ao seu encontro, na direção ao elevador.  E,  logo que me reconheceu, já refeito também da surpresa contida, iniciamos uma conversa informal:

  • Oi!
  • Tudo bem Secretário?
  • Tudo e como é que está?
  • Estamos indo. E a portaria foi publicada, muitas reclamações?
  • É, alguns estão reclamando (respondeu Carvalho).
  • Sim, é natural.
  • É verdade.
  • Mas tem um detalhe se alguém quiser discutir a edição da portaria na Justiça corre o risco de procrastinar todo o processo e retardar mais ainda as promoções.
  • Sim (respondi).

Dias antes o Delegado-Geral (Moretto) havia me levado até a presença de Carvalho na Secretaria de Segurança Pública para prestar assessoramento sobre o sistema de promoções da Polícia Civil que estava vigendo na época. (LC 98/93), além de querer conversar comigo para me questionar sobre outros assuntos querendo colher minha opinião (logo lembrei da reunião para tratar de isonomia no prédio da Secretaria de Administração, além das informações que corriam sobre as pessoas, os dossiês...).

Uma profusão de lembranças, pensamentos... e logo o elevador chegou para cessar nosso misto de ansiedades e curiosidades, porém a porta acabou fechando de súbito, nisso Carvalho apertou novamente o botão e continuamos a conversa:

  • Depois tem outra, ficaram esse tempo todo sem se manifestar. (disse Carvalho).
  • É verdade, mas tem que se agilizar o processo.
  • Sim, mas isso é com as comissões.
  • E como é que está?
  • Não sei, é com as comissões.

Enquanto Carvalho completava a conversação me pus a pensar em ritmo silencioso: "Hummm, e as comissões de promoções da Polícia Civil têm sido um fiasco, muita desorganização, esse Carvalho vai surtar com tanta desorganização!"

E eis que chegou definitivamente o elevador e Carvalho entrou me indagando como se fosse um peixe fora d'àgua: 

  • O Moretto é no quarto andar, né?
  • Sim. É no quarto. Respondi.

 

TERCEIRA PARTE

Dia 27 de maio de 1999

11:05 horas

"O sim  e o não":

Em seguida fui até o local onde Wilmar Domingues se encontrava...

(...)

  • ... Eu vim aqui te consultar..., lembras daquele meu compromisso... com o nosso grupo... de que somente aceitaria cargo comissionado se o pessoal não criasse objeção... e isso se deve ao fato de ter lançado aquele plano de governo...
  • Sim...
  • Pois é, o Moretto me chamou e renovou aquele convite para eu  assumir o lugar do Braga na Assistência Jurídica. Antes eu disse não porque o Braga estava lá e não queria melindrar um Delegado Especial, mas agora é diferente, o Braga foi para a Jogos e Diversões.
  • Eu não vejo nenhum problema, até é normal isso, esse seria o procedimento correto, o amigo tem competência e conhece bem o serviço, é um estudioso.
  • Sim, mas o pessoal pode achar que eu estou sendo beneficiado,  pelo contrário, preferiria ficar lá no salão escrevendo e também prestando assessoramento ao Delegado-Geral.
  • Mas é natural a sua ida para lá e assim eu posso ocupar o seu lugar lá no salão, vou para lá.
  • Bom, quem sabes não vais para a Assistência Jurídica e aí eu vou te ajudar.
  • Não, eu não tenho condições.
  • Mas eu vou conversar com o Braga, com o Jorge, Garcez... para ouvir a opinião deles.
  • Olha doutor eu acho que não deveria perguntar nada para ninguém, esse é um assunto seu, de mais a mais nós temos que ter uma função e o amigo não vai ocupar cargo comissionado. Eu particularmente não aceito qualquer cargo neste governo,  podem me oferecer qualquer um sem antes restabelecerem a hierarquia eu não aceito nada.
  • Sim, essa sempre foi a minha postura também.

E nisso chega Braga...

  • Doutor Felipe! (Braga)
  • Tai o homem! (Wilmar)
  • Braga eu estava justamente falando para o Wilmar que iria te procurar, estava dizendo que o Moretto renovou o convite para assumir a Assistência Jurídica, como já te disse ele tinha me convidado antes. (Felipe)
  • Que pena.  Deverias ter aceito, assim eu teria saído mais cedo de lá, estava pedindo para sair. (Braga)
  • Sim, mas eu te falei que não aceitei porque estavas lá, tinha esse argumento, mas agora não estais e apesar de ficar na mesma situação que tu estavas, sem cargo comissionado pode dar a impressão que tinha pedido para ir para lá o que não é verdade (Felipe)
  • Eu sei. (Braga)
  • E como eu havia me comprometido com o nosso grupo estou perguntando para o pessoal mais chegado se há algum óbice de eu ir para lá? (Felipe)
  • Não. Da minha parte não! Acho até que tu não tens que dar satisfação para ninguém.  Você é um estudioso e eu enquanto estive lá consegui trocar as mesas, computador, só não consegui livros, mas fiz bastante coisas e sei que tu tens condições de prestar bons serviços para a instituição. Olha só, no governo do PMDB a Lúcia não mandou um projeto de lei que favorecesse a Polícia Civil, nenhum! Sabe lá uma coisa dessas? (Braga)
  • Olha Braga eu já fui mais vibrante, acho que o tempo me ensinou, não que eu tenha perdido o entusiasmo, prova disso é o projeto que articulei de unificação de comandos das polícias, mas hoje estou mais com os pés no chão. (Felipe)
  • Mas Felipe eu te desejo boa sorte. (Braga)
  • Não é uma questão de boa sorte, só estou mudando de lugar, vou assumir a posição que tu estavas antes. (Felipe)
  • Eu sei, mas sei que tu podes fazer um bom trabalho (Braga)
  • Sim. (Felipe)
  • Não vejo nenhum problema de tu ires para lá (Braga)
  • Então tá. (Felipe)

Pelo sim e pelo não achei que fiz a coisa certa, mesmo em não se tratando de cargo comissionado... estava se tratando de um convite, afinal de contas Braga pediu para ir para Jogos e Diversões e eu não pedi nada.

 

QUARTA PARTE

Dia 27 de maio de 1999

11:05

14:35 horas

"Garcezando":

  • Alo!
  • É da residência do doutor Garcez?
  • Sim.
  • É a Zaira?
  • Não. É a Laila.
  • Sim. Laila já sabes quem está falando, não?
  • Sim. Sei.
  • Chama o teu pai.
  • Um momento.

Logo em seguida...:

  • Alô!
  • Tudo bem Garcez?
  • Fala Felipe. Eu estava querendo falar contigo, iria te procurar na semana passada, tinha planejado ir até a Delegacia Geral, tu estais lá ainda?
  • Sim, no mesmo lugar ainda, estou dando assistência ao Delegado-Geral.
  • Eu sei, todo mundo sabe, naquele dia eu estive aí contigo e em dois momentos te procuraram,  é até normal que seja assim.
  • Pois é Garcez, justamente sobre isso que eu estou te telefonando, o Moretto renovou o convite para eu assumir a Assistência Jurídica, sem cargo comissionado, no lugar do Braga, mas como eu havia me comprometido com o pessoal do grupo que não aceitaria nada sem consultar o pessoal, mesmo não se tratando de cargo comissionado, mas de um convite para trabalhar num setor. achei que seria justo mesmo assim consultar os amigos.
  • Que é isso Felipe? Eu acho que tu não tens que consultar ninguém, é uma decisão tua.
  • Olha Garcez não é bem assim, eu trabalhei num projeto como tu sabes e não quero jamais dar a impressão de que o fiz para me beneficiar.
  • Eu sei, não vejo nenhum problema.
  • Alem do mais como Delegado Especial eu teria que trabalhar em algum lugar da Delegacia Geral.
  • Sim, não vejo problemas não. O Kriguer também tentou pegar um cargo e não conseguiu.
  • A situação do Kriguer é diferente. Ele buscou um cargo comissionado, mas não tinha compromissos com um projeto, não assinou nada, é diferente. Eu gostaria de ouvir a tua opinião sincera pois se fostes tu que estivesse na minha situação certamente que eu te diria o que penso.
  • Olha Felipe é uma questão de foro íntimo, cada um sabe de si, se tu achas que deves colaborar com este governo.
  • Garcez eu como Delegado Especial tenho que ter uma atividade, minha lotação é na Delegacia Geral, o Moretto está propondo tão-somente para eu ir trabalhar noutro setor sem cargo em comissão.
  • Sim, é verdade, olha eu não vejo nenhum problema, só de vez em quando vou te procurar para me inteirar das novidades, das leis, como aquela que fez a equiparação da carreira de Delegados com a Magistratura, no dia que eu estive aí contigo tu me  passastes,  eu não estava sabendo, certas coisas me passam desapercebidas.
  • Sei, estais falando da Lei Complementar 154?
  • Isso, vou precisar de ti, até é bom para nós que tu estejas lá.
  • Sim, de mais a mais eu tenho que ajudar a minha instituição.
  • Sim, mas Felipe eu não sei se tu recebestes a circular da Adepsc dando o prazo até o dia trinta agora para apresentar emendas ao estatuto?
  • Sim, agora lembro da circular, recebi sim.
  • Pois é a gente poderia se reunir e apresentar emendas, podemos fazer a quatro mãos, acho que tudo começa por aí.
  • Sim, mas o prazo está quase encima.
  • Sim.
  • Que dia que cai o dia trinta?
  • Deixa eu ver, cai no sábado.
  • Pois é!
  • Poderíamos nos reunir no sábado e falar com o Mário e entregar na segunda-feira.
  • Sim, bom se tu quiseres estou a disposição, me telefona, olha Garcez eu tenho que pegar o ônibus... vou ter que sair correndo, mas se tu quiseres se reunir comigo, me telefona...
  • Certo, então tá!
  • Garcez não fala mais,  vou ter que ir, se não vou perder o ônibus.
  • Certo. Depois a gente conversa.
  • Certo.

E fui para o ponto... pensando naqueles encontros do grupo... no manifesto... tudo ficou para trás..., certamente esse encontro para tratar do estatuto da Adepsc também ficará, não por falta de boa vontade, aliás, porque de bem intencionados....

E lembrei que ainda tenho que conversar com o Jorge, Kriguer, aliás, por pensar neles,  onde será que andam?

 

QUINTA PARTE

Dia 28 de maio de 1999

28.05.99

10:00 horas

"Cheiro de flores e de carvalho":

Fui ao quarto andar (DGPC) tirar a impressão da proposta de regulamentação à Lei Especial de Promoções da Polícia Civil, tinha apresentado uma minuta na última reunião do Conselho Superior e aproveitei para cumprimentar o Chefe de Gabinete Delegado Moacir Bernardino. Logo que entrei, sempre reverencial, Moacir se levantou para me recepcionar,  deixando transparecer um ar de preocupação, um quê de  seriedade e de comprometimento com suas ações, com as pessoas, porém, demonstrando descontração com minha presença:

  • Tudo bem Moacir?
  • Ô doutor, tudo bem, quer dizer a gente vai levando, né?
  • É isso aí, de um jeito ou de outro a gente vai levando.
  • Mas doutor não sente que existe alguma coisa no ar?
  • Como?
  • Não sente que tem alguma coisa no ar, não sei, mas tenho um pressentimento de que alguma coisa vai acontecer, não sente isso?
  • Não. Mas o que te leva a pensar que existe alguma coisa assim?
  • Não sei,  eu vou falar para o amigo porque sei que dá para confiar, que tem responsabilidade, peço que não comente nada,  mas eu acho que o "nosso Secretário vai cair".
  • O quê? Acho que não!
  • Sim! Eu acho que sim, doutor.
  • Mas tem alguma coisa de concreto ou é só falatório?
  • Tem, ouvi comentários de pessoas que não vou declinar o nome, e são pessoas de credibilidade, parece que estão pedindo a queda do Secretário, ele não tem atendido pedidos de políticos,  não tem tratado adequadamente o pessoal do partido. Estão pedindo a cabeça do homem, acho que nos próximos dias teremos novidades, "pode escrever o que estou te dizendo".
  • Bom, de qualquer forma se isso é verdade ele já cresceu no meu conceito. Se ele está recebendo pressão de políticos para atender pedidos e está resistindo já tem o meu respeito.
  • É verdade!
  • Porque Moacir você imagina esses políticos não se contentam só em ter o poder político querem ter também o poder da polícia nas mãos, é como aquele dito, quem manda na polícia é a autoridade policial, mas quem manda nela é o político, o deputado, o prefeito, o vereador.
  • Sim, é verdade.
  • Já foi um trabalho quando naquelas legislações procuramos enquadrar os Delegados na mesma situação dos Juízes e Promotores. por entrância... Ao propor a nova estrutura jurídica da carreira por entrâncias fiz quase que uma homenagem ao meu pai, eu nunca me esqueço o ano de 1973, ele era Delegado de Concórdia,  estávamos residindo lá e os policiais militares prenderam o filho do prefeito, depois ele foi Secretário de Justiça e era uma pessoa muito influente na Sadia. Bom para encurtar a conversa os PMs conduziram o menor que estava dirigindo um Jeep e  fazia "cavalo de pau" no centro da cidade, isso num domingo à tarde, já havia informações que era costume fazer isso, inclusive, um dos soldados de nome Adão é policial civil... na época também atuou no caso. Bom, o  prefeito ao chegar na Delegacia e vendo que meu pai estava dando razão para os militares que estavam sob seu comando ficou irresignado,  querendo que não fosse tomada providência alguma, mas meu pai resistiu. Como consequência o prefeito sentenciou na mesma hora que na manhã seguinte (segunda-feira) meu pai não seria mais delegado ou coisa alguma naquela cidade. E sabes o que aconteceu? Na segunda-feira de manhã telefonaram da Superintendência da Polícia Civil (atual DGPC) dizendo que eram ordens do Secretário de Segurança que recebeu determinação do Governador e que meu pai não era mais Delegado em Concórdia, tinha que se apresentar imediatamente em Porto União.
  • Meu Deus! (Moacir)
  • E não foi só isso, mandaram a Corregedoria levantar várias denúncias que o prefeito fez contra meu pai. Nessa hora como você sabe sempre tem aqueles policiais que foram sindicados e só estão só esperando o momento para se vingar, foi isso o que aconteceu, um Escrivão... que você já deve ter ouvido falar e mais alguns PMs.
  • Sim.
  • Pois é, moral da história, acabou o meu pai ainda sendo removido e punido.
  • Realmente, sem comentários.
  • Foi nisso que me inspirei, pelo que passou minha família e quando você me diz que o Carvalho está sofrendo por não estar cedendo às pressões de políticos eu não tenho dúvidas, já há um bom prognóstico a seu favor, espero que o Amin fique do lado dele e não ceda a isso.
  • É o que a gente espera.

(...)

E ficou aquela imagem do Secretário Carvalho de mãos no bolso, pálido, o que me levou a questionar: será que o que aparenta ser  é o que realmente é ou parece ser? Relembrei do plano de governo (Procuradoria-Geral de Polícia), do Deputado Júlio Teixeira (Delegado), Gilmar Knaesel e Esperidião Amin e viajei num quase delírio: uma questão da astúcia e de capacidade de se querer mudar, de não temer o novo, de ousar...? Não tinha como não deixar de pensar nas palavras do Delegado Moacir e todo o seu pessimismo com o futuro em relação ao Titular da Pasta, a questão política e as pressões de toda ordem tanto na Segurança Pública como no Sistema Prisional.

Resta-nos agora ver se o Carvalho ficará de pé..., com tantos desafios não só na Segurança Pública como na Pasta da Justiça, com um sistema prisional caótico, se colherá bons frutos, porém, só nos resta esperar, ver, refletir e concluir!

 

SEXTA PARTE

30.05.99

13:00 horas

"O Careca Lustrosa":

Era domingo e estava almoçando na Churrascaria Pegorini (São José), juntamente com minha esposa e filha... Em determinado momento constatei a presença de D. K., ex-Deputado e ex-Presidente do PDT (Partido Democrático Trabalhista). A última vez que havia falado com ele foi no segundo semestre do ano passado, por telefone em Brasília. D.K. agora parecia bem mais grisalho...

Quase no centro, também estava o deputado do PMDB Motta e seus familiares, representante do sul do Estado (Araranguá).

Tínhamos sentado na última mesa da direita (lado norte), na fila da janela, quando na mesa ao lado senta Milton Sché (Escrivão de Polícia e Chefe de Gabinete de Heitor na Assembléia), acompanha de sua família.

Depois de hesitar um pouco fui até o banheiro e na volta passei pela mesa de D.K. que estava acompanhado de sua esposa. Tinha se separado de S.K., prima-irmã de minha esposa havia alguns anos, todos muito amigos num passado que já vai longe,  na época em que os K & K moravam no oeste do Estado.

  • Tudo bem D.?
  • E daí? Tudo certo.
  • Não sei se conhece? Apontava para sua companheira.
  • Muito prazer.
  • Onde é que tu estais trabalhando no momento?
  • Estou na Delegacia Geral fazendo assessoria ao Delegado-Geral, lá na Secretaria de Segurança, depois daquela rebelião lá na Penitenciária eu voltei para a Segurança.

(...)

Em seguida fiz sinal para minha mulher e filha que vieram se juntar na mesma mesa, também queriam cumprimentar D.K. e conhecer sua companheira.

  • E o que andas fazendo atualmente D...?
  • Eu estou trabalhando com máquinas de jogos eletrônicos,   estou com uma sala no centro, e representamos um empresa Argentina que atua nesse ramo de negócio.
  • Ah é!
  • Sim, então não queres mais nada com a política?
  • Não deu né.
  • Sim mas fizestes quantos votos para Federal?
  • Fiz vinte e três mil.
  • É, se tivestes ido a Estadual?
  • Sim, mas o PDT me sacaneou. Eu queria sair a estadual e não deixaram, tive que ir a federal mesmo.
  • Mas não estavas na presidência do partido?
  • Sim. Eu fiquei na presidência, mas o Maneca Dias já tinha assumido a presidência e sabe como ele joga.
  • É, eu não sabia, conheço ele só de nome, mas parece que é sempre assim, o presidente do partido é que acaba se ferrando.
  • É, tinha uma empresa de jogos eletrônicos dos Estados Unidos, prometeram investir quatrocentos mil dólares na minha campanha e foram me enrolando até o último momento, com esse dinheiro eu achava que dava para chegar lá e não mandaram nada. Também o M... não tinha interesse que eu saísse candidato a Estadual, ele foi um dos que me empurrou.
  • Mas tu não és amigo de M...?
  • Sim, eu tinha amizade com ele, mas o M... tinha recebido cinco naquele episódio do Paulo Afonso, das letras.
  • Eu ouvi falarem em dois.
  • Não! Só que quando mudou o Secretário da Justiça, o P... cansou de ir lá em casa,  chegou gastar a calçada pedindo que eu como Presidente do Partido indicasse o nome dele para ser o Secretário. Acabei concordando, depois que ele foi nomeado virou as costas para mim e ficou com o M... E aí, fizeram horrores lá, superfaturaram obras, desviaram, reformas que eram orçadas num preço e não fizeram...
  • Pois é D... falaram que naquela rebelião de maio de 1997 quando eu era o Diretor lá na Penitenciária de Florianópolis teriam gasto seiscentos mil reais... quando eu sei que o que fizeram lá não deve ter sido mais do que quarenta mil reais.
  • Sim. E aí o M... que tinha recebido aquele dinheiro todo não gastou nada, fizeram toda a política com dinheiro da Secretaria de Justiça, só que eu me ferrei.
  • Sim, mas conseguistes te aposentar, não?
  • É, eu consegui. Tenho trinta anos de serviço, averbei nove anos, mas um e fecharam dez. A remuneração de Deputado está em oito mil, consegui dois mil e seiscentos...
  • Ah, sim, não estão incluídas vantagens.
  • É, aí eu desconto... , tem mais a pensão para a ex-mulher,  chega a uns mil e novecentos, e estou com esse negócio...
  • Mas a S... está bem, tem o emprego dela.
  • Sim. Ela também trabalha nessa mesma empresa que eu te falei,  que atua na área de jogos.
  • Ah, sim, por isso que ela está sempre viajando para a Argentina.
  • A empresa Norte Americana tem como sigla PDS.

Aproveitei o curso da conversa para matar uma curiosidade que tinha certeza que D... saberia me responder:

- D..., tu soubestes que quando eu estava lá na direção da Penitenciária foi feita uma licitação a meu pedido para compra de dois milhões de remédios. Naquela época o Moretto (Delegado-Geral) cedeu o meu irmão (médico na Delegacia-Geral) para cuidar dos aidéticos e como havia muitos doentes, todos do sistema prisional que eram soro positivos, tive que pressionar a Secretaria para fazer a licitação. Naquela época eu tinha que tirar dinheiro do meu próprio bolso para comprar remédios. Imagina uma Penitenciária super lotada, um verão quente, e presos gritando à noite de dor? Bom, o tempo passou e os remédios nunca chegaram. Tu sabes alguma coisa?

D..., responder com uma rapidez cartesiana que não deixava margem de dúvida alguma sobre a sua veracidade:

- Aquela tua licitação lá foi o seguinte, seiscentos mil foi para o M..., outros seiscentos para o P... e os outros seiscentos eram para mim investir na minha reeleição, só que os dois me deram uma rasteira... Acredito que duzentos mil foram para a empresa laranja.

- Tais brincando que foi assim?

- Sim, a minha parte eles comeram. Esse dinheiro eu estava esperando para fazer minha campanha a reeleição.

- Bom, tu sabes que eu fui atrás e ninguém queria fazer sobre o assunto. Ninguém me dava uma satisfação lá na Secretaria.   

Instantaneamente lembrei da presa "Eliege" que era minha informante e me disse que ouviu uma conversa do seu quardo (por volta do mês de março/1997), durante à noite, no presídio feminino da Capital entre um Agente Prisional (Vidal) e um "enviado" (na varanda), convidando para retornar para a Penitenciária, pois iriam derrubar o diretor que estava com os dias contados (o que veio a se confirmar no mês de maio seguinte quando o preso Cecéu e outros lideraram uma rebelião anunciada e preparada (presos do regime fechado com Agentes Prisionais cooptados). Eliége, que eu trouxe para trabalhar nos serviços gerais do gabinete do diretor, repassou a informação bastante preocupada com o que estava sendo urdido nos bastidores e que poderia perder o serviço, tendo que ficar confinada no Presídio Feminino e ainda sob "suspeita"). Na verdade tive uma série de atritos com a direção da Secretaria de Justiça por conta de ingerências políticas (as nomeações para cargos tinham que atender indicações de políticos...), projetos que ficavam engavetados, o fundo da penitenciária tinha mais de cento e vinte mil em caixa, enquanto que os outros fundos das penitenciárias estavam sempre negativos (como explicarem?), as fábricas queriam se instalar dentro da Penitenciária, mas eu exigia "convênio" assinado e publicado no Diário Oficial do Estado, Judiciário e MP ausentes... Dentro desse contexto resolvi fazer uma indagação para D...:

- Tu tens certeza que a tua parte foi rateada entre eles?

- Com certeza.

A bem da verdade sempre tive uma pulga atrás da orelha que realmente isso tenha ocorrido. Sempre desconfiei num terceiro elemento enrustido e que sabia de tudo porque além de bem informado estava dentro do sistema e agir como um "agente moralizador", mas não dei continuidade ao assunto. Mas não deixei de lembrar do Juiz da Vara de Execuções Penais (tinha o nome de um General grego que se bandeou para os Persas, depois do seu ostracismo imposto e do Promotor de Justiça. Várias vezes estive a procura dos mesmos e a Escrivã da Vara de Execuções Penais, uma verdadeira formiguinha, me disse certa vez, talvez sensibilizada com nossa realidade, que em dia de céu azul um costumava pegar a lancha e sair para pescar enquanto que o outro vivia viajando porque gostava de salão de carros, especialmente, importados, razão porque não tinham tempo para tratar de presos, por isso dificilmente eram encontrados (ou não gostavam de ser incomodados com o submundo).

E D... sentado de frente para a porta anuncia que o Governador Esperidião Amin acabara de chegar na churrascaria. Me contive, era muito para aquele domingo, até achei que não fosse verdade, mas meu interlocutor deixou transparecer um certo ofuscamento, parece que esperando um aceno. E eu também não pude me conter, acabei por retorcer na cadeira e reparar o Governador alguns metros atrás, cumprimentando várias pessoas, com sua careca lustrosa.

Procurei deixar D... mais à vontade, sua expectativa parecia grande, apesar de procurar manter uma certa tranqüilidade aparente. E nesse momento me passou pela cabeça: ‘Quantas pessoas não gostariam de estar próximas do rei?’ E lancei uma pergunta no ar:

  • Será que ele está acompanhado da Ângela?

O próprio D... respondeu:

  • Não. Ele chegou com o Dib Cherem.

Senti um cheiro no ar de Tribunal de Contas, mas tudo não passava de presunções, meras presunções.

E D... perguntou pela segunda vez:

  • Sim no momento onde é que tu estais mesmo?
  • Na Delegacia Geral, presto assistência jurídica.
  • Sim, mas onde é que fica?
  • A Delegacia-Geral fica no centro, está subordinada à Segurança, mas na verdade hoje estou mais para escritor, historiador.
  • Ah, sim, mas eu estava te falando, esse negócio de jogo é muito promissor, o Brasil é um mercado muito aberto, muito virgem,  dá para ganhar muito dinheiro.
  • Sim, mas o teu negócio é locação de máquinas?
  • Sim. Nós trazemos a máquina dos Estados Unidos, essa empresa tem uma participação de cinqüenta por cento do movimento que a máquina faz, nós repassamos o material para um cliente que queira se instalar e dividimos os outros cinqüenta por cento com ele. Por exemplo: Se as máquinas dão um movimento de vinte mil reais desconta-se mil e quarenta e cinco relativos a impostos em ufir que são da Codesc, desconta-se os cinqüenta por cento da empresa norte americana e o restante a gente acerta com o cliente que explora o uso das máquinas. Hoje temos várias casas se instalando na cidade. Lá no centro, na Felipe Schmidt, no Ponto Chic, descendo tem uma... Em frente ao Hotel Itaguaçu um pessoal de Concórdia está se estabelecendo com máquinas.
  • Sim, tem uma casa próxima ao Shopping Beira Mar, ali na Boacaiuva.
  • Aquela casa usa máquinas espanholas, os espanhóis também estão entrando com tudo, esse é um mercado muito promissor.
  • Sim, acho que querem transformar Florianópolis numa ‘Las Vegas’.
  • Não. Não é só Florianópolis é o Brasil todo, isso é uma coisa que dá muito certo, você coloca uma máquina num restaurante, num Hotel, num Shopping, em qualquer lugar e deixa ali, ela está rendendo e tem mais se começa com um prêmio de cem mil e todas as máquinas aqui no Estado estão ligadas ‘on line’, isso significa que o prêmio vai aumentando.
  • Ah, sim, entendo.
  • O problema está na fiscalização dessas máquinas, pela legislação em vigor elas tem que estar programadas para que dos cem por cento que arrecadam oitenta por cento devem retornar como prêmios e nós sabemos que não chega a trinta por cento essa margem de retorno em prêmios, então como controlar isso? Estão fazendo um convênio com a Codesc para que eles fiscalizem isso.
  • É, mas essa função é da Polícia Civil, consta claramente na Constituição do Estado que a fiscalização de Jogos e Diversões Públicas é da sua competência. 
  • Mas veja bem, quando se quer instalar uma casa tem que se pegar licenças da Prefeitura, da Codesc, da Polícia Civil, e para que serve o alvará da Policia Civil?
  • Bom o alvará serve para que haja um acompanhamento das máquinas por meio de peritos, para se verificar a presença de menores nos locais...
  • Ah, sim.
  • Essa é atividade da Polícia Civil, eu até concordo que o nosso pessoal não está preparado para isso, não houve por parte do governo uma preocupação com essas atividades.
  • Sim, a coisa está toda aberta, ninguém fiscaliza nada, quem vem e se instala deita e rola.
  • Sim, eu outro dia me manifestei num caso desses, o cidadão trouxe um laudo da Unicamp, era particular, ele tinha solicitado a perícia nas suas máquinas, só que eu me manifestei no sentido de que fosse submetido o material a perícia por nosso pessoal. E depois D.... se os nossos peritos não estiverem preparados para lidar com esse tipo de tecnologia a gente manda o pessoal se especializar noutros centros, e em poucos meses eles voltarão capacitados, temos gente boa, engenheiros...
  • Ah, sim.

(...)

E convidei o pessoal da mesa para irmos embora em razão do adiantado da hora e, em fila indiana seguimos. Deixei propositalmente D... por último  e passamos rente a mesa de Amin que estava de costas para nós, reparando seus gestos articulados,  bem à vontade, e mais uma vez a sua "careca lustrosa" que refletia o brilho das luzes. Não pude deixar de pensar noutras luzes e que ficaram perdidas no tempo, nos documentos, nas ideias concebidas e que ficaram bem para trás. Mas me contive, e simplesmente passei, como quem passa, um passante que passo-a-passo..., sabedores do que se passa em sua volta, de todo um passado que permanece vivo e serve para nada?

 

SÉTIMA PARTE

Dia 30 de maio de 1999

10:45 horas

Carvalho vai deixar a Justiça e o Sistema Prisional?

O jornal ‘O Estado’ deste domingo estampa foto do Deputado Estadual Jorginho Mello, líder da bancada do PSDB na Assembleia Legislativa, com a seguinte manchete:

‘Nome para Justiça deve sair Segunda-feira

Segundo deputado Jorginho Mello, o titular da pasta ser anunciado pelo governador Amin

O deputado estadual Jorginho Mello (PSDB) revelou, na Sexta-feira, que o governador Esperidião Amin (PPB), deve anunciar nesta segunda-feira o novo titular da Secretaria de Justiça do estado atualmente comandada pelo secretário da Segurança Pública, Luiz Carlos de Carvalho. O nome mais forte para assumir é o do promotor Paulo Cezar Oliveira. O PSDB entregou ao governador uma lista com os nomes de Jacó Anderle, Léo Rosa, Aristides Simadon, Mário Corrêa e Paulo Cezar Oliveira. Como este último reúne mais consenso entre os tucanos, Amin deve mesmo nomeá-lo. Ele já tem inclusive projetos para a área. Entre as suas propostas estão a construção de um espaço para treinar os presidiários para a indústria, nos moldes semelhantes à penitenciária agrícolas e o treinamento do pessoal que trabalha nos sistema carcerário de modo a tratar o preso com uma pessoa em recuperação (...). Ainda havia algumas resistências dentro do PSDB. Até pouco tempo o atual presidente da Celesc, Francisco Küster, insistia no nome de Jacó Anderle ou no Léo Rosa. Seria isso que ainda detinha o governo. Um nome que agregasse mais o partido seria a solução. Paulo Cezar teve vários encontros com os deputados Jorginho Mello e João Rosa na busca de apoio. Os deputados não indicaram como candidato, mas também não fizeram restrições. Na semana passada, Paulo Cezar retornou a Florianópolis para se inteirar  do andamento dos fatos. O promotor trabalha na comarca de Joinville (...). A Ordem dos Advogados do Brasil não aceitou o processo contra ele, porque entendeu que o deputado estadual que também é advogado estava afastado do escritório quando da apresentação da denúncia. Seu sócio é que respondia pelo escritório de advocacia. Jaime previa que seus adversários e acusadores estavam dentro do próprio PSDB, por isso voltou a assumir sua cadeira na AssembleiaLegislativa e filiou-se ao PPS e em menos de 15 dias já era o presidente do partido. O PSDB perdeu um voto na bancada e até agora ainda está sem a secretaria da Justiça em razão de uma série de controvérsias em torno do preenchimento da vaga. No início eram os deputados Jorginho Mello e João Rosa que não aceitavam Leo Rosa porque pertencia ao grupo de Maime Duarte. Depois foi a vez do ex-presidente do partido, Francisco küster, que insistia nos nomes de Leo Rosa ou Jacó Anderle. O assessor de imprensa do governador, José Carlos Soares (Zico), disse que o governador não anuncia secretário, ele nomeia, e que não existe nenhuma nomeação de secretário programada para Segunda-feira. Mas também confirmou que o nome de consenso e que deve ser consagrado é o do promotor de Joinville. Segundo Zico, este fi o nome entregue pelo PSDB.

(‘O Estado’, 29/30 de maio de 1999, pág. 03)

Dia 31 de maio de 1999

09:30 horas

Salve Jorge e o Campo Minado:

Antes de ir para a ‘Assistência Jurídica’, queria muito conversar com o Delegado Jorge Xavier. Depois de relatar a ele minhas conversas com os amigos, inclusive meu encontro na Churrascaria Pegorini, e a conversa que tive com D. K.  e eis que ele veio ao meu encontro:

"(...)

  • Acho que sei quem é, ele foi prefeito de Lages? (Felipe)
  • Não. Não é o Coruja. (Jorge)
  • Eu sei, é aquele outro.
  • Não é o D. R.?
  • Não. Ele foi presidente do PDT no governo passado.
  • Ah, sei, aquele alto que defendeu os cassinos.
  • Isso. A abertura dos jogos.
  • E o dinheiro? Alguma novidade...? (falávamos do saneamento dos salários dos servidores públicos que não foram quitados no governo Paulo Afonso)
  • Olha Jorge, sinceramente não alimento esperanças.
  • Mas como?
  • Eu sempre te disse, acho que o Amin vai acertar primeiro os que ganham pouco, o pessoal do Legislativo e do Judiciário não têm esse problema, só nós do Executivo. Então primeiro ele vai acertar o pessoal de baixo e deixa por último os Delegados, Fiscais, Procuradores que são minoria no universo de servidores do Executivo.
  • O quê, é esse o teu otimismo?
  • Não é isso, eu sempre procurei estar com os pés no chão, sei que tu preferias ouvir outra coisa, meu pai era assim também, e eu acho que aprendi, prefiro a verdade.
  • É, mas assim é demais, bom se bem que a Adepsc o que se vai esperar dela?
  • É, mas é geral, o Amin recebeu esse legado, essa "bananosa" do Paulo Afonso, pode até ser que ele acabe deixando isso para que o pessoal entre na Justiça para receber.
  • O quê? Como é que eu vou ficar, já estou lá com o restaurante cuidando para não fechar, já não é mais ganhar dinheiro é para não fechar as portas (Jorge estava administrando o Restaurante Candeias no município de São José, de propriedade do sogro do seu filho "Cezinha").
  • Eu sei, imagino, a crise é muito grande, ninguém está comprando nada, e é por isso que eu procuro simplificar a minha vida, acho que tu deves fazer o mesmo Jorge.
  • Rapaz já estou me metendo num papagaio no banco para sair do buraco.
  • Acho que tu deves vender um dos carros.
  • Não. Já botei o terreno lá de Governador Celso Ramos à venda, mas não consigo.
  • Mas não apareceu ninguém ainda?
  • Só um que quis trocar por um apartamento, mais um elefante branco, é trocar um por dois, é despesa de condomínio,, é sair de um buraco e entrar em dois, lá pelo menos não tem despesa de condomínio.
  • É, quanto é que estais pedindo lá?
  • É, tem mais o apartamento de Curitiba, outro elefante branco.
  • Não sei Jorge, acho que tu deves vender um carro, vende a camionete.
  • O quê? Não dá.
  • Fica só com o Apolo.
  • Ficar com carro velho não dá.

(...)

  • A que nível chegamos? Por isso Jorge que eu acho que tu tens que advogar, aproveitar esse teu potencial, tenho uma sala no centro, é da minha família, já te falei, tens um nome e hoje as críticas já não são mais tantas, o pessoal já tem uma visão bem melhor do que aconteceu (falava da perda da isonomia salarial com o MP).
  • É mesmo?
  • Sim.
  • Eu estava lá no Palácio outro dia e encontrei o Carvalho, o Secretário de Segurança, tu sabes se vai mudar?
  • Acho que sim, vi a entrevista daquele deputado do PSDB no jornal ontem, o Jorginho Melo e parece que eles vão levar a Secretaria da Justiça.
  • Então o Carvalho vai sair da Justiça?
  • Acho que sim.
  • Isso é ruim, era melhor o Carvalho respondendo...
  • Sim, mas política é isso aí.
  • Eu estava te falando que encontrei o Carvalho lá no Palácio, faz um mês, estava vendo aquele negócio da audiência com o Amin. já te falei que mandaram um cartão para que o Amaro me atendesse?
  • Sim, eu sei.
  • Pois é, encontrei o Carvalho e falei no teu nome, tu sabes que ele me disse que tu andastes fazendo um excelente trabalho para ele, o que foi?
  • Sei lá, ele andou me pedindo alguma orientação, estive lá com ele acompanhando o Moretto, mas não sei se deu certo.
  • Eu falei no teu nome, de tu não seres aproveitado e ele disse que não adianta, que tudo que tu fizeres vai esbarrar na Delegacia-Geral que é devagar, olha, mas ele tem um excelente conceito acerca de ti, precisavas ver.
  • Ele é uma pessoa inteligente.
  • Sim.
  • Só que tem limites, acho que a situação dele não está fácil, tem procurado manter um nível de administração, o que deve contrariar interesses de poderosos e daí como se manter no cargo?
  • É verdade.
  • Mas acho que ele deve prosseguir resistindo.
  • É o Kriguer? Soubestes mais alguma coisa dele? Estava querendo aquele cargo, parece que está na 7ªDP, não?
  • Sim. Olha Jorge ele fez pressão com aquele Bispo, parente dele, e isso cria campos de força, acho que tu sabes do que estou falando, as pessoas vivem criando campos de força em relação as outras, podem ser negativos ou positivos.
  • Como assim?
  • Um exemplo, se tu encontras uma pessoa em situação difícil,  doente, sem dinheiro, em sérias dificuldades, surge um campo de compaixão, pena, de necessidade de ajuda e ao mesmo tempo você se põe numa situação de utilidade, de quem pode ajudar, e fica num plano de superioridade. Agora, se você encontra uma outra pessoa que ostenta poder, externa bons carros, dinheiro, cria um campo negativo, você se sente por baixo e aí surge uma série de outras coisas.
  • Ah, sim, entendi, baseado nesse princípio que eu acho que o Redondo criou um campo negativo para inviabilizar o nosso projeto, o Amin passou a ter informações péssimas sobre nós e e pelas mãos do Redondo, não foi?
  • Olha Jorge eu discordo, nesse caso do Redondo com o Amin,  como ele forma opinião, quer estar próximo do rei, isso não se trata de ‘campo negativo’ ou ‘campo positivo’, na verdade se trata de ‘campo minado’ (rimos).
  • O quê? É, acho que tu tens razão, és um bom estrategista mesmo, taí, realmente é um ‘campo minado’.

(...)

 

OITAVA PARTE

Dia 08 de junho de 1999

10:30 horas

O fator "Pedrão e o Céu"

Estava na ‘Assistência Jurídica’ quando num determinado momento senti que alguém se aproximava e antes que aparecesse na porta alguém gritou:

  • Só pode ser o  doutor Braga! (Jô Guedes - Inspetora de Polícia)
  • Como é que tu sabes? (Felipe)
  • Olha aí! Conheço só pelo andar. (Jô)

Braga estava nervoso chegou irado e louco para desabafar:

  • Vim da Adepsc, acabei de chegar, encontrei o Sell, tu não imaginas, ele estragou o meu dia, me deixou nervoso, tenso. (Braga)
  • Mas por quê?
  • Ele consegue me deixar assim, eu fui dizer para ele que estou agora na Jogos e Diversões, precisa ver, ele ficou dizendo que eu não podia ter aceito, onde já se viu, aqui na Assistência Jurídica eu estava trabalhando direto com o Delegado-Geral,  Felipe eu não estou em cargo comissionado. (Braga)
  • Sim, claro que sim. (Felipe)
  • Mas tu precisavas ver, não adiantou nada, eu disse para ele que estou lá embaixo sem cargo comissionado, conseguiu me irritar, ele consegue, eu cheguei a dizer para ele que consultei os amigos antes de sair daqui, que o doutor Felipe também consultou os amigos antes de vir para a Assistência Jurídica, mas não adiantou, conseguiu estragar o meu dia.

Braga estava visivelmente indignado, revoltado, atingido:

  • Mas Braga eu não sei como é que tu vai te importar tanto com a opinião do Sell, eu acho que é isso, ele sabe como te detonar,  faz isso. (Felipe)
  • Ele consegue me irritar (Braga)
  • Eu não sei Braga, mas acho que tu não deves de importar com a opinião dele, quem é o Sell para te julgar? Ele no governo passado estava ocupando função de Delegado Distrital e ninguém disse nada. Eu não sei, mas acho que tu te deixas se abalar muito com a opinião dele. Até entendo essa estratégia, pois a melhor defesa é o ataque e é isso que ele sabe fazer muito bem, te deixa sem reação alguma. (Felipe)
  • O Heitor não se elege para mais nada, ele e o Júlio (Teixeira) estão mortos politicamente e o Sell e o Pedrão ficaram de fora, não conseguiram nada. (Braga)
  • É! (Felipe)
  • O Pedrão (ex-Superintendente da Polícia Civil/DGPC - 1983-1986), não sei se tu sabes, é amigo do Amin, ele fala com o governador a hora que quiser. (Braga)
  • É mesmo? (Felipe)
  • Sim, tanto que ele colocou dois no governo e não foi o Heitor não. (Braga)
  • Quem que o Pedrão colocou? (Felipe)
  • Um foi o Adalberto como Regional lá em Jaraguá. O Adalberto foi o Pedrão que colocou e o outro é aquele que está na Corregedoria, como é mesmo nome dele, é Corregedor. (Braga)
  • Ah, sei, o Nilton Andrade. (Felipe)
  • Sim, o Nilton. O Nilton sempre foi protegido do Pedrão, é afilhado dele e o Maurício Eskudlark o pessoal acha que foi o Heitor.(Braga)
  • E não foi? (Felipe)
  • O Maurício tem força própria,  ele é do Diretório do PFL, tem liderança, amizades e ele só não foi nomeado Delegado-Geral porque o Carvalho não aceitou.

(...)".

 

NONA PARTE

11.06.99

02:30 horas

"O Onze de Junho" (Moacir Bernardino - o bruxo): 

Faz exatamente um ano que Júlio Teixeira e Gilmar Knaesel entregaram o Plano de Unificação dos Comandos das Polícias Civil e Militar e criação da Procuradoria Geral de Polícia, como já foi relatado, naquele dia Amin esteve especialmente no Gabinete do ex-parlamentar (Júlio) que fez a entrega do material. No dia seguinte o jornal ‘O Estado’ noticiava o acontecimento e agora Marquinos telefona em plena madrugada para trazer a trágica notícia:

  • Alô!
  • Sim?
  • Felipêêê, é o Marquinos.

Não podia nem acreditar, aquele telefonema aquela hora da madrugada, um calafrio tomou meu corpo, procurei me refazer da surpresa e deixei transparecer que estava bem:

  • Sim. Fala Marquinos.
  • Já sabe o que aconteceu?
  • Não. Não sei, mas o que foi?
  • Desculpe eu estar telefonando esta hora...
  • Tudo bem, tudo bem.

Aquela altura já procurava falar baixo, não queria acordar minha esposa e tampouco deixá-la preocupada, mas o tom de minha voz já refletia que algo de muito grave havia acontecido. E isso era incontrolável, já havia contaminado o meu ar, não pude evitar pois isso ela soube muito bem captar e novamente um frio se apoderou de mim quando a vi na penumbra, de pé a alguns metros,  na expectativa de saber, enfim, o que estava acontecendo. Marquinhos estava longe e cheguei a pensar que falava com um fantasma,  tudo era possível, quando aquela a voz pausada, fúnebre e carregada de dor do outro lado da linha interrompeu meus pensamentos.

  • Sabia que o Secretário faleceu?
  • O quê?
  • É, ele faleceu agora à noite, foi num acidente aéreo.
  • O quê? Tu tens certeza disso Marquinhos, olha que é trote?
  • Não. O pessoal do Cepol me telefonou.
  • Eles é que te comunicaram?
  • Sim. E tem mais gente.
  • Onde é que foi isso?
  • Foi ali em Tijucas, o helicóptero em que ele estava caiu, mas não tenho maiores detalhes.
  • Sim, mas é certo que ele morreu?
  • Sim.

Incrédulo, fiz de conta que tinha acreditado cem por cento.

  • Tá bom Marquinhos. Agradeço por tu teres telefonado.
  • Então tchal!
  • Tchal!

Imediatamente lembrei da última conversa com Moacir Bernardino, sim, temos um bruxo na Polícia Civil, enfim, ele pressentiu quase tudo o que aconteceu com Carvalho.

E um oceano de dúvidas tomou conta de meus pensamentos: Será que foi acidente? Que fatos levaram Moacir Bernardino advinhar a queda de Carvalho? Que atmosfera existia na Segurança Pública para que se respirasse ares tão nefastos? A quem interessava a morte de Carvalho...? Seria um simples acidente? Que interesses a administração Carvalho estava contrariando? A quem estava incomodando? Um acidente aéreo justamente neste momento... e com uma aeronave segura e com pilotos experientes?

Talvez a coisa foi muito bem feita. Certamente que Carvalho era muito forte e esperto e, talvez a única forma de derrubá-lo seria essa. Acho que o próprio Kriguer não contava com isso, achava que nem o Amin poderia mais afastá-lo do cargo, o que parecia impossível.

Ou tudo foi simples fatalidade?

07:30 horas

"Carvalho no IML"

Tinha chegado pouco antes das sete na Delegacia Geral e não vi nada que pudesse sinalizar algo de diferente que tivesse quebrado a normalidade.

Até então não tinha acreditado plenamente na notícia da morte de Carvalho, quase não dormi mais nada, fui tomado pela emoção,  queira ou não tinha passado a sentir respeito por ele certamente porque também me respeitava e isso tinha ficado bem claro para mim (Jorge tinha confirmado) e passei a não ter mais dúvidas sobre sua opinião.

Depois de ouvir a Rádio CBN, veio a notícia confirmando aquilo que até então eu teimava em não acreditar, Carvalho realmente morreu e com ele mais dois oficiais da PM e que estavam na aeronave. A notícia era verídica, o repórter que fazia a cobertura disse que seu corpo estava no IML e por volta de 08:00 horas seguiria para a Assembleia Legislativa onde será velado até ao meio-dia, para em seguida ser transladado para Blumenau onde será enterrado.

Ouço Celestino Secco ser entrevistado sobre a situação das Pastas da Segurança e Justiça. Primeiramente ele lamentava o falecimento ‘"desse extraordinário Secretário" e passa a responder que essas Secretarias possuíam Adjuntos que responderiam normalmente, sendo que no final de semana o Governador Amin deveria pensar em alguns nomes.

08:50 horas

"O fator Paulo Koerich"

João Carlos Mendonça – Assessor Especial de Comunicação Social da SSP é entrevistado pela CBN e diz que todos ainda não acreditam ainda no que aconteceu, todos estavam chocados.

Volta e meia se fazia referência a Paulo Koerich – Assessor Especial da SSP - relatava que estava junto do  Secretario e vinham de Joinville, só que ficou no aeroporto de Navegantes. Lá teria insistido para que Carvalho seguisse com ele para Blumenau, entretanto,  o mesmo havia resistido ao convite, mesmo tendo argumentado que na manhã seguinte o levaria até a Capital.  Ironia do destino? Era o fim da era Carvalho.

09:00 horas

"O Bric à brac: As pessoas, as emoções e o poder"’

Braga chegou até a Assistência Jurídica.

(...)

  • ‘Tu vais’ lá na Assembleia?
  • Não, não vou!
  • Eu também não, mas gostaria de ir.
  • Não! Eu prefiro fazer as minhas preces interiores.
  • Ah,sim! Eu até podia não concordar com as ideias dele, mas foi algo chocante, eu conhecia o Maiochi.
  • É verdade e fica no ar este sentimento, comoção que afeta todos nós, estava torcendo pelo Carvalho, foi uma pena.
  • Sim, tu concordavas então com a administração dele?
  • O que eu quero dizer é que pelo que conversei com o Moretto ele estava querendo acertar os problemas das entrâncias, fazer imperar a hierarquia, colocar nas Delegacias Regionais Delegados de entrância pelo menos compatível com a graduação da comarca e isso era muito importante.
  • Sim, mas tu vê todo aquele trabalho que tu fizestes para ele não foi utilizado.
  • É verdade, mas não que ele não quisesse, foi porque estava  enfrentando fortes pressões políticas, sempre foi assim, e que é difícil resistir, acho que até ele estava até se expondo.
  • Bom, se eu passasse por ele não iria me reconhecer eu não tinha relacionamento com ele.
  • Se ele me encontrasse certamente me reconheceria.
  • Sim, mas tu fizestes aqueles trabalhos para ele, mas eu só estive com ele não mais de três minutos lá no edifício Dona Angelina.
  • Sim, tu já tinhas me dito.
  • Eu sei que não é hora de se falar, mas como será que vai ficar a Secretaria de Segurança?
  • Os adjuntos vão assumir.
  • Sim, mas tem adjunto?
  • Tem. Na Segurança é um tal de Dotta, eu não conheço e na Justiça tem o Leo Rosa, agora ninguém sabe o que vem por aí.
  • O Júlio é um nome forte. O Heitor não tem as mínimas condições, aliás, ele e o Júlio nunca mais se elegem para nada.
  • Eu acho que não vai mudar nada, o Moretto deve permanecer na Delegacia Geral e talvez o Backes venha assumir a Segurança Pública.
  • Bom, quem colocou o Moretto, todo mundo sabe, foi o Backes, o Backes quase que impôs o nome do Moretto.
  • O quê?
  • Sim. Quem colocou o Moretto na Delegacia Geral foi o Backes.
  • Puxa Braga tu estais sempre me surpreendendo, sempre trazendo essas novidades...(na verdade, segundo me contou Narbal, meu colega de faculdade de Direito, Fiscal da Fazenda e Grão Mestre Maçon, foi ele e mais um pessoal quem colocou Moretto, mas também não poderia duvidar do cacife de Backes)
  • Era para ser o Maurício. Eu até fico puto da cara quando dizem que o Heitor queria colocar o Maurício na Corregedoria Geral e eu no cargo de Delegado-Geral, só que eles me mandariam fazer um curso no exterior para que ele assumisse.
  • Essa conversa eu também ouvi, nem me lembro mais quem me contou, mas era comentário corrente.

(...)

O desabafo de Braga soava como algo muito antigo nos bastidores e deveria constar de coletâneas de velhos livros que nunca existiram na instituição, pois não interessava mostrar o lado feio das coisas (e das pessoas), a começar como buscam o poder pelo poder a qualquer custo.

09:30 horas

"Positivo"

Vinha do café com pão de queijo, estava comprando jornais, quando encontrei Márcio Fortkamp que me lançou uma pergunta:

  • E daí, vai lá na Assembléia?
  • Não. Não vou. Já está encima da hora e daqui a pouco vão levar o corpo para Blumenau  e depois já tem gente que chega.
  • Que nada, o pessoal tem entrado.

E na medida em que fomos nos afastando eu sinalizei positivo com o polegar da mão direita.

 

DÉCIMA PARTE

11.06.99

"Esperanças dissipadas: Requiém por Carvalho":

Nos jornais catarinenses e na própria mídia nacional..., não há outro assunto, que não seja a morte de Carvalho..., agora parece que transformado em mito...:

Queda de helicóptero mata secretário

Aeronave, um Águia Uno da Polícia Militar caiu por volta das 23h30min. E explodiu ao bater em um morro. Além do secretário, morreram dois oficiais da PM, o coronel Maiochi e o tenente Guimarães. Governador Esperidião Amin foi avisado do acidente em Brasília, onde estava em reunião com FHC

O secretário da Segurança Pública, Luiz Carlos Schmidt de Carvalho, e mais dois oficiais da Polícia Militar de Santa Catarina morreram ontem, por volta de 23h30min em acidente envolvendo o helicóptero Águia Uno da PM. Eles voltavam de uma viagem a Joinville quando a aeronave caiu num morro perto de Morretes, município de Biguaçu, a 60 Km ao Norte de Florianópolis. A base aérea ficou sabendo do desastre somente à uma hora da madrugada de hoje (...). Promotor – Luiz Carlos Schmidt de Carvalho tinha 47 anos, era casado e tinha três filhos. Natual de Lages, era formado em Direito pela Univali. Promotor de Justiça desde 1980, foi chefe do Departamento de Direito Público na FURB e professor da Escola Superior da Magistratura e professor permanente da Escola Superior de Advocacia. Também foi professor de Direito e vice-diretor da Univalli. Exerceu ainda o cargo de secretário de Planejamento e Desenvolvimento de Itajaí. No currículo profissional do ex-secretário da Segurança, que era doutorando em Direito da USMA, em Buenos Aires, consta a especialização em Direito Internacional pela Illinoys Wesleyan University de Chicago, nos EUA, além de ter feito especialização em Direito Público, na UFSC. No governo Vilson Kleinubing, Carvalho foi titular da Secretaria da Justiça e da Administração. Durante os quatro anos em que o PMDB ficou no governo, Schmidt de Carvalho voltou para Blumenau, onde reassumiu as funções de promotor da 4a Vara Cível, até ser convocado pelo governador Esperidião Amin para assumir a pasta da Segurança Pública, que passou a acumular a de secretário da Justiça. O governador Esperidião Amin foi comunicado do acidente em Brasília.

(‘O Estado’, 11.06.99, pág. 03)

Durante todo o dia de ontem em Joinville...:

Carteiras de habilitação são entregues

Raquel Tolazzi

Joinville

Janete da Silva foi a primeira joinvilense a receber a carteira nacional de habilitação digitalizada. A entrega foi feita às 17h de ontem, na sede da Delegacia Regional, com a presença do secretário estadual da Segurança Pública, Luiz Carlos Schmidt de Carvalho, do diretor-geral do Detran/SC, delegado Wanderley Redondo, e da delegada regional Marilisa Bohem de Ilma. Participaram ainda da cerimônia outras autoridades policiais e políticas. Foram entregues ontem mais 13 novas carteiras.

(...)

‘A carteira de habilitação está se tornando um documento de identidade. Não será mais preciso apresentar outro documento, como acontecia com o modelo antigo’, disse o delegado Wanderley Redondo. O diretor-geral do Detran/SC explicou ainda que existe uma demanda reprimida em Joinville de dois mil processos prontos para serem expedidos.

(Diário Catarinense, 11.06.99, pág. 5)

E pensando nas pessoas e nas coisas, não pude deixar de registrar o mura das lamentações, justamente ele que me escolheu para o cargo de Diretor da Penitenciária de Florianópolis e deixou um mar  de frustrações:

Frases:

(...)

‘A política só me tem proporcionado desgostos. Não me encontro confortável nesse universo. Perdi tempo, dinheiro e saúde. Agora veio a gota d’água. Chega!

Péricles Prade, advogado, escritor, que está renunciando ao mandato de vice-prefeito de Florianópolis

(Diário Catarinense, 11.06.99, pág. 3)

Sim, parece mesmo o fim da era Carvalho...?

Sim, Carvalho estava trilhando o projeto de integração, mas tinha limites e sabia muito bem disso. Quanto ao projeto de unificação dos comandos das Polícias, não se sabe o que poderia advir. Mas essa entrevista mostra toda a sua sabedoria, sintonizada, num primeiro momento,  com uma boa polícia operacional e, talvez,  fornecendo as bases para uma futura polícia institucional. Se isso fosse verdade, uma ousada estratégia de Amin, Júlio Teixeira, Knaesel, Backes e Moretto estaria certa, mas agora só o tempo poderá dizer:

(...)

Tolerância zero marcou a curta gestão

(...)

Autor de propostas inovadoras para a segurança em Santa Catarina, Carvalho ganhou destaque com a proposta de implantação do plano de tolerância zero, para tornar a polícia mais eficiente.

Foi buscar inspiração no modelo adotado pela prefeitura de Nova York, para onde viajou no início do ano integrando a comitiva da prefeita de Florianópolis, Angela Amin.

Carvalho defendia a modernização da polícia tecnológica Santa Catarina para aumentar a eficiência na solução de crimes. “Precisamos formar uma polícia quase cibernética”, declarou ao Diário Catarinense em janeiro, menos de um mês depois de tomar posse.

Sonhava com o aparelhamento da corporação e justificava que exames como o de DNA eram fundamentais para a solução de crimes. Criticava a falta de computadores nas delegacias e defendia o treinamento dos policiais em informática.

Uma das bandeiras que o secretário empunhava era a integração entre as polícias Civil e Militar. “Os sistemas de rádio das duas corporações não se comunicam entre si”, exemplificou após assumir, queixando-se da falta de sintonia entre as corporações.

Determinou que todos os cursos promovidos pela Polícia Civil tivessem representantes da Militar entre os participantes, e vice-versa. “Mas não se pode quebrar uma cultura de 100 anos em 10 dias”, resignava-se, dando a entender que o caminho para a integração era longo.

Esta semana, afirmou que não tinha intenção de concorrer nas eleições municipais do ano que vem, mas vinha sendo cortejado por partidos principalmente em Blumenau. Não era filiado a nenhum partido político.

(Diário Catarinense, 11.06.99, pág. 23)

 

DÉCIMA PRIMEIRA PARTE

11.06.99

10:30 horas

"Modos idiossincráticos":

Desço para o café e vou até onde se encontrava Wilmar Domingues que lá estava ele solitário, sentado no mesmo lugar em que outrora estava Osnelito:

- Como é que está o nosso misantropo? (perguntei, com o copinho de café indo a boca)

E Wilmar já estava grilado com os meus termos. Nos dias anteriores tinha recomendado que ele utilizasse o pensamento quântico’, ao invés de ficar preso a ideias fixas de defender a sua honra de ataques de supostos inimigos, além de falar em ‘modo idiossincrático’, ‘mazelas’, 'matizes', tudo parecia se encaixar, na tentativa de uma libertação

  • Não vai lá na Assembléia?
  • Não Wilmar, já tem tanta gente lá.
  • Que nada doutor, é bom.
  • Eu sei, mas tudo bem, já tem gente que chega.

(...)

11:00 horas

08. O retorno de Júlio Teixeira?

Wilder (Agente Prisional) telefona da Penitenciária:

(...)

  • E agora doutor como é que vai ficar?
  • Não sei Wilder.
  • Conversei com o Júlio?
  • É mesmo?
  • Sim. Conversei com ele pessoalmente.
  • E daí?
  • Numa hora dessas não dá para ficar parado.
  • Sim, eu entendo a tua situação.
  • Ele é um dos fortes candidatos a assumir na Assembleia.
  • Como é que é?
  • Ele disse que vai assumir na Assembleia como Deputado, ele é suplente.
  • Ele te disse isso?
  • Sim. Ele falou e eu falei no seu nome.
  • Fizestes isso Wilder?
  • Claro doutor, não dá para ficar de fora, o senhor com o seu conhecimento, como é que pode isso?
  • Wilder eu não quero mais nada, estou muito bem.
  • Não doutor, ele me disse que se assumir o senhor vai ser o Diretor de Planejamento, vê se o senhor aceita, pelo amor de Deus doutor.
  • Wilder ele só falou isso porque sabe que nós somos muito amigos.
  • Não doutor, ele falou de verdade, pelo amor de Deus.
  • Olha Wilder eu até entendo essa tua preocupação, mas não quero nada para mim.
  • Eu sei doutor, mas o senhor não vai ficar de fora.

(...)

16:30 horas

Ademar Rezende (ex-Delegado-Geral) marca presença na Assistência Jurídica, estava trajando paletó, gravata, sentou-se e foi tomar um mate na cuia da Jô, enquanto eu sentado no meu canto. Este dia talvez já prenunciava grandes expectativas e daí a curiosidade já era geral: Quem vai assumiu o quê? E a Secretaria da Justiça, será que o Promotor de Justiça Paulo Cezar vai decolar no Sistema Prisional? Qual são os projetos?

*Textos inéditos baseados em fatos reais, extraídos da série de livros "Haporema - I, II, III, IV e V", deste autor (sem data para lançamentos).

*A publicação desses textos serve para homenagear o Secretário Luiz Carlos Schmidt de Carvalho (Promotor de Justiça e ex- Secretário de Estado da Administração, Segurança Pública e Justiça), que faleceu em serviço na data de 11.06.1999.

*Meus agradecimentos e homenagens também a todas as pessoas reportadas, algumas delas já falecidas e que deram sua contribuição para fins de registros históricos.