UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UEVA

CENTRO DE LETRAS E ARTES – CLA

CURSO: LETRAS HAB. EM LÍNGUA PORTUGUESA

DISCIPLINA: PRÁTICA DE PESQUISA III

PROFESSORA: FRANCISCO FRANCILEI BEZERRA DE ARAÚJO 

 

HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA¹

 

Katiana Maria de Morais Ricardo²

 

1  PERSPECTIVAS DA HISTÓRIA DE UMA LÍNGUA

1.1 História externa: evolução da cultura em seus reflexos línguísticos

 

Uma língua constitui um sistema vivo de comunicação, que visa o entendimento e a compreensão entre os falantes. Dessa forma, a língua é um instrumento de interação de uma sociedade, e como tal, está em frequente transformação.

A língua portuguesa teve origem na Península Ibérica no que chamamos de Galiza e norte de Portugal. A romanização da Península foi fator decisivo para a formação da língua portuguesa. De acordo com Tufano (1983, p.66), “Com o tempo, Roma foi crescendo e, à medida que conquistava novos povos, impunha o latim como meio de comunicação obrigatório, transformado-o assim em língua oficial por toda a extensão do longo império romano.”

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¹ Artigo científico elaborado na disciplina: Prática de Pesquisa III, ministrada pelo professor Francisco Francilei Bezerra de Araujo  e solicitado como requisito necessário para a conclusão da referida disciplina no curso de Letras habilitação em língua portuguesa da Universidade Estadual Vale do Acaraú, 2011.2.

² Acadêmica do curso de Letras da UVA habilitação em língua portuguesa regularmente matriculada na disciplina em epígrafe no semestre letivo 2011.2.

O idioma português é fruto da România, nome que se dá ao Império Romano e seus conjuntos de províncias. Tendo derivada do latim vulgar falado pelos soldados romanos que ocuparam e impuseram sua língua, a língua portuguesa, faz parte das chamadas línguas neolatinas ou românicas. Afirma Coutinho (1976, p.46):

A língua portuguesa proveio do latim vulgar que os romanos introduziram na                           Lusitânia, região ao ocidente da Península Ibérica. Pode-se afirmar, com mais propriedade, que o português é o próprio latim modificado. [...] o idioma falado pelo povo romano não morreu, como erradamente se assevera, mas continua a viver, transformado, no grupo de línguas românicas ou novilatinas.

Apesar da influência do latim, a formação da língua portuguesa se deve também a outros fatos históricos, pois antes e depois dos romanos, outros povos se fixaram na península e deixaram suas marcas e suas influências. Coutinho (1976, p. 46), “Vários povos antes dos romanos nela se haviam fixado. [...]. Com efeito, é bastante confusa a história da Península antes da conquista romana.”

Depois do processo de romanização, sofreu a Península a invasão dos bárbaros germânicos, em diversos momentos e com diversidade de influências, que muito contribuíram para a fragmentação lingüística.

No século V despejaram-se sobre a península as hordas bárbaras que desde muito rondavam o Império e ultimamente tinham transposto pacificamente, recebendo terras para cultivar. Vieram os alanos [...]; os vândalos [...]; os suevos e os visigodos. (GLADSTONE, 1981, p. 70).

Após os bárbaros, vieram os árabes consumando a série de fatores externos que viriam a explicar a diferenciação lingüística do português da forma que hoje conhecemos. Apesar do da grande contribuição na cultura e na língua – especialmente no léxico –, a permanência muçulmana não teve força suficiente para apagar as permanentes marcas de romanidade das línguas peninsulares.

 

1.2 História interna: evolução fonética, morfológica, sintaxe e semântica

A história interna trata da estrutura da língua e suas modificações no decorrer do tempo nos diversos níveis linguísticos (Fonética, Morfologia, Sintaxe e Semântica). A formação e a própria evolução da língua portuguesa contam com um elemento decisivo: o domínio romano, sem desprezar por completo a influência das diversas línguas faladas na região antes do domínio romano sobre o latim vulgar.

Com várias invasões bárbaras no século V, e a queda do Império Romano no Ocidente, surgiram vários destes dialetos, e numa evolução constituíram-se as línguas modernas conhecidas como: neolatinas. Na Península Ibérica, várias línguas se formaram, entre elas o catalão, o castelhano, o galego-português, deste último resultou a língua portuguesa.

O galego-português era uma língua limitada a todo Ocidente da Península, correspondendo aos territórios da Galiza e de Portugal. O galego apareceu durante o século XII e XV, aparecendo tanto em documentos oficiais da região de Galiza como em obras poéticas como nas cantigas trovadoresca e nos teatros de Gil Vicente.

Foneticamente a língua passou por uma rápida evolução, como Saraiva e Lopes (1975, p. 22) afirmam “Com efeito, a língua portuguesa passara desde cerca de 1350 por uma rápida evolução fonética.” Dessas evoluções podemos citar a uniformização das terminações nasais, por exemplo: antes “Leon”, agora “Leão”. Contração dos hiatos como nos exemplos: (foedum > feo > feio), (credere > creer > crer).

Sob o ponto de vista morfológica a evolução se deu através da biformização quanto ao gênero das palavras terminadas em –or, -ol e –ês ( senhor, espanhol e português por exemplo antes podiam ser do gênero feminino), agora não temos as formas do feminino ( senhora, espanhola, portuguesa). Através da sobreposição do sistema de demonstrativos ‘este, esse, aquele’ por exemplo, ao sistema ‘aqueste, aquesse, aquele’. Dentre outras.

Sintaticamente podemos considerar que desapareceram, entre outras, construções partitivas e a dupla negação.  Torna-se frequente a anteposição do artigo definido aos possessivos, por exemplo ‘o meu’.  Segundo Saraiva e Lopes (1975, p. 24), “Esta evolução processa-se mais ou menos espontaneamente, pelo jogo de factores histórico-sociais.”     

Quanto aos Árabes, [...], não ficou qualquer influência notável de estrutura morfológica ou sintáctica, mas sim um vocabulário de certo vulto, relativo à vida econômica e administrativa e em que se sobressaem termos referentes a novos cultivos, técnicas e instituições [...]. (SARAIVA e LOPES, 1975, p. 21)

  

A longa permanência dos muçulmanos em terras da Península deixou a sua marca tanto no português como no espanhol. Várias delas integraram-se ao fundo lexical da língua e encontramo-las, com plena vitalidade, em português moderno. Pertencem a campos semânticos particulares que definem bem as áreas em que a civilização árabe-islâmica então resplandecia. Encontram-se aí a agricultura, os animais e as plantas: arroz, azeite, azeitona, bolota, açucena, alface, alfarroba, javali; as ciências, as técnicas e as artes com os objetos e instrumentos que lhes estão vinculados: alfinete, alicate albarda, alicerce, azulejo, almofada; as profissões: alfaiate, almocreve, arrais; a organização administrativa e financeira: alcaide, almoxarife, alfândega; a culinária e a alimentação: acepipe, açúcar; a guerra, as armas e a vida militar: alferes, refém; a habitação urbana e rural: arrabalde, aldeia, etc.

Boa parte das palavras de origem árabe atestadas pelos dicionários já não pertencem à língua viva de hoje e são sentidas como arcaísmos. Assim alfageme, anafil, adarga, etc. A arabização do léxico português foi, pois, em outros tempos, maior que hoje. Foi também maior na parte sul do país que no Norte: por exemplo, o que no Norte se chama soro — palavra de origem latina — é designado, a partir de Coimbra, pelo termo de origem árabe almece (ou por suas variantes).

Lexicalmente, a evolução do Latim caracteriza-se pela a perda de vocábulos de configuração excepcional – perda largamente compensada por um enriquecimento expressivo obtido graças à assimilação de estrangeirismos, de palavras da gíria profissional e regional, e ainda à adopção de sufixos especiais (diminutivos afectivos e outros). (SARAIVA e LOPES, 1975, p. 17)

Como todas as línguas românicas, o português possui um vocabulário complexo: às palavras que se mantiveram sempre vivas desde a época latina, e que constituem o “patrimônio hereditário” da língua, vieram juntar-se palavras eruditas, criadas, em todas as épocas, com base no latim e no grego (ex.: internacional, automóvel e telefone em português contemporâneo). Este processo de criação vocabular começou bem antes dos primeiros textos escritos em galego-português.

2 PERÍODOS HISTÓRICOS DA LÍNGUA PORTUGUESA

 

Vários autores afirmam que a historia língua portuguesa foi dividida por Leite de Vasconcelos em três períodos: pré-histórico, proto-histórico e histórico. O primeiro vai das origens até o século IX, caracterizado pela ausência de documentação. O proto-histórico vai do século IX ao século XIII e caracteriza-se pela documentação indireta. E o histórico vem do século XIII aos nossos dias, caracterizando-se pela documentação direta.

 

2.1 Pré-histórico

 

O período pré-histórico começa das origens da língua indo até o século IX. É visto como o período da escassez de material como afirma Coutinho (1976, p. 56), “É reduzido o material desta época, constante de escassas inscrições. Só por conjectura é que se pode formar uma idéia do romance então falado”. No entanto, nessa surgem os primeiros documentos latino-portugueses.

2.2 Proto-histórico

 

O período proto-histórico é datado do século IX ao século XIII, sendo marcada pela aparição dos textos em latim bárbaro, com algumas palavras portuguesas, evidenciando a existência de um dialeto na região. Segundo declara Coutinho (1976, p.56), “Os textos que então aparecem, são todos redigidos em latim bárbaro. Neles, porém, de quando em quando, se encontram palavras portuguesas, o que prova à evidência que o dialeto galaico-português já existia nesse tempo.” Os textos redigidos em português desse período, segundo Saraiva e Lopes (1975, p. 21) são:

“[...], quer notarias (Notícias do Torto, talvez anterior a 1211, e testemunho de D. Afonso II,1214), quer literários (cantigas de João Soares de Paiva e de D. Sancho I de cerca de 1200, pois se provou recentemente ser anterior a cantiga da garvaia de Paio Soares de Taveirós).”

2.3 Histórico

 

O período do século XIII até os dias atuais é nomeado histórico. Onde todos os documentos aparecem redigidos em português. Composto por duas fases: o arcaico e o moderno.

Período arcaico: do século XII ao século XVI.  O primeiro documento data de 1189. No século XII surge a “Cantiga da Ribeirinha”, primeiro texto redigido inteiramente em português. Em 1290, D.Dinis, o Rei Trovador, funda, em Coimbra, a primeira universidade e torna obrigatório o uso da língua portuguesa.

Desde fins do séc. XII até cerca de meados do séc. XVI, em que o Português começa a sujeitar-se a uma disciplina gramatical e escolar, decorre o seu período chamado arcaico, embora o seu arcaísmo de então seja muito menor [...]. (SARAIVA E LOPES, 1975, p. 21)

 Período moderno: do século XVI até hoje. É marcado por movimentos como o Renascimento literário, a publicação das primeiras gramáticas e a publicação de “Os Lusíadas”, de Camões. No século XVI, com o aparecimento das primeiras gramáticas que definem a morfologia e a sintaxe, a língua portuguesa entra na sua fase moderna. Em 1572, “Os Lusíadas”, de Camões, apresenta uma língua muito próxima da atual, tanto na morfologia quanto na estrutura das frases. A partir daí, a língua sofre apenas pequenas mudanças.

5. BIBLIOGRAFIA

CHAVES DE MELO, Gladstone. Iniciação à Filologia e a Linguística Portuguesa. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976.

COUTINHO, Ismael de Lima. Gramática Histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976.

SARAIVA e LOPES, António José e Oscar. História da Literatura Portuguesa. Editora Porto: 8ª ed. 1975.

TUFANO, Douglas. Estudos de Língua e Literatura. Volume1. Editora Moderna. 2ª ed. 1983.