Joselita Marques Santos

Resumo: Neste trabalho o foco e a análise recaem sobre as fontes para a história da educação. A cultura escolar, bem como o espaço-escola, serão apresentados não como novos objetos de pesquisa, mas como fontes nunca antes notadas pelo investigador.

Palavras-chave: espaço escolar; cultura escolar; fonte histórica; historiador; subjetividade.

A pesquisa sobre fontes para a história contemporânea e, especificamente, para a história da educação vem sendo feitajá há algum tempo por diversos autores, a exemplo do francês Dominique Julià, dos espanhóis Antonio Viñao Frago e Agustín Escolano e de brasileiros como Rosa Fátima de Souza.

O resultado dos trabalhos realizados por esses historiadores, no que se refere ao novo sentido de objeto histórico, é bastante significativo: o conceito de fonte históricaampliou-se e o olhar do pesquisador tornou-se ainda mais aguçado.

É importante ressaltar que esse pesquisador não precisou ir muito longe na busca por seu objeto. Bastou-lhe somente uma observação mais acurada e as fontes, mesmos as antigas, foram tiradas da inércia[1] na qual se encontravam. Isto é o que na atual concepção da história chamamos de 'apropriação'[2]. O objeto já existia, a percepção que o historiador tinha dele é que se tornou diferente.

Mas uma fonte que já existe pode ser considerada como nova?

Se tomarmos a palavra novo como algo recente, que acabou de ser feito, não compreenderemos o que há de inovação em termo de fonte histórica. Porém, trazendo para a concepção de algo que é notado pela primeira vez, chegaremos à conclusão que as fontes históricas sempre existiram e que são novas porque foram pensadas como tal.

O pesquisador da história da educação tem-se revelado um excepcional investigador no que se refere à localização dessas fontes. Estas, por sua vez, nunca lhe são por demais difíceis de ser encontradas ou silenciosas o bastante para que não lhe digam algo. Dominique Julià, citando Armando Momigliano, comenta que "as fontes podem ser encontradas se temos a tenacidade de ir procurá-las".[3]

Dentre as mais recentes concepções de fonte histórica para a educação, duas merecem destaque: a cultura escolar e o espaço-escola.

A primeira, segundo Julià, é vista como

"um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto depráticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos;".[4]

Somente no discurso histórico moderno é que se concebe um conjunto de 'normas' e 'práticas' como sendo fonte da história. Nota-se que o caráter objetivo, pelo qual o objeto era analisado, foi dando lugar a uma concepção mais subjetiva na qual está inserido o indivíduo em suas relações.

Numa análise sobre a cultura escolar, Rosa Fátima de Souza destaca que

"a escola está sempre vinculada à formação de pessoas, à produção de indivíduos e subjetividades. Por isso, o que se ensina e como se ensina nela não é uma questão menor mas se encontra no centro de uma compreensão mais acurada, sobre as relações entre educação, cultura e poder."[5]

Já a segunda concepção, evocada a partir da análisede objeto histórico – a saber, o espaço escolar -ajuda a compor o quadro sobre a utilização de novas fontesPode-se argumentar, por exemplo,que a arquiteturasempre foi considerada uma fonte, dessa forma a natureza novado objeto pode ser posta em questionamento. De fato, enquanto construção material, o estudo do espaço escolar não apresenta nenhuma singularidade. Porém, é necessário frisar, que foi

"dentro da história da escola como realidade social e material, como cultura específica, que a questão do espaço e do tempo escolares adquiriu importância nos últimos anos.".[6]

Foi esse tratamento teórico dado às questões organizativas, curriculares, didáticas e até ideológicas do espaço escolar que mudou o foco da pesquisa histórica. A partir dessas e outras discussões foi que se "empreenderam investigações que tornaram evidente a necessidade de um estudo específico do espaço escolar que integrasse perspectivas diferentes". [7]

Outras muitas observações e considerações sobre os novos olhares lançados às fontes históricas mereceriam aqui ser discutidas. Todavia,nos bastaremos com o que diz Antonio Viñao Frago:

"O caminho se faz ao andar. Para dar respostas a essas perguntas é necessário indagar e investigar. Refletir e contrastar. Escrever e esperar. Esperar que o pensamento amadureça e esperar a resposta de outros. Nunca o silêncio".[8]

Referências bibliográficas:

FRAGO, Antonio Viñao e ESCOLANO, Agustín. Currículo, espaço e subjetividade: a arquitetura como programa. Rio de janeiro: DP&A, 1998.

JULIA, Dominique. A cultura escolar como objeto histórico. In: Revista Brasileira da Educação. n. 1. Campinas: Editora Autores Associados/SBHE, Janeiro/Junho. 2001. p. 9-43.

SOUZA, Rosa Fátima de. Um itinerário de pesquisa sobre cultura escolar. In: CUNHA, Marcus Vinícius da (org). Ideário e Imagens da Educação Escolar. Campinas: Autores Associados; Araraquara, SP: Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, 2000. p. 3-27.



[1] JULIA, Dominique. A cultura escolar como objeto histórico. In: Revista Brasileira da Educação. n. 1. Campinas: Editora Autores Associados/SBHE, Janeiro/Junho. 2001. p. 15.

[2] SOUZA, Rosa Fátima de. Um itinerário de pesquisa sobre cultura escolar. In: CUNHA, Marcus Vinícius da (org). Ideário e Imagens da Educação Escolar. Campinas: Autores Associados; Araraquara, SP: Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, 2000. p. 5.

[3] JULIA, Dominique. Op. cit. p. 19

[4] Ibidem, p.10.

[5] SOUZA, Rosa Fátima de. op. cit p.5.

[6]FRAGO, Antonio Viñao e ESCOLANO, Agustín. Currículo, espaço e subjetividade: a arquitetura como programa. Rio de Janeiro: DP&A, 1993. p. 13

[7] FRAGO, Antonio Viñao e ESCOLANO, Agustín. op. cit. p. 12-13

[8] Ibidem, p. 16.