HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL

 

INTRODUÇÃO

            A evolução dos conhecimentos humanos é clara em todos os campos e com o passar do tempo, novas significações foram se adequando às necessidades do homem (RAMOS, 1982).

            Na história da Educação Física esse processo acontece de forma vagarosa, mas de suma importância para as novas concepções que se transformaram até chegar aos dias atuais.

            Sua trajetória vem ao longo do tempo, passando por inúmeras fases, desde a Pré-História com a prática dos exercícios físicos. Situa-se na Antiguidade, tendo como principais referências Grécia e Roma (MORAES, 2009).

            Na Idade Média torna-se um período obscuro da Educação Física. Começa a se fundamentar na Idade Moderna e acentua-se na Idade Contemporânea.

            A transição das eras que a humanidade sofreu, fez com que os exercícios físicos tomassem rumos diversificados e influenciados pela cultura sócio-filosófica de cada era e, portanto repercutindo em novos pensamentos de Educação Física (RAMOS, 2004).

            Com o passar do tempo, essas mudanças tornam-se cada vez mais presentes e com a invenção da máquina, seguido de seu aperfeiçoamento o homem começa se tornar cada vez mais escravo do trabalho e como consequência nasce à necessidade de lazer, por meio de atividades físicas de caráter natural, médico, musical, psicomotriz e desportivo e principalmente na visão pedagógica (CHIÉS, 2004).

            A Educação Física no Brasil surge no período da colonização e é influenciada por diversas fases, desde a Idade Moderna até os dias atuais, que marcaram sua trajetória na história, principalmente na época da ditadura que durou por muitos anos (MORAES, 2009).

            Alguns processos foram relevantes para a transformação das concepções tradicionais, em nosso país, resultando hoje, numa nova realidade da disciplina.

            Com a evolução constante do ser humano, nasce a Educação Física dos dias atuais.

CAPÍTULO 1 – EDUCAÇÃO FÍSICA: UM BREVE RELATO DE SUA HISTÓRIA NO TEMPO.

            O homem primitivo possuía grandes preocupações com sua sobrevivência. Essa época, da Pré-História era marcada com os primeiros exercícios físicos atribuídos para o ataque e defesa (MORAES, 2009).

Essas atividades eram naturais e observadas mais pelos músculos, do que pelo cérebro e esse processo foi durante muito tempo hereditário (RAMOS, 1982).

            Segundo Ramos (1982) as experiências vividas no meio hostil desenvolveram habilidades e forças competentes, para que a espécie humana fosso perpetuada.

            Esses exercícios foram resultados naturais, influenciados nos ensaios de erros e nas práticas de preparação dos guerreiros.

            O instinto de preservação do homem primitivo também estava ligado aos Deuses, que eram homenageados não só com a dança, mas também com grandes festivais e cultos aos mortos (RAMOS, 1982).

            De acordo com Ramos (1982) na era antiga, algumas atividades físicas tiveram como referência significativa o mundo oriental, com influências da Ioga, Kung fou, Jiu jitsu e até o Pólo. 

            As primeiras teorias sobre Educação Física surgiram no período Clássico, tendo Grécia como referência (CHIÈS, 2004).

            O povo Grego tinha como maior preocupação o corpo, que deveria ser perfeito e sadio. Seriam os protótipos da beleza humana, com corpos bem torneados e inspirados pela crendice dos Deuses. As formas humanas eram sãs e belas, modelos de força e beleza (CHIÈS, 2004).

 Chiés (2004) escreve que os atletas eram considerados semideuses e possuíam status social de grande importância, com corpos esculturais que se assemelhavam aos Deuses da época (Zeus, Apolo, Poseidon e outros).

Em Atenas a Educação Física tinha caráter educacional, com preocupação mais ampla do físico e intelecto chamada de Paidéia (educação global).

As crianças até os 6 anos brincavam com jogos de bola (eperística), brincadeiras formadas por exercícios livres. Aos 13 as atividades eram recreativas com a utilização de uma esfera feita com bexiga de boi e capa de couro de animal recheada com pelos e cabelos (epyskiros) eram manipuladas com os pés e as mãos (CHIÉS, 2004).

Dos 13 aos 18 anos os exercícios físicos eram de vigor e coragem e após essa idade os jovens gregos entravam para a escola de preparação militar chamada de efebéia.

Segundo Paula Chiés (2004) as mulheres atenienses praticavam somente exercícios rítmicos e práticas domésticas, idéia de formação que não muda muito nos dias de hoje.

As práticas esportivas Gregas eram formadas principalmente pela corrida, tendo a ginástica como atividade preparatória e de aquecimento. A modalidade mais importante na época era o Pentatlo constituída por 5 provas: corrida, salto, arremesso de disco, arremesso de dardo e luta (CHIÉS, 2004).

Na cidade de Esparta a Educação Física possuía sentido agonístico, que era a preparação militar, com muita agressividade, com práticas para a guerra e luta.

A família espartana educava os filhos até os 7 anos, depois o Estado se responsabilizava pela educação da criança, começando a vida militar muito cedo, orando em local de preparação militar, as casernas. (CHIÉS, 2004).

Após os 12 anos o regime tornava-se mais violento e muitos não conseguiam sobreviver por serem mais fracos ou eram sacrificados ou se tornavam pensadores da época. O instinto de sobrevivência fazia com que roubassem para na passar fome, se fossem descobertos eram punidos com castigos cruéis.

As mulheres espartanas eram preparadas para as práticas físicas esportivas, pois assim, estariam aptas à maternidade e trariam ao mundo filho com uma evolução da raça humana mais perfeita (PAULA CHIÈS, 2004).

A cidade de Roma teve grande influência nos exercícios físicos no período Clássico visando, primeiramente a preparação militar para defesa do território e na conquista interna, depois essas práticas possuíam caráter higiênico e desportivo (RAMOS, 1982).

J. J. Ramos (1982) escreve: o processo das práticas físicas que marcou mais foram os espetáculos nas arenas, em que as lutas dos gladiadores eram violentas e sanguinárias.

Segundo Chiés (2004) os lutadores eram escravos selecionados ou prisioneiros de guerra, chamados de Ludus Gladiatoris que treinavam em escola especializadas em lutas para esses espetáculos de sangue.

            Alguns artistas romanos motivados pelos exercícios físicos, principalmente na escultura e arquitetura, deixaram um legado significativo, com as construções de instalações desportivas em que se praticavam atividades corporais (RAMOS, 1982).

            As influências atenianas, espartanas e romanas duraram por longo tempo, até que grupos religiosos dominantes começaram a fazer parte da sociedade e as práticas dos exercícios físicos foram proibidas, pelo fato da exposição do corpo nu (MORAES, 2009).

            A Idade Média marcou profundamente a história da Educação Física. Foi um período obscuro e de completa ignorância da civilização européia (RAMOS, 1982).

            A religião, nessa época, foi determinante em diferentes aspectos da sociedade. Acreditavam em um único Deus que estava no céu e os seres humanos habitavam a terra e estes divididos, em copo e alma, que era valorizada pela oração e assim o homem estaria mais perto de Deus (CHIÉS, 2004).

            De acordo com Chiés (2004) a Igreja afirmava que o ser humano era pecador e recebia como castigo as doenças, que repercutiam no corpo.

            Neste período, o corpo era considerado como um material simples, denominado carne, que era anulado pelo pensamento religioso do pecado e o conhecimento da natureza humana, o uso da razão, não resolveriam os problemas morais do homem, somente a relação espiritual com Deus, fé, crença e liberação da alma evitaria a degeneração humana (CHIÉS, 2004).

            As poucas atividades físicas praticadas, nessa época eram para atender as necessidades da sociedade medieval e da Igreja, por meio das Cruzadas.

            Chiés (2004) escreve que essas atividades preparavam militarmente os cavaleiros (casta militer), que eram os nobres e seus filhos, possuidores de armarias, cavalos, terras e posses que defendiam os interesses da Igreja.

            Os cavaleiros desenvolviam o corpo de forma que conseguissem manusear as armas, cavalgarem e outras ações para a guerra (RAMOS, 1982).

            Sua formação era fundamentada no juramento de fidelidade. Até os 7 anos de idade, a família é responsável pelo processo de fortalecimento do corpo, ensinar a cavalgar e correr.

            Com 12 anos começa como pajem de outro senhor, pratica exercícios preparatórios para a guerra, boas maneiras, leitura e escrita. (CHIÉS, 2004).

            Torna-se escudeiro aos 14 anos de idade e aperfeiçoa habilidades como corridas com armadura pesada, manejo de lança, espada, arco-flecha e cavalgar em galope.

            Aos 21 nos é consagrado cavaleiro sob um cerimonial religioso de juramento e recebe a armadura, esporas e espada, mostrando-se submisso aos seus senhores. (RAMOS, 2004).

            O torneio era uma prática de atividade física disputada entre nobres cavaleiros realizada com jogos eqüestres. A competição era até a morte e muitos competidores ficavam com ferimentos muito graves e quem ganhasse receberia u,m penhor, geralmente os cavalos (CHIÉS, 2004).

            Por ser muito violento, a Igreja condenou o torneio e assim surgiram algumas normas, para essa prática, como armas sem pontas, golpes violentos eram proibidos e armaduras.

            Com essas mudanças essa atividade começou a perder a importância e foi substituída por outras atividades como tiro ao alvo, jogos de bola, truque, esgrima e outras manifestações populares. Os nobres não participavam dessas práticas (CHIÉS, 2004).

            Segundo Moraes (2009) a caça foi uma prática como passatempo ou exercício de equitação para os nobres. Com o processo civilizador ela torna-se objeto de repulsa e repugnância na sociedade resultando em seu desaparecimento.

            Após essa fase obscura da Educação Física, que durou muito tempo, ela surge novamente no período do Renascimento, com a valorização do corpo, influenciado pela cultura grego-romana, em que os exercícios físicos assumem um papel fundamental na história, o Renascer (CHIÉS, 2004).

            Nessa época surge uma nova concepção a Humanista, que engloba a educação intelectual, moral e física, tendo como maior preocupação o homem (CHIÉS, 2004).

            De acordo com Ramos (1982) a educação física começa a se destacar com Vittorino da Feltre em 1.378, que fundou a Casa Giocosa. Os exercícios físicos, nesta escola eram praticados ao ar livre, pois para Feltre a atividade física auxiliaria o aluno a tornar-se bom, pelo fato de que a atividade intelectual, para ser bem aproveitada precisava da distração encontrada na Educação Física.

            Vittorino de Feltre acreditava que um corpo sadio e forte sem a presença de vícios, conseguiria resistir a doenças e influenciaria positivamente na alma. (CHIÉS, 2004).

            Segundo Chiés (2004) Feltre criou um programa sistemático de ginástica sem os aspectos militares, voltada às necessidades de pessoas comuns. Os exercícios corporais harmonizados com os intelectuais trariam benefícios ao espírito dos jovens.

            No período Iluminista as mudanças na sociedade são presentes e com isso há a necessidade de formar indivíduos fortes e trabalhadores, pautados na razão e principalmente no conhecimento científico. O homem como objeto de estudo da ciência para conhecer o copo humano (CHIÉS, 2004).

            Essa época foi marcada pelo filósofo e educador Jean Jacques Rousseau, responsável por difundir em toda Europa seu ideal da educação natural, em que o homem chegaria a uma autonomia com suas próprias atitudes e seu olhar ara o que enxerga (RAMOS, 1982).

            Segundo Chiés (2004) Rousseau acreditada que a educação naturalista seria a melhor opção para uma criança. Na primeira infância (animal) teria liberdade com poucas restrições. N segunda infância (selvagem), ampla variedade de jogos se brincadeiras realizados ao ar livre. Na pré-adolescência (pastoral) atividades agrícolas e artes manuais. Na adolescência (adulto), jogos coletivos para aprender aspectos morais e sociais (interações).

            Para Ramos (1982) Guts Muths em 1.793 contribuiu com expressividade, na educação física, escrevendo etapas de exercícios físicos para o desenvolvimento individual do homem, em seu livro “Gymnastics for the Young”:

1-      Caminhar e correr.

2-      Saltar livre e com aparatos.

3-      Exercícios de suspender e carregar para os músculos costais, puxar e empurrar, defender e combater.

4-      Esgrima.

5-      Escalar.

6-      Exercícios de equilíbrio ou balanços com o uso de aparatos.

7-      Arremesso e arqueria.

8-      Natação.

9-      Exercícios de flexibilidade, potência e velocidade.

10-  Dança.

11-  Treinamento de sentido estético.

No iluminismo são desenvolvidos os primeiros estudos anatômico e fisiológicos de interesse científico influenciados pelas práticas de atividades física, para o conhecimento do funcionamento do corpo humano (CHIÉS, 2004).

Nessa época aparecem artistas como Michelangelo, Leonardo da Vinci e muitos outros que valorizaram o corpo, por meio de suas obras, principalmente o corpo feminino (CHIÉS, 2004).

O período Contemporâneo regula os primeiros sistemas de Educação Física determinados com princípios pedagógicos. Os centros culturais são representados pela Alemanha, Suécia e França com seus métodos de ginástica característicos e próprios (RAMOS, 1982).

            A educação física germânica foi influenciada por algum tempo pela ginástica por etapas de Guts Muths e substituída pela de Jahn com exercícios de força e energia. (RAMOS, 1982).

Durante o Nazismo os exercícios físicos eram orientados para o campo d batalha, superioridade racial com emprego da força sobra à razão.

            Com a queda de Hitler surgem métodos humanistas pedagógicos e democráticos com o aparecimento da música e ginástica natural austríaca, desportiva e voltada para o trabalho, resultando numa Educação Física artístico-rítmica-pedagógica, a técnico e a desportiva (RAMOS, 1982).

De acordo com Ramos (1982) o movimento Sueco, na ginástica se manifesta de forma significativa, por influência de Per Henrik Ling (1776-1839), com seus exercícios corporais livres e segmentários, com sentido formativo e higiênico. Seu sistema ginástico era dividido em 4 princípio: pedagógico, médico, militar e estético.

Ling fundou o Instituto Real e Central de Ginástica em Estocolmo, com princípios pedagógicos e médicos nas atividades físicas. Os exercícios desenvolvidos eram posturas, com movimentos respiratórios, que melhorassem a saúde da população. Eles possuíam efeitos corretivos e ortopédicos (RAMOS, 1982).

Esses exercícios poderiam ser executados por ambos os sexos, para tidas as idades e classes sociais (CHIÉS, 2004).

            A Educação Física também teve influência do método ginástico Francês, fundado por Francisco Amoros Y Ondeano. Esses exercícios eram dedicados à preparação da guerra, visão militar e como função da força de trabalho, indivíduo saudável para produzir, (CHIÉS, 2004).

Segundo Chiés (2004) Amoros cria a ginástica civil, em que militares e população pudessem praticá-la e assim formar o homem completo e universal. Algumas séries criadas por ele ainda são utilizadas em nosso dias como: correr, saltar, exercícios de equilíbrio, tiro ao alvo, esgrima, equitação, exercícios ritmados com canto, tão valorizados, por ele, pois desenvolvem a respiração e outros.

Hoje há novas concepções para a Educação Física, passando por Lê Boulch, líder da psicomotricidade, referências que dão novo sentido a sua prática até aos autores atuais que escrevem sobre uma Educação Física que contribui com seus conteúdos da cultura corporal do movimento, na formação cidadão do aluno.

CAPÍTULO II – EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL: UMA HISTÓRIA DESCONHECIDA

            A história da Educação Física no Brasil está atrelada desde a colonização do nosso território. Os seus primeiros habitantes, os índios foram os principais percursores das atividades físicas (RAMOS, 1982).

            Esses exercícios físicos eram de caráter natural, idêntico das civilizações primitivas e tinham caráter para a sobrevivência.

            Poe instinto, os índios sabiam que as qualidades de um corpo forte e sadio perdurariam a luta pela sobrevivência e da espécie. (RAMOS, 1982).

            As práticas físicas indígenas estavam ligadas à caça e pesca, natação, canoagem, arco e flecha e a corrida (CHIÈS, 2004).

            Segundo Ramos (1982) com a vida natural que levavam, esses habitantes do Brasil eram exímios caçadores, corredores e valentes guerreiros e foram exaltados em inúmeras poesias e prosas, por muitos autores brasileiros.

            Os índios brasileiros também praticavam a dança, um ritual religioso que acontecia nas cerimônias comemorativas e serviam como recreação, depois de um dia fatigado.

            O documento mais antigo que se tem como referência a essas atividades físicas indígenas é a carta que Pero Vaz Caminha escreveu para o Rei de Portugal, relatando todas as suas observações, em relação ao novo território e os índios em seu meio ambiente (CHIÉS, 2004).

            Até 1.530, o Brasil não era povoado, o interesse principal era a extração do pau Brasil. Após essa data começou a sua colonização, com a vinda dos Senhores de Engenho para o cultivo e extração da cana de açúcar resultando na escravidão dos índios (CHIÉS, 2004).

            Nobres falidos de Portugal vieram para o território brasileiro, para o processo de colonização, ganhando um pedaço de terra e torna-se fazendeiro, as chamadas Capitanias Hereditárias (CHIÉS, 2004).

            Com a chegada da Companhia de Jesus em 1.549, os padres Jesuítas eram contrários à escravidão indígena e assim começou a fase da catequização (CHIÉS, 2004).

            Os padres ficaram responsáveis pela educação dos filhos da nobreza e dos curumins, que aprendiam a ler e eram doutrinados para a religião cristã (CHIÉS, 2004).

            A crianças indígenas tinham aulas somente pela manhã. A tarde era reservada para as atividades de sobrevivência como a caça e pesca. A educação dos filhos dos nobres era baseada no Latim, filosofia, teologia e a retórica (arte de discursas em público), preparação feita para freqüentarem a Universidade de Coimbra, enquanto que os curumins estudavam de 1ª a 4ª série (educação elementar) (CHIÉS, 2004).

            As aulas eram divididas em manhã e tarde. Nesse intervalo, os alunos participavam de brincadeiras e jogos com a supervisão dos professores jesuítas e assim nasce às primeiras aulas d Educação Física na história, desde o descobrimento do Brasil (CHIÉS, 2004).

            Segundo Ramos (1982) os bandeirantes também contribuíram para as práticas dos exercícios físicos, pois precisavam de força física para desbravar o novo território, tão desconhecido.

            Os jesuítas tiveram uma importância muito grande, pois fundaram o primeiro colégio no Brasil em 1.550, o Real Colégio da Bahia. No começo, a freqüência era de brancos e índios e mais tarde só para os brancos (CHIÉS, 2004).

            A responsabilidade da educação, pelos padres durou mais ou menos 210 anos, até o aparecimento de Sebastião J. de Carvalho e Melo, o Marques de Pombal. Com idéias renovadas pelo Iluminismo, revolucionou a educação daquela época (CHIÉS, 2004).

Com a expulsão dos jesuítas do Brasil, em 1.759, a educação ficou esquecida até 1.772. Seu retorno se deu com a preocupação do Marques de Pombal, que se torna responsável pela mesma (CHIÉS, 2004).

De acordo com Paula Chiés (2004) as Reformas Pombalinas na Educação modernizaram-na a fim de criar e manter um reino absolutista e assim nascem os primeiros concursos públicos para professor.

O Estado, representado pelo Rei começou a ditar as normas para a educação. O ensino primário se preocupava com a ortografia, língua e principalmente com normas de civilidade. Foram criadas aulas de comércio para formar comerciantes aptos e, portanto contribuiriam no desenvolvimento do país (contabilidade, caligrafia e língua) (CHIÉS, 2004).

Segundo Chiés (2004) as aulas de educação física foram colocadas durante o período de aulas, mas tinha sentido de lazer e recreação, um período de descanso para os alunos. As atividades eram constituídas por jogos e brincadeiras.

Com a expansão da massa operária no território surgiu a necessidade de um tempo livre, depois do trabalho, para a distração que estava relacionada com as atividades lúdicas com intuito de entretenimento e recreação, constituída por jogos e brincadeiras (RAMOS, 1982).

Ainda no tempo colonial, com a revolta dos índios, os nobres portugueses trouxeram para o Brasil, os negros africanos. Começa a era da escravidão negra no Brasil (RAMOS, 1982).

Essa nova população trouxe consigo uma atividade física muito conhecida e praticada em nossos dias, a Capoeira. Luta impregnada de criatividade e ritmo, que era utilizada como arma de ataque e defesa em suas raízes históricas e hoje possuem sentido de resgate as origens e saúde para o corpo (RAMOS, 1982).

No final do século XVIII, a Educação Física aparece no currículo escolar só nas escolas militares, com atividades para a preparação militar com ginástica, esgrima e equitação (CHIÉS, 2004).

O principal obstáculo dessa disciplina, como componente curricular nas escolas normais foi que a elite acreditava esforços físicos desprendidos nas aulas de educação física, seria somente para os escravos. Seus filhos não tinham que praticar, somente as atividades intelectuais (CHIÉS, 2004).

Nos fins do século XVII e começo do XIX foram impressas algumas obras que falam sobre uma Educação Física ligada à saúde, por meio de exercícios físicos somados a agentes naturais (RAMOS, 1982).

O Brasil Império marcou uma nova fase dessa disciplina, mesmo que sendo por iniciativas isoladas, continuou tendo visão de higiene (RAMOS, 1982).

            Em 1.851 alguns pontos do território nacional introduziram a ginástica na escola, por meio de leis e regulamentos, mas com pouca prática (RAMOS, 1982).

Só em 1.854 decretada e regulamentada é que passou a ser obrigatória para o ensino primário e secundário. Não possuía uma estrutura definida de conteúdos. Era constituída por métodos desorganizados, com alguns jogos de bola com pouca freqüência da prática.

Nessa época era o próprio professor regente da sala que ministrava as aulas de Educação Física, sem nenhuma experiência (CHIÉS, 2004).

Essa regulamentação de 1.854, para a Educação Física foi feita por prescrições Médicas que tinham por maior preocupação a saúde, para ter uma boa força de trabalho.

O pensamento higienista era o de desenvolvimento da saúde física e moral, suas influências na prática da Educação Física tinham como maior preocupação à mortalidade infantil e a saúde precária dos operários (CHIÉS, 2004).

Esse processo higienista durou longo tempo na história, principalmente na formação dos militares, pois tinham que ter boa saúde para defender a Pátria.

Algumas idéias de Educação Física diferenciada foram transpassadas para o papel, mas com a falta de conscientização no campo prático, não foram dadas as relevâncias necessárias para as novas idéias que estavam surgindo (RAMOS, 1982).

O principal acontecimento foi em 1.882 com a declaração que Rui Barbosa fez na qual afirmava a necessidade do desenvolvimento físico e intelectual. Assim nasce às primeiras iniciativas no gênero que se tem notícia (RAMOS, 1982).

J. J. Ramos (1982) cita em seu livro a celebre afirmação feita por Rui Barbosa: “Nós não pretendemos formar acrobatas, nem Hércules, mas desenvolver a juventude pelo vigor essencial de equilíbrio da vida humana, a felicidade da alma, a defesa da Pátria e a dignidade da espécie”.

Em 1.866 aparecem outros teóricos, interessados com a problemática que a Educação Física passava, mas como todos os outros ficaram sem execução (RAMOS, 2004).

            A prática desportiva nessa época, não teve muita significação, só algumas práticas eram realizadas como provas de natação (rústicas), patinação, peteca, malha e como recreação as caçadas.

Segundo Chiés (2004) cai à monarquia no Brasil, regido por Rei e começa uma nova fase para os brasileiros: A República, regido por Presidente e Congresso. De 1.889 a 1.930 começa a primeira fase do Brasil República ou República Velha.

Nessa época a classe médica e militar, ainda tem muita influência. A ideologia que possuíam era baseada na eugenia, ciência ou disciplina que tem por objetivo o estudo das medidas sócios econômicas, sanitárias e educacionais que influenciam física e mentalmente, o desenvolvimento das qualidades hereditárias dos indivíduos e, portanto, das gerações. Pais saudáveis, filhos saudáveis resultando em gerações mais saudáveis (CHIÉS, 2004).

Essas medidas eugênicas influenciavam principalmente a saúde pública para que ocorresse aos seus descendentes e resultando uma raça brasileira mais forte, saudável e apto para o trabalho e exército. Idéia voltada para o Patriotismo e Nacionalismo (CHIÉS, 2004).

A Educação Física começa a ser utilizada como elemento de estrema importância, pois produzia indivíduos fortes e saudáveis, requisitos indispensáveis para o desenvolvimento do país, caráter puramente utilitária (trabalho e defesa da nação).

Pela importância ideológica de formar indivíduos saudáveis para o trabalho e Pátria, ela precisou ser organizada nos estabelecimentos de ensino. A formação de profissionais e incentivos para que os jovens praticassem atividades físicas e esportivas (CHIÉS, 2004).

De acordo co Chiés (2004) as escolas não possuíam estruturas adequadas, para a realização das aulas e foram requisitados espaços públicos que fossem de acordo. Nessa época já se percebe a clara divisão da educação das mulheres e dos homens. Economia política só para os meninos e as meninas economia doméstica.

            A Educação Física para os homens, era composta por marchas militares e ginástica baseada no método sueco. As mulheres realizavam atividades menos intensas com aspecto de preparação do corpo saudável, pois trariam filhos saudáveis (CHIÉS, 2004).

Paula Chiés (2004) escreve que em 1.890, com o método sueco incorporado nas escolas e o método alemão no exército para preparar grupos militares competentes, na defesa da Pátria, essa concepção higienista influenciou por muito tempo.

Em 1.907, para melhorar as condições do exército brasileiro, o governo envia militares para estagiar na Alemanha e prepará-los. Nesse mesmo período, militares franceses vieram para a Força Pública de São Paulo, para organizá-la e melhorá-la. Com o conhecimento que possuíam, formariam profissionais para a área da Educação Física (CHIÈS, 2004).

De acordo com Chiés (2004) a Força Pública de São Paulo, em 1.929, ela passa a ser Escola Superior, mas não era reconhecida pelo ministério. Seus maiores freqüentadores eram os militares, os civis tinham que pagar e seguir todos os regulamentos militares. Só após essa data houve seu reconhecimento como ensino superior, na corporação policial militar em sua formação e na do corpo de bombeiro.

No ano de 1.922 cria-se o Centro Militar de Educação Física no Rio de Janeiro e somente em 1.929, na presidência de Washington Luis é que foi criado em curso provisório para a Educação Física. A primeira turma de professores foi formada por esse curso provisório, que tinha por objetivo preparar instrutores e monitores em Educação Física e difundir o método francês, no exército, pois na escola já estava implantado (CHIÉS, 2004).

Em 1.930, começa a segunda fase da República, com a presidência de Getúlio Vargas que da todo apoio para a criação do Ministério da Educação e Cultura (MEC) e assim em 1.931 a Educação Física passa a ser obrigatória em todos os estabelecimentos de ensino secundário (RAMOS, 1982).

Segundo Chiés (2004) no início o professor regente da sala que ministrava as aulas de Educação Física, possuindo curso especializado obrigatório. O método utilizado era o francês resultando na era da esportivização.

Os médicos tinham ainda um papel importante. Realizavam testes práticos voltados para a preocupação das condições de saúde do aluno. Exames no início e final do ano eram realizados para detectar algum problema de saúde (CHIÈS, 2004).

De acordo com Castelani (1998) nesse período os perfis de masculino e feminino ainda estavam estereotipados e influenciados pela concepção higienista. As mulheres deveriam praticar atividades que fossem de acordo com suas formas harmônicas e que contribuíssem para a maternidade futura.

Os conteúdos trabalhados na escola, nas aulas de Educação Física para o ensino secundário eram: ginástica (método francês), movimentos com flexões e cambalhotas, jogo e modalidades esportivas e jogos / brincadeiras.

Ainda em 1.931 foi criado o Departamento de Educação Física de São Paulo, órgão responsável em difundir, orientar e fiscalizar o desenvolvimento da Educação Física no Estado, escolas, clubes, centros de formação. Hoje esse departamento é conhecido com CONFEFE (Confederação da Educação Física do Estado) (CHIÉS, 2004).

Ramos (1982) escreve que em 1933 o Centro Militar de Educação Física é ampliado e passou a ser chamado de Escola de Educação Física do Exército, responsável pelo aperfeiçoamento das técnicas pedagógicas e desportivas brasileira.

Um passo decisivo em sua história foi à fundação da Escola Nacional de Educação Física e Desportos em 1939, integrada a Universidade do Brasil com grandes conquistas no campo das atividades físicas (RAMOS, 1982).

Com a chegada do Estado Novo, o governo de Getúlio Vargas foi significativo para a Educação Física, pois com a Constituição de 1937 dá uma posição de destaque em seu artigo 131, dando obrigatoriedade em todas as escolas primárias, normais e secundárias, facultativa no ensino superior, mas com a mesma concepção higienista (CHIÉS, 2004).

O Estado Novo teve sua finalização e em 1948 começa a elaboração de um projeto, as Diretrizes e Bases para a Educação Nacional que proporcionasse direitos iguais a todos os brasileiros. Esse projeto só foi promulgado 13 nos depois em 1961, Lei nº 4.024 a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que organiza toda a sistematização de ensino do Brasil (CASTELANI, 1998).

A LDB também regulariza a Educação Física como componente curricular obrigatório em todos os níveis da educação, até o ensino médio, com limite de idade, menores de 18 anos. Para os maiores não seria obrigatório (CHIÉS, 2004).

Na ditadura, em 1971 a LDB teve modificações significativas. O ginasial era profissionalizante, sistema educacional mecanizado com objetivos para o desenvolvimento da nação (CASTELANI, 1998).

Nesse período a Educação Física possuía papel utilitário, com caráter de preparação para o mercado de trabalho. Era obrigatória, mas facultativa, em caso de mulheres com prole, trabalhadores que estudassem a noite, militares, pessoas com mais de 30 anos e pessoas incapacitadas fisicamente (CHIÉS, 2004).

Segundo Paula Chiés (2004) foi à era da pedagogia tecnicista, que tinha como principal objetivo à eficiência, a capacidade. Preparar o aluno eficiente e ir para o mercado de trabalho e a escola seria o meio para moldar essa eficiência.

De acordo com Lino Castelani (1998) a compreensão da Educação Física, nessa época, era a Educação do Físico, saúde bio-fisiológica e aprimoramento do físico para o mercado de trabalho.

Na década de 70 teve o início do processo de esportivização nas escolas, tendo como objetivo a competição, aptidão física e condicionamento físico. Formar talentos esportivos para competições internacionais para representar a Pátria, sentido nacionalista e propaganda positiva do regime da ditadura (CHIÉS, 2004).

Castelani (1994) escreve em seu livro que essa era de esportividade, nesse período nada mais era que a ordem da produtividade, competência e eficácia inerente ao modelo social da época, na qual a nação se identifica (instrumento político e positivista).

Surge no início dos anos 70, o movimento Esporte Para Todos (EPT), proposta de um esporte não formal, com acesso às atividades físicas de lazer, pela camada da população menos privilegiada, a qual trazia melhoria para a qualidade de vida do povo brasileiro (CASTELANI, 1998).

Na década de 80 começa o movimento renovador progressista da Educação Física na escola, em que a preocupação estava em trabalhar o desenvolvimento psicomotor da criança, adaptando as atividades a cada nível de idade, desde a pré-escola até o ultimo nível de ensino. Uma Educação Física pensando no todo: físico, social e emocional do aluno (CHIÉS, 2004).

Chiés (2004) escreve que o papel da Educação Física nos anos 80 possui dimensão política, agente de transformação, por meio de pressupostos pedagógicos autônomos, conscientes e críticos.

De acordo com Castelani (1998) após a década de 80 a Educação Física começa a tomar um outro rumo, com concepções mais preocupadas com o lado formativo do aluno.

Preocupações que vão até os dias de hoje, com pressupostos humanistas formadores, baseados em autores que possuem essa mesma preocupação, resultando na conscientização de órgãos públicos educacionais, que atualmente editam referências para a Educação Física.

CONCLUSÃO

A História da Educação Física teve início na pré-história com caráter de sobrevivência, passando pelo cultuamento do corpo pela Grécia.

Período em que o pensamento de corpo e mente possuíam separação. O corpo era mais valorizado que a mente. Idéia dualista que persistiu durante longo tempo.

Essa época pode ser relacionada com a febre das academias, nos tempos atuais, cujo principal objetivo dos jovens é o culto ao corpo belo e torneado, influências de um passado tão distante e ao mesmo tempo, presente nos dias de hoje.

No percorrer da história da Educação Física temos a presença de grupos dominantes que a influenciaram e que a utilizaram como instrumento de interesses políticos ou individuais, desorientando seus valores reais.

Profissionais dessa área que sempre passaram pelo estereótipo de serem apolíticos e que são simplesmente protótipos de beleza e saúde, hoje buscam a quebra do paradigma ideológico que insiste persistir na visão de muitas pessoas.

Hoje temos uma Educação Física como área de conhecimento, responsável pelo estudo de aspectos sociais, antropológicos do movimento humano, que busca se mostrar conhecedora da consciência corporal do homem.

Atualmente é possuidora de uma proposta transformadora de sua prática, que permita desestabilizar a hegemonia mantida, por outras tendências.

Os profissionais atuais posicionam-se, de forma, que as atividades corporais ministradas procuram configurar e formatar conhecimentos, para o indivíduo aprender a construir uma sociedade justa e que atue co autonomia, consciência e criticidade.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA:

  • CASTELANI, Lino Filho. Educação Física no Brasil; a história que não se conta. Campinas:      Papirus, 1998.
  • CHIÉS, Paula V. Iluminando o corpo: As contribuições científicas ao conceito de      corpo. Dissertação (Mestrado) – Escola de Educação Física e Esporte -      Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004.
  • RAMOS, J. J. Os      Exercícios Físicos na História e na Arte do Homem Primitivo aos nossos dias.      São Paulo. Ibrasa, 1982.  

           

BIBLIOGRAFIA COMPELENTAR

  • MORAES, Luiz Carlos. História da Educação Física. Disponível em 01/04/2009.

www.cdof.com.br/história.htm.