UMA BREVE SINÓPSE: HISTÓRIA DA AGRONOMIA NO BRASIL
Eguinaldo José Rosa1
Isaias Luis Leal2
Resumo
A partir do momento em que homem aderiu a agricultura em sociedades organizadas, começa aos poucos o surgimento das primeiras práticas agronômicas através da observação e compreensão da relação entre agricultura e o meio ambiente, sendo que esta passa a ser oficializada na Europa em meados de 1700. Surgindo assim no Brasil, por pressões políticas da aristocracia agrária ainda no governo imperial, então no séc. XVIII surge as primeiras universidades dedicadas ao estudo agronômico no país. O objetivo deste trabalho é fazer um breve levantamento histórico da agronomia e todos os contextos que levaram ao seu surgimento no Brasil. Certamente esta profissão exerce grande importância até os dias de hoje, tendo ao profissional engenheiro agrônomo a responsabilidade e o compromisso de produzir alimento e preservar nossas fontes de matéria prima.
Palavras-chave: Agronomia. Agricultura. Engenheiro Agrônomo.
1 INTRODUÇÃO
Há espécie humana é existente acerca de 200 mil e somente há 15 mil anos atrás deixou de sobreviver da caça e da coleta, passando a ser a própria produtora e cultivadora de seu alimento, aderindo para o seu modo de vida a agricultura. Desde então o homem passou a dominar esta prática e adquiriu ao longo do tempo cada vez mais experiências e conhecimento.
Ao passar dos anos pessoas eram encarregadas de administrar a agricultura em sociedades organizadas e passavam a observar os fenômenos que ocorriam, desde ataques de pragas, doenças, quantidade a ser produzido, também o solo e estudar respostas e soluções para os acontecimentos. Deste modo surge o agrônomo e a prática agronômica, que se refere ao ato de estudar a agricultura e contribuir para o seu desenvolvimento.
A medida que as cidades iam se urbanizando e aumentavam o êxodo rural, a prática agronômica passa a ser oficializada e praticada com maior intensidade para o desenvolvimento e o aumento da produção de alimento, já que a população aumentava exponencialmente. Então surgindo na Europa as primeiras universidades que estudavam agronomia.
1 Eguinaldo José Rosa, Acadêmico do curso de Agronomia na Universidade Federal da Fronteira Sul; e-mail: [email protected]
2 Isaias Luis Leal, Acadêmico do curso de Agronomia na Universidade Federal da Fronteira Sul; e-mail: [email protected]
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No Brasil a agronomia surge por uma ação do governo que estava sendo pressionado pela aristocracia agrária que o mantinha e que estava sofrendo grandes dificuldades na produção agrícola, pela falta de mão-de-obra. Percebe-se então que ela se insere no Brasil com uma filosofia capitalista de produção, que não atendia as demandas populacionais, somente a da aristocracia, surgindo assim uma série de contextos políticos para que o estudo agronômico no Brasil fosse se moldando e mudando sua filosofia.
O presente artigo tem por objetivo através da pesquisa literária, realizar um breve histórico do surgimento da agronomia no Brasil, dando enfoque aos contextos que levaram à criação deste estudo no país e como foi se transformando ao longo do tempo.
2 HISTÓRICO E ORIGEM DA AGRONOMIA NO BRASIL
Antes de falarmos do surgimento da agronomia no Brasil, um breve histórico nos permite entender as origens desta palavra e a importância que ela deteve para as sociedades organizadas. Efetivamente a palavra agrônomo se estabelece primeiramente em relação a agronomia, segundo Almeida (2004, p.01) o termo Agronomia vem “ (do grego agrônomos, 1361) estudo cientifico dos problemas físicos, químicos e biológicos apresentados pela pratica da agricultura”... “Na sua origem, a palavra agrônomo falava do magistrado encarregado da administração da periferia agrícola da cidade”. Já o termo agronomia só foi oficializado em 1848, quando na França é fundado o Instituto Nacional Agronômico de Versailles, mas como apresentado o termo agrônomo já era utilizado nos finais da revolução francesa em meados de 1700. Silva comenta sobre a oficialização do termo agronomia:
Na França, a primeira escola foi a de Roville, fundada em 1822. Teve, porém, curta duração, encerrando suas atividades em 1842. Em 1829 foi fundada a Escola de Agricultura de Grignon, onde em 1819 já havia um Conselho de Agricultura. Em 1848, quando já existiam 70 fazendas escolas, a França organizou o seu ensino agrícola por meio do Decreto de 3 de outubro. Em 1875 procedeu-se uma reestruturação do ensino que abrangia três níveis. No primeiro nível, as Fazendas Escolas eram destinadas à instrução elementar prática; as Escolas Regionais de Agricultura, no segundo nível, davam instrução teórica e prática de acordo com a região; e, no terceiro nível, o Instituto Nacional Agronômico era superior para o ensino científico da agricultura. (SILVA, et al, 2010, p.22).
Desde que o homem deixou de coletar e caçar seu próprio alimento e começou a utilizar a terra como seu meio de produção, acumulou ao longo dos anos um grande conhecimento de como produzir alimentos que foi passado de gerações a gerações. E em consequência das grandes revoluções humanas dos séculos XVIII e XIX, houve mudanças expressivas no modo
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de produção de alimento, que passou de sustentação básica para uma produção em larga escala à medida que as nações se urbanizavam, surgindo assim a agronomia que se utilizou do conhecimento acumulado do homem do campo para atribuí-lo no estudo cientifico e incorporá-lo nas tecnologias.
A, Agronomia, como um ramo das ciências naturais, teria a atribuição de estudar cientificamente o desenvolvimento da agricultura. Esta atribuição pressupunha pensar na agricultura e suas relações, buscando soluções e avanços para a atividade, com base em um saber científico, porém dentro da filosofia do sistema capitalista. (CAVALLET, 1999, p.47).
A medida em que é oficializada agronomia na Europa e reconhecida no mundo no séc. XVIII, ela também surge motivada por certos acontecimentos, ainda no mesmo século no Brasil, para satisfazer a demanda da aristocracia que pressionava o governo imperial a criar uma solução técnica para continuar a produção de produtos agrícolas. Segundo Souza (1993, citado por Cavallet, 1999, p.48) “ com a gradativa extinção da escravidão, o declínio da cana-de-açúcar no Nordeste e da pecuária no Sul, que se concretizaram as condições para o surgimento da ciência agronômica no Brasil”.
A aristocracia agrária em processo de decadência, tanto no Nordeste como no Sul, devido ao deslocamento do eixo econômico do país para o sudeste, através da lavoura do café, pressionava continuamente o governo imperial, na busca de uma solução para o problema de mão-de-obra e de comércio e competitividade de seus produtos agrícolas. (SOUZA,1993, citado por CAVALLET, 1999, p.48)
No contexto em que a produção agrícola na época foi direcionada aos produtos de exportação, Capdeville fala que as práticas de monocultivo, a estocagem de alimentos, a obtenção de processos agrícolas com retornos rápidos de lucros e uma crescente carência de diversidade de alimentos no país, geraram uma grande insatisfação popular, surgindo assim, por grande força destes fatores os primeiros cursos de agronomia no Brasil.
Então em 1875, foi criada a primeira escola de agronomia do Brasil, mais precisamente em São Bento das Lages, interior da Bahia. Hoje o curso está vinculado a Universidade Federal da Bahia, campus Cruz das Almas. Já a segunda escola foi fundada em Pelotas, interior do estado do Rio Grande do Sul em 1883, hoje fazendo parte da Universidade Federal de Pelotas. Vale ressaltar que ambas as escolas foram criadas durante o imperialismo pelos interesses dos aristocratas agrários. (TOSCANO, 2003, p.1).
Desde então foram criadas várias escolas espalhadas pelo Brasil para atender a demanda crescente pelos profissionais da época.
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1.887: IAC – Instituto Agronômico de Campinas;
1.894: Escola Politécnica, Agronomia, em SP, tendo diplomado um total de 23 desses profissionais até 1910, quando o curso foi desativado;
1.900: Escola Agrícola Prática São João da Montanha, em Piracicaba;
1.901: Escola Agrícola Prática Luiz de Queiroz; hoje ESALQ - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz.
1.908: ESAL – Escola Superior de Agricultura de Lavras.
1.915: Primeira mulher a se diplomar em Agronomia, na Escola de Pelotas, RS.
1.922: Escola de Agricultura e Veterinária de Viçosa.
1.940: Escola de Agricultura e Veterinária de MG transformou-se em Universidade Rural do Estado de MG, atualmente é a Universidade Federal de Viçosa (UFV);
1.960: início da fase de estabelecimento de vários Cursos de Pós-graduação em Agricultura.
1973 - Criação da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), durante o regime militar. Segundo Silva et al: “ Em 7 de dezembro de 1972 foi sancionada à lei nº 5.881, que autorizava o poder Executivo instituir empresa pública, sob a denominação de Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) ...” (SILVA ET AL, 2010, p. 26).
A profissão de engenheiro agrônomo veio a ser reconhecida no dia 12 de outubro de 1933 quando foi promulgado o decreto 23.196/1933, dia esse que passou a ser comemorado como “Dia do Engenheiro Agrônomo”. Anteriormente em 1910 com a criação da primeira escola agrícola houve a regulamentação do curso, que visava em formar apenas uma mão-de-obra para trabalhar com a agricultura.
O Decreto nº 23.196, de 12 de outubro, regulamentou a profissão do agrônomo ou engenheiro agrônomo obrigando-o a registrar o diploma no Ministério da Agricultura (BRASIL, 1933a). A data de 12 de outubro ficou consagrada como o dia do Engenheiro Agrônomo. Logo em seguida é baixado o Decreto nº 23.569, regulando o exercício das profissões dos Engenheiros, Arquitetos e Agrimensores (BRASIL, 1933b). Pelo mesmo decreto, os agrônomos ficaram subordinados a fiscalização do Confea. (SILVA et al, 2010 p.42).
O profissional engenheiro agrônomo da época estava mais ligado as políticas de governo em relações as questões agrárias, do que propriamente o exercício da profissão para o desenvolvimento agrário, por isso os primeiros profissionais formados no país atuavam trabalhando para o governo.
Segundo Capdeville a partir de 1950 com incentivo e a cooperação dos Estados Unidos da América, surge a extensão rural, primeiramente em Minas Gerais com a chamada (ACAR) Associação de Crédito e Assistência Rural, e rapidamente se espalhando por todo Brasil com
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(ABCAR) Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural, sendo que em 1973 foi restruturada e formada a (EMATER) Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural, que ainda é atuante nos dias de hoje no Brasil.
Outro fator que ajudou a disseminar a agronomia no Brasil foi a Revolução Verde, característica pelo uso de sementes melhoradas, insumos agrícolas e a mecanização. Logo após a Segunda Guerra Mundial as empresas que possuíam tecnologia voltada para os meios militares tiveram que se reorganizar, passando a desenvolver produtos para os mais variados meios da sociedade. A agricultura no Brasil se mostrava como uma das atividades mais rentáveis economicamente, e que poderia receber a inserção da tecnologia comerciável3 desenvolvida por essas empresas.
Com a tecnificação intensiva da agricultura, esta atividade, que até então era relativamente autônoma, passou a ficar gradativamente dependente do conjunto de empresas e indústrias que atuavam no setor. A dependência não se restringiu apenas a área técnica, mas passou a ser também econômica e até política. A integração da produção agrícola com o setor industrial respectivo passou a ser identificado como complexo agroindustrial. (MÜLLER 1989, citado por Cavallet, 1999 p.24).
O caso brasileiro ilustra bem a situação definida pelo pesquisador: se de um lado está a melhoria econômica, do outro persistem os problemas sociais. “Para usarmos exemplos brasileiros, entre 1970 e 1985, o aumento na produção de alimentos básicos para a população foi de 20%, enquanto que a de produtos de exportação (cacau, soja...) cresceu da ordem de 119 a 1.112%. O país ocupa hoje lugar de destaque entre os países exportadores de alimentos, contrastando com uma população de milhões de subnutridos”. (OCTAVIANO, 2010).
Vale ressaltar outro marco na história da agronomia no Brasil, a criação da FAEAB (Federação das Associações de Engenheiros Agrônomos), em 12 de outubro de 1963, uma entidade que passa a lutar como representante em suas principais lutas em diferentes momentos históricos. Muitas dessas lutas tiveram apoio da FEAB (Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil), entidade responsável pela representação do movimento estudantil de Agronomia até os dias de hoje, suas deliberações acontecem através dos CONEAs (Congresso Nacional de Estudantes de Agronomia). (FEAB, 1996, citado por Cavallet, 1999 p.61)
3 A tecnologia comercializável concentra-se fundamentalmente em três áreas do conhecimento: a genética, selecionando sementes e matrizes; a mecânica, desenvolvendo máquinas, tratores e implementos; e, a química, sintetizando fertilizantes, corretivos e agrotóxicos. (Cavallet, 1999 p. 24).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desde o início da agricultura quando o homem deixou de ser coletor de alimentos passando a cultivar as terras acumulou-se um grande conhecimento, a agricultura deixa de ser de subsistência, passando a produção de larga escala. A soma destes fatores faz com que seja necessário, profissionais que dominem o conhecimento da agricultura e que possam repassar aos agricultores. Já no Brasil no governo imperial quando a escravatura estava em processo de extinção os aristocratas pressionavam o governo para que este trouxesse uma solução técnica para satisfazer a demanda que a agricultura brasileira estava tendo.
A produção estava se modernizando, e o que antes era para satisfazer a demanda interna passa a ser produzido em larga escala para ser exportado a outros países e a pouca diversidade de alimentos no Brasil faz com que a demanda por esses profissionais seja fundamental. Eis que surge então o primeiro curso de agronomia do Brasil no interior da Bahia no ano de 1875.
Desde então várias escolas de agronomia foram criadas no Brasil, como o Instituto Agronômico de Campinas em 1887, a ESALQ em 1901e a Universidade Federal de Viçosa em 1940. Além da criação da EMBRAPA em 1973, uma importantíssima empresa de pesquisa até os dias de hoje.
A regulamentação do curso se deu em 1910 com a criação da primeira escola agrícola, mas o reconhecimento da profissão só se deu em 12 de outubro de 1933, data que é comemorada até hoje como dia do Engenheiro Agrônomo.
Inicialmente os agrônomos trabalhavam basicamente para o governo em políticas de estado, com o incentivo dos EUA surge a extensão rural no Brasil que rapidamente se espalha com a ABCAR, sendo que após reestruturação em 1973 é criada a EMATER, que permanece atuante até os dias de hoje.
Um fator que com certeza alavancou a profissão foi a Revolução Verde, que com o uso intensivo de tecnologia agrícola demandou o conhecimento desses profissionais para que se obtivesse um melhor aproveitamento dos recursos disponíveis.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Jalcione. A AGRONOMIA ENTRE A TEORIA E A AÇÃO. 2004. Disponível em: <http://www.ufrgs.br/pgdr/arquivos/423.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2015.
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CAVALLET, Valdo José. A FORMAÇÃO DO ENGENHEIRO AGÔNOMO EM QUESTÃO: A expectativa de um profissional que atenda as demandas do século XXI. 1999. Disponível em: <http://www.unioeste.br/cursos/rondon/agronomia/docs/formacao_do_eng_agronomo.pdf>. Acesso em: 16 ago. 2015.
CAPDEVILLE, Guy. O Ensino Superior Agrícola no Brasil. 1991. Disponível em: <http://emaberto.inep.gov.br/index.php/RBEP/article/viewFile/471/482>. Acesso em: 18 ago. 2015.
OCTAVIANO, Carolina. Muito além da tecnologia: os impactos da Revolução Verde. 2010. Disponível em: <http://www.dicyt.com/noticia/muito-alem-da-tecnologia-os-impactos-da-revolucao-verde>. Acesso em: 24 ago. 2015.
SILVA, Paulo Roberto da; VALE, Francisco Xavier Ribeiro do; JAHNEL, Marcelo Cabral. RETROSPECTO E ATUALIDADE DA ENGENHARIA AGRONÔMICA: Breve Histórico da Agronomia. 2010
TOSCANO, Luiz Fernando. A AGRONOMIA ATRAVÉS DOS TEMPOS. 2003. Disponível em: <http://www.agr.feis.unesp.br/dv11112003.php>. Acesso em: 17 ago. 2015.