Heteros Evangelho.

Sermão pregado na Igreja Congregacional Emanuel -2007

 

 

·        Introdução:

 

 

GÁLATAS é uma das epistolas paulinas mais lidas e comentadas em todo o mundo cristão. As igrejas da Galácia devem ter sido fundadas por ocasião da 1.ª viagem missionária de Paulo (At 13,1-14,26). O Apóstolo dos gentios escreve a CARTA AOS GÁLATAS entre 55 e 57, a partir de Éfeso ou de Corinto, depois de 1 Ts e antes de Rm, Fl e Flm. Paulo escreveu-lhes, então, esta Carta polemica, em defesa da sua dignidade apostólica e da ortodoxia da sua doutrina cristã, reconhecida, sobretudo, pelas colunas da Igreja-mãe de Jerusalém; expõe aqui o seu pensamento sobre as relações entre a Lei de Moisés e Cristo. A Epistola aos Gálatas foi chamada de "A Declaração de Independência e da Liberdade Cristã”.

 

O grande reformador Martinho Lutero amou esta carta; ele chamou a epistola de Paulo aos Gálatas de sua "Catherine Von Bora", porque, disse, “Eu sou Casada com Ela”.

 

Os principais assuntos doutrinários abordados por Paulo nesta epistola são: Uma defesa da doutrina da justificação pela fé, advertências contra a reversão ao judaísmo, e a vindicação do apostolado de Paulo. O ataque de Paulo às "obras da lei" em Gálatas faz parte da sua polêmica mais geral contra o sistema legalista e inadequado do judaísmo palestino, como uma religião de méritos em oposição ao evangelho da graça revelada em Cristo, conforme tradicionalmente se vem afirmando.

 

 

·         É notável o fato que Paulo, contrariamente a outras epístolas suas, não inicia esta louvando seus leitores; mas atira-se do imediato à tarefa de condenar os Gálatas por tão depressa estarem abandonando o Evangelho da graça de Deus, preferindo algo que não é evangelho de forma alguma. Ele condena severamente certos mestres, os iniciadores de todo o engano os quais estavam perturbando a paz das igrejas da Galácia e corrompendo e pervertendo o Evangelho de Cristo. Mui enfaticamente o apóstolo declara que existe um só Evangelho. A lealdade a Cristo o constrange a usar linguagem extremamente franca.

 

 

 

 

 

 

I.                    Paulo condena e expõe os perigos deste “Outro Evangelho” (1:1-9).

 

1.      Primeiro é um falso ensino, desprovido de autoridade.

2.      Segundo é uma ação humana, indiretamente demoníaca, sob o juízo de Deus.

 

Paulo começa a sua carta às igrejas da Galácia defendendo sua autoridade apostólica que estava sendo deteriorada pelos Judaizantes e pelas suas doutrinas legalistas.

 

1.      Sua autoridade como apóstolo veio diretamente de Jesus (1:1).

2.      A autoridade de Jesus era a autoridade de Deus, que foi provada na ressurreição (1:1; veja Mateus 28:18 e Atos 17:30-31).

3.      O evangelho que Paulo pregou falou sobre a graça de Cristo, que se entregou pelos nossos pecados “para nos desarraigar deste mundo perverso” (1:4).

 

As religiões e os seus vários caminhos a Deus estão concentrados na atuação humana, no comportamento do homem; depende de regras humanas; esforço humano; aparência humana (por fora um monge por dentro um monstro). Assim estes eram os componentes doutrinários do Outro Evangelho.

 

·        O Outro Evangelho prega uma salvação:

1.      Causada pela Lei e não pela graça.

2.      Completada pela circuncisão e não pela eleição.

3.      Confirmada pela guarda das cerimônias judaicas e não pelo sacrifício de Cristo.

4.      Assegurada pelos estatutos de Moises e não pela perfeita obediência de Cristo.

5.      Aumentada pelas observações de dias ritualistas e não pela plenitude dos tempos em Cristo.

6.      Ajudada com as obras da carne e não pelo fruto do Espírito.

7.      Pelas obras da Lei em lugar de salvação somente pela graça.

 

 

II.                  Paulo adverte sobre o efeito nefasto do “Outro evangelho”.

 

Outro evangelho; o qual não é outro (6-7). Duas palavras gregas diferentes são aqui traduzidas como "outro"; a primeira significa um evangelho de espécie diferente (em grego, heteron), e a segunda significa outro numericamente (em grego, allo). O chamado evangelho, para o qual os gálatas se estavam voltando de fato não era evangelho, pois existe um único Evangelho.

Este falso evangelho estava sendo proclamado mesmo nos dias do apóstolo, e uma terrível maldição foi lançada sobre aqueles que o pregavam. O apóstolo continuou: “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema” (v. 8). Com a ajuda de Deus, nos esforçaremos para explicar, ou melhor, para desmascarar este falso evangelho.

 

·        Os Judaizantes admitiam a existência de um Deus pessoal, mas, em seguida, apresentam uma falsa descrição do caráter deste Deus.

 

·        Os judaizantes pregavam um evangelho existencialista: O outro evangelho se esforça para manter o homem tão ocupado com as coisas deste mundo, que não tem ocasião nem inclinação para pensar no mundo por vir.

·        Os judaizantes pregavam um evangelho filantrópico: Este evangelho propaga os princípios do auto-sacrifício, da caridade e da benevolência, ensinando-nos a viver para o bem dos outros e sermos bondosos para todos, mas tudo isso é feito pelo poder do homem e para SUS vangloria, e não na unção do Espírito Santo para a gloria de Deus em Cristo.

·        Os judaizantes pregavam um evangelho pagão: O outro evangelho ensina que a salvação se realiza por meio das obras; incute na mente das pessoas a idéia de que a justificação diante de Deus ocorre com base nos méritos humanos.

 

Eis o que o heteros-evangelho deles havia produzido: que vos perturbam (“agitar”, "molestar", "provocar perplexidade" na mente com respeito a algo. Neste caso, sugerindo dúvidas a respeito da validez do Evangelho pregado por Paulo). Aqui como em Gl 5.10 a expressão visa denotar insegurança na doutrina: querem perverter ("virar ao contrário, alterar para o oposto"). Alguns desejavam e estavam tendo exito em instalar as obras da lei no lugar da justiça de Cristo, e deste modo, corromperam o cristianismo. O apóstolo, então, denuncia com solenidade, por maldito, a todo aquele que prega outro fundamento além de Cristo. Todos os outros evangelhos, fora da graça de Cristo, embora sejam açucarados, lisonjeiros, e cheios de orgulho e justiça própria, ou mais favoráveis para as luxúrias mundanas, são invenções de Satanás.

 

O falso evangelho estava sendo proclamado mesmo nos dias do apóstolo, e uma terrível maldição foi lançada sobre aqueles que o pregavam. O apóstolo continuou: “Mas, ainda que nós (ele ou os verdadeiros apóstolos) ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema” (v. 8).

 

·        O sucesso de um falsificador de moedas depende de quão parecida à moeda falsa se torna com a genuína. E Satanás é o maior dos falsificadores. O Diabo está agora ocupado em trabalhar no mesmo campo no qual o Senhor semeou a boa semente. Ele está buscando evitar o crescimento do trigo através de outra planta, o joio, o qual é muito próximo do trigo em aparência. Em uma frase: por meio da falsificação ele está buscando neutralizar a Obra de Cristo. Por essa razão, como Cristo tem um Evangelho, Satanás tem um evangelho também; sendo este uma astuta falsificação do primeiro. O evangelho de Satanás se parece tão proximamente com aquele que ele imita, que multidões de não salvos são enganadas por ele.

·        Observe abaixo como satanás é imitador de Deus.

·        Deus tem seu Filho unigênito - o Senhor Jesus? Tal qual Satanás tem "o filho da perdição" (II Tessalonicenses 2:3).

·        Há uma Santa Trindade? Há de igual modo uma trindade do mal (Apocalipse 20:10).

·        Lemos sobre os "filhos de Deus"? Do mesmo modo lemos também sobre "os filhos do maligno" (Mateus 13:38).

·        Deus opera nestes que foram citados de modo a determinar e fazer a Sua vontade? Então somos informados que Satanás é "o espírito que agora opera nos filhos da desobediência" (Efésios 2:2).

·        Há o "mistério da piedade" (I Timóteo 3:16)? Há também o "mistério da injustiça" (II Tessalonicenses 2:7).

·        Aprendemos que Deus através de Seus anjos "assinala" os Seus servos nas suas testas (Apocalipse 7:3)? Assim também aprendemos que Satanás através de seus agentes assinala nas testas os seus devotos (Apocalipse 13:16).

·        É-nos dito que "o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus" (I Coríntios 2:10)? Então Satanás também provê suas "coisas profundas" (grego de Apocalipse 2:24).

·        Cristo faz milagres? De igual modo Satanás também pode fazê-los (II Tessalonicenses 2:9).

·        Cristo está sentando sobre um trono? Também Satanás o está (Apocalipse 2:13).

·        Cristo tem uma Igreja? Então Satanás tem a sua "sinagoga" (Apocalipse 2:9).

·        Cristo é a Luz do mundo? Então o próprio Satanás "se transfigura em anjo de luz" (II Coríntios 11:14).

·        Cristo designou "apóstolos"? Então Satanás imita tendo também seus apóstolos e obreiros fraudulentos (II Coríntios 11:13).

·        E isto nos leva a considerar o "Evangelho de Satanás".

1.      Os judaizantes eram astutos e insinceros na pregação do Evangelho. (At 15:1; Gál 2:4) Afirmando representar a Igreja de Jerusalém, estes falsos instrutores se opunham ao apostolado de Paulo e desacreditavam a posição dele como enviado de Cristo. Queriam que os cristãos fossem circuncidados, não nos melhores interesses dos gálatas, mas para que os judaizantes pudessem criar uma aparência que granjearia a aprovação dos judeus e os impediria de se oporem tão violentamente.

2.      Os judaizantes tentaram fazer uma espécie de fusão de religiões, hibrido de cristianismo e judaísmo, não negando diretamente a Cristo, mas argumentando que a circuncisão seria de proveito para os gálatas, que os faria progredir no cristianismo, e que, além disso, com ela seriam filhos de Abraão, a quem originalmente foi dado o pacto da circuncisão. 3:7.

 

 

III.                O Antídoto Apostólico contra o “Outro Evangelho”.

 

 

·        Confrontar o erro.

·        Expor o erro.

·        Extirpar o erro.

 

O apóstolo Paulo se referiu a este Heteros Evangelho, quando disse: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo” (Gl 1.6,7).  Em outras cartas, Paulo decididamente exortava citandos os nomes, como mostra Fp 4.2, mas aqui se interpõe um véu de desconhecimento entre Paulo e seus adversários. Logo devem ter sido pregadores itinerantes estranhos. Paulo caracteriza a atividade destes hereges com os seguintes verbos:

 

·        Eles “proclamam o evangelho”, mas o pervertem”, ou seja, privam-no de seu sentido (Gl 1.7).

·        Eles perturbamos gálatas, ou seja, tornam-nos inseguros em termos doutrinários (Gl 1.7; 5.10).

·        Eles “impedem” a bela corrida dos gálatas (Gl 1.6), tirando-lhes totalmente o equilíbrio.

·        Eles “persuadem” (Gl 5.8), sim “constrangem”, os cristãos pelo uso de pressão psicológica (Gl 6.12).

·        Eles tentam “afastá-los”, isolá-los de Paulo e desligá-los de sua obra missionária (Gl 4.17).

·        Eles “incitam à rebeldia” contra o apóstolo (Gl 5.12). De acordo com Gl 4.16 parece que também já se formaram inimizades contra o apóstolo entre os irmãos na Gálacia.

 

Enquanto a carta está sendo redigida, esses homens ainda estão atuando com toda a força e quase alcançam seu objetivo. As igrejas estão a ponto de se bandearem definitivamente para eles (Gl 1.6; 3.3,4; 4.9,11,21). Os mestres instalados por Paulo já ficavam sem sustento, o que se pode depreender da exortação de Gl 6.6-10. Essa situação de fundo explica a veemência incomum do apóstolo. Toda a federação galática de igrejas, com menos de cinco anos de idade, corria o perigo de despedir-se do cristianismo, não intencionalmente, mas de fato.

 

 

·        Conclusão: Paulo e as características do único e verdadeiro Evangelho de Cristo.

 

1)      O evangelho que ele pregou veio diretamente por revelação de Cristo, quando ele era um judeu fervoroso que perseguia a igreja, 1:10-16.

2)      Por vários anos permaneceu longe da igreja em Jerusalém e trabalhou independentemente dos outros apóstolos, 1:17-23.

3)      Esteve sob a direção divina em seu labor entre os gentios, e no caso de Tito, havia insistido em que ele deveria estar livre da observância da lei cerimonial, 2:1-5.

4)      A igreja de Jerusalém respaldou seu apostolado e seu trabalho entre os gentios, 2:7-10.

5)      Não vacilou em repreender a Pedro, a Barnabé e a outros judeus cristãos quando viu que eles estavam cedendo a tendências cerimoniais, 2:11-14.

 

·        A defesa de Paulo sobre a doutrina da justificação pela fé, sem as obras da lei.

1)      Ao mostrar a insensatez dos judeus cristãos que abandonavam sua nova fé e sua luz, e regressavam ao antigo legalismo, 2:15-21.

2)      Ao apelar para as anteriores experiências espirituais dos gálatas, 3:1-5.

3)      Ao mostrar que Abraão foi justificado pela fé, 3:6-9.

4)      Ao mostrar que a lei, além de não ter poder de redenção, trouxe maldição ao desobediente, da qual Cristo redimiu os crentes, 3:10-14.

5)      Ao provar que a lei não cancelava o pacto da salvação pela fé, 3:15-18.

6)      Ao indicar que a lei, como um guia, tinha o propósito de conduzir a Cristo, 3:19-25.

7)      Ao mostrar os prejuízos dos que renunciam a sua fé em Cristo e voltam ao legalismo.

 

·        As advertências, instruções, e exortações finais de Paulo.

       1) Advertências acerca dos falsos mestres, e o mal uso da liberdade, 5:7-13.

       2) Exortações acerca da vida espiritual.

       3) Características da vida espiritual.

       4) Contraste entre a doutrina dos falsos mestres e a de Paulo. A primeira se glória nos ritos cerimoniais e nas marcas da carne; a segunda, na cruz e nas marcas do Senhor Jesus, 6:12-17.

 

Finalmente, encerro afirmando que a palavra ‘lei’ no livro de Gálatas inclui em sua esfera a lei moral e a lei cerimonial; de fato, a lei cerimonial teria sido insignificante sem a lei moral, mas a lei moral – o Decálogo – permanece com todo o vigor (Mt. 5:17-18). Há um perigo contemporâneo de o cristão atentar para a ‘letra’ do Decálogo sem integrar o seu espírito (CF.Mt. 18:16-22; Gl. 5:17-22) como houve nos dias de Paulo, participando do sistema sacrifical sem atentar que os seus símbolos apontavam para Cristo. E em qualquer época, em que os cristãos caiam no erro de tentar salvarem-se a si mesmo por seus esforços para guardar o Decálogo, afastam-se da graça e tornam-se ‘embaraçados’ no ‘jugo da servidão’ (Gál. 5:1,4). Por isso, os cristãos devem fugir dos extremos do legalismo e antinomianismo, pois aqueles que dependem da graça de Deus não trabalham para sua justiça, mas esperam pela revelação final de justiça que ocorrerá no dia quando Deus pronunciar publicamente todos os seus escolhidos como “justificados” aos seus olhos por meio da fé em Cristo. Estou convencido que este é o verdadeiro e puro Evangelho da graça de Cristo, a qual não há outro.