Esta reflexão parte de leituras realizadas no curso de Pós-graduação Filosofia da Educação, no qual abordamos a questão da hermenêutica filosófica com o intuito de fazermos uma conexão com o conceber da educação. Penso que a educação deve ter como objetivo formar indivíduos críticos, participativos, abertos ao diálogo. Busca-se realizar um trabalho conjunto em que à aprendizagem seja recíproca, ocorrendo uma troca de saberes e experiências. Nesta perspectiva, defendemos que a educação não pode permanecer inoperante frente às novas atitudes de expressão da sociedade contemporânea, que em determinados momentos cria formas de exclusão. Aposto que através de discussões e leituras sobre a hermenêutica filosófica podemos contribuir com a potencialidade da comunicação tanto formativa, quanto estimuladora de um modo diferente de ensinar e aprender. Esta reflexão evidenciou, portanto, a necessidade de viabilizar a discussão acerca de uma pedagogia inserida num viés dialógico, que possa provocar um novo olhar ao educando, proporcionando o aprimoramento da busca por resposta mediante questionamentos provocados por reflexões por parte dos alunos e professores.

Atualmente existem inúmeras discussões sobre contexto educacional, em função da crise em que a sociedade atual se encontra. A sociedade está estabelecida de uma humanidade marcada e amparada na competição e ausência de solidariedade, provocada, por parte, pelo abuso de consumo e grande fluxo de informações que conduzem as performances. Frente a estes bombardeios de artifícios cabe a educação uma constante renovação e qualificação, alterando as formas de ensino e mantendo uma aprendizagem constante. Neste sentido, a investigação tem como enfoque metodológico à hermenêutica filosófica.A hermenêutica é uma abordagem que serve para nos lembrar os compromissos históricos assumidos pela Filosofia desde o seu surgimento.

Uma das fundamentais peculiaridades da sociedade moderna é a pluralidade das formas de conhecer a realidade, determinando o aparecimento de novas formas no

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*Acadêmica do Curso de especialização Filosofia da Educação da UFPA,Orientador prof. César

processo de constituição do conhecimento, o que implica na reavaliação dos métodos educativos atuais e das conseqüências da diversidade de experiências trazidas pelo desenvolvimento das novas configurações tecnológicas e pela cultura do consumo na constituição da subjetividade.

De inegável relevância, na medida em que a evolução da sociedade e também a pluralidade que a caracteriza requer uma compreensão ampla dos fatores sociais, a recepção de uma hermenêutica que amplie a visão do intérprete traz consigo a possibilidade de maior valorização dos direitos fundamentais – e conseqüente reconhecimento - desses, que são o fundamento maior do Estado Democrático de Direito.

Neste contexto recorremos a hermenêutica filosófica que terá um papel fundamental neste novo modo de entender o mundo e a educação, pois, para descobrir a verdade de cada caso, a hermenêutica de cunho filosófico, há que se vislumbrar as pré-compreensões do intérprete sobre a realidade do caso, num chamado desvelamento, que, por sua vez, ocorrerá de maneira particular em cada processo interpretativo ampliando a visão do intérprete quando possibilita a evolução das respostas do Direito aos fatos da vida.

Para se compreender a educação deve se compreender como um ser no mundo. Um ser que não está fora deste dele mais que participa ativamente dos acontecimentos que ocorre no mundo.

Segundo Stein(1996) Heidegger, e depois Gadamer, trouxeram à construção da hermenêutica filosófica, a contribuição produtiva do intérprete no movimento da compreensão, bem como a elevação da linguagem para dentro do processo interpretativo, e, também, atribuíram sentido ontológico ao conhecimento da verdade, ao contrário do apego à historicidade, realçado na hermenêutica clássica.

Ao que se demonstra, a velha concepção, calcada em regras, não se mostra suficiente diante de questões mais apuradas, sendo impossível prever os múltiplos acontecimentos da vida humana na atualidade. Diante da realidade na linguagem – evidenciada pelo cunho filosófico da hermenêutica contemporânea - por exemplo, a hermenêutica filosófica permite que o intérprete traga à fala o que compreendeu, numa perspectiva de abertura e de aproximação à realidade, inversamente no que ocorre na clássica hermenêutica, onde os símbolos – repetitivos – engolem a realidade em nome da estagnação.

A hermenêutica filosófica busca o conhecimento através da origem, considerando os pré-juízos do intérprete, todavia, sem querer torná-lo imparcial, sobretudo por que as pré-compreensões do intérprete já antecipam o caminho a ser seguido. Ao aproximar-se da origem, não se consideram as intermediações, que obstaculizam o sentido da interpretação. Nesse sentido, ao eleger "fórmulas" que descobrem a verdade, mormente o caráter metodológico que ostenta, a hermenêutica clássica divorcia-se da fonte conhecimento, deixando vago a aproximação da realidade que se apresenta.

Na educação deve-se criar mecanismo de se sentir livre para se perguntar e buscar as resposta das inquietações existentes no ser humano. Com essa afirmação vemos o peso da responsabilidade por sermos totalmente livres. E, frente a essa liberdade de eleição, o ser humano se angustia, pois a liberdade implica fazer escolhas, as quais só o próprio indivíduo pode fazer. Muitos de nós ficamos paralisados e, dessa forma, nos abstemos de fazer as escolhas necessárias. Porém, a "não ação", o "nada fazer", por si só, já é uma escolha; a escolha de não agir. A escolha de adiar a existência, evitando os riscos, a fim de não errar e gerar culpa, é uma tônica na sociedade contemporânea. Arriscar-se, procurar a autenticidade, é uma tarefa árdua, uma jornada pessoal que o ser deve empreender em busca de si mesmo.

As regras sociais são o resultado da tentativa dos homens de planejar um projeto funcional. Ou seja, quanto mais estruturada a sociedade, mais funcional ela deveria ser.

São essas regras que muitas vezes são impostas aos educandos na ação do professor em sala de aula. É preciso que o professor seja capaz de refletir sobre sua prática e direcioná-la segundo a realidade em que atua de acordo com os interesses e necessidades dos alunos. De acordo com FREIRE (1996) "É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem é que se pode melhorar a próxima prática". Faz-se necessário o estudo da formação da prática docente passada e presente a fim de possibilitar uma formação docente futura que melhore a qualidade do ensino. Quanto melhor for a formação do professor, mais profunda, abrangente e de melhor qualidade será sua aula. O professor só poderá encontrar respostas se olhar o fenômeno "Educação" com totalidade, não como um objeto que se precisa colocar em prática pra receber o resultado esperado no futuro de cada aluno..

È necessário que busque novos horizontes e veja nestes outras perspectivas e outras resposta que não estão prontas, mas que precisam ser construídas por cada ser humano. Neste contexto a hermenêutica filosófica é contemplada como algo novo a ser conhecida por cada professor, buscando uma desconstrução, uma transcendência fazendo parte do momento de construção de um aluno crítico que consiga compreender-se e compreender o mundo em que está.

Compreende a prática educativa escolar como uma prática vivida no dia-a-dia da sala de aula, que se manifesta na interação entre sujeitos, caracterizada,segundo Tardif (2002), como trabalho de humano para humano, que mobiliza nocontexto de sala de aula os diversos saberes profissionais, bem como osdistintos modelos de ação docente – as representações que os professores têm a respeitode sua prática e que orienta suas escolhas e atitudes. A necessária simultaneidadedesses tipos de ação implica na complexificação do trabalho do professor, sendomobilizadas diferentes racionalidades, que orientam práticas moduláveis nas diversassituações contingenciais que ele enfrenta cotidianamente na escola.

o processo de formação do ser humano é tão rico, complexo e variegado quanto o próprio ser humano [...] no que diz respeito ao ensino [...] o trabalho do professor não corresponde a um tipo de ação específico. Ao contrário esse trabalho recorre constantemente a uma grande diversidade de ações heterogêneas [...] o que torna complexo o trabalho do professor é justamente a presença simultânea e necessária desses diferentes tipos de ação (TARDIF, 2002, p.174).

Para Hermann (2002), Gadamer usa a ideia de horizonte para se referir as nossas possibilidades compreensivas que simboliza o próprio pensamento humano, na educação essa ideia ajudaria o educador em sua prática educativa, pois ele veria que o conhecimento que tem não é a única maneira de se buscar a verdade. Quandobusca-se no horizonte as respostas será observamos que há várias possibilidades desta busca proporcionando uma visão mais ampliada tanto para o educador como também para o educando.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra (34ª edição), 1996.

HERMAN, Nadja. Hermenêutica e educação. Rio de Janeiro, DP&A, 2002.

STEIN, Ernildo. Aproximações sobre hermenêutica. Porto Alegre, EDIPUCRS. 1996.

TARDIFF, M. Saberes docentes e formação profissional. petrópolis: Vozes, 2002.