O corpo humano é uma máquina de altíssima complexidade, tanto visto em partes quanto analisado de maneira mais geral. Cada um de seus órgãos possui funcionamentos muito específicos e exigências igualmente específicas para funcionar adequadamente – e em conjunto com os outros órgãos. Basta o desequilíbrio em um deles para que todo o conjunto seja afetado em maior ou menor escala. Um destes órgãos é o rim.

Uma pessoa normal nasce com dois rins, um de cada lado do corpo e logo abaixo da caixa torácica (onde estão os pulmões e o coração). Eles têm várias funções porém a principal é filtrar o sangue, removendo suas impurezas e eliminando-as através da urina. Na ocorrência de diabetes ou de hipertensão arterial sem controle, eles são danificados – às vezes de forma permanente. Entretanto, estes danos não costumam causar sintomas nos primeiros estágios, sendo que o paciente só perceberá que existe algo errado com eles quando o problema já estiver avançado e pouco, ou nada, poderá ser feito. É possível que a partir deste momento o paciente já precise passar pela máquina de hemodiálise com alguma frequência.

Máquina de hemodiálise: a complexidade do rim em uma grande caixa metálica

Máquina de HemodiáliseO avanço da Medicina e da indústria farmacêutica permitiu que fosse criada esta engenhoca que literalmente purifica o sangue do paciente: a máquina de hemodiálise. Ela é a responsável por retirar do sangue todas as impurezas que antes eram removidas pelos rins de maneira imperceptível. Como essa limpeza acontece?

Primeiramente é feita numa fístula arteriovenosa. Essa fístula é uma junção onde uma veia e uma artéria próximas uma da outra são unidas cirurgicamente; isso é feito para que as paredes da veia fiquem mais fortes para tolerar a punção sem romper, e também para aumentar o fluxo de sangue. Depois que esta fístula “se cura” (assim como em qualquer procedimento cirúrgico) e se estabiliza, pode passar a ser usada na hemodiálise. As punções por onde o sangue sairá e retornará serão feitas nela.

O sangue é trazido para fora através da ação de uma bomba da própria máquina de hemodiálise, com velocidade e pressão rigidamente controlados, a fim de evitar mal-estar e danos a outros órgãos do corpo. Esta bomba é necessária porque o fluxo sanguíneo gerado pelo coração humano não é suficiente para que o sangue saia do organismo, passe pela máquina, seja purificado e retorne para o corpo.

Já na máquina, o sangue chega a uma câmara onde acontece sua purificação. Nesta mesma câmara encontra-se uma substância chamada diolisato, porém ele e o sangue não se misturam, já que ficam separados por uma membrana finíssima e semipermeável (ou seja, somente algumas substâncias consegue atravessá-la, as demais não). As impurezas do sangue atravessam essa membrana e permanecem no diolisato e o sangue continua sua passagem pela máquina limpo, como se tivesse sido filtrado pelos rins. Ao fim da sessão o diolisato é substituído, ainda que haja tolerância a certa quantidade de filtragens com o mesmo diolisato.

O que a máquina de hemodiálise não faz?

Sala de HemodiáliseComo já dito, a filtragem do sangue é apenas uma das funções dos rins. Eles também controlam a quantidade de água no organismo, o equilíbrio dos eletrólitos (como sódio e potássio), controla o pH, a pressão arterial... Estas são funções que a hemodiálise não tem e que precisam ser controladas de outras formas, inclusive com uma dieta muito rígida – inclusive na quantidade de água ingerida ao longo do dia. Afinal, se os rins não funcionam mais, a água ingerida fica retida no organismo até a próxima sessão de hemodiálise. Na verdade, existe um processo realizado paralelamente à filtragem, chamado ultrafiltração, que reduz a quantidade de água no sangue. Porém, é impossível ele fazer essa remoção com a eficiência dos rins, principalmente porque os rins permanecem nessa função durante as 24 horas do dia – e a hemodiálise dura, no máximo, 5 horas e nem sempre é feita diariamente.

Outra função dos rins é a ativação da vitamina D, diretamente ligada à saúde dos ossos. Sem essa ativação, o paciente passa a sofrer com a falta da vitamina e pode sofrer lesões ósseas bastante severas.

Os rins também produzem o hormônio eritropoetina, ligado à produção das células vermelhas do sangue; como eles não funcionam mais nos pacientes renais, é necessário fazer uso de injeções que estimulem essa produção, a fim de evitar o surgimento da anemia.

A falência dos rins não pode ser substituída completamente pelas máquinas de hemodiálise – nem mesmo as mais avançadas – como se pode ver. Assim como os demais órgãos do corpo, eles não têm apenas uma função e cada uma delas deve ser “substituída” de maneira diferente, seja por sofisticados aparelhos, seja por dieta, seja por medicação. Mas é sempre bom saber que a medicina desenvolve, melhora e disponibiliza recursos tão importantes para garantir mais qualidade de vida aos pacientes.