Muito tem se discutido nos últimos anos as mudanças na LDB (Lei de Diretrizes e Bases), que para muitos acarretaria mudanças significativas na qualidade do ensino em nosso país. Mas a pergunta que paira no ar é se as mudanças burocráticas nas leis que regem a educação seria a solução definitiva ou no mínimo apaziguadora na real situação que se encontra as instituições de ensino do Brasil.

Ao assistir o documentário Pro Dia Nascer Feliz, de João Jardim, a resposta surge bem claro: não. Uma mudança nas leis de nada adiantará se não houver uma transformação no comportamento daqueles que formam o eixo dessas maquina, alunos e educadores. Quando se fala em mudanças está citando transformações não apenas psicológicas, porque essa ocorre naturalmente quando existe um cambio socioeconômico, que é a transformação emergencial.

Vê-se claramente no filme os diversos aspectos de um único problema, o desnível socioeconômico que nos leva a extremos. Em Manari, a jovem Valeria com todo seu talento o vê sufocado pela falta de oportunidade que é acarretada pela falta de investimento na educação em uma cidade que destina apena 1, 200 reais para sua única escola pública. Porém há muitos anos que precariedade de instalações deixou de ser uma problemática interiorana. Escolas de grandes centros. como a de Duque de Caxias- RJ, também convivem com o esquecimento governamental, que é apenas uma peça no quebra cabeças que ainda inclui os problemas que são reflexos de uma sociedade que vive na marginalidade e se mostra sem esperança por ter de esbarrar com as dificuldades de uma comunidade esquecida.

Na Escola Parque Piratininga II, na periferia de São Paulo, o problema não é estrutural, nem muito menos motivacional por parte dos alunos, lá se encontra uma das múltiplas faces de um único problema: a falta de apoio psicológico ao educador. É algo que para muitos que não são conhecedores da área de educação parece superficial, mas a falta de investimento cada vez mais obriga professores a exercer varias funções e dar aulas de varias disciplinas o que os leva a um esgotamento físico e mental o que os leva a faltar às aulas e criar um vácuo na carga horária de seus alunos. Um exemplo é o de Keila, que  por conta da falta de acompanhamento de professores, acabou por se desmotivar para os estudos e mais que isso, matando seus sonhos.

Bem diferente da situação de Maria Cecília e Maisa, alunas do Colégio Santa Cruz. A instituição de ensino privado da capital paulista que é responsável pela formação dos filhos da elite da maior cidade do país. Com uma equipe de docentes bem capacitados e uma excelente estrutura física tudo correria bem se não houvesse o desequilíbrio do fator família. Inseridos em uma realidade bem distinta dos outros jovens, o fator emocional e a falta de unidade familiar acaba por influenciar negativamente no desenvolvimento educacional de alguns alunos que se queixam da ausência dos pais por conta dos trabalhos que eles desempenham.

O filme Pro Dia Nascer Feliz deixa bem visível que a problemática é mais complexa do que os governantes desejam que venhamos a enxergar. O problema não é linear, não carece de uma única e remediadora solução, necessita ser vista de múltiplos ângulos, analisado por diferentes perspectivas. A causa não é única, os aspectos são socioeconômicos, culturais e comportamentais. Não bastará apenas a verba se não houver discernimento para emprega lá, não haverá alunos na sala de aula se não houver um professor motivado, e não haverá professores motivados se não existir respeito por parte dos discentes. Esse é o panorama da educação e suas múltiplas faces, que continua a espera de dias melhores.

Autora: Rocha,M.A.M