A exclamação acima utilizada como título pode significar para muitos um excesso exacerbado, um enjôo descomedido por parte daqueles que se utilizaram muito de algum alimento ou item em exagero. Depois é o estômago o atingido e muitas vezes aclamado como o fraco, o culpado. Haja Eno, nossa metonímia.

            Mas não é deste estômago que falo; bem foi ele quem forneceu inspiração ao seu diretor para que criasse um dos maiores filmes do cinema nacional brasileiro. Não é à toa que levou várias estatuetas entre os diversos prêmios disputados (e olhem que tivemos bons filmes produzidos nestes últimos anos). Composto de um elenco com caras pouco conhecidas das telas de nossas novelas globais, os atores abocanham o texto como aqueles que tem fome. E não se satisfazem, almejam mais. Produzem muito mais. João Miguel é espetacular, dispensa comentários, exibe-se como um verdadeiro mestre da cozinha. É o ator principal, mas em meio a tantos temperos fica difícil escolher o melhor.

            Sei que vários atores que dessa película participaram acabaram conquistando algum prêmio. O sabor do filme Estômago é dos melhores. Feito para ser lambido. Passado os dedos nas migalhas expostas ao fundo da panela. É o gosto de quero mais. Mais um prato por favor, garçom! Trama envolvente. Do começo ao fim. Estrutura comestível em que a comida não é o prato principal, mas engana aqueles que esperam saboreá-la. È apenas o cenário, o condimento que dará vida ao filme. História paralela. O migrante e o presidiário. O cozinheiro e o apaixonado. O amante e o condenado. A bunda e o filé mignon.

            Tem que ter estômago, ou seja, há a necessidade de ter um fino paladar. Um senso aguçado para apreciar esta obra de arte. E você, tem fome de quê?