Duas da madruga e ainda estou acordado. O dia tinha sido muito sufocante, como todos os dias nos últimos anos. Na cama, ao meu lado, minha esposa dorme tranquilamente. Abro a porta do quarto de vagar para não acordá-la. Antes de sair dou uma última olhada para ver se ela tinha acordado. Fecho a porta e vou para sala. Toda a casa está com uma luminosidade opaca. Não paro na sala, antes vou ao quarto das minhas meninas. Abro a porta, o quarto está iluminado pela luz da lua que entra pela abertura da janela.  Elas estão dormindo, mergulhadas no sono dos anjos. Fecho a porta e volto para a sala.

A sala está quente, abro a porta corrediça que dar para a varanda do apartamento, neste momento, um vento frio entra e acaricia meu rosto. Que vento gostoso. Na varanda me debruço no parapeito. De lá vejo na rua carros que vão e vem com seus eternos apitos. Alguém deveria dizer a este motorista que a vida é curta e será mais curta ainda se não deixarem o estresse longe dos volantes.

Se as pessoas imaginassem o quanto é maravilhosa a vida, o quando, nós seres ditos “humanos” só damos valor ao “respirar” quando não podemos mais tê-lo. Nesta varanda relembro o meu dia cheio de tribulações.

Ontem, meu chefe, me chamou meio nervoso. Tinha tido uma grande reunião com fornecedores e teria outra reunião no dia seguinte, no entanto, tinha que está em Londres para fechar um grande negócio. Ele me disse que eu teria que ir em seu lugar. Não disse a ele que não queria ir, fiquei calado. Tenho fobia por avião. Não gosto de aviões. Não quero voar, mas tenho de ir.

Antes de dormi contei a minha esposa que teria de pegar um avião logo cedinho, ela sabia do medo e para me animar me deu um abraço forte.

 Sento em uma cadeira que está encostada no canto da parede. Ficou olhando a rua lá em baixo. Já passam da três da manhã e eu ainda não tenho sono. Estou distraído, perdido em meus pensamentos, neste momento, sinto um calor de uma mãozinha tocando na minha. Olho de lado e vejo a minha filha, uma garotinha de uns cinco anos, ainda meio sonolenta ela me abraça fortemente.

__ Pai! __ Diz ela com uma voz meiga.

__ O senhor vai viajar amanhã cedinho?

As crianças são engraçadas... elas prestam atenção em tudo que falamos... e de repente nos vêm com perguntas que nos deixam surpresos.

__ Terei uma reunião em outro estado.__ Digo a ela.

Com um sorriso cativante ela me olha e diz:

 __ Sei que o senhor está com medo! Não tenha. Não se preocupe com nada. Tudo vai correr bem, não precisa ter medo do avião. Pois, um senhor me acordou, agora, e me disse que eu não tivesse medo que ele traria meu pai de volta.

Eu não sabia o que dizer. Fiquei com a voz entalada e abracei minha filha com força, ficamos lá abraçados por um bom tempo.

Desde aquele dia compreendi que nas horas que mais necessitamos de um conforto, o senhor, sempre nos fala pela boca de um anjo.   

 

FIM