GUERRAS E CRISES DE 1929 NO BRASIL: A CRISE ECONÔMICA BRASILEIRA

A crise de 1929, afeta o Brasil de maneira profunda. A agricultura, a indústria e as finanças sofrem o impacto da situação, principalmente a primeira delas. A economia brasileira é fundamentalmente voltada para a exportação de matérias primas, sendo encabeçada pelo café, que representa de 60% a 70% do valor da balança de exportação. Na década de 20, depois dos efeitos negativos da Primeira Guerra Mundial e da crise de 1920 , o preço do café duplica e o numero de cafezais aumenta mais que o dobro. Mas a crise não impede que o número de sacas colhidas se iguale ao dos anos da prosperidade econômica. A questão é que o pé de café leva quatro anos para começar a produzir frutos, e os milhões de cafezais plantados nestes anos só começam a dar produção pouco antes da crise ou no decorrer dos anos 30 o que influencia diretamente o Brasil na crise de 1929.
O equilíbrio de preço em mil-réis é explicável pela intervenção do governo brasileiro na economia, pela desvalorização do dinheiro nacional, pela inflação, etc., fatores que camuflam a aparente manutenção dos preços, enquanto o que acontece realmente é a sua continua desvalorização monetária. O Brasil procura novas opções econômicas, para superar os impasses: são as usinas de açúcar que ocupam os espaços reservados ao café; é o algodão que vai ser plantado em diversas zonas brasileiras, cuja fibra será industrializada e os tecidos de boa qualidade irão substituir a seda importada, enquanto seu caroço serve para fabricar o óleo comestível, substituindo o de oliva e a gordura animal.
Café, algodão, açúcar, cacau, borracha, além de sal, madeira, entre outros são atividades econômicas que sofrem o impacto negativo da crise de 1929 que foi uma crise de todo o mundo e que ocasionou um processo de grande transformação na estrutura econômica brasileira sendo que seus aspectos em menor ou maior grau podem ser sentidos ainda hoje no nosso país inclusive em outros setores que vão além da economia como, por exemplo, na cultura, na malha urbana, dentre outros. A partir de 1926 o estado brasileiro tenta criar várias alternativas de apoio ao crescimento econômico nacional, como os institutos do café, do álcool, do pinho, do cacau, do sal, etc. A intervenção do poder do Estado é o fator básico para a continuação da comercialização dos produtos primários, já que o sistema de transação interna deixara praticamente de existir: a falência de um grande número de firmas e exportadoras, localizadas no interior e no litoral, prejudicara o mecanismo de circulação natural que se formara a partir do século XIX. E com a formação dos diversos institutos, passa a ser então o governo quem estipula o preço das safras, a qualidade do produto a ser adquirido, a forma de ser comprado enfim torna se detentor dos meios de comercialização desses produtos.
Por sua vez, o governo federal, que possui o controle monopolista da produção agrária, precisa encontrar mecanismos para se desembaraçar dessas volumosas safras: daí fazer acordos internacionais de troca, de produtos por produtos e até mesmo de queimar parte dos excedentes. Essas e outras medidas estatais não são iniciativas únicas do governo brasileiro, mas também são defendidas por outros países dependendo, sobretudo das circunstancias particulares de cada um deles.
A agricultura, apesar destas ações, não consegue superar sua situação catastrófica. Os preços baixos e o excesso de produção impedem que aconteçam melhorias. E mesmo a baixa dos salários agrícolas, em mais de 40%, de nada adianta; como de nada adianta os fazendeiros despedirem milhares de famílias; ou mesmo abandonarem parte de suas extensas plantações ? café, cana etc. ?, diversificando a atividade ou voltando-se para menores áreas de cultura; o fato é que, a maioria dos fazendeiros encontra-se em uma situação financeira crítica e são obrigados a entregar suas terras aos bancários. Para evitar males maiores, o Governo Getúlio Vargas concede moratória ás dívidas e decreta a Lei da Usura .
Enquanto a agricultura precisa do auxilio governamental para sobreviver, a indústria, que passa por vicissitudes também trágicas, prescinde da intervenção em seu favor. Todas as vezes que é consultada, quando o governo federal fala em auxiliá-la, os industriais negam-se a aceitar a medida. Em parte, é porque a maioria dos estabelecimentos industriais são pequenos, tendo, portanto um numero mais reduzido de operários, consumindo pouca energia elétrica, com um capital diminuto e pequena produção. Estas fábricas, de fundo de quintal, inclusive algumas de origem familiar, podem facilmente parar de produzir ou voltar a pôr-se em funcionamento com certa simplicidade para estas.
No entanto, não deixam de existir exemplos de fábricas com 100, 200, 1000 e até 2000 trabalhadores (conjunto das indústrias reunidas de Francisco Matarazzo) . Como visto a situação da indústria é mais favorável do que a da agricultura, a última é dada pelas grandes propriedades, como produção destinada preferencialmente ao mercado externo: quando este se estanca, a partir de 1929, a superprodução que já existia. Já a indústria passa por uma situação bastante diferenciada: espalhada por todo o país, tendo como função primordial atender ao mercado interno, ás fabricas atendem demanda especifica que, mesmo em época critica, não deixa de subsistir. A população, mesmo empobrecida, não pode prescindir de produtos como os alimentícios e têxteis, são estes dois ramos de atividades que dominam o conjunto do processo industrial. Além disso, há outro fator favorável a todo esse processo: como o país não possui nesta época divisas para a importação, a classe mais abastada, que importava produtos estrangeiros para suas necessidades ? roupas, perfumes, móveis, alimentos etc. ?, agora se vê obrigada a consumir os produtos nacionais, também regionais o que foi importante na questão cultural.
Nesta hora, a indústria, na sua totalidade, trabalha 24 horas, em três turnos, produzindo artigos manufaturados, alimentícios e outros; internamente, a população se beneficia das obras da produção. Enquanto o pleno emprego domina as cidades, se começa a sentir os efeitos do inchaço urbano, falta de moradia, formação de cortiços, a criação de novos bairros onde não existem os benefícios higiênicos ? água, luz, esgoto -, transporte insuficiente, o campo vai se despovoando progressivamente. Os efeitos totais do êxodo rural irão se fazer sentir na década de 60 com mais expressividade, mas de qualquer maneira, as zonas mais povoadas, até então começam a sentir os seus efeitos progressivamente. A falta de trabalho na zona rural, os salários baixos, a falta de perspectiva futura, levam gradativamente, parte da população do campo em direção as cidades ou mesmo as zonas rurais consideradas mais novas.
Nestas novas regiões agrícolas, o café continua a ser semeado, mas ao lado de sua presença existe o milho, o arroz, o feijão, que ocupam áreas próprias nas novas propriedades agrícolas. Apesar de muitos sinais negativos que só serão superados anos depois, a indústria brasileira volta a alcançar, em 1933 e 1934, o nível de produtividade atingido por ela do ano de 1929. Um dos fatos de maior importância deixados pelas guerras e crises econômicas de 1929 no Brasil é a compreensão de que, a diversificação mostra-se necessária para a manutenção de uma economia nacional forte e competitiva globalmente.
Referência:
CARONE, Edgard,. Brasil: anos de crise (1930-1945). São Paulo: Ática, 1991. ]

PEREIRA, Luiz C. Bresser,. Desenvolvimento e crise no Brasil: entre (1930-196 . Rio de Janeiro: Zahar, 1968.
Palestra, intitulada "Do Mil-Réis ao Real" Luiz Cláudio Lutiis Silveira Martins (30 de Agosto de 2010)
http://www2.unemat.br/eugenio/arquivos/dinheiro_no_tempo.pdf

http://www.snb.org.br/boletins/pdf/54%20-%20C%C3%A9dulas%20Brasileiras.pdf

http://www.historiamais.com/crise_de_1929.htm


http://www.cienciamao.usp.br/tudo/exibir.php?midia=t2k&cod=_historiadobrasil_2hb25