No princípio da paixão de Cristo, sua traição e prisão no Jardim do Getsêmani, Pedro tenta livrá-lo desse doloroso cálice preparado pelo Pai. O apóstolo tempestivo puxa sua espada para defendê-lo e corta a orelha de Malco, servo do sumo sacerdote Caifás. Jesus o repreende, e milagrosamente repõe a orelha do guarda, e estanca um derramar de sangue sobre os apóstolos. Estamos equivocados como Pedro, defendendo Jesus do evangelho da cruz? Estamos nós guerreando contra “carne ou sangue” e com espada de homens? Quem ou o quê é o “Malco” que temos arrancado orelhas?

 O jardim do Getsêmani era o local de comunhão com os discípulos onde buscavam a presença do Pai. E foi justamente no jardim, com seus amigos íntimos que Cristo foi traído e preso. Doloroso. O texto, em João 18, nos informa que Jesus já sabia de todo o desenrolar dos fatos que iriam lhe acometer, tanto que se adiantou em entregar-se e livrar os seus. “Não perdi nenhum dos que me destes.” ( v 9 - profecia do Antigo Testamento). Jesus tinha por objetivo cumprir essa profecia, e conteve o derramar de sangue iniciado por Pedro.

 Não há como viver o evangelho só de jardim, de amigos, e da presença de Deus. O evangelho completo tem a cruz, e ela alcançará o nosso “jardim”. Tem aquele amigo íntimo que nos trai por algumas moedas. Tem aquele outro falastrão bem intencionado que quer nos tirar do foco de cumprir a vontade pré-estabelecida do Pai. Tem o poder temporal com suas armas de guerra para nos arrastar à cruz. Pode ser que nossa “cruz” não chegue a literalidade, mas ela é real por que esse mundo é inimigo de Deus, e nós não pertencemos a ele.

 Pedro, manipulado novamente pelo diabo para tentar impedir o Calvário de Cristo, usando da espada, botou a vida de todos em risco. Pedro tinha uma espada! É esse o que se “sobressaia” no meio dos outros. Jesus já estava no final de seu ministério e jurado de morte, Pedro se prepara com uma espada escondida. Como discípulos, temos vivido tempos difíceis e juras de ódio estão sobre nós por causa do Nome. Depositamos confiança em “espadas” embainhadas e escondidas? Não confiamos no Mestre, que disse que nenhum de nós se perderia? A resposta de Jesus foi: “Mete a espada na bainha! Não beberei o cálice que meu Pai preparou?”

 A força humana, aqueles que confias, as tuas “espadas”, por mais bem forjadas que sejam, dois gumes, afiadas e eficientes, poderão se voltar contra ti e teus companheiros. Não queira ferir “Malco”, e provocar a ira de Caifás. Troque a espada do homem pela espada do Espírito, que é a Palavra de Deus, mais cortante que qualquer espada de dois gumes. Não sejas neófito como o foi Pedro.

 O evento termina dizendo que Jesus foi preso, manietado e conduzido aos poderosos deste mundo. Ele foi julgado, condenado e morto. Ele ressuscitou, venceu a morte e hoje nós temos livre acesso ao Pai. Cumpriu-se a profecia. O sangue derramado do Justo fez brotar o caminho da paz para todos.

 Profetas do Antigo Testamento foram martirizados. João Batista, contemporâneo de Cristo, foi degolado e sua cabeça servida em uma bandeja. A maioria dos apóstolos foram assassinados. Pedro, segundo a tradição, foi crucificado de cabeça para baixo por não se achar digno de morrer semelhante ao seu Mestre. E você? Sua cruz é real e profética, carregue-a até o fim. Renda-se como Jesus: uma ovelha muda ao matadouro. Jogue fora sua espada diante de “Malco”. Cumpra a profecia: “Já estou crucificado com Cristo...” – Gl 2:20. A sua guerra é outra!