GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA NAS ESCOLAS PÚBLICAS

GILVAN SALES DO NASCIMENTO

 

 

 

 

 

 

 

 

GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA NAS ESCOLAS PÚBLICAS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ITABERABA

2012

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

À Deus, por nos conceder o dom da inteligência, dando coragem para enfrentar a luta nos momentos mais difíceis.

À minha Família e amigos pelo incentivo, dando-me força para prosseguir nessa jornada.

À todos que, direta ou indiretamente, me incentivaram durante o percurso acadêmico.

                                                     

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

     
   
 
   

 

 

 

 

 

 

"Faz-se ciência com fatos, como uma casa com pedras; porém, uma acumulação de fatos não é ciência, exatamente como um monte de pedras não é uma casa”.

       Henir Poincaré.

        (1912-1954)

 

 

 

 

GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA NAS ESCOLAS PÚBLICAS

 

RESUMO

 

O objetivo deste trabalho foi o de discorrer acerca da gravidez das adolescentes nas escolas públicas. O problema desta pesquisa é: A educação sexual nas escolas é importante para evitar a gravidez precoce na adolescência? Dessa forma foi discorrido sobre a gravidez e os medos gerados por crenças aprendidas. Após foi abordado sobre a gravidez precoce e a escola, mostrando que é muito comum haver evasão escolar dessas adolescentes. Assim, conclui-se que a educação sexual na escola é muito importante, para que seja possível evitar a gravidez precoce, auxiliando também na inclusão social, já que adolescentes grávidas estão mais predispostas à evasão escolar, por se sentirem excluídas do grupo.

Palavras-chave: gravidez; escola; adolescência.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÂO

 

A gravidez na adolescência tem várias implicações biológicas, familiares, emocionais e econômicas, além das jurídico-sociais, que atingem o indivíduo isoladamente e a sociedade como um todo, limitando, ou mesmo, adiando as possibilidades de desenvolvimento e engajamento dessas jovens na sociedade.

A atividade sexual na adolescência vem se iniciando cada vez mais precocemente, com conseqüências indesejáveis imediatas como o aumento da freqüência de doenças sexualmente transmissíveis (DST), e gravidez, muitas vezes indesejável, e que, por isso, pode terminar em aborto.

Quando a atividade sexual tem como resultante a gravidez, gera conseqüências tardias e a longo prazo, tanto para a adolescente quanto para o recém-nascido. A adolescente poderá apresentar problemas de crescimento e desenvolvimento, emocionais e comportamentais, educacionais e de aprendizado, além de complicações da gravidez e problemas de parto. Há, inclusive, quem considere a gravidez na adolescência como complicação da atividade.

No tocante à educação, a interrupção, temporária ou definitiva, no processo de educação formal, acarretara prejuízo na qualidade de vida e nas oportunidades futuras. E não raro com a conivência do grupamento familiar e social, a adolescente se afasta da escola, frente à gravidez indesejada, quer por vergonha dos amigos e professores, quer por medo da reação de seus pais.

Assim, o objetivo deste trabalho é discorrer acerca da gravidez das adolescentes nas escolas públicas.

O problema a ser solucionado com esta pesquisa é: A educação sexual nas escolas é importante para evitar a gravidez precoce na adolescência?

A hipótese para o problema encontrado é que as adolescentes engravidam por falta de orientação e educação sexual. Após a gravidez, há constrangimento das mesmas diante da comunidade escolar e problemas decorrentes de uma gravidez, devendo o professor interagir com apoio de orientação para a inclusão desta aluna.

A metodologia utilizada será a pesquisa bibliográfica, para o levantamento do material necessário. Será pesquisado em livros, artigos científicos, revistas e sites de Internet, para que seja possível chegar às conclusões correspondentes.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1 GRAVIDEZ

 

Durante séculos e mesmo durante milênios, tudo o que era relativo à reprodução humana, incluindo a gravidez, permaneceu envolto em representações, crenças, mitos e tradições extremamente obscuros. Diante dos mistérios que circundavam a geração do ser humano, a sociedade criava mitos e crenças a fim de dar conta desses fatos que ocorriam na vida real, mas para os quais a ciência ainda não tinha avançado o suficiente para lhes fornecer uma explicação racional.

         Curiosamente, apesar dos esclarecimentos oferecidos pela medicina, pela biologia e pela psicologia, ainda hoje sobrevive uma série de mitos, crenças e superstições acerca da gravidez.

Canteiro & Martins (2006) empreenderam uma pesquisa a fim de descrever os principais mitos sobre a maternidade, apresentando também os medos deles decorrentes. Verificaram que, sobretudo em determinados núcleos sociais, as mulheres precisam respeitar determinadas interdições e prescrições sociais calcadas em uma série de crenças, mitos e tradições populares.

         Os autores consideram que tais mitos e representações não devem ser desconsiderados pelo profissional que lida com a assistência a gestantes, pois estas crenças incidem diretamente no modo com a mulher experimenta subjetivamente a gravidez e a maternidade em geral. Para esses pesquisadores, o profissional de saúde que trabalha com gestantes e com mulheres durante o pós-parto deve considerar estes aspectos a fim de compreender as expectativas, os medos, as angústias e mesmo a culpa que as mulheres sentem neste estágio de suas vidas, principalmente se estas têm algum tipo de comportamento ou doença que possa prejudicar seu bebê.

         A predominância desses mitos e crenças a despeito do manancial de informações fidedignas acerca da gravidez que a ciência disponibiliza para a sociedade persiste na cultura, porque a maternidade não se restringe a um fenômeno biológico, ela é também um fenômeno social, produzindo variadas influências sobre o comportamento e os sentimentos das parturientes.

         De acordo com Kitzinger:

 

A gravidez é apreciada na maior parte das sociedades como um estado ritual. Uma futura mãe tem uma relação ritual especial com a sociedade, incluindo com o pai da criança, com os clãs de ambos, com o passado na pessoa dos antepassados e com o cosmos representado por deuses (KITZINGER, 1996, p.75).

        

         É claro que autor está utilizando uma metáfora, pois na sociedade atual não existem mais clãs, não se cultuam antepassados, não se crê nem cosmogonias nem em deuses. Tais categorias do passado longínquo da civilização deixaram suas marcas. Os clãs foram substituídos pelos núcleos sociais formados pelas famílias, o culto aos antepassados pelo respeito às tradições, o cosmos por uma visão de mundo que integra também uma moral e os deuses pela religião.

         Deste modo, o discurso sobre a maternidade é permeado pelas narrativas transmitidas oralmente de geração a geração. Mesmo em meio ao universo contemporâneo, marcado pela profusão de informações científicas sobre a gravidez, as mulheres ainda apelam aos conselhos da tradição, pois elas ainda concedem consideração ao “como vovó dizia...”. São as gerações mais velhas que asseguram a transmissão dessas crenças:

 

Na verdade, as pessoas idosas portadoras de saberes experimentados e consolidados no tempo, asseguraram a sua transmissão até nós. Numa primeira fase, esta transmissão passa-se essencialmente no seio da família, mais tarde, esta transmissão alarga-se à comunidade (CANTEIRO & MARTINS, 2006, p.4).

        

Os autores advertem para o fato de que até pouco tempo atrás, o índice de mortalidade infantil e materna era muito elevado. Assim, as crendices e ritos referentes à gravidez desempenhavam também a função de proteger as mulheres e os bebês.

De acordo com Maldonado (1994), desde o início da gestação a mulher pode sentir diversos medos: medo da dor do parto, medo de não conseguir cuidar do bebê, medo de não ser uma boa mãe, medo de a criança vir a nascer com alguma anomalia, medo de não dar conta de suas obrigações maternas, medo de sofrer algum dano para sua saúde, dentre outros. Já durante o período pós-parto, a autora assinala a predominância do medo de saber se seu filho nasceu normal.

Segundo Marinho (2006), esse medo de que o bebê não seja perfeito já se apresenta mesmo durante a gravidez, pois algumas mulheres recusam receber diagnósticos durante o período pré-natal. Segundo a autora: “A própria idéia de antecipar um diagnóstico de doença no filho por si só promove este clima de insegurança e medo na gravidez (MARINHO, 2006, p.6).

Maldonado (1994) atribui o medo de ter um filho mal-formado a sentimentos de culpa, que podem ser inconscientes e que datam de muito tempo, sendo relacionados ao medo de punição por algum ato praticado e julgado como merecedor de castigo. Essa culpa, que pode ser consciente ou inconsciente, pode gerar o temor de ter um filho com anomalias e associar-se à fantasia de “não estar bem por dentro”.

A orientação pré-natal, que é feita a fim de manter a saúde da mulher e do bebê e zelar para que o parto ocorra da melhor forma possível, pode incutir medos nas mães. Segundo Marinho:

 

(...) no ritual médico imposto pela genética pré-natal, a experiência de gravidez é cercada de sinais e símbolos que podem produzir diferentes ameaças: o medo de perder o filho, de que o filho nasça com um defeito, de não conseguir ter um filho ou, ainda, de não conseguir ser mãe para este filho, caso ele em venha a nascer com defeito (MARINHO, 2006, p.6).

     

         Quando durante o período de pós-parto, a mãe tem confirmado o diagnóstico de alguma deficiência no filho, os medos que surgem são inúmeros e mais intensos. Resta notar que diante desta constelação de sentimentos de medo e insegurança que ocorrem na gravidez, pode-se imaginar como é difícil para a mulher ter confirmado o temor da malformação, principalmente se esta for causada por alguma doença adquirida antes da gravidez ou durante esta.

As modificações corporais na gestação são tão intensas que podem facilmente originar o sentimento de que há algo errado com seu corpo, como se a mulher sentisse que seu corpo não é mais a sua própria casa. Esse estranhamento com o corpo próprio propicia o aparecimento do medo da malformação, que, quando associado às culpas e temor de punição, favorece ainda mais o medo de que a criança nasça imperfeita.

Numa mulher jovem e inexperiente, os medos e inseguranças são ainda maiores, visto ser uma situação nova, que transformará totalmente sua vida.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2 GRAVIDEZ PRECOCE

 

 

O impacto adverso da gravidez precoce emerge de forma mais clara quando se examina a relação entre educação, pobreza e maternidade precoce.

Henreques, Silva, Singh e Wulf (1989) apresentam alguns dados na direção do exame dessa relação. Adolescentes cuja renda familiar se classifica entre as mais pobres quase não tem nenhuma chance de completar o 2º grau após o nascimento de um filho.

Vinte e quatro por cento dessas adolescentes tiveram de cinco a oito anos de escolaridade, mas somente 2% prosseguiram sua educação após o nascimento do filho. Entre as que tiveram um filho antes dos 20 anos, apenas 23% haviam estudado alem da 8ª série, enquanto as que não deram a luz, 44% estudaram além da 8ª série.

Já durante a gravidez, as adolescentes abandonam escola e emprego. Quando muito estudam ou trabalham ate o sétimo mês de gravidez (SOF, 1997). Constrangimento e pressões de diretores, professores, colegas e pais de colegas estão entre os fatores que determinam a saída da escola antes do nascimento do filho. Alguns pais contribuem decisivamente para esse abandono ao preferirem esconder a situação "vexatória" da gravidez de sua filha.

Após o nascimento, o abandono da escola e a saída que se impõem as mães jovens, sejam as que necessitam pagar com o seu trabalho doméstico (a família que a abriga e ao seu filho, sejam as que necessitam ganhar o sustento para ambos). Neste último caso, diante das dificuldades em encontrar vaga em uma creche gratuita próxima ou sequer em qualquer creche gratuita, a adolescente busca o apoio da sua família durante sua jornada de trabalho, o que toma ainda mais frágil sua complicada relação com o filho. O apoio da família, em especial nos estratos de baixa renda, significa urna diluição, ou atenuação da legitimidade da autoridade da mãe adolescente sobre o filho/filha (na classe média, a interferência da família é vivida como crise e questionada pela adolescente) (DESSER, 1993).

Quando não conseguem esse apoio familiar, não raro destinam parte de seus parcos vencimentos à outra mulher que cuidará de seu filho durante essa jornada. No fim do dia, a escola, diante desse contexto, toma-se urna tarefa impossível de ser cumprida. Jovens oriundas de famílias com maior poder econômico e que aceitam a gravidez, podem vislumbrar a possibilidade de completar seus estudos e retomar seu projeto de vida.

 A não-continuidade dos estudos significa menor qualificação, portanto, menos chances de competir num mercado cada vez mais exigente e com menos ofertas, além da submissão ao trabalho informal e mal remunerado.

A situação toma-se ainda mais perversa ao examinarmos o padrão de fertilidade. Os dados apontam que é provável que ele seja estabelecido na adolescência, pois mulheres que começam a ter filhos mais cedo, geralmente, têm mais filhos.

Levantamento Mundial de fertilidade realizado no final da década de 1980 encontrou que, em 27 dos 29 países abrangidos, mulheres que se casavam com 22 anos ou mais, tinham em média 0,5 filho a menos do que mulheres que se casavam aos 18 ou 19 anos (OMS 1994). Para quatro entre dez mães adolescentes, o segundo filho virá antes de o primeiro fazer três anos (SOF 1997). Estabelece-se o moto-contínuo e as jovens, especialmente as pobres, não conseguem rompê-lo, acentuando sua condição de dependente e subordinada.

Uma outra faceta da relação entre escolaridade e gravidez na adolescência, aponta significativas influências do nível de escolaridade na ocorrência desse tipo de gravidez. Henriques e colaboradores (1989) apresentam evidências de que a menor escolaridade é uma característica geral das adolescentes que tiveram filho, independentemente de seu nível de renda ou sua residência (áreas urbanas ou rurais).

Fertilidade; em geral, apresenta uma relação inversa com nível educacional das mulheres: mulheres sem educação formal têm, em média, o dobro do número de filhos do que aquelas com sete ou mais anos de escolaridade (OMS 1994).

Boletim da SOF (1997) aponta que, entre as meninas que ficam mais de cinco anos na escola, 5 em cada 100 engravidam antes de fazer 19 anos. Entre as meninas sem instrução, a proporção sobe para 17 em cada 100. Para as autoras, esses dados podem significar que a escola está ensinando algo sobre corpo, sexualidade e relações afetivas. Uma outra hipótese é que o fato de continuar os estudos aumente a auto-estima e proporcione à adolescente projetos de vida profissional mais amplos que o de ser apenas esposa e mãe.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CONCLUSÃO

 

Após a pesquisa, percebe-se que a ação docente vai, desde a construção adequada e responsável do conhecimento até a habilidade necessária para se adequar ao tempo e ao contexto em que ocorrem as relações.

Lidar com situações como a gravidez precoce na adolescência necessita de uma habilidade grande por parte do professor, pois este deve auxiliar com informações e orientações acerca da própria gravidez e das mudanças sociais que esta causará. Também deve fazer com que esta futura mãe não abandone os estudos. Nessa ação, é fundamental o diálogo, a aprendizagem em grupo e o desenvolvimento da auto-estima, fatores que caracterizam uma educação em valores éticos, uma prática cidadã.

A prática docente, nessa perspectiva, deve formar uma rede de aproximação entre a família, a escola e a comunidade, e desenvolver, também, uma das mais importantes competências que é a de aprender a viver coletivamente, o que se constitui no elemento integrador entre os pilares da educação. A escola como um dos espaços do trabalho docente, deve minimizar a exclusão social e preparar o cidadão para superá-la.

Assim, conclui-se que a educação sexual na escola é muito importante, para que seja possível evitar a gravidez precoce, auxiliando também na inclusão social, já que adolescentes grávidas estão mais predispostas à evasão escolar, por se sentirem excluídas do grupo.

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

 

CANTEIRO, E.E.L., MARTINS, M.F.S. A Maternidade: Crenças e tradições em territórios amostra do distrito de Braga. O passado, o presente. Que futuro?  Disponível em  http://www.ugr.es/~adeh/comunicaciones/Lopes_Canteiro_E_E.pdf> Acesso em 15 jan. 2008

DESSER, NA. Adolescência, sexualidade e culpa. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, Brasília, DF, Fundação Universidade de Brasília, 1993.

HENREQUES, M.H.; SILVA, N.; SINGH, S.; WULF, D. Adolescentes de hoje, pais do amanhã: Brasil. Nova York: Alan Gutmacher Institute, 1989.

KITZINGER, S.  Mães. Um estudo antropológico da maternidade, Lisboa: Editorial Presença, 1996.

MALDONADO, M. T. P. Psicologia da gravidez: parto e puerpério. Petrópolis: Vozes, 1994.

MARINHO, A.S.N. Um retrato da gravidez de risco genético a partir de Frida Kahlo. Disponível em http://www.ipas.org.br/arquivos/RetratosAlice.pdf> Acesso em 18 jan. 2008

OMS - Organização Mundial da Saúde. Saúde reprodutiva de adolescentes: Uma estratégia para ação. Uma declaração conjunta OMS/FNUAPIUNICEF. Brasília: Ministério da Saúde. 1994.

SOF - Sempreviva Organização Feminista. Boletim Mulher e Saúde. n° 15 e 16. Maio/agosto, 1997.