GRAU DE SATISFAÇÃO DO ALUNO EM CURSOS DE ENGENHARIA EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM

Antonio Siemsen Munhoz, Dr.

Resumo

Após decorrido o primeiro ano de implantação e oferta de cursos de engenharia na modalidade do Ensino a Distância, em diversas IES, resultados obtidos na fase de avaliação apresentam resultados que recomendam o desenvolvimento mais detalhado de um levantamento do grau de satisfação dos alunos. O principal destes fatores é a evasão observada nestas primeiras turmas. Isto não representa um fenômeno isolado em nosso país, mas algo que pode ser observado no relato de outras instituições de ensino superior em nível internacional. O CREA – Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura sempre foi resistente a oferta de cursos nesta modalidade. Este fato recomenda cuidados às IES que estão em início de operação com este tipo de oferta de graduação on-line. Foram levantados junto à bibliografia, em maior número internacional, alguns dados que, colocados juntos com dados obtidos junto às turmas de uma IES em particular, permitem ter uma visão panorâmica sobre o que estes alunos esperam e que pode diminuir um processo evasivo que coloca em risco o equilíbrio e a sustentabilidade destes cursos com prejuízo para todos. Os doze fatores mais citados nos questionamentos colocados para os alunos destas turmas foram reunidos em um relatório que poderá permitir que as IES que pretendem trilhar este mesmo caminho, da oferta de cursos de graduação de engenharia semipresenciais e não presenciais, elementos para evitar este fenômeno negativo da evasão. Os mesmos resultados podem ser aplicados em iniciativas presenciais com o mesmo resultado. Alguns alunos dos cursos presenciais foram consultados e os problemas, a menos das críticas ao atendimento tutorial, foram os mesmos.

Introdução

Até pouco tempo poucos cursos de engenharia funcionavam na modalidade EaD. O aumento do ingresso de novas instituições de ensino e a aceitação maior do mercado e dos órgãos de classe, tem facilitado a que cursos de setores tradicionalmente resistentes à utilização da modalidade iniciem estudos e apresentem propostas para efetivação de novos cursos. No setor dos cursos de engenharia, imediatamente após a iniciativa da UFSCAR no ano de 2007, com a oferta do curso de engenharia ambiental, este processo evolui. Diversos cursos em outras áreas das engenharias apresentam ofertas disponíveis. Este fato seria alvissareiro caso não fosse possível observar que muitas destas ofertas são colocadas no mercado por instituições de ensino sem condições de bancar cursos presenciais. A infraestrutura e materiais exigidos por um curso de tal porte e que exige muitas atividades presenciais tem um custo elevado. Restrições financeiras em uma atualidade que mostra o Brasil em um estado de crise, já mascarada há alguns anos, levam estas IES a uma redução nos investimentos necessários para que a estrutura necessária seja “enxugada”, trazendo como consequência a diminuição da qualidade. Tais fatos levaram a SEED/MEC a solicitar em 2015 a montagem de uma comissão para investigação das muitas queixas. Ela sugere inclusive o reestudo da aplicação desta modalidade nos cursos de engenharia. Este estudo ainda não chegou a resultados finais. Foi uma atitude que recomenda cuidados adicionais a serem tomados pelas IES que ofertam os cursos nesta modalidade. É possível analisar os relatórios, recomendações e pareceres diretamente no site da CONFEA (www.confea.org.br) onde estão colocados os entendimentos sobre este assunto. Desta forma, é oportuno divulgar o resultado desta pesquisa bibliográfica, montada conjuntamente com a resposta de alunos dos cursos de engenharia da IES na qual o estudo foi efetuado, e que registra os oito principais pontos de reclamação dos alunos.

Objetivos

O objetivo principal deste trabalho é a melhoria da qualidade e aumento do grau de satisfação dos alunos dos cursos de engenharia ofertados na modalidade EaD. Como objetivos secundários o trabalho irá propor:

  • Obter informações detalhadas sobre questões que levam a elevadas taxas de evasão nos cursos de engenharia, não com propósitos de levantamento de culpas e culpados, senão com a finalidade precípua de fornecer aos especialistas na montagem de projetos instrucionais destes cursos informações para que eles possam propor soluções alternativas aos procedimentos metodológicos atualmente em uso;
  • Dar resposta a um grupo de questionamentos que surgiram, a partir dos instrumentos de pesquisa utilizados. Entre todos os assinalados, oito principais foram escolhidos como principais aspectos relevantes, que concentram o maior número de reclamações;
  • Sugerir algumas mudanças para que seja possível dar aos cursos de engenharia, em suas diversas especificidades, a qualidade necessária em uma área de conhecimento estritamente técnica e que não admite a continuação da formação de um grande contingente de pessoas que irão engrossar uma grande fileira de engenheiros que estão desenvolvendo trabalhos em outras áreas, sem que a elas seja creditado algum demérito, mas que revelam uma formação indevida, pela falta de condições que estas pessoas apresentam em desenvolver o que delas se espera em termos profissionais e de qualidade de trabalho.

Esta é a etapa inicial de um projeto mais amplo que entra em uma nova fase. O resultado é apresentado após a conclusão desta primeira fase, como motivação para que novas iniciativas venham a ser tomadas pela IES e por suas concorrentes, no sentido do aumento da qualidade das atividades de ensino e aprendizagem nos cursos relativos às engenharias. Espera-se que estas conclusões possam ser utilizadas em cursos relativos às outras áreas do conhecimento e se somem a todo o conjunto de resultados de estudos que visam o aumento da qualidade nas atividades de ensino e aprendizagem desenvolvidas no EaD.

Contexto do estudo

O ambiente oferecido pela IES para oferta de cursos de engenharia na modalidade EaD que apresentam como estrutura tecnológica e didática está apoiado nos seguintes elementos:

  • A cessão aos alunos do acesso a um AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem desenvolvido na metáfora de um campus virtual que dá destaque ao didático e pedagógico e ao desenvolvimento em profusão de atividades de comunicações multidirecionais e uma interação extensiva com o ambiente;
  • A oferta de uma estrutura de atendimento tutorial capacitada para atender os alunos participantes, com especialização na área e curso de tutoria e alguns com cursos de especialização no EaD. Desta equipe é exigida dedicação exclusiva ao atendimento dos alunos, com a possibilidade inclusive, da utilização do coaching educacional. Munhoz (2014) apresenta e destaca a importância de que esta equipe atenda a condições diferenciadas de formação tecnológica como complemento, desenvolvida em serviço, caso este propósito não tenha sido ainda cumprido pelos candidatos a ocupar esta vaga;
  • Acesso a bibliotecas virtuais externas e disponibilização de biblioteca virtual com a possibilidade futura de criação de um REA que pretende utilizar um software (Dspace) recomendado pelo IBICT – Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, de modo a criar um repositório de objetos de aprendizagem disponível para toda a comunidade científica;
  • Uso da abordagem da aprendizagem baseada em problemas considerada como uma das formas mais eficazes de oferta de conteúdos de forma a levar os alunos à aprendizagem significativa apoiada em conteúdo relevante (Berbel, 1998; Munhoz, 2010);
  • Possibilidade de um encontro presencial semanal no polo onde o aluno está matriculado, atualmente desenvolvido nos finais de semana;
  • Infraestrutura tecnológica que nos dias atuais já atende a uma grande série de cursos de graduação na modalidade do EaD, o que lhe dá condições de oferecer aos alunos um nível de participação ótimo ou no mínimo desejável.

Estas condições são básicas e podem ser consideradas como necessárias e suficientes para atender a cursos ofertados na modalidade do EaD, para atendimento a cursos na área das engenharias.

Referencial teórico

Não é em estudos teóricos e nem na opinião colocada por coordenadores, que podem estar advogando em causa própria, que se pode avaliar um curso que exige dos alunos a aprendizagem independente e ativa (Roque e Silva, 2011). Quem pode melhor avaliar um curso é o aluno, aquele que participou de forma ativa. Ainda podem ser aceitas, com restrições, avaliações que partam de colaboradores da IES. Elas devem garantir o anonimato que os preserve de atitudes coercitivas, que podem ser tomadas na ocasião de pareceres desfavoráveis. O corporativismo acadêmico é muito agudo e evitar que ele interfira nestes processos é muito difícil, senão impossível. Schwartzman (1985) considera esta uma das excrecências que ainda perdura e parece fortalecida nos dias atuais. O aluno irá avaliar os aspectos que determinaram que colegas de curso, como eles insatisfeitos, não tenham dado continuidade ao seu processo de formação. Desta forma, uma iniciativa educacional pode se transformar em uma aventura que, em seu final, traz apenas prejuízos para aqueles que não conseguiram, pelas mais diversas razões, manter a motivação para continuar presente no curso. Para atuar nesta perspectiva, muitas inovações são pensadas. Algumas delas resultam em novas metodologias. Longhini (2007) considera, em estudos detalhados sobre a aplicação da tecnologia da informação no trato da educação, que elas formam um cabedal crescente de novas técnicas incorporadas ao já extenso arsenal da tecnologia educacional. Em complemento ao que o autor coloca, há em uma outra visão toda uma diversidade de novos comportamentos e atitudes a serem desenvolvidos pelo aluno instado a aprender e desenvolver, segundo Munhoz (2013), a aprendizagem independente, ativa, cooperativa e colaborativa, desenvolvida em grupos. Estes dois contingentes para que possam ter uma atuação harmônica devem pautar sua comunicação de acordo com os pressupostos da inteligência emocional (Goleman, 1995), utilizar a empatia no processo de ensino e aprendizagem (Vedove e Camargo, 2008) e inserir afetividade no processo (Sarnoski, 2014). Toda uma soma de novos procedimentos que desembocam em novas metodologias está a ser exigido e se espera que cada IES crie uma forma particular de inserir em sua cultura o respeito à influência de todas estas atividades.

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