Resumo: Uma pesquisa política interessa à psicologia, se a opinião do eleitor escapa ao controle da razão.  

Governo ruim, governante bom. 

O governo é ruim, mas o governante é bom. Esta expressão resume uma das espantosas revelações fornecidas pela Pew Research, conforme pude captar em recente reportagem da CBN. Dando nome aos bois: o governo vai muito mal, mas Dona Dilma ainda desfruta da simpatia de mais de 50% dos  eleitores consultados.

Ouvi o competente e mui distinto comentarista Merval Pereira dizer que isso deverá mudar, que isso não é lógico.

O lógico, se bem entendi o comentário, seria aplicar ao governante conceito condizente com aquele  aplicado ao governo.

Ou seja, se o governo mereceu o conceito ruim, o governante devia merecê-lo também.

Como não mereceu, o jeito foi engolir a discrepância – talvez considerá-la um cochilo da inteligência – e alimentar a esperança de que na próxima pesquisa da Pew a lógica volte a amparar as preferências.  

Tenho cá as minhas dúvidas.

O que eu sei ao certo é que na percepção das grandes massas eleitorais, aqui no Brasil, não vigora  o raciocínio lógico que  vincula terminantemente o político ao conjunto de sua obra. Vinculação eu sei que há, mas muito relativa.

Essa cultura produziu,  um tipo de eleitor que se acostumou a reter da obra do governante apenas o que lhe é particularmente favorável, e a esquecer o resto, por pior que este seja.    

Não há necessidade de ilustrar essa curiosa idiossincrasia. Pululam exemplos antológicos na história recente e na crônica política atual.

De modo que, para interpretar devidamente a incoerência revelada pela Pew, seria de bom alvitre ouvir também a opinião de um psicólogo.