"Não apenas cada parte do mundo faz cada vez mais parte do mundo, mas o mundo enquanto mundo está cada vez mais presente em cada uma de suas partes. Isso se verifica não só para as nações e povos, mas também para os indivíduos. Da mesma forma que cada ponto de um holograma contém a informação do todo de que faz parte, doravante cada indivíduo também recebe ou consome informações e as substâncias vindas de todo o Universo"

1. Introdução

A Globalização é um processo, inexorável e irreversível, cujos estudos não se esgotam em função da complexidade multiatmosférica. Tratar dos efeitos da Globalização já se tornou rotina do universo acadêmico e buscarei, aqui, neste estudo, analisar o universo Global da Comunicação contraposto ao meio Regional de produção midiática.Buscarei a confluência da produção em malha Global, e da produção das fronteiras regionais, à Teoria da Informação , do modelo comunicativo da Mass Communication Research.
As maiorias dos pesquisadores, datam o inicio do processo de Globalização com fim da Primeira Grande Guerra e as engrenagem econômicas que passaram a se movimentar a partir daí. Foram gerados estímulos industriais, que, em novos (e múltiplos) terrenos, avançaram para o ininterrupto processo de "internacionalização da economia" ; resultado da expansão das relações. Segundo Thompson, o processo de Globalização é fruto da expansão do comércio no último período da Idade Média, avançando à Idade Moderna. Este período se caracteriza pelo nascimento do comércio de longa distância, e dos primeiros conceitos econômicos de negociações pluri-fronteiriças. Como também defendido por Thompson , a Globalização não se resume apenas à ampliação das fronteiras do poder Econômico, mas também abrange todos os outros poderes que, a partir dela, se inter-relacionaram entre as teias sociais. São eles: Político; Coercitivo e Simbólico.
Utilizo-me da afirmação à cima, para defender que: a Globalização é um processo cujo início se fez muito antes do período defendido por Thompson, e sim, com as Bibliotecas do Império Alexandríaco, na expansão Helenística , no Imperialismo Filosófico dos Ideais Gregos. A Globalização também é caracterizada pela expansão de uma cultura, que impera em territórios que vão além do território que comporta os responsáveis pela geração desta, submetendo aqueles que se tornam dependente da cultura dominante.

2. A Globalização da Comunicação

Embora o processo de Internacionalização simbólica tenha se originado entre o período de três a quatro mil anos antes de Cristo, com o Império Helenístico, este processo foi estruturado apenas no séc. XIX, e fixado, para seu crescimento, na entrada do séc. XX. Apenas durante o séc XX que o fluxo de comunicação pode ser dado de forma global, e penetrado à vida social.
O séc. XX foi palco de extraordinárias ploriferações de novos canais de difusão de Informação. O surgimento de sistemas de transmissão de informações eletrônicos abriu, rapidamente, as portas para redes de comunicação Global. Foi com o surgimento destas conexões, produzidas pelos meios de comunicação, que as condições contemporâneas de relações social, proporcionada pela anulação do espaço e do tempo, como conseqüência da globalização, foram concretizadas.
"Se o Homem é um animal suspenso em teias de significados que ele mesmo teceu, como Geertz uma vez observou, então os meios de comunicação são rodas de fiar no mundo moderno e, ao usar estes meios, os seres humanos fabricam teias de significados para si mesmo. "(1998, p.19)

Com o desenvolvimento das estruturas de comunicação, junto à evolução da sociedade global contemporânea, foram atribuídas ao sistema, características comerciais que transformaram os fins informativos em fins lucrativos, fruto de uma ideologia capitalista. A Globalização da Comunicação é fruto de conquistas de interesses comerciais de corporações internacionais, que agiam segundo interesses políticos e militares ocidentais, predominantemente americanos. Este processo produziu uma nova forma de dominação, pelos meios de comunicação, a Dominação Simbólica e Ideológica, onde, através da invasão dos valores, tratados pelos meios de comunicação, a cultura é articuladamente assimilada, e a estrutura cultural que ocupava anteriormente o terreno é reprimida.Este Imperialismo Cultural foi estudado e projetado por estudos Norte Americanos da década de 1920, Mass Communication Research.
Segundo Shiller, citado por Thompson, a ideologia Norte Americana cresceu em função da evolução do domínio Norte Americano no período Pós-Guerra; quando os tradicionais impérios coloniais ( francês, britânico, holandês, espanhol e português), entraram em declínio. O novo regime imperial, o americano, se fundamenta na dominação econômica, resultado do poderio das principais corporações econômicas internacionais, e a dominação dos sistemas desenvolvidos de Comunicação. Um Sistema de Comunicação totalmente comercial que se inseriu na maioria dos países de Terceiro Mundo.
Os estudos de Comunicação da Escola Norte Americana têm como características vertebrais as orientações empiricistas e as dimensões quantitativas, que tinham como objetivo projetar fórmulas para uma melhor comunicação.Têm também, como objetivo, compreender como funcionam os processos comunicativos para otimizar seus resultados, desta forma, tornando manipulável a comunicação e seu efeito sobre quem a recebe.
Os estudos Norte Americano dividem o processo de Comunicação como um processo de: transmissão de uma mensagem, utilizando um sinal, por uma fonte, através de um canal, à um destino; podendo ser interferido por um ruído. O objetivo destes estudos é definir a quantidade de informação a ser transmitir através de um canal mecânico, evitando as distorções possíveis de ocorrer neste processo.
A Teoria da Informação, uma das principais teorias da Escola, desenvolvida por Claude E. Shannon, estuda o processo de transmissão simbólica pelo discurso midiático e calcula a probabilidade de absorção, e a "quantidade" de informação passível à uma transmissão. Desta forma, através destes estudos, é garantido a eficácia na inserção da ideologia consumista, que "sobrepõem as motivações tradicionais , através das quais os indivíduos são ligados, cada vez mais, ao sistema global de comunicação e de produção de mercadoria, sediado, quase que inteiramente, nos Estados Unidos."


3. Forma de Dominação

"Se a comunicação de Massa se tornou o meio mais importante para a operação da ideologia nas sociedades modernas, isso se deve ao fato de ela se ter transformado num meio importante para a produção e transmissão de formas simbólicas, e porque as formas simbólicas assim produzidas são capazes de circular numa escala sem precedentes, alcançando milhões de pessoas que compartilham pouco em comum além da capacidade de receber mensagens medidas pelos meios".(Thompson,1998.p.31)

Os formatos de comunicação, que fazem parte de nosso dia-a-dia, seguem as tendências de produção da Escola Norte Americana . Através dos cálculos e da inserção dos conteúdos vigentes de um ideal capitalista, os elementos culturais das regiões que recepcionam a transmissão, são reprimidos e, pouco a pouco, eliminados. A Identidade desses locais é substituída por padrões que transformam, de forma indolor, seu elementos únicos e suas representações específicas, em objetos de uma identidade líquida e submissa aos valores impostos pela mídia.
Podemos visualizar este processo, de dominação cultural e imposição de uma identidade diferente - ou até oposta - à local, nos núcleos de comunicação nacional. Uma vez que se segue um padrão estático nas produções midiáticas, qualquer que seja sua fonte, e seja ela do qualquer origem, a partir do momento em que é inserida em um meio, a mensagem assume um formato que anestesia as características que a tornam única.Dentro do contexto homogêneo da comunicação globalizada, a mensagem passa por um processo de neutralização da identidade que a traduz.
Outro efeito produzido pela Globalização da Comunicação, é a escolha de um padrão estético e de conteúdo, para servir de espelho nas clonagens e nas mutações midiáticas. A partir do momento em que as mensagens são homogeneizadas, formando a Comunicação Líquida, tornou-se fundamental a escolha de um padrão ideal .
O Sistema Brasileiro de Televisão, tem seu núcleo de produção na região Sudeste do país. Junto às programações das emissoras, procura-se, através da exclusão da imagem de indivíduos que não pertençam àquela região ,ou pela produção do ideal de superioridade para a realidade do sudeste, tentar tornar comum aos seus receptores -estando esses localizados em todo o Brasil- os valores da região que a corresponde.
Através da filosofia da Industria Cultural, as emissoras tornam comum padrões de comportamento, que, a partir de suas mensagens, transformam-se em Nacionais os múltiplos padrões referentes ao universo da Região Sudeste do país.

4. O Regional
Em paralelo ao processo de mundialização da cultura, existe um processo contrário ao processo de Globalização: a Regionalização da Comunicação.
Em caminho contrário à massificação, ao tratar de assuntos que interessam à região e abrindo espaço às manifestações culturais locais, a comunicação Regional tem um papel primordial na produção de cidadania. Tornar fundamentais as questões que se referem às realidades de uma região especifica; trabalhando com a auto-estima dos receptores e com a vaidade de representações culturais específicas.
Seria o exemplo ideal de luta pela preservação da identidade pura de uma região, se a Comunicação Regional trabalhasse como intuito de preservação da identidade cultural referente È região que a insere, contudo, o que podemos observar é justamente o contrário.
Como já observamos anteriormente, a cultura Global se sobrepõe à cultura local, entretanto, algumas vezes a cultura local é justamente a cultura vendida pelas teias Globais. Neste caso, ao invés de ser estrangulada ,a cultura local é emancipada, deturpada e vendida.Ocorre aí o processo de apropriação cultural pela Indústria Cultural.O processo de apropriação vende a identidade de uma determinada região, deformando-a para que sua assimilação possa ser feita de maneira mais ampla possível.
O que encontramos na maioria das vezes, é uma Comunicação Regional que trabalha como um instrumento da Comunicação global, não enxergando sua potencia para a preservação da identidade local. De forma maquiada, e utilizando as armas do Monopólio Cognitivo e Cultural, a cultura locar é vendida e globalizada, e utilizando da mesma perfuração cultural, a cultura dominante se insere na cultura local: primeiro como um objeto diferente, depois como um objeto comum e por fim como característica central da cultura plástica produzida.



5. Conclusão
Os formatos de Comunicação Regional são apenas maquiados e comprimidos ao lidarem com o ambiente Regional. Estes, são tão veiculados à Indústria Cultural quanto a Comunicação globalizada, diferenciando apensas a sensibilidade necessária para a percepção do processo de dominação.
Analisando o sistema Imperialista de Produção Midiática e as condições de apropriação Simbólica pela Indústria Cultural, podemos concluir que para uma Comunicação Regional efetiva, é necessário o compromisso de caminhar de encontro aos formatos da grande mídia. Não basta tratar de manifestações locais, é preciso tratá-las de forma pura , sempre se preocupado com a preservação de seu formato, com a preservação da identidade dos objetos midiáticos.




















Referências Bibliográficas

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CAPARELLI,S.Comunicação de Massa sem Massa.5.ed.São Paulo-SP:Summus,1947


LAKATOS, E.M.;MARCONI.M.de. A Sociologia Geral.7.ed.São Paulo-SP:Atlas.S.A.,1999

THOMPSON,J.B. A Mídia e a Modernidade: uma teoria social damídia.7.ed.Petrópolis-
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