(publicado inicialmente em: Idéias & Fatos, 02/1999)

A globalização é uma "conquista" do liberalismo, mais especificamente do neoliberalismo: supressão do Estado em favor da liberdade de mercado, em nome do lucro. E isso tem gerado profundas implicações na geração de empregos e na educação.

O fenômeno da globalização supera as fronteiras. Ultrapassa as nacionalidades e nações. O limite das empresas é feito não pela fronteiras dos territórios, mas pelo preço da produção. Ou seja, implantam-se filiais nos mais diferentes pontos do globo terrestre, desde que nessa localidade estejam presentes: matéria-prima, mão-de-obra barata e mercado consumidor. Tudo isso é conjugado para gerar mais lucros, sem preocupações com a nacionalidade.

Outro elemento importante a ser considerado é a formação da mão-de-obra. Hoje as empresas se transnacionalizaram. E não buscam, como a algum tempo atrás, apenas mão-de-obra barata, mas principalmente mão-de-obra especializada e capacitada. Se este trabalhador aceita um salário cada vez menor, tanto melhor (veja-se a este respeito as negociações salariais e para a manutenção de empregos entre os metalúrgicos de montadoras de veículos ). E nisso o que realmente conta é a capacitação.

Consequentemente, diminui as ofertas de vagas de trabalho (cresce a informatização e robotização). As vagas oferecidas destinam-se as especialistas e cada vez menos a trabalhadores braçais. Necessita-se não de força ou raciocínio, mas sim de capacidade técnica.

Sem Fronteiras

Tendo isto presente já podemos entender melhor o problema da geração de emprego e a questão educacional, no mundo globalizado.

Com a globalização da economia (e é bom que se diga que este é um fenômeno econômico) aparecem problemas em diversas áreas da "vida social".

A economia globalizada exige mão-de-obra especializada. Isso por que a produção não está mais baseada no grande número de trabalhadores, mas em sua capacidade de operar sistemas informatizados. A empresa, dessa forma, com menos trabalhadores pode produzir um volume maior de mercadorias. Em geral, esses produtos são mais baratos, pois dependem menos de mão-de-obra e mais de maquinaria.

Além da mão-de-obra especializada, a economia globalizada possui grande mobilidade. Isso significa que na prática deixa de existir uma empresa que centraliza todas as diferentes etapas da produção, passando ao fenômeno da terceirização transnacional. Ou seja, onde for mais barato a produção dos componentes, ali ele é adquirido e enviado para a montadora central; ou ali se instala uma montadora para fabricar um produto.

Temos assim maior produção, maior agilidade produtora, maior precisão e tecnologia, produto mais barato e menor geração de empregos.

Esse processo que pode ser melhor observado na economia produtora dá a fundamentação para circulação do capital financeiro. Ilustra essa mecânica a crise da bolsa de valores que pulverizou a economia do México, na década de 1990, depois dos emergentes asiáticos, passou pela Rússia e esta infernizando a vida dos economistas do governo brasileiro. Um fenômeno que está abalando a economia global.

Papel da Educação

No que foi dito acima, já está esboçado o papel da educação num mundo de economia globalizada: preparação de mão de obraespecializada e capaz de operar os instrumentos de alta precisão ou os sistemas de manutenção e transmissão de capital.

Mas essa é apenas uma das dimensões de educação globalizada.De fato são necessários indivíduos extremamente capacitados. Entretanto aqui surgem algumas questões que precisam ser analisadas.Questões que dizem respeito menos aos países centrais de economia dominante, mas principalmente aquelas nações periféricas particularmente o Brasil.

Em nosso país o nível de escolarização é baixo. Em que pesem os dadosoficiais e a propaganda do MEC e das Secretárias de Estado, a escolarização da população de baixa renda não tem muitas perspectivas de melhora. Fala-se em aplicação vultosa em educação mas na prédica os investimentos ficam não com os órgãosligados diretamente à educação, mas com aqueles que fazem propaganda sobre as aplicações em educação.

Alem do problema da aplicação em educação e da baixa escolarização, o outro problema é a formação do trabalhador em educação. Em geral o trabalhador em educação faz um curso (secundário ou superior) e raras vezes se dedica a leitura e atualização teórica . Temdificuldades, inclusive em se manter atualizado dentro de sua área especifica. A justificativa para essa despreocupação com a formação contínua é a quase insignificante recompensa econômica, em forma de salários melhorados.

Ensino a Distância

Temos assim duas faces de um só problema: a baixa escolarização da população e a pouca preocupação com a formação permanente. Em ambos as dimensões do problema há uma só explicação para o descaso com o escolarização: a falta de retorno econômico: o professor tem baixa remuneração, o que limita a sua capacidade em aperfeiçoamento e isso resultabaixo rendimentoeducativo – formativo para o estudante. Diante desta realidade (despreparo do estudante, despreparo do professor e necessidade de maior qualificação profissional) o capital globalizado tenta algumas alternativas e experiências.

Uma das primeiras alternativas foram os tele-cursos. Independente de sua origem popular (surgiu nos anos 50–60 noNordeste), o tele-curso tem como finalidades: aumentar os investimentos em homogeneização das mentalidades. Sem dar atenção a capacitação intelectual, reflexiva, mas a capacitação técnica, mecânica.

Além das experiênciascom os tele-cursosde 1º e 2º graus, apresentam-se outras experiências de ensino a distância: projeto Salto para o Futuro, TV Educativa, TV Escola. São inegáveis os esforços no sentido de formação e atualização ao mesmo tempo em que uma crescente uniformização das mentalidades. Junta-se a isso as experiências de curso universitário a distância tanto a nível nacional como internacional. Algumas universidades brasileiras já estão desenvolvendoprojetos e cursos de graduação à distância, através de videoconferências, substituindo as faculdade de fim de semana. São várias experiências nesse sentido. Além disso algumas instituições internacionais estão desenvolvendo cursos de mestrados e doutorado para clientela brasileira, sem a necessidade do estudante sair do país para participar das aulas. Isso significa que o ensino à distância está se popularizando, ganhando o espaço do professor na sala de aula.

Globalização, uniformização e desemprego.

A globalização é um fato. A geração de empregos que dela advémé baixa; antes, pelo contrário, cresce o desemprego. A economia globalizada dispensa o trabalhador sem formação específica. São necessários menos trabalhadores especializados para cada vez menos vagas e empregos, resultando, daí o crescente desemprego.

Do ponto de vista educacional o problema ocorre com a crescenteuniformização das mentalidade, via tele-curso ou ensino a distância(modelo globalizado para a educação). Essa uniformização tende a gerar um processo de alienação cada vez maior, visto que as experiências não privilegiam a dimensão crítica do estudante. A preocupação é técnica e limitada àquilo que se deseja do trabalhador técnico: excelente produtividade e nenhuma capacidade de reação.

Mas, talvez o pior de tudo seja a vulgarização do papel e da figura do professor que passa a ser substituído pelo telão ou um aparelho de televisão. Aparelhos que não cobram salários, não reclamam, não pedem aumento nemhora extra. Despersonaliza-se a educação. O professor, como o trabalhador braçal, caminha para a extinção, em nome da otimização do processo educativo.

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.

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