UNIVERSIDADE DE UBERABA
FRANÇOIS SILVA RAMOS











"GLOBALIZAÇÃO: DA NECESSIDADE DO COMBATE A EDUCAÇÃO QUE ALIENA"
Artigo apresentado à Dra. Fernanda Telles do curso de Mestrado em Educação da Universidade de Uberaba como Trabalho de Conclusão da disciplina "Tópicos de Sociologia e Antropologia", requisito essencial à aprovação nesse componente curricular da grade do curso.











UBERABA-MG
2010

"GLOBALIZAÇÃO: DA NECESSIDADE DO COMBATE A EDUCAÇÃO QUE ALIENA"

1. A Globalização e seus mecanismos de dominação

O fenômeno da globalização, analisado enquanto componente de política contemporânea pode ser visto como um processo crescente de dominação. Sua dinâmica econômica, científica e tecnológica exigiu e continua exigindo mudanças profundas em nossa sociedade. Os governos eliminam o povo de seu aparato discursivo para defender uma ideologia consumista voraz.
A globalização interfere diretamente em nossa formação política, uma vez que exige uma padronização ideológica. A formatação imposta pela globalização em nossa cultura é uma verdade concreta para aqueles que pensam de forma crítica e não se mantêm passivos ante ao regramento sócio-econômico-cultural, reestruturado que nos é imposto pela elite dominante.
Seguindo a receita da globalização todos podem ser felizes: para isso basta poder comprar. Segundo Chiavenato (1998.p.52):
O resultado principal da globalização é a concentração do domínio do mercado e daí derivam as suas conseqüências, influenciando a cultura, as artes e provocando choques que ainda não foram sequer detectados. Ao concentrar o domínio do mercado e expandir o consumismo, padroniza as reações psicossiciais. Esse é um dos resultados ideológicos mais importantes no processo de globalização em sociedades subdesenvolvidas, onde riqueza e miséria convivem: o consumismo foi absorvido e absolvido ? agora todos podem, e devem, comprar-gastar sem culpa."

Com o cenário que se apresenta a educação deve funcionar como um mecanismo de triplo papel em nossa sociedade. Segundo considerações oriundas da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI ela incide substancialmente em nossa formação econômica, científica e cultural. Ela deve propiciar o aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver e aprender a ser. É um elemento de "imunização" contra a alienação da ideologia consumista e o desarmamento político ideológico por ela promovido.
E não se pode esquecer que a globalização conta com os meios de comunicação de massa e sua capacidade de sedução para disseminar sua concepção de uma sociedade padronizada, em que todos são iguais e podem comprar. Assim, a educação precisa ser igualmente sedutora para alcançar o objetivo de bem formar um cidadão apto a percepção, análise e enfrentamento dos elementos ideológicos que lhe são apresentados.

2. Direito a educação e a exclusão social
O Direito à educação, uma garantia tutelada pela Constituição Federal brasileira de 1988, faz parte de um conjunto de direitos chamados de direitos sociais, que têm como inspiração o valor da igualdade entre as pessoas. Antes da atual Carta Republicana o Estado não tinha a obrigação formal de garantir a educação a todos os brasileiros.
Esse direito tutelado no texto constitucional foi conseqüência direta das lutas sociais dos anos 70. Uma conquista que, contudo, não significou universalidade no acesso ao ensino de qualidade. A escola pública atua também como um mecanismo a serviço da ideologia globalizante e aumenta ainda mais a distância entre ricos e pobres.
Ensina Spósito (1992.p.43) que:
A existência da escola exterioriza, fisicamente, grande parte das relações sociais vivenciadas no cotidiano, que se exprimem na segregação e nas desigualdade sociais mais amplas. A separação entre "mais ricos" e "mais pobres", mesmo no interior dos bairros populares, estratifica e segmenta os "cidadãos" e os "excluídos"...

Isso equivale a dizer que escola sem capacidade estrutural, física e humana, para receber os educandos, pode se transformar em mero reprodutor burocrático da ideologia de consumo, reproduzindo padrões impostos por exigências de organismos internacionais, como condicionante para que o Brasil integre o cenário globalizado mundial.
A falta de educação de qualidade no sistema público de ensino vai facilitar a disseminação de ideologias consumistas e contribuir para a promoção do desarmamento político-ideológico de nossa sociedade, uma vez que a incapacidade de bem formar verificada na escola causa queda na capacidade crítica do indivíduo.

A Declaração universal dos Direitos do Homem, de 10 de setembro de 1948, em seu artigo XXVI traz a concepção de que todo homem tem direito à instrução e que a instrução elementar será obrigatória.
Contudo, não se pode persistir na concepção de fornecer uma educação comprometida tão somente com a quantidade de vagas oferecidas e com exigências impostas pelas economias que dominam o mercado, sob pena de que a persistência nesse caminho nos leve a dominação incondicional pelas regras do mundo globalizado, desprezando a relevância do aspecto humano e valorizando tão somente a capacidade do desenvolvimento econômico a qualquer custo.
A Constituição de 1988 caracterizou a educação como um direito de todos e dever do Estado e da família. Se o ensino passa a ser obrigatório e gratuito e o Estado deve provê-lo, em princípio, nos níveis fundamental, médio e superior, o direito à educação se transformou em um direito público subjetivo.
E esse direito não deve ser um elemento de exclusão social. As escolas devem ser preparadas para conviver com a diversidade cultural e econômica de seu público, integrando suas experiências ao conteúdo que será ministrado para que aprender seja algo que se faz com prazer e não por mera obrigação.
O aprender não deve apenas propiciar um cidadão apto a integrar o Estado em suas regras e exigências, mas a proceder o exercício crítico e o aperfeiçoamento da regras tornando-o um ser humano capaz de compreender as ideologias que o cercam, e refutá-las ou aperfeiçoá-las sempre que necessário.
De outro modo, a exclusão social tente a se efetivar de forma ainda mais rápida e voraz sobre a classe menos favorecida economicamente sem que se construa uma perspectiva sequer para a fuga do quadro ora vivenciado. Sendo necessário ainda registrar que a violência crescente em nossa sociedade também é reflexo dessa incapacidade do Estado em efetivar sua missão de bem educar o seu povo.


3. Políticas Educacionais e reformas do ensino básico
Quando pensamos em uma política educacional ideal, além dos preceitos constitucionais pelo menos duas leis merecem destaque em nosso pilar estrutural: a Lei Nº. 10.172/01, que institui o Plano Nacional de Educação (PNE), e a Lei Nº. 9.394/96, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional (LDB).
Dentre as Principais metas do Plano Nacional de Educação está a disposição de elevar o nível de escolaridade da população, melhorando a qualidade do ensino em todos os níveis. Além disso, o PNE pretende democratizar a gestão do ensino público e reduzir as desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso e à permanência na educação pública.
São prioridades presentes no Plano Nacional de Educação garantir o ensino fundamental obrigatório para aqueles alunos na faixa etária entre sete e quatorze anos, o mesmo ocorrendo com aqueles que não tiveram acesso na idade própria ou não o concluíram. Pretende-se ainda, ampliar o atendimento nos demais níveis de ensino e valorizar os profissionais da Educação.
O que não se compreende é porque temos uma legislação que se aproxima da perfeição, mas inoperante do ponto de vista prático. O que temos são relatórios baseados na quantidade de vagas oferecidas e na redução dos índices de reprovação nas escolas públicas, uma redução que se alcança tão somente com a progressão forçada de seus alunos sem respeitar suas dificuldades ou limitações.
A política educacional brasileira, positivada nas leis supramencionadas pretende, além de auxiliar o educando em seu desenvolvimento intelectual, profissional e humano, fortalecer a liberdade de idéias e garantir acesso ao ensino gratuito, especialmente o ensino fundamental. Mas essa realidade mostra-se distante de nossos olhos.
Embora a LDB pareça tentar despertar o Estado para crise vivida pela educação brasileira, para que o sucesso seja obtido é preciso união. A educação não deve ser revista somente sob a ótica dos pedagogos. É necessária uma mudança drástica neste paradigma de forma a somar esforços rumo à construção de um novo conceito educacional. A esse respeito alerta Bosi (1998, p.83):
A crise na educação brasileira resulta, em grande parte, do esfacelamento da própria educação e das solidariedades que ela expressa. Ela se torna cada vez mais uma ocupação de pedagogos, em vez de uma preocupação de cientistas sociais, de filósofos, de escritores, de artistas, etc.

A globalização, é um dos fatores que potencializam a intensificação da exclusão social e a ausência de uma educação de qualidade no ensino público brasileiro aumenta a distância entre ricos e pobres e praticamente inviabiliza o desenvolvimento daqueles que não se encaixam no padrão exigido em nossas escolas.
Com a globalização do consumo, que se transformou em uma língua que todos entendem, acredita-se, erroneamente, que o mundo é um só. Países fortes como os Estados Unidos impõe cotas, controle de qualidade e tarifas especiais além de condicionar a venda de produtos que lhes interessa exportar.
Ocorre na realidade, um desarmamento político ideológico atrelado à queda da capacidade crítica, que faz os países em desenvolvimento sentirem-se parte de um mundo em constante evolução. Essas questões de desequilíbrio sequer são notadas pela população que somente consegue enxergar o fato de que ficou mais fácil o acesso aos bens de consumo. Assim, automóveis, geladeiras e eletrodomésticos deixaram de ser privilégios dos ricos.
Ensina Chiavenato (1998, p.54) que:

O mundo globalizado precisa de sentimentos globais. Mais que a ideologia, a padronização do sentir a história cotidiana é uma necessidade dos meios de comunicação. Trata-se realmente disso: sentir a história cotidiana. O homem plugado nos meios de comunicação é induzido a sentir tal história da mesma forma em todo o mundo, com as exceções de costume.

A educação vive hoje um grande desafio. Para alcançar os objetivos necessários ao desenvolvimento na sociedade globalizada ela precisa ser capaz de cumprir várias funções. É necessária a formação de um cidadão apto a compreender o contexto político atual e participar de seus processos com visão crítica e pleno domínio de sua cultura e identidade, sem, contudo refutar com veemência a abertura e a integração mundial advinda do fenômeno globalizante.
Para compreendermos melhor essa assertiva é preciso observar de forma concreta pelo menos três aspectos fundamentais da educação: qualidade, equidade e participação.
Desta forma, desenvolvimento e educação caminham lado a lado. Para atingir o ápice do primeiro são necessários investimentos pesados no segundo. O nível educacional de uma população adulta e sua especialização para o mercado de trabalho é resultado de décadas de investimentos em educação.



CONCLUSÃO

A repercussão do fenômeno conhecido como globalização em nossa sociedade é inegável, e também motivo real de preocupação no contexto de educação. Responsável por impactos socioeconômicos, políticos e sociais, entre outros, a globalização está nas discussões de todos aqueles que pensam de forma crítica e aceitam o desafio do enfrentamento a ideologia da sociedade de consumo.
Como visto, o modo de agir do ser humano está sendo reinventado e elaborado de forma a atender as elites dominantes, através da cultura difundida pelos meios de comunicação de massa.
Encarar a globalização de forma crítica é, sem dúvida, compreender uma conjuntura em que o domínio de mercado pelos países desenvolvidos não é o único mal gerado aos países em desenvolvimento. As nações mais pobres enfrentam o risco de sérias distorções em sua própria cultura devido à imposição pelo fenômeno da cultura e da educação de forma a atender os interesses do mercado. O resultado esperado pela sociedade de massa é conseguir impor uma consciência consumista e padronizar as reações psicossociais.
Se a globalização é um dos fatores que potencializam a intensificação da exclusão social e combustível de crises econômicas sucessivas nos países em desenvolvimento, que aumentam a distância entre ricos e pobres e distorce nossa concepção de felicidade e sucesso,é através da ampliação da produção de conhecimento da população que se consegue atingir o crescimento econômico sustentável, o aumento da renda per capita, a melhoria do nível de emprego e o respeito da comunidade internacional.
É investindo pesado na potencializarão do ensino público de qualidade, garantindo melhorias na infra-estrutura das escolas, construindo laboratórios de ciências e de informática, assegurando o acesso à Internet e novas tecnologias, adquirindo materiais didáticos, e melhor formando e remunerando os profissionais do magistério, que os países em desenvolvimento podem garantir real desenvolvimento humano.

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