GESTOS, POSIÇÕES E MOVIMENTOS NA LITURGIA

 1.    GESTOS, POSIÇÕES E MOVIMENTOS NA LITURGIA

“A posição do corpo, que todos os participantes devem observar, é sinal da comunidade e da unidade da assembleia, pois exprime e estimula os pensamentos e sentimentos dos participantes.” (Instrução Geral sobre o Missal Romano, n. 20)

 

a.)  FICAR DE PÉ: 

É a posição do Cristo Ressuscitado. Posição de quem ouve com atenção e respeito, tendo muita consideração pela pessoa que fala. Indica disposição do "orante"; prontidão: estamos prontos para caminhar em direção a Deus e aos irmãos. Indica a atitude de quem está pronto para partir, ou até de quem acolhe alguém em sua casa. É também o símbolo da dignidade humana. Além disso, ficamos em pé para acolher as pessoas, saudá-las ou parabenizá-las.

A Bíblia diz: "Quando vos puserdes em pé para orar..." (Mc 11,25) e, falando dos bem-aventurados, João vê uma multidão, "de pé, diante do Cordeiro" (Ap 7,9).

Na Missa, ficamos em pé: Na execução do canto de Entrada; nos Ritos Iniciais; durante a aclamação e a proclamação do Evangelho; na Profissão de Fé; na Oração Universal; na Oração Eucarística (desde o convite à oração até o convite à comunhão); na Oração depois da Comunhão; e para receber a bênção.

b.)  SENTAR-SE: 

É posição cômoda que favorece a catequese, boa para ouvir e meditar, de quem fica à vontade e ouve com satisfação, sem pressa de sair. É a atitude não só de quem ensina (Mt 5,1-2), mas também de quem ouve (Lc 10,39). Sentar supõe meditar, refletir.

Nos sentamos, durante a celebração, para ouvir as Leituras (exceto o Evangelho), para ouvir a homilia, durante a preparação das ofertas e após a comunhão.

c.)  AJOELHAR-SE

Revela principalmente espírito de humildade e reconhecimento dos próprios erros (penitência); expressa o ato de profunda adoração a Deus e também é atitude de quem reza individualmente (ao entrar na igreja, as pessoas geralmente se ajoelham e rezam e silêncio). É gesto de profunda e confiante oração (Lc 22,41; Mc 1,40). São Paulo diz: "Ao nome de Jesus, se dobre todo joelho, no céu, na terra e debaixo da terra" (Fl 2,10). Rezar de joelhos é mais comum nas orações individuais. "Pedro, tendo mandado sair todos, pôs-se de joelhos para orar" (At 9,40).

Pode-se ajoelhar, se for oportuno na Celebração, durante o ato penitencial, a proclamação da morte do Senhor nos Evangelhos do Domingo de Ramos e da Sexta-Feira da Paixão, ou em algum momento que expresse adoração, como o da Cruz, também na Sexta-Feira Santa.


d.)  GENUFLETIR:

A genuflexão é um gesto de adoração a Jesus Cristo no Sacramento da Eucaristia. É o ato de dobrar o joelho direito e levá-lo ao chão. Ao entrar na igreja, normalmente as pessoas se dirigem para diante do sacrário e aí fazem genuflexão. Com isso querem expressar sua adoração à presença real do Cristo Ressuscitado. Genuflete-se, durante a Celebração da Eucaristia, quando se passa na frente ou abre-se o sacrário.

e.)  INCLINAR-SE:

Gesto intermediário entre o estar em pé e o ajoelhar-se. Também chamado de vênia, é sinal de grande respeito. É reverência e honra que se presta às pessoas ou às imagens. É também adoração, diante do Santíssimo Sacramento.

Desde o início da Celebração, inclina-se diante do altar, também faz-se vênia durante o ato penitencial, antes e depois da incensação, para receber a bênção, e ao término dos ritos.

f.)    PROSTRAR-SE:

Gesto muito antigo, bem a gosto dos orientais. Estes se prostravam com o rosto na terra para orar. Indica profundo sentimento de indignidade, humildade e súplica. Significa morrer para o mundo e nascer para Deus com uma vida nova e uma nova missão. Hoje essa atitude é própria de quem se consagra a Deus. Assim fez Jesus no Horto das Oliveiras (Mt 26,39)

Gesto previsto no início da Celebração da Paixão do Senhor (pelo Presidente) e para as celebrações de ordenação diaconal e presbiteral, opcional para as profissões religiosas.

g.)  LEVANTAR AS MÃOS:

É a atitude de quem ora, ou conduz uma oração. Significa súplica e entrega a Deus. É reservado ao Presidente da Celebração, que o faz durante as orações coleta, sobre as oferendas, eucarística e depois da comunhão.

É o gesto aconselhado por Paulo a Timóteo: "Quero, pois, que os homens orem em qualquer lugar, levantando ao céu as mãos puras, sem ira e sem contendas" (1Tm, 2,8)

 

h.)  JUNTAR AS MÃOS:

Significa recolhimento interior, busca de Deus, fé, súplica, confiança e entrega da vida. É atitude de profunda piedade. O presidente as faz ao término das orações.

 

i.)    BATER NO PEITO:

É expressão de dor e arrependimento dos pecados. Este gesto ocorre na oração “Confesso a Deus todo poderoso... por minha culpa, minha tão grande culpa.”

j.)    CAMINHAR EM PROCISSÃO:

É atitude de quem não tem morada fixa neste mundo: não se acomoda, mas se sente peregrino e caminha na direção dos irmãos, principalmente os empobrecidos e marginalizados.

Dentro da Celebração, faz-se a procissão de Entrada (que alude à recolher os passos da caminhada cristã), a das ofertas (que traz as ofertas do povo a Deus, sendo que Jesus é a oferta maior, o dom de amor) e da comunhão (caminhada até o Cristo na Eucaristia).

Fora da igreja, pode-se fazer as procissões previstas no Missal Romano, que também compõem o rito de algumas celebrações, como a do Domingo de Ramos e a de Corpus Christi, além de procissões de tradição popular, como a do santo padroeiro, por exemplo.

 2.    O VALOR DO SILÊNCIO

 “A Celebração deve comportar uma valorização do silêncio, dentro de uma liturgia que, no espaço de poucos anos, passou de um acontecimento silenciosos a uma vivência por demais sonora, cheia de palavras e músicas; ainda mais que o povo, às vezes, vem para a celebração depois de ter sido fortemente ‘bombardeado’ por um ambiente musical atordoante, ao longo do dia.” (CNBB. A música litúrgica no Brasil, n.326)

 O silêncio é indispensável nas celebrações litúrgicas. Ajuda o aprofundamento nos mistérios da fé. "O Senhor fala no silêncio do coração". Indica respeito, atenção, meditação, desejo de ouvir e aprofundar a palavra de Deus, para interiorizar o que o Senhor disse. Meditar é também uma forma de participar. Uma Missa que não tivesse nenhum momento de silêncio seria como chuva forte e rápida que não penetra na terra.

Prevê-se silêncio após o convite do Ato Penitencial e da Oração do dia, após as leituras e a homilia. Depois da comunhão, todos são convidados a observar o silêncio sagrado.

Infelizmente, estamos desabituados ao silêncio. Achamos estranho quando a tevê, por problemas técnicos ou falta de energia elétrica, fica muda e sem imagem. Silêncio = Defeito, Problema!... Não sabemos lidar com o silêncio. Muitas pessoas, para afugentar o silêncio, mergulham no som alto e barulhento. Outras conversam o tempo todo, contam piadas e soltam sonoras gargalhadas. Não raro essas pessoas agem desse modo para evitar o confronto consigo mesmas, com seus problemas e com a própria consciência.

O silêncio não é apenas ausência de palavras ou ruídos. Corremos o risco de interpretar o silêncio das celebrações litúrgicas como falhas da equipe de celebração. O silêncio é, acima de tudo, atitude que envolve a pessoa toda: nas suas dimensões corporal e espiritual. Por isso, na liturgia, o silêncio assume função indispensável!!!


3.    O ALTAR NO CENTRO DAS ATENÇÕES

Texto de Ione Buyt, publicado na Revista de Liturgia, n. 199, p. 28

Ao entrarmos numa Igreja, para onde se voltam nosso olhar e nossa atenção? Algumas pessoas se dirigem imediatamente à imagem se seu santo de devoção, ou fazem a volta de todos os altares dedicados aos santos. Outras pessoas vão direto ao lugar onde se encontra o sacrário, ajoelham-se aí e rezam.

E o altar? O que significa para nós? Qual a atenção que lhe dedicamos? Que sentimentos desperta em nós? A Instrução Geral sobre o Missal Romano (IGMR), no n.229, diz assim: “O altar ocupe um lugar que seja de fato o centro para onde espontaneamente se volte a atenção de toda a assembleia dos fiéis”. E o n. 303 pede que nas novas igrejas a serem construídas, haja “um só altar que, na assembleia dos fiéis, signifique um só Cristo e uma só Eucaristia da Igreja”. E o n. 298 lembra que o altar fixo (que é preferível ao altar móvel) “significa de modo mais claro e permanente Jesus Cristo, Pedra viva (1Pd 2,4; cf. Ef 2,20)”. O altar é também a “mesa do Senhor, que é o centro de toda a liturgia eucarística”. (IGMR, n. 73). Por isso, ao entrarmos na igreja devemos nos habituar a voltar nosso olhar e nossa atenção, antes de tudo, para o altar e saudá-lo com uma inclinação do corpo ou da cabeça, em atitude de respeito, cheio de devoção e de terno amor para com Jesus Cristo, Pedra viva que sustenta a comunidade cristã.

E videntemente, esta centralidade do altar deve ser levada em conta também durante as celebrações litúrgicas. Observemos o início de uma celebração, de domingo, por exemplo: “Chegando ao presbitério, o sacerdote, o diácono e os ministros saúdam o altar com uma inclinação profunda. Em seguida, em sinal de veneração o sacerdote e o diácono beijam o altar e, se for oportuno, o sacerdote incensa a cruz e o altar” (IGMR 49). Esta inclinação profunda, este beijo, esta incensação não são mera etiqueta, cerimônia ou enfeite para embelezar a celebração, não. São expressão de nosso amor a Jesus Cristo e do fato de termos construído nossa vida nele, como num alicerce. Uma equipe de ministros que, durante o canto de entrada, avança do fundo da igreja em direção ao altar, tendo o olhar, a atenção e o coração voltados para Cristo, representado pelo altar, ajudará toda a assembleia a se constituir e se concentrar na pessoa de Jesus.

Mas, o que pensar de uma equipe de ministros que, em vez de saudar o altar, se posiciona de costas para o mesmo e faz uma inclinação perante a parede do fundo, onde se encontra um crucifixo ou uma pintura de Cristo Ressuscitado, ou uma imagem do padroeiro ou padroeira? Provavelmente, ainda não perceberam que o altar “é mais”! Antigamente, antes do Concílio Vaticano II, o altar estava encostado na parede, geralmente no meio de um monumental “retábulo”, que comportava também o sacrário e imagens de santos, principalmente da padroeira. O altar como que se confundia com este conjunto todo e não era mais reconhecido como mesa do Senhor. E quando se fazia uma reverência no início e no final da celebração, não se tinha muita consciência se era para o altar ou para o sacrário ou para as imagens... Com a renovação conciliar a Igreja resgatou sua tradição primordial. Agora, o altar é de novo tratado como um sinal sacramental. Antes de ser usado para a celebração, o altar é “dedicado” com uma solene oração, é ungido, nele se queima incenso, é revestido com a toalha e beijado pela primeira vez.

A saudação dos ministros no início e no final da celebração deve ser feita, pois, para o altar e não para o crucifixo ou outras representações na parede do fundo. Caso haja no presbitério também um sacrário, os ministros farão genuflexão no início e no final da celebração, mas jamais de costas para o altar. O mesmo vale para a saudação no início e no final do ofício divino e também para as prostrações durante a ladainha de todos os santos em certas celebrações como ordenações e profissões religiosas: devem ser feitas com todas as pessoas voltadas para o altar e não para a parede atrás dele!

Se o altar é tão importante, como centro da assembleia reunidade, devemos evitar colocar a cadeira da presidência e os assentos dos acólitos na frente do altar, de modo que fiquem de costas para o altar e impedem que este esteja no centro das atenções.

 

 

  1. 4.    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Congregação do Culto divino e a Disciplina do Sacramento. Instrução Geral sobre o Missal Romano (IGMR). Editora Vozes. Rio de Janeiro, 2004.

Congregação do Culto divino e a Disciplina do Sacramento. Elenco das Leituras da Missa (ELM). Editora Paulus. São Paulo, 2006.

CNBB. Liturgia em mutirão II – Subsídios para a formação. Edições CNBB. Brasília, 2009.

DUARTE, Pe. Luiz Miguel. Liturgia: Conheça mais para celebrar melhor. Paulus. São Paulo, 1996.

LUTZ, Pe. Gregório. O que é Liturgia? Paulus. São Paulo, 2006.

PEREIRA, Edes Andrade. Evite erros na Celebração Litúrgica. A Partilha. Minas Gerais, 2007.

MOTTA, Susana Alves da. Pequeno Vocabulário Prático de Liturgia. Paulus. São Paulo, 2009.