A crescente utilização da noção de “competência” como importante referência na gestão de empresas no Brasil tem renovado o interesse acerca do que esse conceito aporta de novo em termos de princípios e práticas de gestão. Esse artigo tem como objetivo aportar ao leitor uma revisão sistemática da noção de competência e, a partir dessa base, analisar diferentes situações de emprego da noção de competências em empresas instaladas na região sul. Entretanto, muitas questões em torno do emprego dessa noção no ambiente organizacional brasileiro continuam pouco esclarecidas, especialmente questões que giram em torno da maneira pela qual a noção de competência tem sido apropriada, explorada e desenvolvida.

A competência organizacional, na instância corporativa, e sob forma de competência coletiva, é associada aos elementos da estratégia competitiva da organização: visão, missão e intenção estratégica. Muito menos conhecida e difundida do que a dimensão invididual de competência, a noção de competência organizacional passou a ser mais explorada a partir da difusão do conceito de Core Competence (Prahalad & Hamel, 1990) e representa uma espécie de contraponto às idéias que sustentam o planejamento estratégico com base no “posicionamento no ambiente”. Os autores cima citados, defendem a perspectiva de que a concepção de uma estratégia competitiva não pode prescindir da análise das capacidades dinâmicas internas à organização. Ao contrário, entendem que essas últimas podem até mesmo constituir a base da ação estratégica externa. Entretanto, segundo o autor, quando se trata de replicar essa noção de maneira mais abrangente, isso é, explorando-a em ambientes e situações menos “extraordinárias” do que aqueles empregados por Prahalad & Hamel, as coisas não se passam da maneira como os textos destes autores propõem.

Os resultados obtidos com empresas da região sul estimulam a revisão dos referenciais associados à noção de competência coletiva no plano organizacional, cuja base principal tem sido até o momento, sustentada na lógica das CCs. Assim, a configuração dos diferentes níveis de consistência das competências organizacionais pode tomar a seguinte forma: (a) Competências Organizacionais Básicas – contribuem decisivamente pra a sobrevivência da organização no médio prazo. (b) Competências Organizacionais Seletivas – diferenciam a organização no espaço de competição aonde atua, contribuindo pra uma posição de liderança ou quase nesse mercado. (c) Competências Organizacionais Essenciais – diferenciam a organização no espaço de competição internacional, contribuindo para uma posição de pioneirismo nesse mercado. Essa tipologia de competências organizacionais presta-se a avaliação do nível de contribuição da competência em questão para a competitividade da empresa. Isso significa que uma mesma empresa pode apresentar simultaneamente esses três tipos de competências organizacionais.

            Os resultados das observações empíricas à luz das referencias teóricas mostram que na grande parte das empresas a abordagem “competência organizacional” não é apropriada de maneira formal. Embora seja muito clara a demanda por uma perspectiva estratégica relativamente às “capacidades” necessárias para sustentar os posicionamentos competitivos, a quase totalidade das empresas observada não emprega formalmente os conceitos associados à competência organizacional. Os resultados mostram uma situação bastante paradoxal no que se refere aos impactos da noção de competências sobre as praticas de RH.  Uma dificuldade comum às organizações tentando empregar a noção de competência como uma das diretrizes fundamentais da gestão, é a de tratar essa noção sob a forma de uma estratégia articulada, orientada para o desenvolvimento da organização, de seus grupos e de suas pessoas. Muitos dos impasses identificados nesse processo de apropriação da noção de competência no ambiente empresarial estão associados à ausência de um quadro de referências relativamente integrado e coerente acerca dessa noção e de seus desdobramentos práticos.

Pergunta para Análise: disserte sobre o valor da tipologia das competências organizacionais.