Gestão escolar: uma missão impossível

 

É evidente que o sistema educacional escolar existe para melhorar as capacidades humanas. A questão é saber com que finalidade isso é feito. As capacidades humanas são melhoradas com a finalidade de melhorar o ser humano ou para ampliar o alcance do sistema capitalista?

Sabemos que qualquer sistema escolar está inserido em um universo mais amplo que é o sistema social em que todos estamos inseridos. Sendo assim os modelos escolares com os quais podemos fazer contato são modelos que manifestam, reproduzem e/ou preparam para a imersão no universo da sociedade capitalista pois este é o modelo social vigente e no qual estamos inseridos. Pode ocorrer que enquanto pessoas ou cidadãos sejamos contrários a esse modelo, mas não temos como negar sua existência e interferência em nossas vidas e em todas as dimensões da vida da sociedade.

Se o sistema escolar é uma manifestação da sociedade, não temos como negar que sua função é reproduzir a sociedade e produzir os quadros de comando e os “operários” que irão manter essa relação e, consequentemente, preservar a atual estrutura social. Daí que a escola não existe para potencializar o ser humano mas com a finalidade de prepará-lo para a imersão e manutenção dessa sociedade não só do ponto de vista da ideologia dominante, mas também e principalmente para ocupar os espaços no processo de produção entendido da forma ampla. É para isso que serve o sistema escolar: preparar não o ser humano enquanto ser, mas as condições para que a sociedade se reproduza e reproduza as condições de preservação do capital e manutenção da sociedade.

Mas os gestores das escolas, não tem a função de estar atentos a eventuais desvios para corrigi-los? Até poderia ser, em termos idealizados. Ma só fato é que o gestor escolar é uma vítima do processo. Cabe-lhe a função de administrar o “inadministrável”; gerir o “ingerível”, pois o território escolar é um espaço de conflito: os desejos dos estudantes não são os mesmos dos pais que são diferentes do que almejam os professores e demais trabalhadores em educação que é diferente dos planos e objetivos do poder público que está perdido entre atender aos pais e às exigências do capital e do “mercado de trabalho”. Cabe ao gestor escolar fazer o malabarismo de atender a todos esses atores envolvidos no mesmo processo, mas com expectativas tão diversas. Como estamos diante de desejos irreconciliáveis cabe ao gestor escolar uma missão impossível pois sempre deixará insatisfeitos alguns dos atores envolvidos no processo.

Como se trata de uma missão impossível todos os atores envolvidos entram em cena, executam sua função e saem de cena insatisfeitos pois apesar do sistema escolar estar cumprindo com o papel estabelecido pelo sistema econômico, os gestores e demais profissionais da educação, sabem que poderia ser diferente, mas são impotentes em propor e instalar propostas realmente revolucionárias. E assim sabemos que nada está bem, mas continuamos a manter o sistema. Queremos derrubar uma parede de concreto usando uma agulha de costura.

Então, qual deveria ser a missão do gestor? A mesma dos demais profissionais da educação: promover um sistema escolar em que o centro não sejam os interesses do capital, no sentido de perpetuar a sociedade como ela se apresenta, mas o desenvolvimento do potencial humano.

Mas quando isso vai acontecer? Quando usarmos ferramentas mais eficientes que as agulhas.

Neri de Paula Carneiro

mestre em educação, filósofo, teólogo

Rolim de Moura - RO