GESTÃO ESCOLAR E O USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO – TIC: Possibilidades, Limites e Desafios

 

 

Maria Carolina Casari Ribeiro Santos[1]

Antonio Ribeiro Filho[2]

RESUMO: Vivemos em uma época onde ocorrem imensas mudanças. O movimento histórico alcançado no final do século XX, consubstanciado, especialmente, na Revolução tecnológica está gerando novos tipos de relações sociais e de poder, bem como profundos transformações na gestão das organizações. Nesse particular, a educação cobra grande importância e a escola sofre os impactos desta revolução. Em geral, a gestão escolar é desenvolvida sob os paradigmas clássicos se utilizando da informática para racionalizar e acelerar funcionamento da burocracia, raramente para experimentar formas de organização e de gestão inovadora. Este artigo apresenta um estudo que tem como o principal objetivo identificar e analisar o modelo de gestão praticado em escolas públicas do sistema educativo, por razão da implantação de programas educativos utilizando as Tecnologias da Informação e a Comunicação – TIC. Esta pesquisa do tipo exploratória, foi desenvolvida através de levantamento bibliográfico sobre este tema em escolas do Ensino Fundamental relacionados ao desenvolvimento de formas de gestão lentas, inflexíveis e do tipo burocrático que não respondem às necessidades da atual sociedade onde se difunde, todo tipo de informações devido ao uso das mencionadas tecnologias.

  

Palavras-chave: Globalização. Revolução tecnológica. Tecnologias. Gestão Escolar.

ABSTRACT: We live in an era in which huge changes occur. The historical movement reached at the end of the XX century, materialized, especially on the technological revolution is generating new types of social relations and power, as well as deep transformations in the management of organizations. In that particular, education cobra great importance and the school suffers the impacts of this revolution. In general, the school management is developed under the classic paradigms if using informatics to rationalise and accelerate operation of bureaucracy, rarely to experience forms of organization and innovative management. This article presents a study that has as main objective to identify and analyze the management model practiced in public schools of the educational system, by reason of the deployment of educational programs using the Technologies of Information and Communication - ICT.  This exploratory research, was developed through bibliographic survey on this subject in schools related to developing forms of slow, inflexible and management of bureaucratic kind that do not respond to the needs of the current society where spreads, any type of information due to the use of the mentioned technologies.

 

Keywords: Globalisation. The technological revolution. Technologies. School Management.

INTRODUÇÃO

O novo paradigma social que atualmente se está configurando, é possível afirmar que se fundamenta em dois elementos: a globalização e a revolução tecnológica. Esta nova realidade tem exigido profundas transformações no setor produtivo. De acordo com Castels (2006), a divisão social do trabalho, as relações trabalhistas, os espaços e tempos do trabalhador e seu próprio trabalho vem sofrendo mudanças significativas. Da mesma maneira, as organizações modernas estão, constantemente, buscando e criando novos modos de organização e de gestão tendo em vista a competitividade do mercado. As empresas públicas e privadas, especialmente as últimas, lutam de todas as maneiras para atualizar-se, adaptar-se às mudanças e assim enfrentar os desafios impostos pelo mercado, suas leis e suas regras.

O sistema educativo, certamente, é menos alheio ante estes fenômenos. Sobre ele recaem quase sempre as responsabilidades, promessas e esperanças de salvação além da capacidade para corrigir erros. A educação guarda relações estreitas com a globalização e as Tecnologias da Informação e a Comunicação – TIC. Desta maneira, cumpre destacar que a introdução das TICs nas instituições educativas supõe mudanças de grande amplitude que alcance aspectos múltiplos e variados, destacando-se, particularmente, neste estudo, a Gestão Escolar.

Assim, o presente artigo apresenta, sucintamente, algumas características encontradas na chamada “Gestão Escolar e Novas Tecnologias no Sistema Público de Ensino Brasileiro”. A investigação mencionada, ainda em processos realização, tem como principal objetivo identificar e analisar, através de levantamento bibliográfico, o modelo de gestão desenvolvido em escolas públicas, em virtude da implantação de programas educativos que exige a utilização das novas tecnologias, adotando como referência as políticas públicas formuladas em âmbito federal e a sua execução nos demais níveis.

O estudo, apoiado em referencial teórico que põe em evidência transformações mundiais, especialmente as provocadas pela globalização e os avanços tecnológicos, tenta identificar e explicar as mudanças que provocam nos processos de gestão postos pelas organizações sociais. Destaca, como objeto de investigação, a escola e a gestão que são desenvolvidas. Para Castels (2006), ao reconhecê-la como uma organização social que tem sua especificidade, a sua cultura e identidade própria, procura verificar como reage às transformações impostas. Igualmente, como se está reestruturando quanto a seus processos de gestão, em virtude da integração das novas tecnologias em seu trabalho para atender as demandas do mundo contemporâneo.

Na primeira parte do artigo de se apresentam breves reflexões sobre a globalização, os avanços tecnológicos, os reflexos nas sociedades modernas e nos processos de gestão desenvolvidos nas organizações. Seguidamente, volta-se o olhar para a escola, as reações que são estabelecidas frente às mudanças, especialmente como estes influenciam nos processos de gestão que são postos. Finalmente se apresenta e faz-se breves comentários sobre as questões que envolvem as novas mídias e a gestão escolar.

A Globalização, as Tecnologias e a Gestão Escolar: Fenômenos Atuais?

Vivemos, é inegável, uma nova era, cujas marcas distintivas são as vastas transformações em curso nas sociedades modernas. Há um conjunto de expressões usadas em escala mundial: globalização, novas tecnologias, revolução tecnológica, tecnologias da comunicação e da informação. Estes termos, mesmo embora signifiquem fenômenos distintos, estão estreitamente relacionados. De acordo com Almeida (2004), por um lado, é quase impossível falar de um sem referir-se ao outro. Por outro lado, as forças que os reúnem, afetam e provocam transformações substanciais em segmentos básicos: o Estado e o seu papel, a sociedade e a sua estruturação, o trabalho, a cultura. Além de configurar um novo paradigma social, a ruptura histórica em transcurso vem transformando, substancialmente, a noção de tempo e espaço.

São transformações radicais, provadas na economia, na política, e na cultura, ainda que, às vezes não se sabe a amplitude das mesmas. Contudo, verifica-se o passo de uma sociedade à outra, não se trata da morte ou o desaparecimento da realidade precedente, posto que as regras não se quebraram completamente. Tanto se identifica elementos persistentes e duradouros da sociedade em transição, como novos e nascentes elementos no mundo. Ou seja, talvez as sociedades contemporâneas, de acordo com Alonso (2012, p. 37) experimentem uma “sensação de fim, mas também de novos começos.”

Segundo Kuhn (2006), no tipo de sociedade que se configura, há sinais de uma nova revolução social. Esta revolução, em geral, tem sido comparada à que precedeu o nascimento da sociedade industrial. Para muitos é “o fim da história” e/ou a superação de algumas de suas etapas, embora isto não seja novidade no mundo ocidental. A constituição do mundo moderno, a superação para da modernidade à pós-modernidade, são processos constituídos, de fato, que concretizam as formações históricas.

Desta maneira, as mudanças atingem as orientações e o sentido das políticas em geral, bem como o setor educativo em particular. Afetam a maneira de conceber a educação e de estabelecer prioridades nas políticas da educação. Se estendem até a definição dos procedimentos e estratégias de gestão adotados, e também a integração das tecnologias no sistema educativo (KUHN, 2006, p. 28).

As tecnologias, atualmente, engloba um comprometimento único. O seu permanente desenvolvimento histórico e seus avanços vertiginosos não permitem compreendê-lo separadamente do sistema social. Invadem todas as esferas e, às organizações, provocam as mudanças imperativas. “As empresas se veem pressionadas para transformas as formas de organização e gestão, para atender as demandas do mercado” (POSTMAN, 1995, p. 24). Igualmente, as escolas e a gestão que para acompanhar estas mudanças, devem estar compartilhando estas transformações.

Nas observações de Postman (1995), a revolução tecnológica põe em destaque as manifestações da microelectrónica que fazem-se presentes nas ruas, nos lugares, nas empresas, enfim, em toda a vida cotidiana. Ainda que desta revolução não participe a totalidade da população mundial, permanece uma certa lógica segundo a qual a tecnologia resolveria o problema do desenvolvimento de alguns países. Contudo, a realidade é que, no Brasil, muitas pessoas e, principalmente, muitos estudantes ainda não possuem computadores em casa e muitos ainda não tem acesso à internet, principalmente estudantes de baixa renda e os alunos da zona rural. Em síntese, pode ser dito que há um paradoxo: por um lado, a velocidade e a natureza das mudanças, por outro, a forma um tanto quanto segregacionista com a qual atingem os espaços e a população em geral.

Kuhn (2006) indica que a revolução tecnológica constitui a principal força propulsora da globalização. Embora as relações desta “nova economia”, seja um tema que apresenta inúmeras controvérsias: se por um lado une o mundo, como o próprio nome sugere, também o divide. É um fenômeno que faz parte e intervém profundamente nas mudanças que estão ocorrendo. Para Castels (2006) a globalização significa o visível perda de fronteiras do trabalho diário nas mais diferentes as dimensões da economia, a informação, a ecologia, a técnica, os conflitos transculturais e a sociedade civil. Igualmente, a entende como politização e neste sentido é mais eficaz dos últimos anos.

“A globalização, visto como um fenômeno multidimensional, dotado de características novas e específicas, não admite leituras em uma única direção” (ALONSO, 2012, p. 41). Entre outras tantas dimensões ela é também política e cultural. Ou seja, a globalização não é fundamentalmente econômica. Além do mais, ainda que testemunhamos e vivamos numa economia global, ela está igualmente muito regionalizada. Caminha, cada vez mais para a localização, pois o local não é excludente de que é global. Pelo contrário, este deve ser compreendido como um aspecto daquele.

Para Alonso (2012), a educação, como os demais setores sociais, inevitavelmente, é atingida pela globalização. A questão local-global se expressa visível no funcionamento do sistema educativo. Desde a perspectiva da ilustração, o processo educativo era assunto pessoal, íntimo e local. A educação se ajustava à uma comunidade, à cultura, ao modo de vida local ou nacional. Do mesmo modo, conformando-se como serviço público institucional, a ideia da responsabilidade familiar e local permanece.

A conversão da educação em assunto público, põe em evidência a questão económica. Ela é tanto gasto como investimento. Assim, suas consequências políticas se sobrepõe ao sujeito da educação e constituem um conjunto de decisões estratégicas que afetam a sociedade em geral. Nisto em particular, destaca-se o papel do Estado o qual a educação é considerada uma política pública.

Desde o século XIX, os sistemas educativos são organizações que atuam sob os auspícios do estado-nação que controla, regula, coordena, autoriza, finança e certifica o processo ensino e aprendizagem.

Até que ponto se vê afetado o comprometimento educativo pelos processos da globalização, ameaçando a autonomia dos sistemas educativos nacionais e a soberania dos estados-nação como máximos governantes nas sociedades democráticas? Estas são questões que devem ser incluídas nas análise dos sistemas educativos e da gestão escolar (VIEIRA, 2003, p. 38).

Estas questões constituem o eixo de um análise relevante e contínua. Por um lado, a maneira como estes processos produzem-se nas sociedades em geral. Por outro lado, como o sistema educativo e as escolas enfrentam a integração das tecnologias e o reflexo de sua estrutura organizativa. Por exemplo, a organização de recursos e materiais, de tempos, espaços e horários, a formação dos sujeitos (professores, alunos, técnicos), as novas funções assumidas, o poder e as responsabilidades compartilhadas. Em síntese, como se estão se organizando, quanto a seus processos de gestão, para fazer frente à nova realidade.

 

A Escola, a Gestão Escolar e as Tecnologias da Informação e da Comunicação

De acordo com Castels (2006), as Tecnologias tiveram, por si mesmas um impacto profundo na organização do trabalho, na estrutura social e cultural das sociedades e nas formas de gestão adotadas pelas organizações sociais. Na sua evolução histórica recebeu inúmeras denominações. Tecnologias da Comunicação e da Informação – TIC é atualmente, é a mais adotada. Estão produzindo uma nova revolução avançando e prometendo intensificar, profundamente, não somente a capacidade produtiva, mas também a potencialidade da mente humana. “Se na época da Revolução Industrial o mais importante era os recursos (ferro, petróleo, etc.) agora o elemento distintivo é o conhecimento e os processos cognitivos” (CASTELS, 2006, p. 27).

Existe hoje uma forte associação entre o avanço tecnológico e uma maior exigência do conhecimento que é considerado a fonte de valor e crescimento da sociedade atual e do futuro.

Neste sentido, a educação cobra grande importância e, por conseguinte, a escola, um dos espaços onde se produz o conhecimento. Em todo o mundo, observa-se uma preocupação crescente no que concerne aos sistemas educativos, manifestado por diversas maneiras. Por um lado, observa-se a tendência do aumento dos investimentos em educação na maioria dos países industrializados. De outro, o reconhecimento da importância da administração para o funcionamento das organizações sociais. A sociedade apresenta-se como um grande conjunto de instituições que efetuam tarefas determinadas. Neste contexto, de acordo com Postman (1995), se localizam os sistemas educativos e, especialmente, a escola que, como as demais instituições, tem necessidade a ser administrada. Mas, a trajetória histórica dos modelos de gestão adotados pelos sistemas educativos, em geral, são baseados nos paradigmas tradicionais, sob os pressupostos filosóficos e ideológicos do positivismo, racionalismo e funcionalismo, produzindo uma gestão autoritária e burocrática, sustentada no modelo tecnológico e na burocratização.

Significa dizer que a Administração recorre mais frequentemente à gestão clássica. Por exemplo, no caso da informática geralmente a utiliza com o objetivo de racionalizar e acelerar o funcionamento da burocracia, raramente com o objetivo de experimentar uma forma de organização inovadora e mais flexível. Desta maneira, de acordo com Bates (2001, p. 60): “urge imaginar, experimentar e promover estruturas de organizações e estilos de decisões orientadas para aprofundar a democracia”. O autor, continuando a sua análise sobre as formas de gestão atuais, as vê lentas e inflexíveis, ou seja, são do tipo burocráticas e não dão respostas às necessidades que são impostas à sociedade que produz mudanças, onde são difundidas, em larga escala, todos os tipos de informações. Além disso, indica Castels (2006, p. 42) “o enfrentamento desta realidade provavelmente será através de estruturas de organização que favoreçam uma verdadeira socialização das soluções de problemas”.

Neste sentido, é possível afirmar que as TICs põe em questão os estilos de gestão inflexíveis, as culturas fechadas e tradicionais. Pode se dizer que elas inovam os modelos de gestão propostos pelos sistemas educativos? Vale à pena procurar respostas à esta pergunta. Não há dúvida que no que diz respeito as TICs é sempre importante perguntar o porquê e para quê usá-las. Pois uma técnica ou aparelho se transformam em instrumento importante das práticas sociais, somente quando a sociedade tiver necessidade de lançar mão da sua utilização para avançar. Assim, a sociedade atual não pode representar apenas uma infraestrutura do tráfego de informações, se espera uma nova forma de organização social.

Neste sentido, de acordo com Postman (1995), a coletividade humana e determinados grupos são os responsáveis pela implementação e uso das tecnologias. Nenhuma solução pode vir da “técnica”. Isto porque, o crescente uso das TICs e o sua respectiva industrialização produzem uma adoção crescente da razão técnica-instrumental, gerando o predomínio do pensamento tecnocrático.

Ainda sobre a relação das tecnologias com as formas de gestão, especialmente nos sistemas educativos, Postman (1995) compreende que as TICs podem ser utilizadas como mecanismo de controle pela concentração de informação, ao fornecer a burocracia e pelo conhecimento especializado, além de aumentar o poder conferido aos que sabem administrar as informações. Igualmente, o autor considera que a estrutura de comunicação, inerente à qualquer sociedade, sofre modificações profundas através da utilização das TICs. Isto pode sugerir mudanças substanciais nas estruturas funcionais das escolas em sua organização e gestão.

De todas as maneiras, ao ritmo pausado, as chamadas TICs se fazem presentes na escola. É possível dizer que algo diferente se move nas escolas? Que a simples presença destes novos artefatos produz mudanças nas mesmas e na gestão que lá são assentadas? É impossível pensar que as tecnologias, por si mesmas, transformem a sociedade. Assim como é um grande equívoco atribuir-lhes desmedidas virtualidades. É também importante destacar, de acordo com Pretto (1996) que a presença e o uso das TICs nas escolas não se reduz a um simples problema “didático”, mas e, de modo especial, esta afeta a questão organizativa e cultural.

Estas ações da escola tem sido, tradicionalmente, tratadas de maneira fragmentada, realizando a sua tarefa isoladamente como se cada uma tivesse “vida própria”. Contudo se observa, de um lado, embora lentamente, a presença das TICs e, de um outro o grande potencial que as redes geram. Como menciona Alonso (2012, p.13) “as redes de informação geram estruturas organizativas e centros de poder à margem das velhas instituições, porque atribuem novas posições e tarefas aos atores dentro da organização”. Ou seja, formar parte de redes de comunicação é condição de existência da organização, mas de forma integrada a todos os atores e serviços.

[...] não podemos pensar que a pura e simples incorporação destes novos recursos na educação seja garantia imediata de que se está fazendo uma nova educação, uma nova escola, para o futuro [...] vivemos um momento histórico especial, em que surgem novos valores na sociedade (PRETTO, 1996, p. 21).

Como já tem sido mencionado, a simples presença dos artefatos tecnológicos influencia sobre a organização das escolas e sua configuração administrativa. Ou seja, altera espaço e tempo em respeito a sua utilização e o seu armazenamento, bem como as relações primárias estabelecidas entre os membros da organização. Sobretudo porque, de acordo com Alonso (2012, p.34):

Não afetam unicamente as formas de acessos a informação ou a concepção das práticas, mas ao que é mais substancial como os critérios de autoridade e de verdade, sistemas de controle, relações de poder, de distribuição dos espaços e de tempos, abertura ao ambiente, entre outros elementos propriamente organizativos e instaurados em sua cultura.

Assim, não é possível reconhecer a escola como uma instituição administrativa responsável apenas pela instrução. Para melhor compreendê-la se pressupõe a retenção tanto nos aspectos manifestos como nos subjacentes e informal da sua vida diária. Igualmente supervisioná-la sob a perspectiva da micro política e suas facetas básicas: a dominação e o conflito. Especialmente porque os sujeitos e os grupos põem em marcha estratégias de poder e influência para defender seus interesses.

Ainda que a escola desloca-se com certo grau de autonomia, não pode ser esquecido que é uma unidade de um sistema escolar inserida no macrocosmo político, sociocultural e econômico do Estado. Por esta razão, se mantém unida sobre a base de um conjunto de determinações, entre o cumprimento dos objetivos educativos gerais já impostos e as circunstâncias locais do seu contexto imediato.

É também importante destacar que as organizações evidenciam na sua estrutura relações estabelecidas entre as pessoas, suas finalidades, modos tecnológicos e as formas de intercâmbio na organização e as TICs sustentam os fundamentos deste modelo organizativo. “O paradigma tecnológico pode conservar as pautas burocráticas e também incluí-las e, talvez, acrescentá-las” (ALONSO, 2012, p. 35). 

As TICs, além da sua importância e visibilidade no sistema educativo, não será a característica mais importante da transformação do ensino. O mais importante será reconsiderar o papel e a função da educação escolar, seu foco, sua finalidade e os seus valores. As TICs são importantes, principalmente porque nos forçam a fazer e criar coisas novas e porque permitem que tornemos melhores as coisas as velhas. Portanto, o principal desafio que temos ante nós não está na tecnologia, mas no uso que fazemos dela. Neste particular, se torna imprescindível que as escolas repensem seus procedimentos organizativos e seus processos de gestão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O sistema educativo público brasileiro põe cada vez mais em marcha a integração entre educação e as novas tecnologias. Além da incorporação da Tecnologia da Informação e Comunicação, as escolas já têm como objetivos atenderem às necessidades específicas do sistema educativo. Nossa educação pública ainda demandam de distribuição de aparelhos tecnológicos para o ensino.

Portanto, apesar da disponibilidade de um aparato tecnológico nas escolas, é preciso também fazer um melhor uso destes recursos. Percebe-se que falta ainda se potencializar os meios para favorecer a mudança nos modelos educativos até então praticados.

De acordo com o referencial teórico e a prática observada no cotidiano escolar em relação à esta integração ensino-tecnologia há muito a ser melhorado, a saber: as TICs, especialmente os computadores, estão sendo utilizados para a mecanização das tarefas administrativas; o uso dessas tecnologias nem sempre estão integrados ao projeto educativo das escolas; o sistema organizativos das escolas nem sempre se alteram, permanecendo os mesmos espaços físicos com imensas dificuldades para a organização e a guarda dos materiais enfrentam problemas de segurança; as escolas sofrem dificuldades para integração da TIC através dos programas governamentais. Estes, exigem das escolas, investimentos e pressupostos que não dispõem para os serviços de manutenção e outras necessidades exigidas, como a aquisição materiais complementares à utilização das mesmas; frequentemente a quantidade de equipamentos é insuficiente para os alunos matriculados; os professores ainda apresentam imensas resistências ao uso das TICs, não estão motivados, também tampouco preparados para isto; existe ainda desigualdade social entre as escolas do sistema público de ensino. As TICs podem servir para reforçar as diferenças ou para superação destas; as TICs favorecem o embate e a competição entre os professores e os alunos, já que estes têm mais conhecimento sobre o uso; além disso, o poder e o autoritarismo se estabelecem no âmbito das escolas, sendo observados nas relações entre diretores, professores e alunos; as tecnologias são utilizadas, em geral, de maneira fragmentada, burocrática, formal e mecanicista. Não existindo, dessa forma, conexão em rede entre as escolas que desenvolvem os mesmos programas, tampouco entre as mesmas e a administração central do sistema educativo, ignorando o potencial das TICs para, inclusive estabelecer formas de gestão horizontais, flexíveis e comunicativas.

Por tudo isso, se observa que o Estado estabelece reformas inovadoras propondo estratégias diferentes que ocorrem através da integração das tecnologias. Deste modo, as escolas são encarregadas do uso e do ensino das TICs, pois assim a nova ordem é constituída com e através destas novas tecnologias.

Deste modo, é importante indicar que o contexto organizativo escolar é um espaço social de produção e reprodução de discursos públicos e exerce a mediação entre o indivíduo e as demais estruturas sociais. Portanto, é importante que o uso das TICs seja integrada ao projeto educativo das escolas, que deve ser elaborado em conjunto pelos diferentes atores que a compõe, constituindo-se em momento de aprendizagem e aperfeiçoamento das mesmas.

Para a integração das TICs nos sistemas educativos e para promover as mudanças nos processos de gestão, o essencial será a adoção da estrutura organizativa em rede, possibilitada pelo próprio potencial das Tecnologias da Informação e Comunicação. Esse modelo possui a vantagem de alterar as estruturas hierarquicamente estabelecidas nas organizações, possibilitando formas de gestão horizontais e mais flexíveis, incluindo mudanças nas relações de poder. Este modelo pode possibilitar, de um lado, implementar o processo gestão democrática e, de outro, transformar as escolas em instituições interconectadas.

A integração das TICs nas escolas resulta o enfrentamento de dificuldades de natureza diferente, bem como limites que devem ser superados. Do mesmo modo, não pode permanecer restrito à simples repetição de procedimentos tradicionais e a valorização da técnica em si mesma ou apenas como meios auxiliares do processo educativo. Assim, a encruzilhada para a integração das TICs nas escolas é situada no problema da modificação da sua estrutura considerando a flexibilidade prometida pelas tecnologias. As mudanças educativas necessárias devem ser vinculadas ao projeto educativo global, ou seja, ao Projeto Político Pedagógico que, em soma, é uma questão mais ideológica que técnica, na medida que altera as redes e as relações instituídas.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, M.; RUBIM, L. O Papel do Gestor Escolar na Incorporação das TIC na Escola: Experiências em Construção e Redes Colaborativas de Aprendizagem. São Paulo: PUC-SP, 2004.

ALONSO, A. S. M. A Escola das Tecnologias. São Paulo: PUC-SP, 2012.

BATES, R. et alii. Prática Crítica da Administração Educativa. São Paulo: Coutrix, 2001.

CASTELS, M. A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura. Rio de Janeiro: Alianza Editorial, 2006.

KUHN, Tomas S. A Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo: Editora Perspectiva, 2006.

POSTMAN, N. Tecnopólio: A Rendição da Cultura à Tecnologia. São Paulo: Nobel, 1995.

PRETTO, N. L. Uma Escola sem/com Futuro. Rio de Janeiro: Papirus, 1996.

VIEIRA, Alexandre (org.). Gestão Educacional e Tecnologia. São Paulo: Avercamp,

2003.



[1] Professora na ETEC (Escola Técnica Estadual) Professor Milton Gazzetti, Presidente Venceslau – SP; Licenciatura Plena em Letras, com habilitação em Inglês pela FAPE (Faculdade Presidente Epitácio): 2003; Licenciatura em Pedagogia pela FAPI (Faculdade de Pinhais): 2010; Especialização em Gestão Educacional pela UNESP (Universidade Estadual Paulista): 2009; Mestranda em Ciências da Educação pela Universidade Hiltbay University.

[2] Possui formação acadêmica em Administração de Empresas pela Faculdade Luzwell; Formado em Pedagogia pela Faculdade São José. Especialização MBA, em Administração de Empresas pela FGV,  São Paulo. Atua como Administrador de Empresas, Perito Judicial e Professor de Cursos Técnicos em Administração no Centro Paula Souza.