Gestão do Conhecimento: reflexão ao nível da organização e do indivíduo

1Márcio Ananias dos Reis

 

Encontramo-nos em um momento em que a gestão do conhecimento é um elemento essencial na vida das organizações, se tornando vital na esfera da competitividade nas empresas e nos países. Há algum tempo as vantagens tais como localização, mão-de-obra barata, recursos naturais e capital financeiro eram os valores determinantes na vida empresarial, atualmente sendo importantes, estes sozinhos não são suficientes como vantagens competitivas.

Este recurso de conhecimento tem sido fundamental na escalada da globalização, pela recente abertura da economia brasileira para os mercados mundiais. As empresas brasileiras apesar do empreendedorismo, não têm conseguido se tornar tão competitivas nos mercados mais desenvolvidos, o que requer um investimento em pesquisa e tecnologia; uma maior aproximação entre as entidades de ensino e o setor público e privado; requer também gastos maiores por parte do governo em ciência e tecnologia, em pesquisa e desenvolvimento. O ramo de pesquisa cientifica voltado para tecnologias no país apesar de haver avançado bastante, ainda está aquém do que se produz nas nações mais desenvolvidas.

Portanto, é de vital importância o investimento nas áreas de tecnologia, educação e gestão do conhecimento, para que o país possa alavancar seus produtos e serviços ao nível de competição; tanto interna quanto externa.

Conforme cita o Dr José Cláudio: A Gestão do Conhecimento nas organizações exige uma compreensão das características e demandas do ambiente competitivo, por um contexto das necessidades individuais e coletivas tendo associação aos processos de criação e aprendizado:

- Reinvenção das vantagens competitivas, produzindo mais e da melhor maneira.

- Aumento no nível de educação e aprendizado de forma continuada.

- Aprendizado voltado para inovação e experimentação, comprometendo-se com os resultados de longo prazo, bem como a otimização de todos os setores da empresa.

- A superação em termos de inovação dos novos desafios impostos à estrutura organizacional, com alterações nas práticas do trabalho, superando os limites impostos à inovação, ao aprendizado e à geração de novos conhecimentos que são impostos pelas estruturas hierárquico-burocráticas.

A administração de RH deve estar atenta às novas tendências do mercado em termos de conhecimento na fase de seleção, recrutamento, planos de carreira, treinamentos e remuneração tendo em vista:

- Melhoramento na capacidade da organização em atrair e manter as pessoas com habilidades, comportamentos e competências que adicionam valor aos fluxos do conhecimento.

- Estímulo aos comportamentos alinhados com os processos individual e coletivo de aprendizado, assim também àqueles que resguardam os interesses gerais e o resultado de longo prazo da empresa, no que se refere ao fortalecimento das core competencies.

A informática é uma área em termos de tecnologia de comunicação com isso afeta os processos de geração, difusão e armazenamento do conhecimento nas organizações. Portanto, é indispensável o uso de um sistema de informação que integre a gestão do conhecimento com a tecnologia da informação. A gestão do conhecimento se foca em três pontos considerados pilares: 1- foco nos ativos intangíveis (principalmente o fator humano), 2- tornar a gestão do conhecimento em algo explicito, 3- incentivar e criar os mecanismos que facilitem aos empregados o compartilhamento de seus conhecimentos. Várias tecnologias podem ser empregadas para este fim tais como intranets, groupware, document manegement systems, data warehouses, desktop-videoconferencing, eletronic bulletin boards, etc.

Estas ferramentas utilizadas nos sistemas de informação podem ser classificadas em três grandes áreas conforme citado pelo Dr José Cláudio C. Terra (Biblioteca Terra Forum):

- Repositório de materiais de referência: conhecimento explícito que pode ser facilmente acessado e que evita duplicações de esforços;

- Expertise maps: banco de dados com listas e descrições das competências de indivíduos de dentro e de fora da organização. Isto facilitaria o compartilhamento de conhecimento tácito;

- Just-in-time knowledge: ferramentas que reduzem as barreiras de tempo e distancia no acesso a conhecimentos (ex: videoconferências).

Sendo importante saber a dimensão do capital intelectual, igualmente o será conhecer a medida dos resultados empresariais como a adição do conhecimento à vida empresarial bem como ser repassado por toda a organização.

Há uma necessidade das organizações se adequarem os seu aprendizado com o ambiente e à sua evolução, de modo particular, por meio de alianças com outras empresas. A geração do conhecimento (adequação de valor), se evidencia através de diversas das práticas gerenciais e de organização do trabalho, com associação a processos individuais e coletivos; envolvendo assim: a criação, aprendizado, inovação e difusão.

Questões vão surgir neste processo segundo Dr José Claudio no âmbito do conhecimento tais como:

- Como distinguir o conhecimento identificando pontos essenciais (competências individuais) na vida da empresa?

- Como tornar fácil e dar estímulos à transparência e à divulgação do conhecimento tácito dos funcionários?

- Como se valer de investimentos efetuados em informática e tecnologia de comunicação para ampliar o conhecimento na empresa e não somente para acelerar a informação e sua disseminação?

- Como o setor de Recursos Humanos deve agir no sentido de atrair pessoas e selecioná-las com as competências, habilidades e atitudes pretendidas? Quais sistemas, politicas e processos devem ser implantados visando a modular comportamentos que tem relação com o estímulo à criação e aos processos de aprendizado?

- Como compor o equilíbrio das situações do trabalho em equipe e trabalho individual; o trabalho multidisciplinar de âmbito geral e a esperada especialização individual?

Ao se referir à gestão do conhecimento, deve-se ter em mente a conjugação das análises “micro” ( formada pelos indivíduos e seus grupos), “meso” ( a organização), e “macro” (o ambiente). O aprendizado e criação individual requer que combine os diversos caracteres e perspectivas presentes e futuras, uma visão do sistema como um todo, e que se confronte os modelos mentais individuais. O processo da inovação precisa combinar variadas habilidades, conhecimentos e tecnologias de campos diferenciados do conhecimento, e até de diferentes setores econômicos. O aprendizado não é estático, sendo dinâmico ele produz resultado e não pode ficar parado no tempo, a inovação exige abertura a novos conhecimentos para se realizar também novas ações.

Importante reconhecer que o capital humano exerce grande papel nos valores, normas individuais e organizacionais, e nas transformações sofridas pela empresa. Também no que diz respeito a competências, habilidades e atitudes de cada funcionário, sendo a essência fundamental tanto na geração do conhecimento quanto na geração e agregação de valores na empresa. Neste sentido se deve estimular a motivação intrínseca, ampliar a rede de contatos pessoais, análise de diferentes interesses; também a abertura para uma efetiva e eficiente comunicação, e para o aprendizado continuo através de experiências, tentativas e erros individuais. Assim se estabelece uma assimilação e uma disseminação do que se adquiriu em termos de conhecimento e prática.

A Gestão do Conhecimento tem um caráter geral, e se aplica a todos os setores e departamentos de uma organização, e a todo tipo de empresa: sejam as tradicionais, como as de vanguarda, a empresas de atividades primárias, secundárias e terciárias. Sendo de vital importância para a competitividade nas empresas nacionais. Os resultados de uma gestão voltada para o conhecimento se expressa na relação custo-benefício, alcançando todos os moldes de empresa, tendo que superar as condições das circunstancias vigentes em termos de atrasos educacionais da população brasileira, em relação aos países mais desenvolvidos. Existem exemplos conhecidos de superação das condições ditas insatisfatórias, pelo que são conhecidas por “ilhas de excelência”, provando ser possível superar desvantagens e que isto passa genericamente por estratégias educacionais, gerenciais e empresariais em conjunto, e inseridas de forma empreendedora no ambiente de trabalho.

Adotar medidas práticas e modelos que têm associação com a Gestão do Conhecimento, não são francamente simples. Exige uma avaliação de várias experiências, como estudos de casos, por exemplo; tendo respaldo nos relatos de empresas que implantaram grandes processos de mudanças. Os esforços na conscientização, no plano de comunicação e a ativa participação da elite da alta administração, são indispensáveis no processo. Isso tudo exige um esforço de mudança nos processos, nas estruturas, nos sistemas de informação e ao incentivo primordial em âmbito individual e coletivo.

Os investimentos em Pesquisas e Desenvolvimento não resultam por si só em indícios de melhoria em desempenho inovador, geração e difusão de conhecimento. Uma mudança que faça o país seguir rumo a uma Sociedade de Conhecimento, precisa levar em consideração avanços na tecnologia gerencial relacionada à Gestão do Conhecimento. A Gestão do Conhecimento busca estudar e entender como os avanços nas tecnologias de informática e de telecomunicações e das conclusões das teorias sobre a criatividade e aprendizado individual e organizacional, aliados aos investimentos nestas áreas; vem a deter o poder de ampliar a geração, difusão e armazenagem. Agregando assim, conhecimento de real valor para o progresso das empresas e do país.

A globalização é um processo digno de nota no mundo atual, não pode ser revertido. Como consequência, as empresas perderam a noção de nacionalidade, de pátria. Associações e fusões ocorrem permanentemente com claro objetivo de concorrer com preços. Tudo isso exige um sistema de informação e de comunicação eficiente, aliado ao processo de Gestão do Conhecimento para assimilar e customizar essa nova identidade organizacional.

Uma empresa pode seguir os passos de outra em um mercado competitivo, copiando preços, produtos, imagens e estratégias de negócios de outra empresa líder de mercado. Entretanto, a empresa que detém o conhecimento no momento em que é assimilada, já está buscando novas estratégias de qualidade, eficiência e criatividade. Então copiar não basta, as estratégias de criatividade e inovação precisam ser descobertas a partir das vivencias e necessidades; praticando o conhecimento que agrega mais conhecimento de forma continuada.

MELLO e BURLTON (2000) apud CARVALHO (2003) p. 26, definem conhecimento situando-o em uma escala de conceitos onde dado, informação, conhecimento e sabedoria são os degraus. Estes degraus são detalhados a seguir:

a)Dados: fatos estruturados, valores de parâmetros e medidas, geralmente sem um contexto;

b)Informação: dado e contexto de referência que estabelece significado ou valor para o negócio ou alguém relacionado a ele;

c)Conhecimento: o que orienta as pessoas no uso de dados ou informações para fazer julgamento, tomar decisões ou realizar trabalhos;

d)Sabedoria: confiança comprovada no conhecimento ou tomada de decisão de alguém, geralmente obtida por meio de experiência.

A informação é de suma importância na Gestão do Conhecimento, é com ela que a organização toma suas decisões com base na percepção, conhecimento e ação; e nos experimentos já testados. Por isso, se torna importante saber as fontes e as tecnologias das informações utilizadas no processamento destas mesmas. Portanto, é salutar seguir a trilogia: saber de onde se parte, saber onde se quer chegar e saber quais os meios para se concretizar tal objetivo.

DAVENPORT (1998) veio a defender um modelo holístico de pensar para tratar do gerenciamento de informações, e destacando quatro atributos-chave:

a)Integração dos diversos tipos de informação: muitas organizações já começaram a integrar a administração de diversos tipos de informação. Integrar os diversos tipos de informação significa que, se deve combinar todas as mídias possíveis, independente delas estarem ou não disponíveis em componentes de TI. Essa integração tem sido impulsionada, não apenas pelas novas tecnologias, mas também pela necessidade de melhorar o aproveitamento de formas não-tradicionais de informação.

b)Reconhecimento de mudanças evolutivas: a admissão de frequentes mudanças no ambiente informacional. Essas mudanças podem estar relacionadas tanto a fatores internos quanto a fatores externos à organização. Uma vez que, é impossível entender ou prever como um ambiente informacional vai evoluir dentro de uma empresa; a administração informacional precisa abrir espaço para a transformação até mesmo quando não se sabe que tipo de transformação será esta.

c)Ênfase na observação e descrição: a organização deve se preocupar com as informações que possuem no presente. Como exemplo a impossibilidade de se prever futuros concorrentes ou que tipo de informações sobre eles serão necessárias. Faz muito mais sentido descrever que tipo de informação sobre a concorrência a empresa possui no presente, juntamente com os recursos para obtenção de novas informações, quando estas forem necessárias.

d)Ênfase no comportamento pessoal e informacional: significa não apenas oferecer a informação, mas também facilitar seu uso efetivo, proporcionando a procura, o compartilhamento, a estruturação e a atribuição de sentido à informação; além da formação de culturas informacionais positivas.

A hegemonia econômica e social é exercida não mais pelos proprietários dos meios de produção, e sim por aqueles que administram o conhecimento e podem planejar a inovação” TARAPANOFF (2001). Por isso os fluxos de informação e conhecimento dependem dos indivíduos, de tal forma a se produzirem estruturas eficientes de conhecimento transformado em ações concretas, com resultados satisfatórios.

A inovação é que cria conhecimento, que produz informação, que transforma os processos decisórios, e faz realizar através do sujeito deste processo de decisão. Como este conhecimento se processa na mente humana, a ação se inicia na compreensão e incentivo do individuo no afloramento destas percepções para a empresa, a qual pretende sobressair e atingir a excelência. A construção do conhecimento depende da análise, a sua decodificação depende do ser humano. Tem um dinamismo que depende da vontade dos colaboradores em realizar tais esforços: de forma unificada, e mesmo personificada.

A maior parte dos indivíduos está de alguma forma inserida num contexto organizacional, principalmente empresarial. Essa inserção forma o que se denomina de “contrato psicológico” SCHEIN (1982) p.18, havendo uma dependência no que diz respeito ao que se espera, formando as esferas das expectativas; tanto da organização como do individuo que nela atua, e dos clientes que com ela mantêm um vinculo econômico; alinhando objetivos.

A influência da organização no comportamento humano, devido pela presença do individuo nas organizações extrapola a do próprio tempo de convivência. Os esforços para a compreensão dos elementos influenciadores desse comportamento representa desafio para a ciência. A organização tem reflexo bem maior no comportamento humano do que se poderia deduzir pela análise do tempo de permanência dentro delas.” MARCH; SIMON (1970).

As organizações como parte da sociedade são amplamente influenciadas pelo ambiente externo, e estas por sua vez, também influenciam os arredores: por sua organização, sua imagem, sua ação social. Isto também é sentido na sua maneira de educar, uma vez que, as organizações são fontes de aprendizado e de vivencia, moldam o próprio individuo e a personalidade.

As ações dos indivíduos são motivadas pelo que está suas mentes; seja pelo caráter da autoestima, e pela compreensão do que as rotinas organizacionais são capazes de gerar, e interferir nos rumos das empresas e de suas próprias vidas. A organização é a soma destes indivíduos, que juntos produzem conhecimento, o qual contribui para uma implementação de mudanças; e são o elo que gera o progresso e contribui para a sobrevivência da célula organizacional onde atuam.

O fluxo deste conhecimento e o seu aproveitamento dependem de como o individuo opera a percepção; e de como utiliza o tempo em seu favor. A informação é em si uma espécie de cultivo, onde deve-se ter o cuidado de separar o que é bom daquilo que é nocivo, ou desnecessário; e que não agrega valor. Neste sentido, o conhecimento precisa ser reciclado, pois, o mundo muda, e cada vez mais, ser flexível em entendimento, significa estar um passo à frente. O raciocínio, aliado a uma dose de intuição que provém do aproveitamento de dados em mãos, ajuda a tomar a decisão certa no momento certo.

É preciso estabelecer critérios de quantificação e qualificação das informações; apesar de ser difícil mensurar, uma vez que, grande parte está de forma tácita, presente no individuo e em escalas não homogêneas. No entanto, este comportamento informacional se constitui na forma de como a organização se alicerça, em seu contexto no mercado e no mundo.

As organizações são baseadas em impor estímulos aos indivíduos, que os levam a tomar decisões. Não se deve ignorar a perspectiva do indivíduo, que pode deixar a organização vulnerável a riscos. Na utilização do estimulo não é possível prever consequências, as reações podem se manifestar de modo complexo, entre o ideal e o racional, o real e a fantasia.

Vários são os fatores situacionais que interferem na motivação para a tomada de decisão: como a informação é vista; a veracidade da fonte; a consistência da base de dados; a confiabilidade das informações; a sua atualidade ou ultrapassagem; e principalmente, em que contexto tal informação pode também ser útil e aplicável.

De posse de uma informação, tem-se de ter o cuidado de não utilizar um canhão para matar uma mosca; e também de não se valer de um estilingue para tentar derrubar um elefante. Os problemas devem ser tratados com a ciência de sua verdadeira dimensão; para não se criar nem expectativas muito fortes que possam fugir à realidade, e nem que estas expectativas sejam insipientes a ponto de levar a uma estagnação. É imprescindível saber o momento certo de utilizar determinada ação, para evitar falhas tanto por excesso, quanto por falta.

As organizações precisam interferir nos fluxos de informações, de forma a criar a cooperação, socializando e compartilhando as benesses desse conhecimento. É importante a atuação dos modelos de gestão. Faz-se necessária, a utilização de ferramentas tecnológicas para viabilizar de forma sistêmica o fluxo linear das informações; isso para reforçar o objetivo de criação e inovação, que servem de norte para a vida das organizações.

Existe, pois, uma quantidade enorme de problemas a solucionar, como também um fluxo de informações muito grande. O desafio é achar as opções que conduzam à qualidade e eficiência; deixando de lado a quantidade expressiva de informações que não podem ser uteis à resolução de problemas mais específicos, e até mais atuais.

Na relação com o cliente, é essencial saber se aquilo que lhe é ofertado atende suas expectativas. Adequação é o termo mais aceitável ao caso, temos de pensar como se estivéssemos no lugar do outro, o que se traduz por empatia; ou em certo sentido aquilo que serve para mim, pode não servir para o outro. Deve acontecer o que seria um casamento perfeito entre a expectativa e a realidade.

Interessante observar, que os mecanismos com os quais lidamos mudam com o tempo, pelo surgimento de novas tecnologias, aliadas a novas necessidades. O conhecimento é, pois, dinâmico, não para; muito do que utilizamos hoje, daqui a 30 anos já estará obsoleto ou mesmo terá saído de linha, já não será mais produzido ou utilizado. As máquinas de escrever são exemplos claros desta evolução: praticamente foram incorporadas pelos teclados dos computadores e pelas impressoras, de maneira mais prática e avançada. Outro exemplo são as máquinas fotográficas com filme, apesar de ainda estarem em uso, é tendência que deixem de ser produzidas e utilizadas. Atualmente, a comodidade e qualidade das máquinas digitais são uma vantagem trazida do conhecimento para o mundo moderno.

Diante dos fatos, podemos afirmar que todo conhecimento é válido; as funções das máquinas e das pessoas tendem a evoluir com o tempo, a se modernizar e a se adequar às novas necessidades. O conhecimento não se perde, alicerçando novos interesses e projetos. Quem poderia imaginar que os primeiros computadores fabricados no mundo, que exigiam salas imensas, fossem estar hoje na palma da mão, e com muito mais recursos? Isto se deve a necessidade, e a necessidade exige pesquisa. A portabilidade surgiu dos avanços que demandavam acessibilidade e economia de tempo, trouxe consigo a rastreabilidade; com isso surge o incremento da alta conectividade, ou da universalidade dos meios de comunicação.

O individuo é, portanto, o agente da mudança do conhecimento, um vez que, é ele quem consome os produtos e serviços oferecidos. É importante salientar esta dualidade: em que o conhecimento vem a se adequar às necessidades humanas, ao mesmo tempo em que, o homem tem que se adequar a este conhecimento.

A Gestão do Conhecimento exerce um papel fundamental no que tange a ao trabalho informacional, tal como lidar com os conflitos de interesses, e a preocupação com a preservação da imagem. O conhecimento tem por meta focar o trabalho no que é mais importante: o atendimento ao cliente e a consequente sobrevivência da organização. Não é exagero dizer que a evolução do conhecimento exige harmonia entre os indivíduos; todo ato de bater de frente e rivalidades podem resultar em atraso; deve-se pois, agir objetivamente pelo benefício de todos.

Os resultados práticos dependem do modo como é vista a informação, e como ela é utilizada em termos quantitativos e qualitativos. Não podemos esquecer que o meio onde se vive, pode influenciar na forma como se lida com o conhecimento. O conhecimento de modo passivo não tem o poder para gerar novos conhecimentos. Neste sentido, a cooperação de diversos indivíduos pode produzir melhores resultados do que uma decisão unilateral, em que pouco se foi apresentado e discutido, em relação a possíveis problemas e falhas. Ninguém melhor para dar informações sobre o comportamento de determinado produto ou máquina, do que quem trabalha com um ou outro; no que se dá o conhecimento pela vivência dos fatos. Quem está alheio ao processo, pode interpretar com uma subjetividade pelo que ele imagina, e não por aquilo que acontece verdadeiramente, distorcendo o conhecimento.

Existe pois, uma certa diferença de entendimento, entre o conhecimento que nos foi passado de forma oral ou verbal, e aquele vivenciado pela prática. O processo de fazer o trabalho de maneira repetida, traz a habilidade de fazer corretamente; e assim diminui certos erros que aquele que não está habituado à tarefa, pode cometer. O uso do conhecimento faz com que aprimoremos nossas habilidades; o exercício torna melhor nosso discernimento. Podemos deduzir que, quanto mais abertos estamos às situações novas e a enfrentá-las, mais adquirimos habilidades, e consequentemente agregamos conhecimento.

O gestor do conhecimento deve ser aquele que está disposto a aceitar desafios, a se superar constantemente. Deve ter uma mente que seja ao mesmo tempo, aberta e responsável, sabendo separar cada necessidade pela sua função temporal; permeando pela sintonia entre a gestão da tecnologia e a gestão da informação, uma dependendo da outra.

A Gestão do Conhecimento envolve toda a organização, não pode ser feita como se a empresa fosse fragmentada, andando por caminhos diferentes. Sendo uma entidade dividida na sua maneira de encarar a informação recebida e o conhecimento a ser aplicado; a organização estará agindo com a competição interna, o que não é muito salutar. Todos necessitam estar caminhando sobre a mesma missão, tendo a mesma visão do negócio. Transparência tem sido um ponto muito discutido atualmente: muitas empresas não dão conhecimento mais profundo de seu negócio para os funcionários, sob a égide da proteção do sigilo de informação; a alegação é quando se abre o que se propõe, pode haver um excesso de expectativas que atrapalham a consecução dos objetivos mais estratégicos.

A área de RH das organizações deve desempenhar um papel mais ativo no sentido da Gestão do Conhecimento, por envolver o corpo funcional, a massa de trabalho que dá vida a empresa. A globalização trouxe os mais variados desafios. O consumidor da era tecnológica passou a comprar não apenas o produto, hoje ele compra o produto por suas funções múltiplas, economia de energia, automaticidade, praticidade, conforto, segurança, beleza, integração com a decoração, etc. Entra em cena um fator preponderante: a inovação. Um exemplo de inovação do século passado, que virou febre quando surgiu, foi o chamado canivete suíço; um objeto simples em sua concepção, que ajuntou múltiplas funções tais como saca-rolhas, abridor de garrafas, lixa de unha, etc. Este espirito de múltipla função está em tudo atualmente, desde os produtos até os serviços.

Um profissional do inicio do século XX basicamente exercia uma única profissão durante toda a sua vida. Hoje a migração das funções de trabalho é uma constante, mesmo quando o trabalhador exerce uma única atividade, ela muitas vezes é multitarefa ou se faz pelo sistema de revezamento. Na dita linguagem da tecnologia, mesmos os especialistas precisam ser múltiplos.

Uma observação do que aconteceu na mudança do setor comercial, foi no setor de supermercados que antes vendiam uma série mais limitada de produtos de alimentação, limpeza e outros produtos do lar. Com o tempo foram incorporando outros serviços tais como açougues, peixarias, padarias, confeitarias; hortifrutigranjeiros; produtos de manutenção em eletricidade, hidráulica, etc. Tendo algumas dessas redes, atuado em ramos de eletrodomésticos e outros produtos mais elaborados.

Hoje os bens imóveis como terras, casas, máquinas dão lugar a um consumo mais amplo a outros tipos de bens tais como: informação, competências, know-hou, conhecimento, aplicações financeiras, ouro, joias, moedas, obras de arte, marcas e patentes. O que é tangível está cedendo espaço ao intangível, ou pelo menos ao que é portável.

Há alguns anos atrás, uma empresa para ser considerada grande precisava ter um número significativo de funcionários, ter uma estrutura física considerável, ter sua sede preferencialmente em metrópoles, ter grandes propriedades e principalmente um montante de capital considerável. Atualmente, a propriedade intelectual pode ter muito mais valor que propriedade física; capital pode ser produzido em questão de horas, isso tudo feito virtualmente; a estrutura física apesar de ainda ser ponto forte, tem sido substituída pela parceria com outras empresas.

A terceirização acabou por criar novas faces, é um forma de criar mercado de trabalho. As empresas embora tenham seus segredos empresariais, delegaram muito de suas tarefas, se concentrando no produto ou serviço essencial. Muitas empresas escolheram o caminho de se tornarem simplesmente montadoras ou embaladoras; assim se tornaram mais voltadas para o ramo de serviços, marcadamente para atividades mais comerciais.

As grandes empresas estão abrindo filiais nos mais variados pontos de consumo, se fragmentando para competir, ao invés de se manterem polarizadas em seus pontos de origem. Este fenômeno acontece como forma de aumentar a participação no mercado global; tendo como estratégia a meta de dividir para concorrer, com isso se protegem assim das eventuais crises econômicas e politicas. Esta é bem a face da globalização: a concorrência pela universalização. Este fenômeno nivela os mais ricos e marginaliza os mais pobres; isto pelo fato de que quem detém mais conhecimento avança mais rápido. A mudança de atratividade por bens mais sofisticados deixa os menos instruídos mais desprotegidos, forçando o mercado de trabalho a procurar trabalhadores com maiores níveis de escolaridade, pela exigência da tecnologia.

A questão da educação no país precisa ser revista a fim de diminuir estes abismos existentes entre o conhecimento e a sua falta. Seguindo este raciocínio, torna-se necessária uma mobilização, tanto do setor público quanto privado; exigindo a participação de governantes, educadores, sociólogos, economistas, dos profissionais de TI e de sistemas de informação. Consequentemente, a educação deve ter a atenção de toda a sociedade. Se antes tínhamos uma exclusão social, com a globalização surgiu outra exclusão, que passou a ser tecnológica e de informação.

Portanto, é preciso fazer com que o conhecimento seja um aliado na evolução da organização e do indivíduo; que não se transforme em um instrumento de disputas internas, para a conquista de poder e comando. Se o conhecimento não for utilizado de forma a direcionar suas ações para o bem comum; atendendo a quesitos de subjetividade, então, esta organização e todos os que nela vivem, estarão fadados a algumas frustrações. A inexistência de objetivos que visem manter a coesão, deverá acarretar o término das relações saudáveis; o sistema caminhará para a degradação e o fim das suas atividades organizacionais.

O conhecimento agrega o simples ao complexo, o antigo ao atual. Um salto importante na história do homem se deu pela descoberta do fogo, ocorrida nos primórdios da humanidade, onde o progresso era algo utópico. A partir do conhecimento do fogo, infinitas foram as possibilidades de melhora nas condições de vida do homem; com ele pode preparar melhor seus alimentos, e muito mais tarde ele descobriu que poderia fundir metais como o ferro e o cobre. Hoje o fogo tem as mais variadas utilidades, abriu um leque imenso de aplicações, sendo indispensável à vida no planeta.

A descoberta da roda foi outro importante marco na civilização. A utilização da vela nas embarcações impulsionou fortemente o comércio, principalmente durante a Idade Média. Disso podemos inferir que, o conhecimento e o progresso derivam de coisas bem simples em concepção; estas adquirem uma universalidade que é incorporada pelo sistema humano, gerando novos recursos e utilidades. Ao mesmo tempo, exige uma organização dos meios de produção e de utilização; para aproveitar ao máximo, os recursos de que dispomos. Aí surgem as preocupações com o tempo, a matéria-prima, o custo, as despesas, o capital etc. O conhecimento gera consequência, tanto material quanto espiritual, tanto no nível dos sentidos comuns como daqueles que têm a ver com o inconsciente.

A busca por melhores condições de trabalho e de ganho de capital trouxe a necessidade de controle, que se aliou à pesquisa. O homem por muito tempo se moveu unicamente pelo conhecimento material, e pela utilização do corpo físico na produção de bens e serviços. A certa altura, descobriu-se que era possível ir além em termos de conhecimento; que existia vida e fenômenos que não eram possíveis de serem vistos e sentidos pelos outros quatro sentidos. A possibilidade de utilização do conhecimento é infinita, a vida adquire novos rumos, exigindo novas adaptações e transformações. O ser humano se adaptou a formas de matérias artificiais, e a tendência, é que a inteligência artificial adquira mais força; com isso altera ainda mais o que fazemos de mecânico, substituindo o manual no que for possível, na linha do tempo.



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1Bacharel em Administração de Empresas pela Instituição Unifor de Formiga-MG; Pós-graduado MBA em Liderança e Gestão de Pessoas pela Instituição Faculdade Pitágoras de Divinópolis-MG

e-mail: [email protected]