GESTÃO DE RESÍDUOS ORIUNDOS DO PROCESSO DE BENEFICIAMENTO DE ROCHAS ORNAMENTAIS


Carolina Moutinho Ferreira*, Danilo Martins Rocha, Erika Maria Pereira, Bruna Neumann
lama abrasiva , desenvolvimento sustentável, meio ambiente.

Introdução

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) define rocha ornamental como uma substância rochosa natural que, submetida a diferentes graus de modelamento ou beneficiamento, pode ser utilizada com finalidade estética. Exemplos comuns são mármores, granitos e pedras como as ardósias, arenitos, basaltos, gnaisses e quartzitos. O Brasil é um dos cinco maiores produtores de rochas ornamentais mundiais e é o maior detentor de reservas de granito. A indústria de beneficiamento de rochas ornamentais é extremamente importante para a economia do Espirito Santo, que é considerado o maior polo de beneficiamento da América Latina. No Estado, a cidade de Cachoeiro de Itapemirim, que iniciou a produção de mármore e granito em 1930, concentra a maior parte das atividades de beneficiamento de Rochas Ornamentais. Hoje a produção é disseminada em todo estado do Espirito Santo, que detém 65% das exportações do país. [1, 3, 7]
Além do benefício financeiro é preciso observar os impactos ambientais gerados devido ao processo de extração e beneficiamento das rochas, como cascalhos deixados no local de extração e a contaminação dos corpos hídricos. As empresas precisam estar preocupadas com o a gestão apropriada dos resíduos gerados na produção, principalmente com a lama abrasiva e buscar processos que minimizem os impactos ambientais gerados. Não há condição de se fomentar aterros sanitários pois a quantidade de lama abrasiva é expressiva e acarretaria uma proliferação de aterros pelo Estado até se esgotar áreas aptas para eles. O melhor meio de se resolver este problema é gerenciar os resíduos gerados. [2]
O processo de beneficiamento é composto por basicamente 3 etapas distintas: extração das rochas, desdobramento e acabamento das placas, processos que produzem quantidades imensas de resíduos e possíveis problemas ambientais. Esses resíduos, quando descartados em locais inadequados, geram impactos ambientais irreparáveis ao meio ambiente, podendo chegar até aos lençóis freáticos do local onde foram depositados. Na atualidade, não se pode pensar mais em desenvolvimento sem sustentabilidade e estes mesmos resíduos podem virar insumo em novas cadeias de produção, atitude que reduz o lixo depositado eternamente na natureza e possibilita ao empresário mais uma renda.
Processo de produção de rochas ornamentais, resíduos gerados, impactos e consequências
A primeira etapa do beneficiamento de rochas é o processo de extração das mesmas, denominado lavra. As principais técnicas utilizadas atualmente para esse fim são: desmonte por explosivos, corte com fio helicoidal, corte com fio diamantado, corte contínuo com perfuratriz hidráulica ou pneumática e extração manual. O melhor processo de lavra depende do tipo de pedreira em que se irá trabalhar. É valido salientar que uma pedreira é escolhida baseada em um estudo prévio sobre a qualidade da rocha que existe na reserva. Neste processo são aproveitados apenas blocos de rocha de tamanho comercial e os cascalhos ou os pedaços de rocha pequenos são resíduos desta etapa, muitas vezes sendo deixados próximos a pedreira. Estes pedaços de rocha não têm periculosidade acentuada, mas podem ocasionar desmoronamentos ou assoreamento de rios e lagos. Além do mais, há um grande impacto ambiental relacionado a remoção do solo e vegetação. [4, 2] Após a limpeza e transporte dos blocos, se inicia o processo de beneficiamento primário, serragem ou desdobramento. Essa etapa transforma os blocos em chapas, por meio de teares. O processo de desdobramento dos blocos nos teares é feito por em lâminas que serram gradualmente o bloco em via úmida, denominada polpa abrasiva, que
Projeto Interdisciplinar (UCL)
aumenta o atrito, otimiza o processo, lubrifica e resfria as lâminas. É adicionada granalha de aço ou ferro e cal hidratada para diminuir a oxidação das laminas e eventualmente pó de rocha é adicionado neste material pelo corte dos blocos. Esta polpa pode ser aproveitada e quando descartada temos o resíduo chamado lama abrasiva. Para diminuir em volume este resíduo é preciso reduzir a umidade para no máximo 24%. O material úmido pode ser utilizado como matéria prima em outras cadeias produtivas e a água pode ser reaproveitada no processo [6] Estima-se que em média 20% a 30% do bloco de rocha são transformados em pó, sendo atualmente simplesmente depositados em pátios. Neste processo também são gerados restos e fragmentos de rochas, papel, plástico e papelão oriundos das embalagens dos insumos utilizados e em menor quantidade, óleo e graxa, lâminas de corte e peças substituídas da manutenção dos teares. Entretanto o resíduo mais volumoso e mais perigo é a lama abrasiva. Sua classificação como resíduo pode variar em consequência de sua caracterização. E mais pedaços de rochas e cascalhos são gerados neste processo correspondentes aos pedaços de rocha, que são tirados do bloco para que o mesmo fique com dimensão padrão dos equipamentos. A quantidade de resíduos produzidos nesse processo varia de acordo com o material que está sendo serrado. O mármore, por exemplo, é serrado com maior facilidade, produzindo menos resíduo se comparado aos granitos. Essa característica é conhecida como serrabilidade e está diretamente ligada às estruturas em que o sólido está arranjado. O acabamento é a última etapa da produção e consiste geralmente no polimento da chapa, realizada por uma politriz, máquina polidora. Nesse processo também é gerado um resíduo que, comparado ao resíduo oriundo do desdobramento, é consideravelmente menor. Também é realizado em via úmida por máquinas que pressionam nas chapas um material abrasivo. O material mais empregado é o magnesiano, que contém cloretos em sua composição. Neste processo o efluente gerado possui água e pó de rocha. [8] Um estudo feito em 25 empresas de Nova Venécia no ano de 2006 constatou que todas juntas produziram 8,09 toneladas de lama abrasiva em apenas um mês e nelas foi observado que não havia coleta seletiva nem segregação do lixo e a lama abrasiva era depositada em depósitos nos pátios chamados “cavas” sem impermeabilização do solo [2] Observa-se uma significativa quantidade de resíduo gerado no beneficiamento das rochas ornamentais. O Estado vem criando legislações que obrigam as empresas a se adaptar a boas práticas ambientais, como reutilizar a água do processo de beneficiamento e acabamento e acabar com as “cavas” o que contamina o lençol freático. [3] Gestão de resíduos no beneficiamento de rochas ornamentais
Visto que o processo de desdobramento dos blocos é o que gera a parte mais significativa de resíduos e que representa o maior desafio de gestão nessa área, o foco será no mesmo, visando diminuir o resíduo gerado ou lidar com ele adequadamente. Uma forma de diminuir o resíduo nesse processo é a utilização de ecoteares, que dispensa o uso de água e cal no processo de corte dos blocos, eliminando a lama originada da mistura do pó da rocha com esses elementos. O processo que utiliza ecoteares ainda consome cerca de 30% menos energia, é mais rápido e proporciona um produto final de maior qualidade. [4] Não podemos considerar os aterros como forma ideal de disposição destes resíduos, pelo volume expressivo e pela necessidade de se ter processos sustentáveis onde se usam insumos que não sejam de fontes naturais, limitadas e esgotáveis, com o intuído sempre de diminuir o lixo gerado ou reutilizá-lo.
Em relação a gestão do resíduo gerado, uma boa alternativa é a sua reutilização, inserindo o mesmo em uma outra cadeia produtiva, o que eliminaria o problema de descarte e ainda possibilitaria um incremento na renda das empresas.
Os principais resíduos gerados são: a lama abrasiva, os cascalhos e os pedaços de bloco, pois papelões, plásticos, e lâminas gastas dos teares são a maioria das vezes vendidos. Antes de legislações ambientais fortes e sanções, as empresas descartavam a lama junto ao esgoto, direto nos rios ou em tanques chamados “cavas”, feitos de forma inadequada, provocando assoreamento e contaminação do lençol freático. [2, 3] Como exemplos de reciclagem de resíduos uma possibilidade viável é a sua adição em concretos. Verificou-se em estudos uma melhoria nas propriedades do concreto, como aumento na coesão e consistência no estado fresco, e aumento da resistência, da compressão e durabilidade no estado endurecido, com teor de 10% de adição apresentando os melhores resultados. Existe também possibilidades de aplicação da lama em artefatos cerâmicos (como tijolos) e de cimento (bloquetes de pavimentação), produção de argamassa, material de enchimento em concreto asfáltico e até mesmo em produtos cosméticos, como sabonetes esfoliantes em até 40% em massa do mesmo para partículas de até 0,053mm, sem irritabilidade [3, 8]

Conclusão

O beneficiamento de Rochas Ornamentais é uma atividade de suma importância para a economia do Espirito Santo e devido ao fato de que há uma grande geração de resíduos no processo, faz-se necessário uma gestão responsável dos mesmos. Atualmente a prática mais comum é o depósito dos resíduos em pátios, porém o grande volume gerado dos mesmos faz com que essa prática não seja sustentável. Como alternativa, a inserção dos resíduos em outra cadeia produtiva se mostra uma solução viável em diferentes áreas, o que garantirá uma gestão correta, e resultará em ganho
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econômico para as empresas. O uso de ecoteares também se apresenta como uma alternativa interessante para diminuir a geração de resíduos e aumentar a eficiência produtiva do processo.
Referências
1. Rochas ornamentais; Ministério da educação, Secretaria de Educação Profissional e Tecnologia, novembro de 2007.
2. Identificação e gerenciamento de resíduos gerados em empresas de beneficiamento de rochas ornamentais localizadas no município de Nova Venécia; Idenisia Magacho et al., novembro de 2006.
3. Gestão de resíduos na indústria de rochas ornamentais com enfoque para a lama abrasiva; André Araújo Alves da Silva, agosto de 2011.
4. Analise ambiental do processo de extração e beneficiamento de rochas ornamentais com vistas a uma produção mais limpa: aplicação Cachoeiro de Itapemirim – ES; Cezar Henrique Barra Rocha, José Gonçalves de Sousa, 2007
5. Caracterização da lama abrasiva gerada nos processos de beneficiamento do granito: um estudo de caso feito na Granfugi localizado em Campina Grande – PB; Jaqueline Guimaraes Santos et al., outubro de 2010
6. Analise da gestão de agua nas indústrias de mármores e granitos; Marcelo Brigido cheregati Faria de Oliveira Roxo et al., novembro de 2006.
7. R. G. Menezes; J. H. Larizzati. Rochas Ornamentais e de revestimento: conceitos, tipos e caracterização tecnológica, 2005
8. Utilização do resíduo de corte de granito como adição para produção de concretos; Jardel Pereira Gonçalves, dezembro de 2000.