1. INTRODUÇÃO


O conceito de administração escolar por muito tempo esteve restringido apenas para preservação do patrimônio escolar, resolução das questões burocráticas e supervisão da atuação dos profissionais da instituição, basicamente na observância das falhas e ausências. Com o passar dos anos a administração escolar vem passando por mudanças em relação à sua abrangência e conceito, ao menos de forma teórica. Mudanças um tanto lentas, como a maioria das novidades que envolvem as questões educacionais.
Os anos 80 têm como marca neste aspecto a gestão democrática da escola, sendo discutida principalmente, na esfera pública. Porém os problemas não cessam e o sucesso escolar demoram a surgir, e quando surgem são minimizados por problemas de relevância maior.
A escola, sendo uma instituição de administração tradicionalmente hierárquica, dificilmente compartilha sua gestão com sua equipe de trabalho. As ações são muito mais burocráticas que humanizadas, embora tenha como foco principal a formação do ser humano ? crianças, adolescentes, jovens e adultos.
Neste contexto, a valorização do ser humano não é foco principal, nem mesmo secundário, embora sejam constantes os conflitos entre a equipe escolar. São as resistências do corpo docente às inovações, principalmente, pedagógicas; não comprometimento por parte dos profissionais ? destacando-se os de apoio ? com as ações promovidas pela gestão, principalmente de cunho extracurricular; idéia de não pertencimento à equipe escolar, devido a diversos fatores, entre eles a desmotivação e a constante rotatividade de uma unidade para outra destes mesmos profissionais, e a dificuldade de envolver a família no cotidiano escolar, dentre outros problemas de relações intra e inter pessoal que fazem com que a gestão não consiga viabilizar soluções plausíveis, visto que estas relações são imprescindíveis ao ser humano conforme aponta Goleman (2001).
Desta forma é um tanto necessário apresentar e sugerir os fundamentos da administração geral, pois conforme afirma Bastos (2005, p. 109), a administração "por ser uma ação social e política, gera práticas contraditórias, uma vez que tanto serve para organizar o trabalho de forma autoritária, quanto para fazê-lo de maneira democrática e participativa", restringindo para a área da gestão de pessoas, visto que esta é uma área voltada para o desenvolvimento e valorização humana o que visivelmente ainda falta na tão burocratizada gestão escolar.
Por tanto, em meio a tantas mudanças no âmbito da gestão administrativa e considerando a realidade da administração escolar, questiona-se: Qual o entendimento de gestão vivenciado nas escolas? Como a gestão educacional se relaciona com seus profissionais? De que maneira promovem a satisfação profissional?
Para responder a estas questões foi então elaborado a monografia Gestão de Pessoas: um caminho para a organização escolar e valorização humana dos seus profissionais; tendo como objetivo geral identificar a necessidade de a gestão educacional estar ressignificando suas ações, pautada no conceito e princípios da gestão de pessoas; e específicos explicar sobre os conhecimentos necessários para gerir e desenvolver as pessoas que compõe a equipe escolar; colaborar com a reflexão teórico-prática no âmbito educacional a partir da concepção de gestão de pessoas e defendê-la como valorização humana e profissional, um caminho para o sucesso de toda a escola, enquanto espaço organizacional.
O presente trabalho far-se-á mediante a pesquisa bibliográfica, descritiva e qualitativa acerca da Gestão de Pessoas, enfocando a necessidade de as instituições escolares adotarem-na como modelo na gestão administrativa, visando à valorização humana de todos os profissionais que integram a equipe ?, docentes, técnicos e de apoio ? pelo fato de ser esta, uma área que dispõem de mecanismos que promovam o desenvolvimento profissional e conseqüentemente a satisfação pessoal.
A elaboração tem como referência metodológica a idéia de Lakatos e Marconi (2003) quando se refere ao método como conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, permite alcançar o objetivo, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões.
A pesquisa se delineou sobre a corrente do pensamento dialético, visto que, a dialética prepara as fontes explicativas, permitindo a elaboração de conceitos relativos às atividades do indivíduo e, portanto, estabelece previsões a respeito da transformação da realidade e da sociedade. Tal processo foi delineado a partir do conceito de pesquisa-ação crítica, definido por Pimenta (2005, p.14):

"a condição para ser pesquisa-ação crítica é o mergulho na práxis do grupo social em estudo, de onde se extraem as perspectivas latentes, o oculto, o não familiar que sustentam as práticas, e as mudanças serão negociadas e geridas no coletivo."

Para enriquecer a pesquisa realizada é abordado, ainda, os resultados de análises a partir das observações, do pesquisador, realizadas na gestão da escola pública do município de Mulungu do Morro /Bahia, construídas mediante o processo de investigação, o qual baseou-se na vivência da organização escolar, através da análise reflexiva de suas atividades cotidianas. Nesta etapa, também, pode-se confirmar os resultados pretendidos pela pesquisa ou até mesmo encontrar outras variáveis que venham a enriquecer o trabalho final.
Os resultados da pesquisa foram analisados, escritos e organizados em Revisão de Literatura onde está todo o aporte teórico referente à Gestão de Pessoas e Gestão Escolar; Resultados da pesquisa, seguidos da Conclusão, bem como das Referências utilizadas.
Quanto à importância da pesquisa vale dizer que "dentro do contexto clássico das ciências sociais tem grande relevância a discussão sobre (...) a marca formal da cientificidade" (DEMO 1995, p. 133). Sendo, portanto, pertinente a estudantes e estudiosos da área pesquisada, bem como a todas as pessoas que atuam neste âmbito ou que se interessem no tema.











2. REVISÃO DE LITERATURA


Neste capítulo será abordada uma breve revisão literária, pois o tema em questão é de grande relevância, sendo discutido em literatura da área da Gestão de Pessoas, bem como da Gestão Escolar. A exposição das teorias em discussão neste trabalho tem como principais autores: Idalberto Chiavenato para os assuntos especificamente da Gestão de Pessoas, além de pesquisas no ambiente virtual de aprendizagem da FTC-ead, entre outros, artigos eletrônicos; Sonia Simões Colombo e Carlos Libâneo na abordagem da Gestão Escolar. Porém outras fontes foram utilizadas para esta produção.


2.1 Gestão de Pessoas: Contexto e Conceito


No período de evolução das antigas civilizações, que se estendeu desde a época medieval à mercantilista, foi que surgiu a idéia de administração de empresas. Logo após a Revolução Industrial a idéia ganhou força, e com isto, mais precisamente no século XIX, a administração de empresas passou por mudanças significativas, mudanças estas resultadas da crise na produtividade industrial. Foi neste contexto, que surgiram as primeiras teorias em torno da Administração com a finalidade de estabelecer o aumento da produtividade e alcançar estabilidade econômica, buscando otimizar o tempo X produção.
A partir de então, escolas ou teorias foram idealizadas para atender mais especificamente estes objetivos e configurar novos paradigmas.


2.1.1 Administração Científica


Foi através das idéias do norte-americano Frederick Taylor que se iniciou uma nova visão sobre a administração. Para Taylor, a organização e a administração das empresas deveriam ser estudadas e tratadas cientificamente e não empiricamente. A improvisação deveria ceder lugar ao planejamento e o empirismo à ciência. Portanto, a obra de Taylor se reveste de especial importância pela aplicação de uma metodologia sistemática na análise e na solução dos problemas da organização, no sentido de baixo para cima.
Assim, iniciou-se o modelo científico da administração. Segundo o modelo taylorista ou da administração científica, a divisão do trabalho passou a integrar o movimento da racionalização, propondo a fragmentação do trabalho ao seu limite máximo, tornando-o mais repetitivo. Neste cenário o trabalhador passou a executar suas tarefas de maneira desqualificada, limitando seus espaços de atuação e conhecimentos.


2.1.2 Teoria Clássica da Administração


Concomitante aos estudos de Taylor, o europeu Henri Fayol idealizou a Teoria Clássica da Administração, caracterizada pela ênfase na estrutura organizacional, pela visão do Homem Econômico e pela busca da máxima eficiência. Ele relacionou 14 princípios básicos da nova administração, tornando-os, assim, uma complementação para mesma visão de administração definida por Taylor. As quais seguem relacionados e descritas abaixo:
1. Divisão do trabalho - Especialização dos funcionários desde o topo da hierarquia até os operários da fábrica, assim, favorecendo a eficiência da produção aumentando a produtividade.
2. Autoridade e responsabilidade - Autoridade é o direito dos superiores darem ordens que teoricamente serão obedecidas. Responsabilidade é a contrapartida da autoridade.
3. Unidade de comando - Um funcionário deve receber ordens de apenas um chefe, evitando contra-ordens.
4. Unidade de direção - O controle único é possibilitado com a aplicação de um plano para grupo de atividades com os mesmos objetivos.
5. Disciplina - Necessidade de estabelecer regras de conduta e de trabalho válidas pra todos os funcionários. A ausência de disciplina gera o caos na organização.
6. Prevalência dos interesses gerais - Os interesses gerais da organização devem prevalecer sobre os interesses individuais.
7. Remuneração - Deve ser suficiente para garantir a satisfação dos funcionários e da própria organização.
8. Centralização - As atividades vitais da organização e sua autoridade devem ser centralizadas.
9. Hierarquia - Defesa incondicional da estrutura hierárquica, respeitando à risca uma linha de autoridade fixa.
10. Ordem - Deve ser mantida em toda organização, preservando um lugar pra cada coisa e cada coisa em seu lugar.
11. Eqüidade - A justiça deve prevalecer em toda organização, justificando a lealdade e a devoção de cada funcionário à empresa.
12. Estabilidade dos funcionários - Uma rotatividade alta tem conseqüências negativas sobre desempenho da empresa e o moral dos funcionários.
13. Iniciativa - Deve ser entendida como a capacidade de estabelecer um plano e cumpri-lo.
14. Espírito de equipe - O trabalho deve ser conjunto, facilitado pela comunicação dentro da equipe. Os integrantes de um mesmo grupo precisam ter consciência de classe, para que defendam seus propósitos.

Os conhecimentos produzidos por Taylor permitiram o estabelecimento de um novo sistema de produção, que mais tarde viria a ser denominado por fordismo.
O fordisomo é o modelo administrativo adotado pelo grande empresário da indústria automobilística mundial, Henry Ford. Foi através das suas idéias que o setor automobilístico passou a produzir mais em menos tempo. Na ocasião o grande invento que levou a este acontecimento foi à introdução de esteiras rolantes, com as quais foi possível aplicar a montagem em série. Ford defendia alguns princípios como básicos para alcançar maior eficiência e produtividade tais como: diminuir o tempo da fabricação e da comercialização, manter estoques reduzidos de matérias primas e aumentar a capacidade de produção dos trabalhadores, através da especialização e do trabalho conjugado.
Oliveira (2008) apresenta os três princípios básicos adotados por Ford:

1- Princípio da intensificação: Consiste em diminuir o tempo de produção com o emprego imediato dos equipamentos e da matéria-prima e a rápida colocação do produto no mercado.
2- Principio da economicidade: Consiste em reduzir ao mínimo o volume do estoque da matéria prima em transformação. Assim Ford conseguiu fabricar um trator ou um automóvel, vende-lo e recebê-lo antes do vencimento da matéria prima empregada na fabricação e do pagamento dos salários. Segundo Ford a velocidade de fabricação deve ser rápida. O minério sai da mina Sábado e entregue sob forma de carro na Terça feira à tarde.
3- Principio de produtividade: Consiste em aumentar a capacidade de produção do homem no mesmo período através da especialização da linha de montagem.

Neste contexto, aliada às mudanças sócio-econômicas, as organizações passaram a investir mais no comportamento humano, considerando o trabalhador como pessoa humana, acima de tudo, buscando desenvolver atitudes positivas na realização do trabalho. Atitudes estas conseguidas através dos fatores motivacionais, que passou a ser conhecido como a Administração com abordagem Humanística.


2.1.3 Teoria das Relações Humanas


A Teoria das Relações Humanas no campo da administração passou a ser introduzida no período econômico denominado de a "Grande Depressão", que foi a recessão econômica iniciada em 1929 nos Estados Unidos com a quebra da bolsa de Nova Iorque. Foi a partir deste acontecimento que os sentimentos dos trabalhadores passaram a ser considerados no contexto empresarial e industrial. A partir de então o foco não estava centrado no trabalhador como Homo economicus e sim, como Homos Social. Esta teoria teve como seus principais pensadores Elton Mayo e Abraham Maslow.
Elton Mayo, cientista social, desenvolveu uma pesquisa conhecida por a "Experiência de Hawthorne", a qual teve por objetivo identificar o efeito das condições físicas de trabalho sobre a produtividade dos empregados. Esta pesquisa teve etapas diversas e distinas que puderam comprovar que os trabalhadores não estavam satisfeitos com o modelo de administração ao qual pertenciam, não bastava realizar tarefas ágeis ecanicamente, era preciso ter satisfação pessoal aliada à profissional. Diante disso, abria-se assim, u novo campo de abordagem para a administraçaão, o das Relações Humanas.
Um outro estudo neste campo foi o desenvolvido pelo psicólogo americano Abraham Maslow: Ele apresentou "A Hieraquia de Necessidades", conforme mostra figuara abaixo.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hierarquia_de_necessidades_de_Maslow

Esta teoria consiste em afirmar que é preciso escalar uma determinada hierarquia de necessidades para atingir a auto-realização, ou seja, as necessidades de nível mais baixo (fisiológicas) devem ser satisfeitas antes das necessidades de nível mais alto (motivacionais) para atingir a auto-realização.
Porém, somente o estudo de Maslow não dá condições de nortear o desenvolvimento organizacional como um todo, bem como a satisfação dos seus envolvidos em igual medida. É preciso, também, que as questões de gerenciamento sejam tratadas com a mesma atenção, atendendo às suas especificidades, desde que trate a organização como espaço que visa resultados e investa no seu capital humano.


2.1.4 Gestão de Pessoas


Anos depois, a administração humanística firmou-se enquanto abordagem e ganhou um área específica dentro do universo administrativo, inicilamente conhecida por Administração de Recursos Humanos e atualmente como Gestão de Pessoas, sendo este o investimento direto das empresas nas pessoas que a compõem, conforme afirma Chiavenato, (2004, p. 4) "(...) em vez de investirem diretamente nos produtos e serviços, elas estão investindo nas pessoas que entendem deles e que sabem como criá-los, desenvolvê-los, produzi-los e melhorá-los."
O mesmo Chiavenato (2004 p. 06) define o conceito de Gestão de Pessoas como sendo:

"contigencial e situacional, pois depende de vários aspectos, como a cultura que existe em cada organização, da estrutura organizacional adotada, das características do contexto ambiental, do negócio da organização, da tecnologia utilizada, dos processos internos e de uma infinidade de outras variáveis importantes."

O contexto da gestão de pessoas é formado pela organização e as pessoas que a compõem, pois são estas que dedicam grande parte de seu tempo nos afazeres da profissão. Sendo assim, toda organização depende das pessoas que a compõe para alcançar o sucesso ou fracasso, a depender de diversos fatores, inclusive os motivacionais. É neste ambiente que as pessoas buscam alcançar seus objetivos profissionais, que se revertem em satisfação pessoal, e para tal finalidade necessitam da organzação, como um todo, para atingir seus objetivos. Neste sentido, "os empregados contribuem com seus conhecimentos, capacidades e habilidades, proporcionanado decisões e ações que dinamizam a organização" (ibidem, pág. 07).
No contexto da gestão de pessoas é essencial compreender e praticar as novas tendências que acabam por delinear o cotidiano do ambiente de trabalho, bem como o entorno onde este está inserido, que considere suas características internas (estrutura e cultura organizacional, liderança, colaboradores, etc.) e externas (sociedade, economia, cultura, etc.). Uma gestão de pessoas desatrelada da sua realidade, provavelmente, não ultrapassará obstáculos, nem estará disposta a lutar pela sobrevivência da organização.
As organizações bem sucedidas têm as pessoas como parceiras, compreende que cada um, com suas competências, é importante para o desenvolvimento organizacional como um todo, e não mais como simplesmente recursos humanos, administrados para obter unicamente o máximo de rendimento das pessoas, funcionários. Chiavenato apresenta um quadro comparativo entre estas duas visões.













Figura 1.3 As pessoas são recursos ou parceiros da organização?
Fonte: Chiavenato, 2004.

Este quadro exemplifica o perfil profissional de quem atua num contexto de gestão de pessoa. Quando pessoas atuam numa perspectiva de recursos, este desenvolve suas atividades de maneira isolada, dependente e subordinada ao seu superior, enquanto os parceiros da organização têm liberdade para atuar, colaboram em equipe de maneira comprometida, com metas estabelecidas através de negociação, e o mais importante: sendo visto, respeitado e valorizado enquanto ser humano dotado de capacidades e talentos.
Assim sendo, este é um modelo organizacional válido e viável para todo e qualquer espaço onde se tem metas a cumprir e pessoas para atuar.
2.2 Gestão Escolar: teoria e prática


A instituição escolar enquanto espaço formal de educação do ser humano tem como finalidade principal a de propiciar a formação integral do cidadão, conforme prevê a legislação educacional brasileira ? Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional:
A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (LDB 9.394/96, Art.º 2º).

Para ser praticado o que expressa a Lei, e tenha funcionalidade à instituição escolar, é necessário que hajam profissionais competentes, preparados para lidar com as mais diferentes circunstâncias. À frente destes profissionais está o gestor (a) escolar, mais conhecido ? ainda ? por diretor (a), ladeado pelo corpo docente e demais profissionais técnicos e de apoio. Os quais, diante das suas respectivas atribuições, são os responsáveis diretos pelo funcionamento da escola.
Historicamente, ainda no período medieval, o processo educativo era administrado pelo grupo de clérigos (principalmente do sexo masculino), os quais dirigiam os colégios onde era ministrado o ensino, por ordem da Igreja. Sendo desta forma uma educação confessional, voltada para o ensinamento da doutrina cristã católica. Ao final da longa Idade Média dar-se início à Modernidade. A característica social da época é marcada pela ascensão européia, que passa a ter uma economia, política e ideologia laica, "separando o mundano do religioso e afirmando sua autonomia e centralidade na própria vida do homem" (CAMBI, 1999, p. 196).
Séculos depois os estudos em torno da organzação escolar ganharam força, merecendo destaque para a decáda de 1930, a paritr do "Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova", documento este ? elaborado pela elite intelectual brasileira, formada por pessoas com diferentes posições ideológicas ? que apresentava uma visão crítica e transformadora, que vislumbrasse a possibilidade de interferir na organização da sociedade brasileira do ponto de vista da educação, e isto inclue o espaço educativo ? escola. Entre os intelectuais do Manifesto destacam-se Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira e Cecília Meireles, entre outros nomes. Neste contexto, prevalecia a concepção de instituição burocrática, hierárquica e funcionalista da escola.
Na década de 1980 com a reformulação curricular dos cursos superiores voltados para a área de educação, iniciava-se um movimento crítico sobre a administração escolar instituida. Libâneo, (2004) apresenta "duas concepções bastante diferenciadas", segundo ele, sobre as finalidades sociais e políticas da educação: a científico-racional e a sociocrítica.

 Concepção científico-racional: prevalece uma visão mais burocrática e tecnicista da escola. As escolas que operam com esta estrutura organizacional dão ênfase à definição rigorosa de cargos e funções, à hierarquia de funções, às normas e regulamentos, à direção centralizada e ao planejamento com pouca participação.
 Concepção sociocrítica: a organização escolar vista como um sistema que agrega pessoas, valoriza as interações sociais e as relações da escola com o contexto sociocultural e político.

Na prática a concepção científico-racional, por se ater com tanta veemencia a leis e normas, serve para se fazer cumprir com as metas estabelecidas pela instituição ? principalmente as privadas ? visando o bom resultado do seu corpo discente em vestibulares e exames nacionais que medem a aprendizagem dos alunos do Ensino Fundamental e Médio.
Quanto à concepção sóciocrítica ela é vivenciada no âmbito escolar como um todo, mesmo que em algumas realidades, esta aconteça apenas na teoria, pois tal concepção configura como um novo paradigma que trata da participação e colaboração de todos ? educadores, profissionais de apoio, comunidade escolar e comunidade externa ? nas ações desenvolvidas pela organização escolar.
Libâneo (2004, p. 34) aponta outro fator que pode contribuir para mudança tanto de concepão, quanto de paradigma ? "administração" para "gestão". Segundo ele os profissionais docentes tem um espaço muito mais amplo na atuação da gestão escolar.
Pela participação na organização e gestão do trabalho escolar, os professores podem aprender várias coisas: tomar decisões coletivamente, formular o projeto pedagógico, dividir com os colegas, as preocupações, desenvolver o espírito de solidariedade, assumir coletivamente a responsabilidade pela escola, investir no seu desenvolveimento profissional. Mas, principalmente, aprendem sua profissão.

Através desta participação ativa, coletiva e consciente, todos os educadores (docentes) envolvidos na organização escolar estariam prontos para se envolver na gestão da escola, sendo ou não diretor(a), pois cada um, coletivamente, tem papel fundamental no desenvolvimento e sucesso da organização.
Embora, seja notório que no contexto educacional, os profissionais enfretam questões de cunho emocional, seja no âmbito intra ou inter pessoal. É muito comum ver professores(as), bem como o próprio(a) gestor(a), enfretarem dificuldades em administrar confilitos com estudantes, quando adolescentes principalmente, com as famílias de estudantes, ou ainda, entre si, há uma certa "concorrência" (ao invés de parceria) bastate comum no cotidiano escolar. Em casos como estes, a atuação da gestão é predominante para sanar com os entreves. O gestor é quem deve proporcionar a reflexão-ação sobre valores morais e éticos, e cobrá-los enquanto postura da sua equipe.
A gestão escolar tem como seu profissional principal o gestor(a), ou mesmo diretor(a), como comunmente é tratado. É ele, o responsável direto pela funcionamento administrativo e também pedagógico da instituição (embora no contexto atual tenha a função do coordenador para as questões especificamente pedagógicas). Para Libâneo (2004, p. 111), é ele (o diretor) que:

"desempenha predominantemente a gestão geral da escola e, especificamente, as funções administrativas (relacionadas com o pessoal, com a parte financeira, com o prédio e os recursos materiais, com a supervisão geral das obrigações de rotina do pessoal, relações com a comunidade), delegando a parte pedagógica ao coordenador ou coordenadores pedagógicos".

O processo de gestão da escola requer, como em toda organização, uma estutura organizacional, pautada na legislação que regem as normas e funciomantos da intituição. Compreendendo estrutura como disposição funcional , segue abaixo um organograma considerado básico para escolas.















Fonte: Libâneo, 2004.

Nesta estrutura a organização escolar funciona de forma democrática e interligada. A direção tem a função de gerenciar, coordenando e organizando as atividades desenvolvidas no âmbito escolar, tendo no seu auxiliar o substituto para os casos de ausência da instituição. O setor técnico-administrativo é responsável pela execução de atividades que asseguram o cumprimento dos objetivos e função da unidade escolar. O setor pedagógico realiza as atividades de coordenação pedagógica, bem como de orientação pedagógica. Os corpos docentes e discentes compõem a estrutura organizacional como os principais agentes do processo ensino-aprendizagem.
O Conselho funciona de forma deliberativa e fiscal conforme rege a legislação educacional, é composto proporcionalmente por docentes, especialistas em educação, funcionários, pais e alunos. Os pais e a comunidade trabalham paralelamente a esta estrutura, através de grêmios, conselhos e/ou associações com a finalidade de acompanhar e auxiliar nos processos da gestão.
Esta estrutura organizacional aliada a uma nova concepção de administração, mais precisamente voltado para o conceito de gestão, atrelada à gestão de pessoas deve ser implementada na organização escolar, a fim de introduzir um planejamento estratégico eficaz e consistente, capaz de converter metas estabelecidas em resultados alcançados. E, colocaria fim à concepção estritamente administrativa de cunho tecnicista da organização escolar, onde o gestor servia apenas para "dirigir" a escola e não para gerir a organização juntamente às pessoas que a compõem. A organização escolar requer, sim, dos conhecimentos administrativos, mais precisamente voltados à gestão de pessoas, pois além de ser uma instituição que lida com